segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sobre Credos, Confissões e Catecismos

Foi Teodoro Beza, biógrafo de João Calvino, quem deu início a certas ênfases na doutrina de Calvino, ênfases essas que o próprio biografado não pretendia dar. Nascia aí o calvinismo que Calvino não ensinou. Justiça seja feita, nem todo o calvinismo deve ser rejeitado, pois trata-se de um excelente programa de reforma de toda a sociedade e não somente da igreja. Entretanto, alguns dos chamados Cinco Pontos do Calvinismo(1)parecem, até mesmo para um calvinista como Norman Geisler, interpretações imprecisas e absurdas do que a Bíblia ensina. Geisler critica abertamente R. C. Sproul, um dos maiores escritores e defensores da doutrina calvinista, demonstrando falácias e contradições em alguns de seus pensamentos e textos.

Há muito o que escrever sobre questões como essas; eu não seria ingênuo a ponto de pretender propor uma revisão do modo como certos grupos reformados lidam com as questões do dia-a-dia da fé. Mas, como dito no início do capítulo, o ponto de partida, em torno do qual proponho a discussão, é o modo como lidamos com o conhecimento herdado – pela tradição e pela Escritura – e a aplicação que fazemos dessa herança, ao conduzirmos pessoas a Cristo e levá-las ao discipulado e à disciplina, com vistas ao crescimento e amadurecimento na fé e na cidadania.

Tenho questões que gostaria que alguém respondesse. Se para os cristãos a Bíblia é a única e última autoridade em matéria de fé e verdade, e uma vez que é possível encontrar nela as principais declarações elaboradas nos Credos que a igreja produziu, por que então não usarmos pura e simplesmente a Bíblia no ensino aos cristãos? Em que, por exemplo, um texto como o de Colossenses 1.15-20 fica devendo diante de um Credo Apostólico ou um Credo Niceno?

Um dos postulados ou slogans da Reforma, formulado por Gilbertus Voetius (1589-1676), é Ecclesia reformata et semper reformanda est, que pode ser traduzido por A Igreja é reformada e está sempre se reformando. Esse princípio, segundo a proposta reformacionista, deveria ser encarado à luz de outra reivindicação: sola scriptura (só a Escritura). Esse sola, que surgiu em oposição à força da tradição romana imposta sobre cada aspecto da vida do cristão, advogava que o alvo era sempre o de promover um retorno às Escrituras.(2) Os reformadores não queriam uma igreja que estivesse sempre mudando, mas sempre se reformando, uma vez que reformar implicava retorno ao texto bíblico, o que promovia um ciclo de pureza a cada leitura e reordenamento da prática do ensino bíblico.

Ao considerar que há diversas passagens bíblicas com declarações posteriormente exploradas nos documentos da Igreja, não estou aqui atacando e repudiando documento algum, principalmente depois de vermos sua necessidade em momentos decisivos da história. Mas há que se dizer que os mesmos precisam ser colocados em seus devidos lugares, em função de uma convergência para ou exaltação da Palavra de Deus. Ela é absoluta, bem como a verdade encontrada em suas páginas. Ela é viva!

(...) o fato de a Bíblia ser nossa autoridade suprema é que nos dá liberdade de retornar às Escrituras e redescobrir verdades, que foram obscurecidas pela tradição e pelos costumes, em relação à igreja. Uma das razões que muitos crentes temem mudanças e defendem as tradições da igreja local é porque suspeitam que a mudança os leva para longe da verdade mais que em direção a ela. (3)

A Bíblia não é um livro de receitas, é um documento único da revelação divina (ênfase minha). (4)

Os perdidos que admitem a necessidade de serem salvos (os eleitos?) não querem saber o que cremos ou o que temos a dizer sobre Deus; eles querem saber o que Deus está dizendo para eles e quais são as boas novas de Deus para o perdido. Da mesma forma, os problemas enfrentados pela Igreja, em determinados momentos da história, devem ser tratados à luz da compreensão reformada pela Escritura. Outros autores também têm notado e escrito sobre a tendência à rigidez provocada pela adoção e “reverência” de documentos históricos em denominações que se guiam por eles.

