quarta-feira, 25 de maio de 2011

Confiar no Senhor, uma atitude racional

Confiança é o nome dado a um pequeno conjunto de sensações e percepções em relação a algo ou a alguém. Lemos em Provérbios 3.5,6 sobre a confiança que devemos ter no Senhor: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas.”


Confiar, neste texto, é um imperativo afirmativo. Confie, tenha confiança, tenha fé, acredite, ponha a esperança nele. Neste texto, confiar é um mandamento, não é uma opção para o leitor cristão.

Mas para que o homem possa confiar em algo ou em alguém é preciso, antes, assentar bases sólidas para a confiança. Da perspectiva bíblica, judaico-cristã, não é confiar racionalmente, no meu entendimento, mas confiar também emocionalmente no Senhor. O centro e o alicerce da fé cristã é o Senhor, portanto, as vias não são as da razão somente, mas também as do coração. Assim, é confiar integralmente.

Paulo, em Romanos 12.1,2 fala do culto racional, com inteligência, como meio de provar, conhecer e participar da vontade de Deus. Amolde-se ao padrão de Deus, à sua forma ou maneira de pensar e de entender as coisas. No entanto, o nosso conhecimento é parco diante de infinitude divina. Como é, então, o nosso entendimento? Nós não temos entendimento à altura das coisas de Deus; não as compreendemos correta ou plenamente por causa do pecado. Então a confiança nele trata de um incentivo à fé cega, uma vez que eu não entendo plenamente como Ele age e se comunica conosco? Também não.

A fé apóia-se em evidências e em testemunhos (ou resultados). A Bíblia é um livro de testemunhos daquilo que foi feito por Deus na vida dos homens. O texto de Provérbios diz: “Ele endireita as suas veredas” (v. 6b), ou seja, poderemos, se confiarmos, perceber os resultados de depositar nele a nossa confiança. Outra ocasião que evidencia isto é quando Jesus chamou os apóstolos pescadores às margens do Mar da Galileia; eles abandonaram tudo imediatamente. Jesus já era pregador conhecido e operador de milagres famoso na região. Eles abandonaram imediatamente suas redes por alguém de quem já tinham testemunho e conhecimento. Portanto, a fé deles foi depositada sobre um fundamento firme que reunia evidência e testemunho.

Agostinho, em suas Confissões, mapeou a fé dizendo que ela se dá num momento entre a compreensão e a explicação, ou seja, para que ela ocorra, preciso satisfazer minha compreensão sobre o objeto da fé e, depois de manifesta, preciso saber explicar porque ela ocorreu. A fé em si não tem explicação, mas nem por isso ela deve ser enquadrada na categoria das coisas irracionais. A fé reivindica entendimento e exala razões, por isso mesmo Pedro diz que devemos dar a “razão da nossa esperança” (1Pe 3.15).

Visto dessa forma, confiar no Senhor e reconhecê-lo em todos os nossos caminhos, como lemos em Provérbios, é a atitude mais segura, racional e desejável que podemos ter, principalmente atravessando tempos como os nossos, de extrema pluralidade e relativização.

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem aplaude você?

A igreja, mais uma vez, está diante da uma mudança ampla e global de paradigmas. Mudança ampla porque são vários os temas da agenda que têm sido revistos: comportamento, legislação, relacionamentos, diálogo interdisciplinar, importação da influência secular nos seus assuntos internos os mais variados e outros temas. E mudança universal porque são questões que cristãos por todo o mundo têm se deparado; não é um caso local ou regional.


Pouco tem sido discutido, salvo internamente em algumas denominações mais organizadas, sobre o modo como a Igreja lidará ou irá interagir com essas questões. Não há uma orquestração centralizada ou conjunta sobre isto. Alianças, convenções, conselhos reúnem gente em torno de outras demandas. Dessa forma, cada setor da igreja age como bem entende ou como entende melhor atender aos próprios interesses ou propósitos.

