segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma proposta cristã, brasileira, pública e relevante

Muitos concordam sobre a necessidade de uma nova Reforma na Igreja; ao menos concordam sobre a necessidade de retomar o espírito da Reforma Protestante no tocante a uma teologia que contemple o indivíduo em suas atividades cotidianas. A Igreja precisa dialogar e ser relevante, dialogar com a sociedade e influenciá-la.


O rompimento com a hegemonia institucional da Igreja Romana projetou o indivíduo no seu relacionamento com o sagrado. Esse efeito, que não deve ser confundido com individualismo, não promoveu unicamente o indivíduo, antes, o indivíduo em sua manifestação e interação (diálogo) com o coletivo. A sua inserção na coletividade dá evidências do seu discernimento, porque o faz “ao redor da Palavra e dos Sacramentos” (cfme. Reforma, Teologia e Ética Social, Julio Paulo Tavares Zabatieiro).

A imersão do indivíduo no coletivo o levará ao que Zabatieiro chamou de teologia prática com caráter público, que ainda não foi amplamente elaborada. Na experiência norte-americana se promovia uma forma de “religião civil”; no Brasil o efeito foi o “clientelismo” nas relações com a coisa pública.

E o quê carece de renovação? A “teologia liberal” e o “fundamentalismo” partem de uma interpretação demasiado racionalista; esse último nega tal acusação, e a outra o faz em detrimento de outras “fontes, dimensões e ambientes”.

A “teologia é uma atividade espiritual”, mas a sua conceituação no contexto bíblico tem uma proposta clara: ajudar a resolver os problemas concretos que surgem no cotidiano (op.cit.). É necessário construir um paradigma para a sua aplicação nas práxis eclesial e social. Teologia não é apenas conceito, ideia, mas o remanejar seus conceitos.

Sendo a “palavra de Deus fonte principal do discernimento cristão” e “o Espírito Santo é aquele que nos abre à palavra”, temos o conceito fundamental e a indicação prática de uma teologia permeada pela espiritualidade, não emocionalista nem irrefletida. Ao contrário, elaborada conceitualmente com vistas à sua aplicação no dia a dia da Igreja, na coletividade. Isso é teologia prática.

Mas onde é que essa teologia prática encontra espaço para sua aplicação e legitimação? Nos escritórios, em vez de nas igrejas? Nas bibliotecas, em vez de nas comunidades? Diversos autores têm dado respostas convergentes a estas questões, e em linhas gerais esta teologia encontra eco quando é levada para as ruas, instituições, casas de leis, quando é libertada do seu cativeiro, quando cristãos saem da Igreja levando-a consigo. É na sua utilidade missional que a teologia e os conceitos por ela elaborados será validada. É na existência desse diálogo que a “teologia profissional” e os “teólogos vocacionados” encontrarão amparo seguro para a sua atividade e não “no papel de analistas da vida eclesial” (Zabatieiro). Vale a citaçao de John Mackay:

“A teologia não pode ser feita na sacada do prédio, mas no caminho”.

Essa teologia com um pé no laboratório e outro nas ruas tem sido chamada de teologia pública. É ela que dialoga com outras fontes e é feita como expressão do discernimento cristão. E vai além. Ela é pública e é universal, quando promove conceitos aplicáveis no contexto onde é elaborada e não descolada de seu ambiente de origem. Assim é que entendemos os diferentes matizes teológicos que foram produzidos, desde Jerusalém e Antioquia, desde Alexandria e Constantinopla e posteriormente na teologia europeia, na norte-americana e nos últimos anos na sua elaboração brasileira, das nossas demandas e da reflexão aplicada às necessidades do contexto latino-americano.

Se hoje o Brasil discute a sua própria teologia, “uma teologia brasileira”, não se deve considerar um equívoco, uma aberração tal pensamento. Ele é adequado e necessário. Aberração é a adoção de “medidas” que são aplicáveis noutros contextos sociais, políticos e econômicos. Aberração é a proposta imediatista e pragmática importada, que se impõe às nossas comunidades, mas não muda a nossa realidade. E é certo que, em breve, veremos também os campos africanos produzindo a sua própria teologia prática, pois o protestantismo de missão em nosso solo tem concentrado seus esforços para alcançar aqueles povos, evidência que os princípios da Reforma semeados por aqui já têm produzido os seus frutos.

Siga-me no Twetter: @magnopaganelli

3 comentários:

  1. Boa noite Magno. Gostei muito do seu Blog. Também faço parte da comunidade Teologia com pão de queijo. Trabalhei na El Shadai Artigos Evangélicos até meados de outubro. Sempre mantinha contato com a Arte Editorial, principalmente com a Ray Neres.

    Gostaria de parabenizá-lo pelo seu Blog,o conteúdo e ideologia é extremamente relevante para a Igreja atual que perece nos legalismos e nas "novas heresias" chamadas de doutrinas, que nada mais são do que ilusões da fé e sinais claros da decadência espiritual em que vivemos.

    Que Deus continue te dando forças e te capacitando cada vez mais nessa empreitada de anunciar o evangelho puro e simples de Cristo.

    Também tenho um Blog, gostaria muito que você conhecesse. O link é: http://www.reformandoconceitos.blogspot.com/
    Em Cristo... Leonardo Carvalho

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  2. A Teologia Pública procura dialogar com a sociedade e dela participar, não influenciando propriamente, mas contribuindo a partir da convergência.
    Bom texto.

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  3. A Paz de Cristo, Magno.
    Esse é um bom texto que traz consigo boas ideias a serem pensadas e praticadas (?).
    Um abraço.

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