A pergunta pode soar estranha, e para alguns será. Temos visto, ouvido e lido sobre a fé como requisito básico para os mais diversos fins: culto, consolação, cura, enriquecimento. E talvez pouca reflexão tem sido proposta sobre a fé para viver a vida. Não falarei sobre o "viver da fé" ou "viver pela fé" como se concebe a questão nas igrejas. Vamos ficar no campo da normalidade, entendendo "normalidade" como rege o grosso da membresia.
A fé não é objeto exclusivo das pessoas assumidamente religiosas. Se quisesse ser irônico poderia dizer que tudo o que muitos dos atuais "religiosos" não ostentam é paradoxalmente a fé, uma vez que vivem de poupudos salários ganhos no mercado da... fé!
A fé tampouco é só o amuleto dos ignorantes, pessoals do conhecimento científico, alienados. Ao contrário, a fim de se chegar à fé também é preciso levar a razão ao seu limite para, então, adentrar nos domínios da fé mais plena, onde a razão nada tem a dizer. É ali onde se descobre a mente e os desígnios de Deus, tarefa perseguida pela razão e, consequentemente, pelas modernas ciências. Como as ciências não têm todas as respostas, chega a um momento quando precisa se calar. É quando a fé pode ser ouvida ou mesmo o sussuro do próprio Deus.
Dessa forma, a razão provê base para decisões no curso de nossas vidas. Ela nos diz como viver determinadas situações. No entanto, a razão não dá todas as razões da nossa vida, da nossa existência. Sempre haverá um momento quando o intelecto se verá limitado pelas circunstâncias. Uma doença incurável, uma situação de desemprego ou endividamento, a solidão, o abandono, a traição entre outras ocorrências tão comuns a nós humanos.
É neste ponto que todos, indistintamente, recorremos à fé. Muitos inconscientemente, mas todos apoiamo-nos nesse recurso inato ao ser humano. Quando o pai de família acorda desempregado, precisando colocar alimento à mesa e já esgotou as possibilidades de recolocação, ele recorre à fé. É a sua fé em algo ou alguém que ele mesmo não saiba descrever ou nomear; mas ele escora-se na possibilidade de alguma força além de si que virá ao seu socorro. E isto é fé.
Todos precisamos de fé e todos nascemos com ela. Uns admitem-na e fazem uso indiscriminado, exploram-na, compartilham, vivem na fé. Outros se dizem céticos, ateus até, mas como diz uma canção, "quando a coisa aperta, dizem: 'Ai, meu Deus!'."
Está aí um fato curioso. O homem é um ser religioso no sentido de que manifesta traços de uma espiritualidade que muitas vezes não é reconhecida, e por isso não a admite. Mas ela está lá, latente, presente.
Chamem-na esperança, acaso, conspiração do Universo, sorte, casualidade, coincidência e tantos outros codinomes que a maqueiam, mas no fundo é ela: a fé. Que é a esperança de que este dia será melhor do que ontem senão a própria e viva manifestação da fé? A Bíblia afirma isto quando diz que a fé é a certeza daquilo que "esperamos". Portanto, a esperança é fé em estado bruto.
Por isso, não podemos negar outros elementos que a acompanham, como suas manifestações, pois seria mais embaraçoso para quem não admite tê-la. A pergunta a ser respondida por estes, então, é: Uma vez que a tem, você tem fé em quê? Ou ainda: Você tem nutrido a sua fé, alimentando-a como ao seu intelecto ou como cuida das suas emoções?
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