O projeto para uma comunidade cristã dinâmica é a Palavra de Deus. Embora se deva apreciar as interpretações culturais, tradicionais e denominacionais da Igreja, todas as formas da Igreja de Cristo devem, em suma, sujeitar-se às Escrituras, caso contrário elas, em sua caminhada ao sabor do vento, deixarão, cada vez mais, de ser cristãs. (5)

Não pode haver dúvida de que, mais do que nunca, é preciso nos expormos ao texto bíblico, permitindo que o Senhor fale por meio dele. Por mais sérios que sejam os demais documentos, por mais piedosos que tenham sido seus autores, a Palavra de Deus é nossa regra única de fé. Mesmo irmãos de dentro dos círculos reformados têm identificado grupos que se excedem na defesa dos Credos e das Confissões.

Enquanto escrevia este capítulo, conversei sobre isso com um pastor amigo meu, militante na igreja Reformada. Ele lamentou ver que alguns de seus pares são capazes de conversar por uma hora inteira, citando vários trechos das Confissões, se citar uma única vez a qualquer versículo da Bíblia. Creio que essa não seja a posição dominante a Igreja, mas é um vício a ser combatido.

Certamente, só a exposição diante das Sagradas Escrituras poderá dar respostas seguras para a condução da Igreja na chamada pós-modernidade. Ainda que um Credo ou Confissão funcione como sumário daquilo que Deus diz em sua Palavra, é preciso admitir que muitos casos assemelham-se a alguns apóstolos que impediam as crianças festivas de se achegarem a Cristo. Os apóstolos estão no Caminho, mas é preciso deixar as crianças irem a Cristo.

** Extraído do livro É Cristã a Igreja Evangélica?, publicado pela Arte Editorial
 
1 Os cinco pontos são: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos.

2 Sempre reformando ou sempre deformando? Augustus Nicodemus, in Servos Ordenados. São Paulo: Ed.Cultura Cristã, ano 3, no. 11, out-dez/2006, p. 19.
3 HORRELL, op. cit., p. 156.
4 Barth. Op. cit., p. 120.
5 Horrell. Op. cit., p. 94.

Outra regra de fé e prática?

Haveria boa intenção por parte daqueles que produziram tais orientações, bem como de todos os que as haviam transmitido, geração após geração, seja verbalmente, seja por escrito (o Midrash)? É certo que sim. Mas, onde estava o problema apontado por Jesus, uma vez que pode-se presumir a boa intenção dos autores e dos transmissores dessas orientações?

O problema é que essas orientações não eram Palavra de Deus e impediam acesso à Palavra revelada por Deus, ou averiguação direta da mesma. Ora, pergunto, o fato de que a produção e distribuição de Bíblias nunca foi tão ampla, implica a conclusão de que disso decorre a possibilidade do acesso ao texto bíblico, por toda e qualquer pessoa que deseje investigá-la pessoalmente? De modo nenhum! A prova é o caso que contei há pouco.

O estatuto(1), ou a declaração de fé(2), das igrejas/denominações mais recentes, rege a conduta dos que se filiam a tais instituições, muitas vezes sem levar em conta o que diz a Palavra de Deus.8 Igrejas históricas de orientação reformada(3), a luterana e algumas pentecostais adotam credos e confissões(4). Somente as mais novas têm redigido seus próprios documentos. Tirando o caráter pejorativo que as disputas e diferenças fomentaram, as divergências entre saduceus, fariseus, essênios e outras seitas menos expressivas no cenário judeu também tinham como pedra de toque as divergências de cunho doutrinário.

Instituições existem, e são constituídas, por pessoas que têm ideais e propostas em comum, e desejam que seus anseios sejam representados pela própria instituição ante a sociedade. As instituições eclesiásticas agregam pessoas que procuram respostas a inquietações e questionamentos que, para elas, ainda não foram resolvidos. Essas instituições vão crescendo, à medida que atraem aqueles que compartilham respostas de consenso, do grupo, a tais questões.

O mesmo se aplica a determinados sistemas filosóficos. Depois do Iluminismo, por exemplo, o Humanismo Existencialista atraiu muitas pessoas que, diante de um agudo sofrimento como o das duas Grandes Guerras, perderam a esperança nas respostas dadas pela religião.

Ora, quando uma instituição não dá respostas satisfatórias às pessoas, estas a abandonam, indo em busca de identidade e respostas em outra. Esta segunda instituição pode ser um sistema filosófico, um movimento nascente, ou uma instituição eclesiástica reunida em torno de uma ideologia e estabelecida em prédios ou templos.

