Agora os salvos estão “entre” as nações as quais antes não poderia sequer haver qualquer relação. Isso demonstra uma mudança radical no modo de interpretar diversos conceitos, especialmente o conceito de espiritualidade, e interferirá no modo como se desenvolve a própria santificação.
É possível notar a dificuldade em ter uma terra santa, um monte santo, um tabernáculo santo, um templo santo. A solução divina foi mais radical: em vez de habitar no meio do Seu povo (ou entre o povo), Deus habitaria “dentro do seu povo” a fim de realizar a santificação:
“E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” (Jo 14.16,17)
O Antigo Testamento fala muitas vezes da santidade de Deus; o Novo Testamento fala muitas vezes da santificação do crente.
No Novo Testamento a ideia da santificação é igualmente relevante e mais desenvolvida e a sua abordagem é feita de maneira diferente. Jesus não fala muito em santificação, mas o código de moral e ética encontrado no Sermão da Montanha nada mais é do que o retrato daquilo que Deus Pai espera que seus filhos sejam: santos e éticos.
No entanto, quando Jesus fez a oração sacerdotal em João 17 ele reafirmou que santificar-se é separar-se, e que a santificação dos cristãos não acontecerá como a de Abraão, fora do alcance dos pecadores – sai da tua terra –, pois agora haverá discípulos seus em toda parte por toda a terra:
“Não rogo que os tires do mundo (ek tou kosmos), mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.15-17)
A santificação referida por Jesus ocorre no contato com a Palavra de Deus, e esta Palavra é conhecida por meio da pregação do Evangelho. Não há outro meio pelo qual possamos ter contato com os pensamentos de Deus, com seus conselhos e com seus conceitos, especialmente o da santidade e a ideia da santificação senão por meio da pregação do Evangelho. Dependendo dos temas que um pregador habitualmente desenvolve, dependendo dos temas que uma igreja habitualmente adota, jamais haverá santificação nos ouvintes.
Uma igreja ou pregador repetitivo, insistente em determinados pontos ou ideologias, doutrinas ou filosofias, jamais produzirão uma mensagem que leve seus ouvintes a serem despertados para a importância e necessidade de santificação. Não é de hoje que temos notícias sobre líderes de ministérios que proíbem seus obreiros de falarem contra o pecado, por entenderem que mensagens com esse teor “incomodam e afugentam” os ouvintes. Sua filosofia de trabalho diz que os membros devem se sentir à vontade, devem sentir-se “bem”. As pessoas não vão à igreja para serem incomodadas, mas para encontrar encorajamento. Se ouvirem sobre seus pecados elas não retornarão.
Dessa forma, a palavra pecado, quando não é abolida, deve ser amenizada com termos como “desvios de comportamento” ou “conduta inadequada”. Os conceitos bíblicos são substituídos por categorias da psicologia, da psicanálise, da sociologia, da estatística e até por conceitos corporativos. De acordo com o discurso proferido, jamais alcançarão eficazmente os doentes que procuram um médico, mas pessoas doentes que preferem um placebo ou mesmo um chazinho, mas jamais uma cirurgia definitiva.
Por Magno Paganelli. Adaptado do capítulo “Santificação e espiritualidade no relacionamento com Jesus”, da obra Espiritualidade para o Século 21 (Fonte Editorial, 2012), vários autores.
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