terça-feira, 17 de janeiro de 2012

“Dançando conforme a música” ou “Eu também tenho um sonho”

A passagem dos primeiros versículo aos Gálatas 2, embora cômica, revela muito do jeito humano (e cristão) de ser diante de situações díspares. Estando entre os cristãos da gálacia, portanto gentios, Pedro desfruta as práticas deles sem quaisquer constrangimentos. Isto inclui as práticas religiosas daqueles cristãos, por exemplo sua liberdade no culto. E por que deveria ficar constrangido? Porque sendo judeu, vivia imerso numa cultura mais rígida e fechada.

Porém, com a chegada dos cristãos de Jerusalém e, portanto judeus que preservam costumes judaicos tanto mais rígidos, Pedro aos poucos isolou-se daqueles irmãos e de suas práticas a fim de não ser contestado pelos pares da sua própria nação (ou “denomi”nação).

“Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: ‘Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios e viver como judeus’?” (Gl 2.14).

Pedro... sempre ele. Buscava aprovação dos outros. E para isso, tinha que dançar conforme a música. Paulo, noutra ocasião, declarou que se fazia de grego, de bárbaro, de fraco, de qualquer coisa, a fim de ganhar esses que eram diferentes dele, cuja cultura era outra. Há diferença entre esses comportamentos? Por que Pedro foi advertido e Paulo não mereceu a mesma correção? Por causa da motivação? Vejamos.

Ao “ajustar” o seu comportamento à fé livre dos gentios, Pedro falseava a própria teologia, isto é, suas próprias convicções de fé. Paulo não; ele mantinha as suas convicções e ajustava-se à cultura local tão somente. Diante dos gálatas, Pedro se comportava como um deles para em seguida dizer que havia outro padrão ao qual deveriam ajustar-se: o modo judeu de ser cristão, conforme vemos Paulo acusando-o. É como se dissesse: “Vocês estão no caminho certo, mas não é ‘bem isso’ o que se espera de cristãos maduros. Vocês ainda chegam lá, como eu cheguei.”

Paulo não usa do mesmo expediente, pois entende sua missão como pregador do evangelho, e não interfere na cultura local nem nos costumes das Igrejas, salvo se os mesmos forem contrários ao próprio evangelho.

Pedro está discutindo questões secundárias à fé, querendo fazer delas pontos fundamentais da doutrina. É como se um pentecostal dissesse a um batista: ‘Você precisa falar línguas estranhas para ser maduro”, ou um presbiteriano dissesse: “Vocês devem batizar crianças” ou um batista afirmasse: “As línguas eram só para aqueles tempo”. O pentecostal crê que as línguas são tanto um dom como sinal para incrédulos ainda hoje, o presbiteriano entende que o pedobatismo está fundamentado nos preceitos da aliança do Antigo Testamento, e o batista admite a cessassão de parte dos dons (não todos), mas nem uma nem outra doutrina movem o fundamento, que é Cristo. Eu não batizo crianças, mas isso não significa que eu tenha dúvidas sobre a salvação daqueles que são batizados nesta época de suas vidas. É questão secundária.

Após os primeiros rompantes da Reforma no Século 16, teve início as chamadas guerras confessionais, disputas internas no movimento reformista para determinar “a mais pura doutrina”. Algo semelhante já havia ocorrido nos primeiros séculos da Igreja com relação a divindade de Cristo, ao Espírito Santo, a Trindade, só para citar algumas.

Às guerras confessionais sucederam as disputas denominacionais, assim que as confissões de fé desdobraram-se em instituições as quais se formaram em torno de cada confissão admitida. Isso não tem fim no âmbito macro, institucional. Mas pode ― e deve ― ser equacionado nos níveis mais baixos, no nível humano, eu diria; entre os irmãos.

Vejo haver certa urgência em buscar um cristianismo mais simples, que mesmo com menos sofisticação não seja por isso menos inteligente. Vejo haver urgência de um cristianismo que não seja regido pelo número de page views em nossos blogs, pelo sensacionalismo, pelo Ibope dos canais de televisão. Um cristianismo que não anuncie a minha ou a sua maneira de ser como a mais correta e funcional, mas que apresente o modo como o Senhor Jesus nos quer em comunhão com o próximo e vivendo no mundo, implantando o seu Reino.

Enquanto buscarmos aprovação uns dos outros seremos sempre Pedro na galácia, negando nossas origens e tendo a consciência pesada por tal negação (salvo aqueles que já a tem cauterizada). Teremos uma teologia instável, dependente da aprovação daqueles com quem queremos nos associar. Isso só provoca em nós mais mal estar. Devemos ficar na posição em que fomos chamados.

Diante disso tudo, “eu também tenho um sonho”, como diria Luther King Jr.

Siga-me no Tweeter: @magnopaganelli

2 comentários:

  1. minhas apologias, mas no understand... você avança e depois retrocede na idéia... onde quer chegar?

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  2. Administrador, poderia dar um ou mais exemplos disto no texto, por favor? Terei prazer em apreciar seu comentário.

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