Alguns jargões já estão estabelecidos aqui e ali. “Precisamos adequar nossa linguagem”, “a igreja atende às demandas do homem pós-moderno”, “nossa igreja oferece o que o homem de hoje precisa”, “somos uma comunidade que respeita as diferenças” e por aí vai. Não só indivíduos, mas líderes e mesmo comunidades inteiras têm manifestado posições como essas. Os mais destacados saem em defesa de temas e questões que antes não eram simpáticos ao programa cristão e por conta disso têm recebido os holofotes da grande mídia.

Mas lendo duas publicações de circulação nacional no mesmo dia, cada qual destacando o vanguardismo de dois desses líderes bem distintos, artigos elogiando-os pelas posições assumidas, pelo rompimento com a tradição e convenções, uma pergunta surgiu em minha mente: Deus o aplaudiria da mesma forma como os de fora o aplaudem? Em seguida outra questão mais ampla: A igreja deve ser aplaudida por alinhar o seu discurso ao discurso das massas ou deveria buscar o aplauso por atender ao pobre, ao necessitado, por defender a causa do injustiçado e daquele que sofre? Claro, foi só um pensamento superlativo, utópico; nada vai mudar por conta disso.

Pessoalmente gostaria que a igreja estampasse páginas de jornais, revistas e portais na web pelo nosso engajamento em questões mais próximas à realidade brasileira. Não só pelo romper com tradições, mas também por romper as cadeias e libertar bolivianos do trabalho escravo no centro de São Paulo. Gostaria que a roupa suja lavada em público fosse a de famílias carentes, não a de pastores bem situados. Gostaria de ver um pastor ser entrevistado por sua atuação legítima, mas bem posicionada, em favor de minorias que não têm voz, não pelo escândalo de negar a fé que nos salva e um Deus que nos cuida.

Há público para todas as ocasiões e muitos pregadores já falaram sobre as duas multidões que seguiam a Jesus, a dos favoráveis e a dos contrários. Nosso cuidado deve alertar-nos para não querer agradar a ambas. A sabedoria diz ser impossível agradar a gregos e troianos e Jesus disse que quem serve a Deus não deve querer agradar a Mamon. Por que, então, achar que isso um dia irá mudar?

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um passo atrás pode significar avanço

Quando, há 13 anos, iniciei o ministério pastoral numa congregação aqui em S. Paulo, minha esposa e eu estávamos casados havia um ano. Minha dedicação era grande naquele trabalho – que também era a minha primeira experiência na função de pastor, ao passo que minha esposa, ela filha de pastor, já tinha sofrido o desgaste natural que filhos de pastores sofrem, com mudanças repentinas, abandono escolar no meio do ano letivo, exigências de bom comportamento por ser filha de pastor etc.


O resultado dessa tensão entre minha esposa e eu se deu na forma de afastamento gradual da parte dela das atividades naturais que se espera de uma esposa de pastor. Não estou com isso, de forma alguma, dando qualquer indicação de a atitude tenha sido equivocada, pois o sentido deste artigo vai noutra direção, como ficará claro.

Era de se esperar que os efeitos da experiência na igreja refletissem no lar, como de fato foi. Nosso relacionamento sempre passava pelas responsabilidades com a Igreja, com o pastorado, o que hoje entendo ter sido imaturo de nossa parte, certamente mais da minha. Aqui, a responsabilidade nas coisas do Reino não está em questão, mas os papéis de cada um, esses sim devem ser separados entre o lar e a igreja.

