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sexta-feira, 30 de março de 2012

Questões sobre a formação do Alcorão (1ª parte)

Todo estudante de Teologia sabe que a Bíblia foi preservada por meio de inúmeras (fala-se mesmo em milhares) cópias dos manuscritos originais, já que esses se perderam. A tradição dos pais da Igreja já no primeiro século, além da própria comunidade primitiva, atestou a mensagem que posteriormente foi preservada nos documentos que formaram o cânon.(1) Esses documentos são os que temos disponíveis hoje, sendo 66 livros do Antigo Testamento e 39 do novo Testamento.

A perícia das ciências ligadas ao estudo desses documentos tem atestado o que se afirma e se crê sobre as Escrituras Sagradas do Cristianismo. Arqueologia, paleografia, a historiografia, epigrafia, filologia e muitos outros ramos do saber vêm atestando o que cremos há séculos. Os manuscritos de Qunran ou Do Mar Morto, considerados a maior descoberta arqueológica do Século 20 chancela que a Bíblia usada em todo o mundo é a mesma, deste os primitivos textos do Antigo Testamento. Fato.

Receio que o mesmo não se possa dizer em relação ao Alcorão. Em poucos parágrafos vou indicar cinco flancos nos quais a fé islâmica não pode se apoiar no Alcorão como registro seguro para a fé e a esperança de um dia morar no Paraíso, como desejam os muçulmanos.

1. A tradição e história islâmicas afirmam e insistem que o profeta Mohammad recebeu as revelações que compõem o Alcorão quando estava em meditação em cavernas na Arábia. Mohammad, como se sabe, era analfabeto. Ele não escreveu nada do que lhe foi revelado, mas confiou aos parentes e seguidores a composição do texto. Muitas vezes os transes se davam quando não havia recursos apropriados para registrar as revelações. Seus companheiros escreviam em troncos de árvores, pernas ou ossos de animais mortos, folhas de palmeiras, pedras, esteiras, curtume e sobre o que tivessem à mão. Confiavam na memória ou a recitadores (isso no Século 7 d.C., quando a facilidade de escrita já era bastante difundida e as técnicas já muito avançadas). Essas revelações foram compiladas somente num documento único trezentos anos depois, quando já havia pelo menos 24 variantes dos manuscritos. À exceção de uma compilação de Zid ibn Thabit foi escolhida porque seu dialeto Quraishi era a língua falada por Mohammad. As demais foram queimadas. (2)

2. As dezenas de cópias cuja composição não se combinavam entre si foram destruídas para admitir-se uma. O critério, portanto, não foi a autenticidade, como se verifica na tradição escriba dos manuscritos do Antigo Testamento, por exemplo. Já que dificilmente eram encontradas duas cópias idênticas do Alcorão já no seu nascimento, como se pode atestar a fidedignidade do que foi preservado até hoje? Impossível; e os demais documentos foram queimados, portanto, desfeita toda possibilidade de comparação e verificação.

3. A deficiência flagrante no estilo literário, com excessos de pronomes e carência de substantivos depõe contra um texto sobre o qual se alega ter inspiração divina. Um historiador muçulmano brasileiro afirmou a mim que o texto não é do profeta, mas do próprio Allah. A Bíblia, por sua vez, é rica em seus vários estilos usados pelos cerca de 40 autores. Sua história tem ritmo, sentido, enredo, harmonia, riqueza de detalhes e o vocabulário próprio dos autores mostra a honestidade da inspiração divina que se valeu de autores humanos respeitando o contexto social, político, religioso e cultural de cada um. Questiono a possível de um deus que se mostrou com tamanha beleza literária tivesse depois sofrido de tão profunda falta de inspiração na composição de outro documento de própria autoria.

4. A alta incidência de porções incompreensíveis, mesmo para árabes e tradutores, textos sem sentido, com falta de sentido lógico e raciocínio linear (essas são palavras de tradutores árabes). A tradição islâmica defende ser inapropriado traduzir o Alcorão para qualquer idioma, alegando que o árabe foi escolhido e preservado para esta finalidade e que nenhuma tradução para nenhuma língua existente poderá verter o sentido e a beleza originais. Por isso dizem que quem quiser ler o Alcorão deve aprender o árabe e ler o original. O que os linguistas que não são de tradição islâmica e mesmo alguns muçulmanos mais honestos afirmam não é isso, mas que de fato o texto é complexo e deficiente.