O problema da instituição é que, quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna uma renovação em sua maneira de ver a si mesma, ou no critério adotado para fornecer respostas às novas questões que se apresentam a cada dia. E não deveria ser assim, mesmo nas igrejas cuja norma é a utilização de antigos documentos.

É esse o exato esclarecimento que encontramos no prefácio da 17ª edição da Confissão de Fé de Westminster, onde, meu amigo, Dr. Cláudio Marra, adverte que a Confissão “não tenciona congelar-nos no passado nem inutilizar nossa capacidade de raciocínio e reflexão (...) ela nos desafia e estimula a pensarmos profundamente nossa época e a buscarmos nas Escrituras as respostas para as urgentes questões que enfrentamos”.(5)

De fato, há problemas sociais notados hoje que sequer eram imaginados há poucas décadas. Pesquisas com células-tronco, eutanásia, proteção aos direitos dos homossexuais. Ou, quem sabe, questões muito mais antigas, mas bem mais próxima a nós, como: batizar ou não um filósofo existencialista que já havia passado pelo batismo infantil?

O que diz o estatuto? E a declaração de fé? Podemos batizar ou não? Mas, essa é a pergunta a ser feita? A Congregação Cristã do Brasil (para citar um exemplo que conheço) ordena que até mesmo os cristãos adultos, vindos de outras denominações evangélicas, sejam rebatizados! Bem, considerando que cristãos ortodoxos não aceitam que Congregação Cristã seja apresentada como exemplo, por considerarem que se trata de uma seita herética, cabe questionar: O que é uma heresia? Quem determina o que é heresia? Trata-se de um conceito relativo? Cada grupo define o que entende que seja heresia?

A pergunta a ser feita – como entendo – é o que diz a Escritura a esse respeito. Suponho que devamos partir deste ponto. Mas os estatutos – dirá alguém – existem para nortear biblicamente a igreja-denominação, em defesa da fé, diante dos desafios que se apresentam. Ora, desconfio dessa declaração por duas razões muito próximas e posso esclarecê-las, começando por narrar um fato que me ajuda a esclarecer a primeira razão. E é o seguinte: fui convidado a desenvolver o projeto gráfico do livreto que contém o estatuto de uma denominação bem conhecida. Não era da minha conta, mas, em uma das reuniões com o pastor responsável por me repassar as informações e arquivos para o trabalho gráfico, perguntei que pontos haviam sido alterados no estatuto. Aquele pastor, um tanto constrangido, disse-me que algumas questões “inconvenientes” haviam sido “deixadas de fora”. Mas, em vez de se omitir quanto a questões desconfortáveis, não é evidente que a atitude bíblica, de pastoreio, seria a de enfrentar essas questões, até para eliminar a desatualização do documento?

O segundo motivo, pelo qual desconfio dessa declaração, é mais genérico. Diz respeito à pessoa por trás do estatuto, ou à instituição por trás do estatuto ou declaração de fé. A pessoa, ou comissão, que elabora o estatuto, ou a declaração de fé (ou ainda a sistematização teológica, sejamos honestos), o faz seguindo as tradições (orais, em boa parte) da instituição, seguindo as “mishnas” da sua orientação religiosa ou denominacional. O problema, aqui, é a estratificação desses textos, a elevação dos mesmos à uma categoria próxima a de “pseudo-inspirados”, e a aplicação dos mesmos a todo custo, algumas vezes a despeito do ensino bíblico

E isso quando a tradição é formalmente documentada – no papel, para que todos possam consultá-la. Existem grandes igrejas, de abrangência nacional, cuja tradição é oral mesmo: o novo membro só tem acesso à orientação teológica do grupo, sobre determinados assuntos, à medida que convive com a comunidade e se envolve com seus problemas e meandros. Só aos poucos, “os mistérios” vão sendo revelados. E quanto ao texto bíblico, quem tem tempo de ler suas centenas de páginas à procura de respostas? Creio que essa razão seria a mais apresentada na igreja da atualidade, sempre regida pelo “senso de urgência” e de fast food adotadas, pelas instituições seculares e corporativas, como padrão.

“Suspeito” que, embora tenha que dialogar com a cultura de seu próprio tempo, a Igreja não pode seguir nos trilhos, quer da modernidade, quer da pós-modernidade. Ela deve centralizar-se em Cristo e descentralizar-se do mundo. Embora esteja no mundo, não é do mundo. Ora, se parecemos ser como as demais pessoas, por que as pessoas se sentiriam atraídas por Cristo, se o que há na Igreja é igual ao que pode ser encontrado fora dela, inclusive pela hipocrisia de se dizer diferente, sem de fato ser? A Bíblia não omite a condição humana de pecado de qualquer de seus personagens; pelo contrário, narra até as mais sórdidas ações do ser humano, bem como as conseqüências que ele enfrenta como consequência de seus atos.
 