Durante aquele tempo, incomodava-me particularmente um texto de Paulo a Timóteo, que diz: “... se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?” (1Tm 3.5). Eu vivia essa triste realidade e esse dilema incômodo. Esse versículo havia sido escrito para mim, pois não conseguia conciliar o lar com a igreja, a família com as responsabilidades ministeriais. E sabia que, por se tratar da Palavra de Deus, ela devia ser observada e cumprida sem resistência. Não poderia continuar vivendo um faz-de-conta, pois a aparência é tudo o que o Senhor não leva em conta, não é? Sabemos que é assim. Pastores que vivem de aparência também têm resultados aparentes, mas não consistentes. Vivem a ilusão de que ninguém saberá como são suas vidas pessoais, quando na verdade todos comentam a vida de aparência que levam. Seus frutos são palha, não alimentam.

O que fazer, então? Voltar atrás? Mas que pastor abriu mão do posto – alguns diriam “que pastor soltou o osso” – por causa da família? “A família que se ajuste!” – diriam alguns. Não, Paulo não diz isso no texto. A família está posta à frente da igreja de Deus, ao menos na visão do apóstolo, e deve ser assim conosco também. Pastores e cristãos experientes dizerem que a ordem a ser seguida é “Deus, a família e a igreja depois”, sem com isso tirar a devida importância da igreja. A família é a base de tudo, da igreja, como da sociedade.

Era hora, então, de dar um passo atrás, que na verdade era um passo à frente, rumo ao que o Senhor prescrevia. Procurar enquadrar-se no que diz a palavra de Deus nunca é voltar atrás, mas sempre um avançar, ir em frente, rumo ao que agrada a Deus. É assim que prosseguimos para o alvo: avançando, e o alvo deveria ser alcançado (Fp 3.14). Sendo a obediência à Palavra de Deus o alvo, estamos sempre avançando quando tentamos aplicá-la à nossa vida.

O lar é, portanto, o grande laboratório do obreiro e do cristão. É no lar onde temos oportunidades para testar nossas habilidades no trato com pessoas de diferentes personalidades, para demonstrar senso de equidade, moderação e pacificação, senso disciplinador, solução de problemas, resolução de conflitos, moderação de interesses os mais diversos. E depois de sermos aprovados no lar, teremos credenciais para estar à frente da igreja de Deus, onde essas questões tornarão a aparecer em proporções ainda maiores.

Por isso, uma palavra a você, caso tenha ou esteja atravessando uma experiência semelhante, de olhar para a igreja e ver uma situação diferente da que tem encontrado em sua casa ― a igreja vai bem, mas o lar tem sido destruído: se for necessário, dê um passo na direção daquilo que o Senhor espera de você. Dê um passo no sentido indicado pela Palavra de Deus. Dê um passo para restaurar as coisas dentro da sua casa e seguramente o Senhor irá honrar o seu compromisso com a Verdade, restaurando o seu ministério no tempo adequado e oportuno. Posso testificar que comigo essa palavra se cumpriu. Por que seria diferente com você?

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Os cultos nos lares e o crescimento da igreja

Quem não conhece alguém que tenha se convertido ao cristianismo num culto realizado no lar? Se você não conhecia alguém, devo apresentar-me, pois eu mesmo sou fruto de trabalhos em casas, os chamados “cultos nos lares”. O culto no lar difere do culto doméstico apenas no fato de que o doméstico é realizado pela própria família, ao passo que o culto no lar é um trabalho oficial da igreja, normalmente dirigido por um obreiro. Mas voltemos ao ponto.


Tive o privilégio de fazer a mesma pergunta a muitos pastores experientes, que iniciaram trabalhos em cidades pequenas, distantes dos grandes centros, e alguns até em grandes cidades. Hoje eles estão à frente de igrejas fortes e numerosas, mas nem sempre foi assim. E a pergunta, qual era?

― Como iniciar e fortalecer um trabalho onde não havia uma igreja antes?

A resposta foi unânime: visitas e cultos nos lares. Os modernos meios e métodos de crescimento de igrejas não contemplam mais esta alternativa. O foco hoje é a mídia, o espaço na televisão, a exposição do líder carismático, o investimento em comunicação visual à exemplo da comunicação corporativa e até mesmo as ferramentas da web, que convergem para o que se chama “igreja eletrônica”. Há, a bem da verdade, outros métodos mais acessíveis e de bons resultados, mas todos focados nos trabalhos feitos na igreja.

