segunda-feira, 28 de março de 2011

Fariseus, saduceus, escribas e cristianismo

Este post poderia ter outros títulos, como Fariseus, saduceus e escribas do cristianismo ou, ainda, Mais do mesmo.


Após a invasão de Jerusalém sob liderança de Antíoco IV (Epífanes) em 168 a.C., judeus devotos, sob a liderança de um sacerdote chamado Matatias, revoltaram-se em 167 a.C. Matatias logo morreu, mas a liderança da revolta passou para um de seus filhos, Judas. A família de Matatias tornou-se conhecida como “Macabeus” a partir do apelido Maccabeus (o Martelo) dado a Judas.

A história do reinado macabeu (hasmoneanos) é uma história de luta e discórdia causada pela ambição pelo poder. Os objetivos políticos alienavam muito dos religiosos judeus. Os descendentes dos hasmoneanos tornaram-se os saduceus da época do Novo Testamento (e talvez dos essênios). Os sucessores dos judeus devotos que se opuseram aos hasmoneanos tornaram-se os fariseus.

No Novo Testamento, o maior e mais influente grupo era o dos fariseus. Eles surgiram logo depois dos macabeus. Por volta de 135 a.C, estavam bem estabelecidos. Os fariseus guardavam a lei rigidamente, criam na existência de anjos e espíritos e esperavam a ressurreição do corpo. No início os fariseus eram um partido legítimo que protestava contra o mundanismo da liderança religiosa vigente, os saduceus. Alguns cristãos primitivos vieram da seita farisaica (At 15.5). Aqueles dentre os fariseus que creram encontraram em Jesus o cumprimento de suas esperanças.

Os saduceus eram em número menor do que os fariseus, mas tinham maior poder político. A maioria das famílias de sumos sacerdotes dos tempos do Novo Testamento era de saduceus, que seguiam a interpretação literal da Lei ou Torá, aceitando apenas esses livros da Bíblia. Eles rejeitavam a tradição oral que os fariseus aceitavam, negavam a existência de anjos e espíritos e não acreditavam na imortalidade pessoal. Os saduceus estavam prontos para apoiar qualquer governante que pudesse preservar a influência que tinham.

Nas narrativas dos Evangelhos encontramos ainda os escribas (ou mestres da Lei, Mt 23). Jesus censurou a estes juntamente com os fariseus. Os escribas eram especialistas na Lei de Moisés, encarregados dos rolos, reproduções dos antigos livros e, como o nome já diz, eram versados, mestres da Lei diante do povo e consultados quando havia alguma divergência na aplicação da Lei.

Olhando em retrospectiva, vejo que o cristianismo também produziu os mesmos grupos. Assim como os fariseus, há um grupo de cristãos que manipula as massas e as leva a exigirem a crucificação do Senhor pelos seus falsos ensinos; um grupo que mata o Senhor diariamente, ao menos de vergonha. Saduceus também são vistos por aqui, numa pretensa elite que não crê na contemporaneidade das manifestações sobrenaturais de Deus e que aposta em alianças políticas. Não faltam, também, os escribas, os “mestres da lei” (com “l” minúsculo). Um grupo que começou bem com as Escrituras, mas progrediu até criar a sua própria norma de fé e prática, os seus próprios cânones e midrashs, a qual traz à ponta da língua, mas tal tradição tem posto um véu sobre o que foi escrito originalmente. Jesus diria a esta turma: “Leste no seu catecismo o que foi escrito, eu porém vos digo...”.

A Bíblia descreve a história da raça humana como linear e a história das religiões é descrita como cíclica. A religião cristã não é exceção e tem trazido de volta, com novas roupagens, os seus próprios fariseus, os seus saduceus e os escribas. De suas próprias trincheiras, o discurso muitas vezes se assemelha. Fala-se muito em unidade (em todos as frentes ouço isso), fala-se em alianças, fala-se consultas, em Corpo, em Reino, mas praticamente nada é feito de fato além dos muros dos seus próprios arraiais. Reino não, mas os impérios são defendidos, sejam eles de poder, financeiro e mesmo intelectual.

Graças a Deus que preserva os Cornélios, os Simeões e as Anas.

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Um comentário:

  1. Pastor Magno,
    Esse texto aponta de modo contundente as castas que estão no cristianismo contemporâneo. Se Jesus aqui estivesse, em carne, que diria? Talvez chorasse como o fez sobre Jerusalém, após sua entrada triunfal.
    Um abraço
    Izaldil.

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