** Extraído do livro É Cristã a Igreja Evangélica?, publicado por Arte Editorial
 
(1) O termo estatuto é usado neste livro como referência ao documento oficial de cada igreja que regula e justifica sua existência, mas mais que isso, que delimita sua jurisprudência, que determina sua ascendência ou mesmo autonomia em relação a outras igrejas de mesma confissão.
(2) Uma declaração de fé neste livro é entendida simplesmente como o texto que formula sistematicamente a doutrina na qual a igreja está depositando sua crença.
(3)A relação entre o conteúdo de um estatuto e a Palavra de Deus é intermediada pela boa fé daqueles que o redige.
(4) São chamadas históricas as igrejas batistas, presbiterianas, metodistas, congregacionais e luteranas. As chamadas pentecostais históricas são Assembléia de Deus e Congregação Cristã do Brasil. Essas últimas são as primeiras, surgidas entre 1910 e 1911. Já as mais recentes (consideradas igualmente históricas) são Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo e Deus é Amor. As demais igrejas que seguem a orientação pentecostal, que no entanto surgiram após a década de 1970 têm sido chamadas neopentecostal e sua ênfase doutrinária difere na maioria dos pontos doutrinários das pentecostais históricas.
(5) Um credo é uma elaboração concisa de uma base doutrinária que espelha o conteúdo das Escrituras. Uma confissão é a proposição do credo em forma expandida, sistemática, que explica com mais clareza o mesmo conteúdo das Escrituras. Os Credos surgiram nos primeiros séculos do Cristianismo ao passo que as Confissões vieram bem depois, no período da Reforma Protestante.
(6) Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 17ª ed., 2003, p. 6.

Com a palavra, o hipócrita

Até bem pouco tempo eu recebia mensalmente, em meu endereço residencial, o jornal oficial de certa denominação protestante. Folheando um desses exemplares, um artigo saltou-me aos olhos. Estava em uma seção tipo perguntas e respostas, à qual os leitores escrevem sobre suas dúvidas e o órgão oficial responde de acordo com o estatuto da denominação.

Naquela edição, um leitor tinha dúvidas sobre qual procedimento adotar no caso de um oficial (pastor) desligar-se daquela denominação e ligar-se a outra, retornando àquela igreja de origem, algum tempo depois. A questão era se tal pastor deveria ser recebido ou disciplinado!

O pastor responsável pela seção do jornal pontuou sua resposta à luz dos cânones da denominação. Sua resposta dizia algo assim: se tal oficial ligar-se a outra denominação histórica, ao retornar deve ser recebido com as credenciais que lhe foram dadas antes do desligamento. Mas – prosseguia, se ligar-se a uma igreja histórica de orientação pentecostal ou a uma igreja neopentecostal, o tal pastor deve ser recebido e colocado no banco e tratado como catecúmeno. Deverá ser disciplinado e reintegrado, podendo seguir sua carreira ministerial como qualquer outro membro, após a disciplina.

Quando li o nome do pastor que assinara essa orientação, fiquei impaciente. Aquele homem havia sido dirigente de uma igreja à qual eu havia sido convidado – e participado – de diversos programas. Preguei em um culto para toda a igreja; preguei no culto da família, para casais; preguei no culto dos jovens diversas vezes, tendo inclusive participado de alguns acampamentos como preletor oficial. Enfim, eu, um pastor de orientação doutrinária pentecostal, pude tantas vezes pregar e ensinar, àquele grupo de irmãos, sobre diversos assuntos; entretanto, se um deles viesse para uma igreja da minha orientação teológica, deveria ser considerado catecúmeno! O que estava havendo? Onde estava o furo em toda essa história?