Talvez esses métodos sejam o meio ao alcance (não disse adequado) das mega-igrejas, mas é preciso pensar em um mecanismo que possa atender a igrejas de menor porte, e é aí que entram os cultos nos lares. Vejamos algumas vantagens e benefícios desses trabalhos:

― eles aproximam o pastor da ovelha
― abrem a porta para pessoas que não iriam à uma igreja por diversos motivos
― são facilitadores do acesso a visinhos, parentes, amigos e pessoas com deficiências físicas ou com problemas de saúde
― promovem maior liberdade, por deixar as pessoas nos seus ambientes seguros: o lar
― ajudam no desenvolvimento de talentos, pois as pessoas têm a oportunidade de participar mais ativamente
― promovem o exercício de dons espirituais
― promovem maior comunhão
― remove a falsa aparência das pessoas, mostrando quem são e como vivem
― ajuda a treinar novos obreiros, que podem ter oportunidades para pregar suas primeiras mensagens
― ajuda no desenvolvimento de cantores(as) e músicos
― por ser com número reduzido de pessoas, é possível orar pelos presentes de maneira mais pessoal
― facilita a maior comunhão entre os irmãos, sentados à roda de uma mesa, por exemplo
― é um ambiente terapêutico propício para a confissão de pecados e tratamentos dos mesmos, o que irá promover maior santidade
― atrai os adolescentes e jovens da comunidade
― promove a criação de uma rede de relacionamentos, o network
― leva a um estudo mais eficaz da Palavra de Deus, onde as dúvidas podem ser tiradas no momento da palavra etc.

Muitos outros benefícios poderiam ser listados aqui. Fato é que as pessoas que participam dos cultos nos lares certamente irão freqüentar a igreja nas suas reuniões oficiais, e serão cristãos mais fortes, maduros, experimentados. Novos membros serão pescados nos lares para depois serem admitidos na igreja local.

Além disso, os cultos nos lares são excelentes meios de levar a igreja para dentro da comunidade local, para apresentar o Evangelho a essa comunidade, para expor as propostas da igreja e assim cumprir parte da sua missão ou ao menos facilitar o cumprimento dessa missão. E como disse Bryan Jay Bost em seu livro “De casa em casa” (Vida Cristã/Arte Editorial), “a igreja precisa ir aonde as pessoas estão e as pessoas estão nas suas casas”. Pense a respeito.

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma reflexão sobre a União Homoafetiva e a Pregação do Evangelho

A decisão favorável dos ministros do Supremo à união estável entre casais homoafetivos causou desconforto na comunidade evangélica também. Muitas questões têm sido levantadas sobre as consequências de tal decisão. Lideranças evangélicas que militam na área da família têm alertado para desdobramentos nada agradáveis em áreas como criação de filhos e desestruturação de lares. Uns falam em igrejas tendo que admitir pastores e líderes homossexuais em seus quadros. Pastores, professores e pregadores do evangelho temem não poder ao menos mencionar textos bíblicos que discriminam pessoas por sua opção sexual, como p. ex., Romanos 1.18-32 ou mesmo Gênesis 1.27.


Mesmo não sendo da área do direito, entendo que a questão deva se resumir à “discriminação”. E o que é discriminação? Precisamos recorrer ao dicionário, pois a própria decisão do Supremo apoiou-se na letra da Lei. Segundo Houaiss, “discriminação” é distinção, diferenciação. Seguindo essas definições, a pregação do evangelho é discriminatória, pois diferencia e distingue salvos e perdidos, crentes e incrédulos, pecadores e santos. Tem sido assim desde Abel e Caim. Subtrair essa questão das pregações seria abolir o sentido e o significado da mensagem evangélica. mais que isso, seria atar o cristianismo a um conjunto reduzido de normas éticas e temporais em vez de mensagem de esperança eterna.

