quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sobre a profissão de fé


O número de líderes que dedicam tempo integral ao ministério é grande. Via de regra o caminho percorrido até que um desses obreiros chegue ao topo dessa “pirâmide” é igualmente longo.


Certamente o leitor conhece, por experiência ou por observação, a trajetória da carreira espiritual. O sujeito nasce, cresce, aceita a Cristo, serve ao Senhor, é consagrado e embrenha-se pelo matagal do ministério. Muito bem. Mas e quando esse obreiro, esse pastor, ou bispo – seja lá o que for, “chega lá”? Ele passa a viver da fé, jargão que responde a tantos questionamentos... e já não olha mais o ministério de baixo para cima, como um objetivo, uma meta a ser alcançada. Agora ele é o objetivo, ele é a meta, ele é o topo. Curioso, não?

A igreja ou a comunidade está ali, os membros, as parcerias, os departamentos, os colaboradores ou obreiros. Tudo sob sua batuta, às suas ordens.

A profissão de fé passa de uma simples confissão para uma complexa carreira, uma profissão como a maioria dos mortais conhece – pelo menos aqueles que têm um emprego formal. Sim, porque profissão de fé é o ato de proferir, de confessar uma orientação religiosa e primar por seguir os ensinos adotados por tal orientação. E profissão formal é o emprego onde trabalhamos diariamente para ganhar nosso sustento material.

Mas agora, aquele crente não só profere uma orientação religiosa como também vive dessa profissão, trabalha, dá expediente. A obra passa a ser o seu negócio, o seu ramo de atividade, a sua área de atuação e o gabinete pastoral torna-se o seu escritório. O que muda aí? Qual a postura a ser tomada?

Estou seguro que a postura não deveria ser mudada. A motivação precisa permanecer: continuar a serviço do Reino e trabalhar para ganhar almas, ensinar cristãos, treinar obreiros, edificar o Corpo.

Mas não é assim tão fácil. Um dia o camarada olhará para o seu ofício e verá que ele vive daquilo. E a tentação pressionará para que ele encare seu ministério como um negócio, e como tal deve dar lucro, gerar renda, igualar-se aos mais bem-sucedidos profissionais. Afinal ele está no topo!

Reconheçamos: não é tarefa fácil. E é nessa hora que a “roda gigante” deve funcionar. Ele que está lá em cima deve saber que a descida o impulsionará a nova subida. Que isto quer dizer? Quer dizer que alguns dos fundamentos da vida cristã ajudarão, tais como oração devocional, vida dependente, comunhão.

Dedicar-se a esses pontos primários e fundamentais são de vital importância para a manutenção de uma vida espiritual sadia. O olhar para a carreira ministerial como uma profissão como outra qualquer deve existir, e existirá. A motivação, no entanto, é que deve diferir. Ainda que alguns profissionais pautem suas ações pelos lucros, pelos ganhos cada vez maiores, outros há que vêm suas profissões como meio de realização pessoal. Aquele que vive da fé deve ver além: deve ver sua carreira, sua profissão de fé como meio de realização do projeto do seu Senhor.

Reside aí a fonte de toda a satisfação que irá gozar e a razão de toda a motivação que irá sentir.

Olhar, racionalizar e discernir. Olhar para a carreira; compreender o que há por trás e distinguir entre o secular e o sacro. É um exercício aparentemente simples e eficiente. Mas o sedentarismo mental ronda até mesmo essa tão simples prática.

2 comentários:

  1. Alentador. Provocador. Eu mesmo sei quão difícil é administrar o tempo dedicado exclusivamente à Obra sem se perder na idéia da "profissão". Vez por outra me perguntam: qual sua profissão? Respondo: professor. Sim, sou professor formado e habilitado. No momento, estou pastor. Mas não é profissão, e sim, missão.
    Belo texto, amigo!

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  2. Uma reflexão muito interessante. A divisa entre ministério, missão e a profissionalização das funções eclesiásticas é muito tênue. É preciso muita firmeza, convicção e vigilância para não cair na tentação "lucro".
    Muito bom!

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