Sem demora, escrevi um email ao pastor relatando que eu mesmo, um pastor de orientação pentecostal, havia pregado por diversas vezes na igreja da denominação dele, mais especificamente na igreja dirigida por ele, e que não entendia o preconceito claramente indicado na sua resposta. Que orientação, no mínimo contraditória, era aquela? Poucos dias depois, o pastor respondeu, retratando-se. Ele dizia, em linhas gerais, que, na qualidade de editor responsável por aquela específica coluna do órgão oficial da sua denominação, ele deveria dar orientação aos leitores de acordo com o estatuto oficial da igreja, embora ele mesmo não concordasse cem por cento com as diretrizes ali estabelecidas. Em outras palavras, no papel, milhares de fiéis são “dirigidos” por uma tradição suscitada por algum tipo de documento, mas, na prática, no dia-a-dia, “dá-se um jeito” (de viver pacificamente?) e rasgam-se os documentos.

O que um estatuto representa no contexto eclesial? Que força pode ser atribuída a um documento como esse? E o que dizer dos Credos e Confissões?
 
** Extraído do livro É cristã a Igreja Evangélica, publicado pela Arte Editorial

sábado, 29 de outubro de 2011

Não acredito em muita coisa

Veja se há alguma razão para comemorar o Dia da Reforma Protestante hoje.

Eu sou editor de livros da Arte Editorial. Tem uns meses que convidei uns figurões para escreverem conjuntamente um livro, que seria publicado pela editora. O tema? A unidade da Igreja no que tange aos pontos em comum das diferentes orientações teológicas. A proposição central seria: "Que pontos devemos/podemos nos esforçar para manter/estabelecer e ressaltar a unidade da Igreja com vistas ao seu fortalecimento?". Jesus mesmo orou para que fôssemos um e disse que por essa unidade seríamos conhecidos pelo que somos.

O que eu pretendia com isso? Tão somente aproximar o que de melhor há em cada ramo do cristianismo protestante evangélico no Brasil, seja reformado, pentecostal, tradicional e mesmo em alguns grupos dentro do neopentecostalismo. Todos os que dizem ter edificado sobre o único fundamento e que celebram os sacramentos do batismo e da santa ceia. Não é isso que sobra depois de elimados os nossos excessos humanos?

Apresentei a proposta a pastores e escritores, desses que se dizem envolvidos e engajados em promover a saúde da Igreja, desses que estão na frente de batalha levantando a bandeira de uma Igreja séria, ética, unida pelos princípios da Reforma, e a outros simpatizantes do movimento de Lausanne.

Via de regra, todos ligados a algum grupo que diz "fazer-alguma-coisa" para que a Igreja de orientação evangelical e reformada tenha novamente a característica de um grupo cristão sério, ético e responsável da perspectiva sócio-política, e relevante. Quando digo "algum grupo", refiro-me a alianças, confrarias, "visões", conselhos e "coisas" como essas que estão virando moda.

E a resposta que obtive? Negativa. Ninguém disposto a "manchar a reputação". Não houve interesse em qualquer forma de aproximação e diálogo. Uns nem retornaram o email. Nada de alianças, nada de aproximações, nada de unidade. Lamento muito.

As críticas a outra parte, no entanto, foram mantidas. Nada de procurar ressaltar algum valor que preste, alguma virtude que valha. Entendi, então, que essa bandeira da unidade, da luta por uma igreja mais ética, mas séria, por uma pregação mais responsável, é uma bandeira rasgada e manchada. Se você não está de um lado, está do outro e então é alvo a ser atingido, atacado. Não há busca por consenso. Não há interesse no diálogo, nem que esse diálogo seja mediado por uma parte neutra, no caso o papel que eu, como editor, desempenharia.

Por isso, quando um desses figurões postou no Tweeter algumas palavras defendendo o seu grupinho, logo respondi que tratava-se de mais uma subdivisão para promover mais distinção, mais sectarismo dentro da Igreja já bastante dividida. Ele se ofendeu, mas sem razão, pelo que expus.

Assim, quando vejo ou ouço discursos apologéticos inflamados nessa direção, tenho grave dificuldade em acreditar que haja alguma disposição honesta em aproximar-se, em esvaziamento de vaidades em prol de algo maior, o Reino. Cristo não está dividido, como afirmou Paulo na carta aos Corintios, mas a liderança da Igreja permanece como há dois mil anos: um seguindo a Paulo, outro a Pedro, outro a Apolo, e o quarto grupo, igualmente partidário e separatista permanece dizendo seguir a Cristo (1Co 3.4).

Estou no Tweeter: @magnopaganelli

Tempo

Deus me pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta
Não quis, sobrando tempo, fazer conta
Hoje quero acertar conta e não há tempo.

Oh, vós que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo,
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.
Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo.

