quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Crucificação às avessas

“Crucifica-o! Crucifica-o!” Assim gritavam os judeus para que Pôncio Pilatos acelerasse o processo contra Jesus. Os judeus imaginaram ser Jesus uma ameaça religiosa e política. Tanto que ameaçaram levar um caso religioso a Roma política. “Se deixares esse homem livre, não és amigo de César” (Jo 19.12).

A popularidade de Jesus representava ameaça para a liderança do templo. Era preciso eliminá-lo e o meio era a cruz. Jesus atrapalhava – cruz para ele.

O que parecia uma crueldade (e de fato foi) trouxe a reboque salvação para o mundo. A crucificação colocou um ponto final ao drama da religião: que fazer para aproximar o homem do seu Deus? Jesus crucificado é o caminho.

A cruz foi transformada em trono para quem crê. Nela nos alegramos, porque se constitui a resposta de Deus para quem reclama ajuda do céu. A cruz foi transformada em tema de canções e livros, pauta para pregação, objeto de estudo e pesquisa. Ah, a cruz. “Virou” pingente de ouro, foi estampada na camiseta, colada como adesivo nos carros, talhada em madeira, gesso, prata, ouro, pedra. Arquitetada, ocupa praças e saguões de locais públicos. Houve a exaltação da cruz pelos pecadores carentes da salvação.

Mas – sempre há um “mas”, o tempo passou, alguém não percebeu essas manifestações e representações todas, nem ao menos o seu significado, e a cruz saiu da lista dos objetos de desejo e importância dos cristãos. A fusão dos desejos humanos mal resolvidos com o sentimento religioso natural da raça criou o ambiente para uma nova religião que escora-se no cristianismo, mas sem a cruz.

Os teólogos da nova religião nada sabem da cruz. A cruz atrapalha. De Bíblia são analfabetos, não lêem o relato da paixão de Cristo na cruz. Ou se lêem são sarcásticos, tanto ou mais que os judeus que gritavam “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Porque remover a cruz da religião cristã é condenar Jesus novamente à morte, é mandar Jesus de volta para Pilatos. Um cristianismo sem cruz é uma farsa, um arremedo.

Crer que Jesus morreu para dar vida boa a nós, marmanjos, é como dizer: “Morra, Jesus, para que eu prospere”. Crer que Jesus morreu para dar vida boa a nós equivale a apoiar a escravidão de latinos pela indústria da moda no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. É promover a desgraça de uns para o enriquecimento e embelezamento de outros. Enquanto uns são escravizados, outros desfilam seu glamour. Faz sentido isso? Claro que não. O cristianismo sem cruz é a mesma coisa: sem sentido.

Crer que Jesus morreu para dar vida boa a nós é como dizer: “Morra, Jesus, para que eu more bem”, “Morra, Jesus, para que eu troque de carro”, “Morra, Jesus, para que eu tenha melhor salário”.

Dizer-se cristão ou evangélico quem nada sabe da cruz e sua razão é crucificar tudo o que Jesus fez, é desmerecer o seu trabalho, o seu sofrimento e sua morte. Porque tudo o que excede o propósito estabelecido por ele, nega que ele tenha feito a coisa certa. Se acrescentar algo ao que Jesus fez, estarei dizendo que ele foi incompleto, insuficiente, e precisa de mim para completar a medida. Faço-me mediador, co-autor da salvação, ou... corretor de valores no balcão da igreja.

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