5. As repetições são outro problema do Alcorão. A história do Êxodo, por exemplo, é repetida 27 vezes, curiosamente omitindo a porção principal, que trata da Páscoa, evento fundamental na tradição judaico-cristã. Don Richardson diz que “era a história de púlpito preferida de Maomé”. Detalhes da vida de Abraão são repetidos 24 vezes no Alcorão. A história de Noé se repete 27 vezes. Richardson afirma que isso inflou o texto já reduzido e se essas repetições fossem retiradas o Alcorão seria 40% menor.

Além disso, Mohammad incorporou no seu texto histórias do Antigo Testamento trocando e alterando os originais conforme constam da Bíblia. Por exemplo, na sua narrativa da escolha dos trezentos valentes de Gideão, ele substituiu o juiz Gideão pelo rei Saul. Além de adulterar a fonte, cometeu anacronismo, já que Saul viveu pelo menos 200 anos depois de Gideão. Na Suta 5.23 Mohammad quer contar a história de Josué e Calebe, mas não sabe o nome desses dois personagens e se sai com um vago “dois homens”. Na Sura 2.249 ele confunde Gideão com Saul. Mas essa insistência nas histórias bíblicas tem um motivo: pegar carona na credibilidade e fazer-se herdeiro da tradição judaica e sucessor dos profetas do Antigo Testamento e de Jesus, o que já em seu tempo foi mal visto pelos judeus de Medina e de Meca como também pelos cristãos.

Talvez essa resistência de judeus e cristãos em receber a mensagem de Mohammad explique por que em todo o Alcorão encontramos versos orientando a perseguição especificamente a esses dois grupos.

Que os muçulmanos de todo o mundo possam compreender isso da mesma forma, porque o Deus das páginas da Bíblia não persegue nem a amigos nem a inimigos.

Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o SENHOR, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam. Voltem! (Ez 33.11).

Parte do texto foi adaptado de Islamismo e Apocalipse, do autor, publicado pela Arte Editorial (2012).

(1) Os documentos do Novo Testamento foram canonizados no 3º Concilio de Cartago, em 397 d.C.
(2) CANER, Ergun Mehmet & CANER, Emir Fethi. O islã sem véu: um olhar sobre a vida e a fé muçulmana, pp. 91,92.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O deus do Alcorão é o mesmo Deus da Bíblia?

Mahmoud Ahmadinejad, em discurso nas Nações Unidas,
segura uma Bíblia e o Alcorão.

No post anterior tratei a questão da confusão entre os nomes dados por árabes e judeus a quem chamam “Deus”. Jeová (Yahweh) é o Deus judaico-cristão e árabes e muçulmanos têm Allah como expressão da maior divindade.

A questão equacionou a confusão que não interessa aos cristãos, de confundir a adoração devida a Jeová. Ao profeta do Islã, Mohammad, interessava aproximar-se de judeus e cristãos, pois se conseguisse convencê-los teria muitos possíveis seguidores. Mas Jeová e Allah são essencialmente distintos.

E como podemos saber? Lendo a Bíblia e o Alcorão e comparando. Os teólogos e sábios muçulmanos insistem em que judeus e cristãos coromperam as Escrituras e Mohammad foi enviado por Allah a fim de corrigir isso (é possível ver uma possível contradição nas Suras 4.136 e 10.94, versão Challita). Se fosse o mesmo ser, por que houve descontinuidade da Bíblia para o Alcorão, escrito 600 anos depois de Cristo?

Allah é radicalmente oposto Jeová. O discurso islâmico quando os imigrantes chegam a uma nação sempre foi de paz. Assista a uma entrevista, leia um edital, procure uma manifestação oficial e verá alguém preocupado com o desenvolvimento social, com a educação, com os pobres e devotado às orações, jejuns e espiritualidade. Seria muito bom se o espírito do Islã fosse esse.

A repetida alegação de que o deus do Islã seja o mesmo Deus cristão com nomes diferentes não é verdade. Se um muçulmano pensa assim, está enganado sobre Jeová. Essa afirmação pode ser conferida, pois o Alcorão registra o que estou afirmando.