Antonio das Chagas, séc. 19.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mistura que fica melhor

Vez ou outra me deparo com alguém recriminando a leitura deste ou daquele autor. “Se lê esse, não pode ler aquele”. Como sou editor de livros, também ouço “se publica esse, não pode publicar aquele”. Que conversa é essa?

Há vários motivos pelos quais não admito essa dicotomia, essa separação. E se você é líder, de um pequeno grupo que seja, deve estar preparado para interagir com as mais diversas entranhas da natureza humana.

Primeiro. Ler Calvino, Caio Fábio, a Bíblia, o Rebe, Huberto Roden e outros é imperativo. Não ler (ou não publicar) é alienação, definhamento intelectual e espiritual (isso sem dizer cultural!). Claro que há leituras que não acrescentam coisa alguma e essas nem tomo conhecimento mais (e também não vou mencioná-las). Mas se não posso interagir com cosmovisões diferentes da minha, sobre cada assunto da vida e do mundo, há muito mais a ser feito então, como não ligar a tevê, não ler notícias, não acessar internet etc. Neste caso a intolerância começa (ou definitivamente está) em nós. Que fique claro, não vou na direção do ecumenismo, ao menos neste post.

Segundo. O caminho pavimentado para o extremismo (seja ele o fundamentalismo ou mesmo o liberalismo) é “fechar questão” com determinadas escolas de pensamento. Há grupos que gostam muito de rótulos. Não ler (ou não publicar) de tudo um pouco faz de mim um radical extremista à curto prazo. Por que torcidas organizadas saem para o quebra-quebra em áreas públicas? Por que fanáticos religiosos explodem lugares públicos? Porque não sabem e não podem conviver pacifica e hamoniosamente com o diferente. A solução é destruí-los em vez de dialogar e buscar harmonia, mesmo que essa harmonia não signifique aderir ao pensamento do outro. Você quer se tornar um extremista? Então leia só o que a sua banda escreve, ouça só o que a sua turma fala.

Terceiro. É saudável o exercício do aprendizado e desejável a busca do discernimento, que da perpsectiva natural vem do conhecimento. Quando tenho contato com formas diferentes de pensamento, com cosmovisões distintas (e até divergentes), posso exercer o juízo e a avaliação daquilo que eu mesmo creio e provar se a visão do outro não é mais coerente e sólida que a minha. Isso promove o amadurecimento, solidifica posições estáveis e denuncia falhas em concepcções dúbias e contraditórias. Portanto, quem não se expõe e não permite que seu sistema de valores e crenças seja confrontado com uma leitura discordante, por exemplo, esteja certo de que não está seguro naquilo que crê e nas posições que adota. Precisa investir mais em conhecimento e diálogo.

A solidez de uma forma de pensar não pode ser ocultada a fim de ser protegida; é preciso permitir o escoamento daquilo que foi aprendido e dar chance a que outros aprendam conosco, seja pelo que sabemos, seja pelo que somos ou pelo simples modelo. Há muitas pessoas que ensinam sem abrir a boca e cada um de nós também pode aprender dessa forma.

O título deste post era “Toda verdade vem de Deus?”. Mas como achei muito ortodoxo, muito “certinho”, resolvi começar a quebrar paradigmas por aqui mesmo.

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E se Jesus não tivesse nascido (3)

No segundo post tratei das áreas das ciência e medicina. Neste falarei da influência de Jesus nas sociedades e na educação.
A liberdade civil e a liberdade de opinião são heranças cristãs. Veja você mesmo

Na Arábia Saudita jamais se ouve uma discussão se Maomé foi realmente o profeta de Alá.
Os muçulmanos convertidos ao cristianismo são sumariamente executados.
Salman Rushdie (autor de Versos Satânicos) ainda vive parcialmente escondido.

As liberdades civis estão nos mandamentos do AT:

Praticava pedofilia além de bater, ferir e assassinar garotos
Assassinou sua esposa por se opor a um romance extra-conjugal
Assassinou sua mãe pelo mesmo motivo
Por fim, assassinou sua amante
Iluminou 40 quilômetros da Via Ápia com corpos de cristãos em chamas

Esse era o governador do mundo naquela época.

Jesus e a civilização dos bárbaros

Em 1020d.C. os vikings (noruegueses) adotaram o cristianismo como sua lei:
“Ao mesmo tempo, antigas práticas se tornaram ilegais, como sacrifícios, magia negra, sacrifício de recém-nascidos, a escravidão e a poligamia”, escreveu Sverre Steen.

