sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Enjoo

Algumas experiências recentes têm frutificado em mim. Uma delas ocorreu ano passado num evento e deu ocasião a escrever o post A intolerância dos "tolerantes". Logo depois outra. Observei um amigo que investiu longos meses pesquisando e escrevendo um volumoso livro no qual condena alguns aspectos de determinada igreja. Mais que isso, ele chegou a pagar alta quantia em dinheiro pela impressão de milhares de livros, apenas para apontar o que ele entende ser herético naquela denominação. Não houvesse nada publicado sobre o tema, ainda vá lá; mas há muito material. É chover no molhado, imagino.

Mas a gota d'água que provocou em mim enjoo veio depois. Um "crente" – como crente até o Diabo é – recém chegado de uma viagem internacional que o levou a participar por uma semana de um congresso "abençoado" (suas palavras), já em seu primeiro dia no Brasil passou a tarde e a noite inteiras pixando a imagem de outro pastor através do seu blog e do Tweeter. Como pode alguém ficar uma semana mergulhado em cultos, mensagens, louvores e, logo em seguida, sair malhando alguém, ainda que não fosse cristão?

No último ano segui essa pessoa no microblog e notei como ela gasta tempo promovendo a própria imagem (e seu próprio blog) às custas de uma perseguição mesquinha àquele pastor e a uns outros que não pensam como ele. Trocando em miúdos, o negócio é falar mal, não importa de quem. É isso o que traz seguidores. Fale mal do Malafaia, e ganhe seguidores. Fale mal do Gondim e ganhe seguidores. Fale mal do Caio Fabio, e ganhe seguidores.

Essa cultura de que trata-se de “apologia”, “defesa da doutrina”, “volta à Bíblia”, é pura hipocrisia, lenga-lenga que serve de disfarce a pastor assalariado que não produz a salvação de uma alma sequer, e justifica o seu salário produzindo textos piegas, pobre, difamatório e teologicamente míope. Deviam ir procurar emprego, ir trabalhar como gente grande, em vez de posarem de pastores – que não são. Ouça certos programas de rádio e irá ouvir uma porção de vozes vinda dessa ala da Igreja. Claro que há apologistas sérios no Brasil, eu sei. Mas o infeliz desdobramento da apologia séria e comprometida tem fecundado nos ignorantes esse câncer, essa deformação no corpo cristão.

Enjoei. Enjoei muito. E confesso meu arrependimento se nalgum momento eu mesmo fiz isso ou promovi esse tipo de “cristianismo metido a macho” e desumano. “Metido a macho” porque quem o alimenta tem a alma intolerante, egoísta e ignorante, como os machos que se reúnem em botequins de esquina para discutir futebol, falar de mulher e contar vantagens sobre suas proezas domésticas, do tipo “quem manda lá em casa sou eu”. Enjoei de sites tipo “imprensa marrom” ou “tablóide britânico” travestidos de sites apologéticos. Repito: não são todos, há uma meia dúzia de gente séria, capacitada, produzindo bons textos nesta área.

Enjoei desse tipo de “cristianismo”, que percebo ser um arremedo da verdadeira religião, como concorda Tiago (Tg 1.26). É um falso cristianismo, ou melhor, um anticristianismo, inspirado pelo anticristo. Se isso é o que a Igreja produz “de melhor” estamos bem encrencados! Oxalá não seja. Tenho sinceras dúvidas se Jesus se daria o trabalho de morrer para que esses nojentos coronéis pudessem se sentar diante de seus teclados e passar o dia todo disparando frases com 140 caracteres contra tudo e contra todos. Será mesmo?

Teria sido mesmo necessário morrer para que nós criássemos uma apologética da destruição e da difamação, ávida e ligeira ao apontar o dedo contra quem pensa diferente, mas profundamente lenta e incapaz de mover uma palha em favor d’uma causa maior, mais nobre?

Enjoei mesmo. Enjoei desse movimento que se diz “apologético”. Não a apologia histórica, com raízes profundas, históricas e bíblicas. Enjoei dessa ala da Igreja que por incompetência de promover um diálogo de alto nível com o pensamento secular, onde as razões da esperança sejam discutidas, satisfaz-se voltando suas armas e sua pequenez para dentro da própria igreja, forçando para fazer cair aqueles que estão olhando para o alto, “tateando um caminho mais excelente”. Sinto que falta a essa turma um pouco mais da graça de Deus e menos do tribunal do Diabo. Esses não sabem nem o que fazem, pois na origem a apologia era a defesa da fé contra os ataques de fora. Muitos desses que se nomeiam “apologetas” são paroleiros e pseudo-escritores desatualizados, ultrapassados e com vocabulário bastante limitado para se enveredar na literatura. Perderam o bonde da história; não perceberam, ainda, que o inimigo é outro. Ele está lá fora, não aqui dentro.

Só para citar dois exemplos, o Islamismo tem investido 13 bilhões de dólares anualmente nas universidades dos Estados Unidos com o intuito de promover sua fé débil naquele país. O mesmo tem sido feito em relação a outras regiões do planeta. Cadê esses apologetas que nada falam sobre isso? Onde estão essas “maria-fofoqueiras”? Onde estão os defensores da sã doutrina? O movimento ateu, na Inglaterra e nos mesmos Estados Unidos, tem se fortalecido com o fim de realizar campanhas de difamação e promover o descrédito contra a Igreja. Cadê os ávidos escritores apologetas que nada falam sobre isso? Onde estão os “Nelson Rubens gospel” que não se posicionam frente a esses movimentos? Eles têm alertado a Igreja sobre o islamismo que já tem fortes bases no Brasil, no Paraná e em São Paulo? Estou seguro que não. Estão ocupados patrulhando a vida de pastores que estão trabalhando. Isso tem dado enjoo em mim.

Se eu puder aconselhar a você, leitor, minha palavra é essa: cuidado para não enjoar também. Fuja dessa gente; não vale a pena segui-los. De minha parte, prometo que farei o que puder para minar esse comportamento diabólico em nosso arraial. Não quero discutir a vida de irmãos, fortes ou fracos na fé. Discutir ideias e abordagens teológicas sim, sempre, com o intuito de aprender e crescer. Mas prometo não alimentar essa rede de difamação que se instalou na igreja brasileira, esse joio formado por gente inútil que nega a mesma fé que dizem professar. Quero combater esse falso cristianismo hipócrita, raso, que dispara fogo amigo e se promove denegrindo aquele por quem Jesus morreu (Rm 5.6; 14,15; 1Co 8.11). Fora com isso do meu caminho, pois esse tipo de fé me enjoa.

Você pergunta se eu não sou hipócrita também? Devo ser sim, mas arrependido.

2 comentários:

  1. Mais uma vez eu digo que vc ás vezes me parece um profeta. Tenho alertado sobre essa conduta á amigos e até me distanciei de grupos de relacionamento devido a esse vício diabólico e detestável. Há melhores coisas para se pensar e fazer. Meu abraço. Tenho crescido contigo, meu amado. CSS

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  2. Me permite publicar esse texto em meu blog?

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