Allah insistentemente ameaça de sofrimento eterno no inferno ou sofrimentos e castigos, julgamento e perdição uma vez a cada 7,9 versos. Em contraste, no Antigo Testamento isso ocorre uma a cada 774 versos e no Novo Testamento uma a cada 120 versos. No Antigo Testamento, que os muçulmanos acusam de também promover a guerra e a vingança, os castigos representam a menor parte de todo o texto. Sem contar que esses textos precisam ser avaliados à luz de uma exegese séria, que não é feita por eles quando citam a Bíblia. Nem mesmo no estudo do Alcorão se mostram fiéis aos critérios de estudo de textos antigos ou sagrados (hermenêutica). Veja isto:

... a tendência crê na possibilidade do ijtihad (livre) nos demais domínios da vida, e por conseguinte na legitimidade de trocar ou modificar o Texto Religioso [Alcorão e hadiths] em seu sentido interpretativo, segundo os interesses do momento e as circunstâncias da situação.(1) (ênfases acrescentadas)

Que “verdade” é essa que pode ser mudada em função de “interesses do momento e circunstâncias da situação”?

O Alcorão não tem uma sequência de 100 versos sem uma ameaça de perdição no inferno. Dos seus 6.151 versos, 109 deles são versos de guerra, isto é, um a cada 55 versos estimula a guerra.(2) Por esse motivo é preciso entender que se trata de dois seres divergentes.

O Deus judaico-cristão, embora rigoroso com os seus, não tem prazer na morte do ímpio(Ez 33.11), e corrige como qualquer um de nós faria com seus filhos, mas ama, protege, orienta e, principalmente, dá graça, salva generosamente (Ef 2.8,9). Allah não dá garantias de salvação, salvo ao mártir, aquele que “morre pela causa”. Aos demais, é preciso contar com a boa sorte após a morte.

O Islã não comporta a crença da salvação como obra de Deus em favor do pecador. O deus do Islã não salva, mas é rápido e eficiente para enviar os infiéis para o fogo. O hadith 24 diz que o Islã é uma religião que não crê no Salvador vindo de Deus, e apoia a salvação pelas obras:

Ó servos meus, são as vossas obras que computo. E logo vos compensarei por elas.
No comentário de abertura de Os Quarenta Hadiths, o libanês muçulmano Samir El Hayek afirma:

Todas as pessoas nascem sem pecado, e nobres, sendo que não há necessidade de um Salvador. Elas são responsáveis pelo que têm ganho, de bom ou de mal.(3)

Tem devoção e temos a Deus, onde quer que estejas. E depois de haveres cometido uma falta, apressa-te em contrabalançá-la com uma boa obra, pois esta a extirpará. Ademais, convive bondosamente com as pessoas.(4) (tradição Tirmizi)

O professor Hayek afirma não haver Salvador nem a necessidade de um. Os Ditos (5) asseguram ser preciso “lutar contra os idólatras, até que prestem testemunho de que não há outra divindade”.(6) O raciocínio lógico que se obtém da junção desse ensino é o seguinte:

1. Não há Salvador
2. Minhas obras levam-me à salvação
3. Lutar contra os infiéis (judeus e cristãos) é uma obra desejável
4. Para salvar-me, vou combatê-los

Embora o Alcorão chame Allah de “clemente e misericordioso” exaustivamente, o Deus cristão não promove esse pensamento. Paulo diz como cristãos devem encarar todo e qualquer conflito:

... pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6.12).

Em qualquer situação os cristãos verão as divergências nesta perspectiva; não lutamos no campo físico, pessoal e material, mesmo sabendo que a consequência natural do mundo espiritual ocorra no mundo físico.

(1) ASSAYED, Ayatullah Al-Odhma & ASSADR, Mohammad Baquer. Estudos islâmicos sobre Al-Wilayah e Al Mahdi. São Paulo: Centro Islâmico no Brasil, 2006, p.63.
(2) RICHARDSON, Don. Segredos do Alcorão. Camanducaia: Missão Horizontes América Latina, 2007.
(3) HAYEK, Samir. Os quarenta hadith (ditos), p. 2.
(4) Ibidem, p. 6.
(5) Os Ditos (hadiths ou ahadiths são comentários dos ditos do profeta Mohammad (Maomé) preservados oralmente por seus companheiros e pelos primeiros líderes do Islã.
(6) O Dito 8 diz: “Deus me ordenou lutar contra os idólatras, até que prestem testemunho de que não há outra divindade além do Deus único, e de que Mohammad é o Mensageiro de Deus... Se cumprirem isso, terão salvaguardado suas vidas e seus bens de mim... Deus os fará prestar contas” (Bukhari e Muslin). Ibidem, p. 4.