O evangelho de Jesus diferencia, mas não rejeita – abraça. Assim, a igreja faz diferença, mas não promove o preconceito; é preciso considerar isso. Que sociedade tem maiores índices de recuperação de dependentes químicos? Que sociedade restaura mais lares destruídos? Que sociedade reabilita mais alcoólatras? Que sociedade cria capelanias penitenciárias e hospitalares para cuidar desses grupos? A Igreja, seguindo os passos de Jesus, procura pelo pecador, porque Jesus veio “buscar e salvar o perdido”. Até mesmo homossexuais cansados de sua condição vêm à Igreja em busca de apoio no sentido de mudarem, e certamente o fazem por opção livre ao entenderem corretamente a sua situação diante da proposta e da mensagem cristã.

Mas Houaiss dá mais definições, dentre as quais temos: separação, tratamento injusto. Aqui a questão fica mais séria, já que “separar” pode ser entendido como ato preconceituoso, o que deverá levar à uma ação criminal cabível. O mesmo pode ser dito sobre “tratamento injusto”, o que não é a intenção da igreja nos moldes tradicionais, se considerarmos o que disse acima sobre “separar” e “diferenciar”.

Mas haverá “justiça cega” no Brasil? Justiça cega é aquela que não olha a quem, que não julga pela aparência, mas julga o fato pelo que ele representa à luz da Constituição Federal – que, diga-se de passagem, alguns advogados e entendidos dizem que a decisão do Supremo passou por cima.

Mas sabemos que defender ideologias no Brasil não constitui crime nem preconceito, por tratar-se de um Estado democrático. A exceção são temas que ferem a memória da humanidade, como anti-semitismo, p. ex. Assim, penso que defender os princípios bíblicos como ser homem ou mulher por Deus ter-nos criado assim, não poderá jamais ser considerado discriminação; do contrário, imperaria a ditadura gay. Os partidos defendem suas ideologias. Prenderíamos os políticos por isso? As torcidas organizadas defendem o seu clube. Prenderíamos os torcedores por isso? Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados.

Mas Houaiss disse que discriminação é “separação”, o que faz lembrar as palavras de Jesus em Mateus 25.32,33: “Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.” Jesus, vindo ao Brasil, seria condenado novamente. Dessa vez por discriminação, por fazer separação, por dar tratamento injusto a quem tem direito à sua própria opção sexual. Coitadinho de Jesus, novamente discriminado pelos homens. Opa! Discriminado? Não, não podemos discriminar sob pela do peso da lei.

Então como fica? Como podemos viver pacificamente se ser gay no Brasil traz agora suas garantias contra os demais, e por outro lado a mensagem que pregamos não pode – igualmente – ser discriminada? Esta parece cada dia mais ser uma questão a ser resolvida no outro mundo, no mundo vindouro, quando estivermos diante do Juiz que se engana. Do contrário, que processem a Deus, que disse em sua Palavra: “Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.” (1Co 6.9,10, ênfase acrescentada)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Diabo e a utilização do bem

A noção mais popular acerca do modo como Satanás age é por meio do erro, seja induzindo o homem a ele, seja aproveitando-se daquilo que é feito errado. Tiago 1.14,15 (e outros textos) nos diz que, ao menos o mau desejo, nasce em nós: “Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (ênfase minha).


Mas essa não é a única circunstância na qual o Diabo age. Ele também se vale do bem para semear o mau (o joio no meio do trigo), se vale da verdade para plantar a mentira e se aproveita da boa fé para inculcar a má fé. Exemplo disso é a seguinte passagem ocorrida logo após Pedro fazer a premiada declaração de que Jesus era “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16,17). O Senhor começou a ensinar sobre o seu iminente sofrimento, ao que Pedro o repreendeu dizendo que aquilo não aconteceria de forma alguma: “Jesus virou-se e disse a Pedro: ‘Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens’”. (Mt 16.23).

