sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os cristãos brasileiros escravos de Jerusalém

Ainda que a Bíblia ensine, ainda que blogs e alguns autores e palestrantes insistam, muita gente, muitas igrejas, muitos ministérios estão apoiados e empenhados no resgate da tradição, costumes, rituais e tudo o que tenha origem no judaísmo do Antigo Testamento. Há uma insistente e incômoda mania repetir expressões hebraicas, tocando shofares, enfeitando púlpitos com menorás, bandeiras de Israel e arcas, danças, pregações exclusivas em textos do Antigo Testamento (Gl 4.10). E muito mais.


Sabemos que o Antigo Testamento foi substituído pelo novo, que deu ao anterior o seu pleno significado. Nada do Antigo é pleno: nem os sacrifícios, nem as festas, nem as profecias (principalmente!), nem as vestimentas. Nada! Todas essas coisas só encontram significado pleno, sentido eterno e vida na pessoa, vida, obra, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Isto está bem claro no Novo Testamento, embora apóstolos, patriarcas e tantos outros cristãos de hoje não consigam enxergar.

Mas veja o que li em Gálatas: “... estas mulheres [Agar e Sara] representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe”. (Gl 4.24-26, grifo meu).

Paulo escreveu a carta aos Gálatas porque encontrou ali a mesma situação, o mesmo ambiente, as mesmas práticas que podem ser vistas fartamente na igreja “evangélica” brasileira. Tenho até receio de usar o termo “evangélica” a uma comunidade tão “hebreia” quanto algumas das quais me refiro aqui. Paulo acusa, dentre outras coisas, de retrocesso na vida espiritual chegando ao ponto de chamá-los de insensatos (Gl 1.6; 3.1,3. A versão espanhola da NVI traduz por torpes). Mas este texto no parágrafo anterior é brilhante demais para ser desconsiderado: a Jerusalém terrena e seus filhos (seus adeptos fieis) estão escravizados, presos, sendo enganados por uma aliança sem valor.

Concordo que há pessoas que se sentem atraídas pelos rituais, por uma religião mística, cheia de simbolismos, liturgias rígidas, paramentos e tudo o mais. Mas não se engane: é prisão, e prisão carece de libertação. É retrocesso, que carece de avanço. É – o mais grave – abandono e afastamento do sacrifício perfeito de Cristo, e por isso mesmo leva à perdição.

Como a própria carta ensina a preferência ou adesão a esses hábitos leva inevitavelmente ao afastamento da salvação e, portanto, não resta mais alternativa: “Vocês, que procuram ser justificados pela Lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça” (Gl 5.4).

Imagino que a falta de compreensão do Evangelho e o desejo por algo visual e emocionalmente mais evidente é que leva pessoas a trocarem uma aliança tão rica e sólida quando a aliança no sangue do Cordeiro, que em si incorpora cada aspecto e detalhe da antiga e frágil aliança feita com o passado judaico. Por isso, apelo a que cada um procure nos livros de tipologia bíblica a identificação e a correlação da religião antiga com a vida presente e volte ao sentido natural da jornada de cada cristão.

Leia também “Não quero candelabro

3 comentários:

  1. Excelente! Parace que arrancaram Gálatas e Hebreus da Bíblia desse pessoal.

    Grata surpresa encontrar seu blog. Parabéns por sua proposta e conteúdo. Já estou seguindo.

    Aproveito para lhe convidar a conhecer também o meu blog, e se desejar também segui-lo, ficarei muito honrado.

    www.hermesfernandes.com

    Juntos pelo Reino e por sua Justiça.

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  2. Valeu, Danilo. Já conheço o seu trabalho na quadrilha do Genizah. Vou seguir seu blog também e quando terminar de escrever o livro, pode mandar para avaliação na Arte Editorial (editora@arteeditorial.com.br) que teremos prazer em recebê-lo. Sou editor por aqui. Abs

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  3. E ai amigo Paganneli...Amei seu texto. Acho que a maioria dos Cristãos Brasileiros não tem esta noção a respeito do Judaismo. Precisamos de mais pessoas como voce. Parabens. Pr. Moisés Di Souza

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