Bárbaros entre as tribos alemãs como os godos, os francos e os saxões converteram-se ao cristianismo. Os brutais Aucas, do Equador. Tribos de índios cruéis na própria América Latina converteram-se, bem como tribos africanas e em países do Oriente.

Codificação de idiomas
Muitos idiomas existentes hoje foram transcrições feitas por missionários cristãos para que os povos convertidos pudessem ler a Bíblia em suas línguas de origem. Isso ainda hoje acontece.

Educação para todos

Fornecendo a Bíblia no idioma do povo, os missionários promoviam a alfabetização em todo o mundo.
O cristianismo promoveu o conceito de educação para todos, fundando universidades com propósitos cristãos.

Pesquisa realizada no Século 20 em diversas nações do mundo sobre alfabetização:
Nações pagãs como China e Índia: 0 a 20% alfabetização
Nações com influência católica: 40 a 60% alfabetização
Nações com influência protestante: 94 a 99% alfabetização

As Universidades
Em Oxford, Paris e Bolonha, fundadas por volta de 1200d.C., a teologia cristã e os estudos canônicos eram os estudos mais importantes, seguidos do pensamento aristotélico e a lei civil.
Em Cambridge (Inglaterra): teologia cristã e lei civil.
Yale, Brown, Universidade de Nova York, Northwestern University têm raízes profundas no Cristianismo.
Harvard começou com a doação de dinheiro e de livros do Reverendo John Harvard.
Dartmouth foi fundada para treinar missionários para as Índias.
William and Mary foi criada “para que a fé cristã possa ser propagada”.
Nos primeiros anúncios do King’s College (1754), e que hoje é a Columbia University, lê-se: “O principal anseio desta instituição é ensinar e engajar as crianças no conhecimento de Deus, em Jesus Cristo.”
O presidente de Princeton, reverendo John Witherpoon, disse: “Maldito todo o ensinamento contrário à cruz de Cristo.”

No período dominado pelo ensino cristão o anafalbetismo nos EUA chegou a 0,4%. Com a rejeição do ensino cristão hoje existem cerca de 44 milhões de analfabetos e 50 milhões de semi-analfabetos, taxa próxima a da Zâmbia.

Poderíamos falar sobre graves problemas morais nas escolas:
Roubo
Assalto
Estupro
Gravidez na adolescência
Aborto
Suicídio
Homicídio

O impacto do Cristianismo na Economia

Fidel Castro admitiu que relutantemente que admirava muitos dos evangélicos de Cuba:
- eles trabalham duro
- são pontuais
- não burlam o sistema

* A religião hindu ensina que “não há porque mudar o mundo visível, já que ele é irreal”.
* O islamismo prega o fatalismo (tudo o que existe foi determinado por Alá). A iniciativa humana não pode alcançar absolutamente nada.
* O budismo prega que a vida é essencialmente má e não pode ser mudada.

* O cristianismo traz ensino claro sobre:
o dever de trabalhar
a participação dos ricos na assistência aos necessitados
o direito a propriedade privada
a aquisição de bens por meio de investimento
a admissão de funcionários e o modo como tratá-los
a projeção de um empreendimento
o dever de honrar os contratos etc.

Muitos escritores atribuem a prosperidade dos EUA ao fato de terem sido colonizados por cristãos, especialmente os calvinistas, que crêem que a prosperidade é uma eficiente maneira de testemunhar a eleição divina em suas vidas.

Contabilidade
Fra Luca Pacioli, o pai da contabilidade moderna escreveu Suma de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita (1494), que traz um capítulo sobre o método contábil de partida dobrada, que é a base da nossa contabilidade.
“Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido”

Em seu livro Summa escreveu que “as pessoas deveriam iniciar todas as suas transações comerciais em nome de Deus”.

* Historiadores como Max Weber e Ernst Troeltsch, contrários ao capitalismo e ao calvinismo, atribuíam a João Calvino a grande máquina motriz do capitalismo.

James Kennedy escreveu que, na América Latina, aqueles que se convertem ao cristianismo melhoram seus padrões de vida:

Deixam de beber
Abandonam as apostas em dinheiro e os jogos
Começam a trabalhar e a poupar para o futuro.

Tire suas próprias conclusões (e leia os primeiros posts sobre este tema)

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