Nós não temos muito material para avaliar se houve outra motivação além da aparente compaixão de Pedro pelo sofrimento de Jesus, talvez pelo recente elogio que Pedro acabara de receber. Mas fato é que no intuito de preservar a vida de Jesus, de fazê-lo desistir do enfrentamento necessário, Pedro cometeu um ato falho. Não é o caso de ensinar que houve um pecado, o que fica claro no fato de Jesus não repreendê-lo, mas ao Diabo. Jesus não dirige uma só vírgula ao seu apóstolo. Do contrário, dirige-se à Satanás a sua palavra de negação, de censura, de repreensão.

Assim também ocorre com algumas de nossas ações. Elas são motivadas pelo zelo a algum aspecto da experiência cristã, pela preservação da verdade, pela compaixão com o próximo, até mesmo pela boa vontade. Mas perceber ou avaliar tal motivação por uma única perspectiva, por um só ponto de vista, ou quando todos os aspectos ou efeitos daquela ação não são conhecidos – como parece ser o caso de Pedro, que desconhecia a ocorrência do plano eterno de Deus – pode criar a ocasião para que o Diabo intrometa-se em nosso meio. As palavras da boca de Pedro, as ações de nossas mãos, as motivações do nosso coração, enfim, podem ser legítimas, mas quando há consequências as quais não pensamos, as quais não avaliamos, e desdobramentos que desconhecemos ou que nos estão ocultos, o bem inicialmente pretendido se torna o mal a ser censurado e repreendido.

Por isso a Bíblia diz que ele é astuto. Não foram poucas as vezes que enganou os melhores, que dirá a nós, a mim ao menos. Assim, é muito bom quando pensamos o tempo todo nas coisas do céu, nas obras da luz, mas olhando também as ocorrências terrenas. Numa sociedade que perde aos poucos a percepção do sagrado, fará bem quem não esquecer o profano com o qual temos que ter atenção. Atenção ao mal, e todo louvor a Deus.

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

O que sustenta as suas convicções?

Recentemente troquei twittes com um conhecido teólogo no Brasil e com um outro seguidor no Twitter. O teólogo twittou que “certeza é um estado mental que prescinde da fé, da aposta. Quem tem certezas sobre Deus e salvação, não crê que salvação vem pela fé”. Bonita frase, não! E disse mais: “após viver a fé, a pessoa tem convicção. Eu penso que a fé nos leva a convicção que é diferente da certeza”. Ao primeiro twitte respondi que “quem se aproxima de Deus e da salvação o faz pela fé. Quem está nele [Deus] ou nela [salvação] desfruta da segurança que a fé proporciona. Agora tem certeza”, ou seja, após aproximar-se de Deus pela fé, alcança a certeza, uma vez que a fé é a prova (certeza, confirmação, cfm. Hb 11.1) daquilo no qual cremos.

O caso do outro seguidor ocorreu após eu publicar no blog um post sobre o pastor como nosso “tutor”, considerando que o tutor é aquele que guia o discípulo no seu aprendizado. Penso que todos precisamos disso! Creio que muito da fraqueza espiritual e falta de conhecimento bíblico básico se deve ao abandono do trabalho de discipulado como era, por exemplo, há vinte anos ou mais. A resposta que recebi foi: “tutor? O único tutor da minha fé é o Espírito Santo de Deus. Pastor nenhum tem esse poder.”.

Há coisas que são bonitas de se dizer, aparentemente seguras em suas convicções, mas será que elas têm fundamento sólido? A poesia do teólogo pode ser inspiradora, mas ela tropeça na etimologia, no próprio significado das palavras. A coragem do irmão que não quer o pastor como tutor pode parecer admirável, mas tropeça na ignorância sobre o que a Bíblia está ensinando.

