Profissionais da área de aconselhamento, no início dos anos 1960, identificaram três aspectos ligados ao relacionamento humano, cujos efeitos tinham o poder de curar sentimentos, emoções, traumas, enfim, possuíam efeito terapêutico. Esses três aspectos são: a empatia exata, a autenticidade e a dedicação não-possessiva.
A empatia exata é a sensibilidade que alguém possui com relação ao sentimento do outro e às suas necessidades de encontrar alguém para compartilhar e dividir a carga sob a qual está.
A autenticidade tem a ver com o conhecimento que temos a nosso respeito e a disposição e facilidade que temos de demonstrar isso às demais pessoas, sem reservas, sem bloqueios.
A dedicação não-possessiva é o aspecto terapêutico que permite à pessoa necessitada interagir com outro sem que para isso precise omitir suas deficiências e erros. É aceitar os outros como de fato são sem impor-lhes uma carga ainda maior de regras e obrigações.
Os pesquisadores chamaram a esse tripé de tríade terapêutica e observaram que a aplicação desses fatores nos relacionamentos humanos possuía um importante elemento: eles promoviam a cura.
Fazendo uma leitura de cada um dos elementos da tríade terapêutica, podemos apontar nas Escrituras três verdades bíblicas correspondentes e que aplicadas ao relacionamento promovem o mesmo efeito: cura. São eles:
Misericórdia. A misericórdia, semelhante à empatia exata, é capacidade humana de sentir compaixão pelo sofrimento alheio. Usando a linguagem bíblica, é “chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram” (Rm 12.15).
Verdade. A verdade é a capacidade de expressar, verbalmente ou não, aquilo que somos e os fatos como são, sem retoques, sem omissões, sem reservas. A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17) e o cristão deve ser moldado por ela. Portanto, esse é mais um aspecto bíblico correspondente a um elemento da tríade terapêutica que é a autenticidade.
Graça. Por fim a graça, favor imerecido, como gostamos de definir, e como de fato o é. Graça, segundo ouvimos nas igrejas desde pequenos, é dar o que não é merecido. Faz relação com a dedicação não-possessiva.
Análise de exemplos bíblicos
Vejamos, então, cinco exemplos bíblicos que envolvem os elementos misericórdia (ou empatia exata), verdade (ou autenticidade) e graça (ou dedicação não-possessiva).
O primeiro caso é a clássica multiplicação dos pães. Jesus, tendo acabado seu discurso, vendo a multidão faminta e sendo já a hora avançada, diz o texto bíblico: “Tenho compaixão desta multidão; já faz três dias que eles estão comigo e nada têm para comer. Não quero mandá-los embora com fome, porque podem desfalecer no caminho” (Jo 15.32). Jesus teve misericórdia dos seus seguidores e providenciou alimento, realizando o milagre da multiplicação dos pães e peixes.
Ele poderia simplesmente ignorar a situação, uma vez que seus seguidores estavam atrás dele espontaneamente, por vontade própria. Mas, ao sentir compaixão, promoveu o bem-estar das pessoas e restaurou inclusive uma possível desconfiança com respeito ao sentimento que Ele nutria em relação à multidão. Não são poucos os textos bíblicos que descrevem Jesus sentindo compaixão das pessoas (Mt 20.34; Mc 1.41; 6.34; Mc 8.2 entre outros)
O segundo caso está registrado em Romanos 9.15,16 (citação de Ex 33.19): "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão. Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus". Segundo essa passagem, Deus é a própria fonte de misericórdia, uma vez que parte dele a iniciativa de estender ajuda (ou misericórdia) ao necessitado, sem que este demonstre ou se esforce para demonstrar sua própria necessidade.
A terceira passagem é sobre verdade. Creio que a primeira demonstração de verdade, semelhante ao segundo caso, é a declaração de Deus feita a Moisés, que diz: “Eu sou o que sou” (Ex 3.14). Essa é, sem dúvida, a maior expressão da verdade, Deus manifestando-se sem reserva, ser ocultar qualquer que seja o aspecto de sua própria personalidade e caráter. É certo que Deus é verdade absoluta, o que não o somos, mas precisamos basear nossos esforços para imitá-lo, vivendo em verdade e em amor.
A quarta passagem que analiso é a passagem de João 4, onde Jesus aproximou-se de uma mulher samaritana quando esta retirava água de um poço. Segundo pode-se entender, o fato daquela mulher ter possuído tantos maridos, implicava em uma severa rejeição social. A história conta que as mulheres retiravam água daquele poço no final do dia, quando o sol estava ameno. Mas aquela mulher cumpria sua tarefa no ardor do sol em sua maior força, sabendo não haver outras mulheres ali que poderiam humilhá-la e rechaçá-la. Jesus, numa demonstração de graça, não só aproxima-se de uma mulher (outro Rabino como ele não faria isso), samaritana (outro judeu não faria isso) e mulher que teve vários maridos (qualquer outra pessoa da sociedade não faria isso). Incrível a demonstração de graça curadora demonstrada por Jesus.
A última passagem é também identificada com o Senhor, e uma passagem que gosto muito: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2.8). A cura eterna da alma humana pecadora é levada a efeito por meio da graça divina que dá o que não merecemos: o Salvador Jesus.
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