O teólogo confundiu certeza com convicção; para ele – como ficou claro nos demais twitts que trocamos – a certeza é algo próprio da ciência enquanto que à fé cabe-lhe tão somente a convicção. Mas qualquer dicionário informa que convicção é... certeza adquirida! Ele trocou seis por meia dúzia. Além do mais, como disse, Hebreus 11.1 ensina que a fé é certeza; mais que isso: é prova, algo com a qual a ciência quer lidar, a fé já nos deu. Portanto, a fé fornece provas para aquele que a possui. Essa fé é, dessa forma, um fundamento firme e seguro e basta aos crentes.

No outro caso, o corajoso irmão espiritual diz que não precisa de liderança, nem de pastor, apenas do Espírito Santo. Mas então o que fazemos com Efésios 4, por exemplo, onde Paulo disse que foi o próprio Jesus quem capacitou a liderança (pastores, mestres, evangelistas etc.) para que estes capacitassem os demais membros do Corpo? E o que fazer com o capítulo 12 de 1Corintios e tantos outros textos do Novo Testamento? São textos que falam da ação e relação interpessoal com vistas ao crescimento e edificação mútuo, da Igreja, providos pelo próprio Espírito Santo por meio da liderança! Duvido que o irmão tenha um Monte Sinai no quintal de casa e Deus esteja falando com ele todos os dias.

Cada dia mais a Bíblia tem sido colocada de lado diante de maneiras estranhas de pensar e viver o cristianismo. Aquele teólogo, com seus pressupostos pós-modernistas, usa o desconstrutivismo literário para interpretar a Bíblia e se perde completamente no significado das próprias palavras. O irmão corajoso mostra a sua valentia espiritual, mas se esquiva da revelação bíblica sobre a qual o Senhor Jesus tem edificado a sua Igreja há dois mil anos. Não fosse com essa finalidade, de guiar, orientar, alimentar, para que o Senhor teria informado a existência desses homens no meio do rebanho. Se apenas a comunhão dos santos bastasse, não seriam necessários tantos textos do NT que falam do exercício desses dons ministeriais.

Nossa tarefa é sermos leais a Cristo por sua Palavra, que sustenta a Igreja. A sua Verdade é a base e o fundamento. Tenho visto perfis em redes sociais que trazem rótulos bastante divisores. “Sou reformado”; “sou pré-milenista”; “sou apologista”; “sou arminiano”; “sou polêmico”; “sou de Cristo”; “sou calvinista”; “sou amilenista convicto”; “sou da graça”. Até mesmo eu, que neste perfil sou Neoprotestante. Temos sido uma grande aldeia de escribas, fariseus, saduceus e herodianos, não!

Nossa lealdade deve ser à Palavra da verdade. Devemos ser leais à Verdade de Deus e não aos nossos rótulos. É pela verdade e pela santidade que somos conhecidos como cristãos; pelo sal que nos tempera, não pelo mel que adoça. Não fomos chamados para defender um homem, um sistema ideológico, uma tendência secularizante, um modelo eclesiológico, uma denominação, uma hierarquia, uma abordagem teológica. Tudo isso deve estar ao nosso serviço, mas não deve nos orientar, nem devia ser motivo de nossa divisão. Fomos chamados para sermos cooperadores de Cristo, membros uns dos outros, mas temos dividido o seu corpo ao defendermos uma lealdade que é estranha à vocação cristã. Ao fazer isso, fica ainda mais clara a fala do Senhor quando disse que muitos dirão a ele: “Profetizamos em seu nome, Senhor”. Mas ele dirá: “Nunca os conheci”.

Precisamos sentarmo-nos à mesa, abrir a Bíblia e estudá-la. Precisamos sentarmo-nos à mesa e ter comunhão uns com os outros, sem deixar ninguém de fora. O que sustenta uma família sólida são os momentos em redor da mesa, quando o pai olha os olhos do filho, quando a filha olha os olhos da mãe, quando todos se olham e partem o pão.

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