segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lendo não lêem e sabendo não sabem

Diz-se que algo que não pode ser mudado é “lei”. Aí abro um site de notícias e leio uma defesa feita sobre “leis bíblicas”. Batizada de “lei da liberalidade” (de onde tiram essas coisas?), filhota bastarda da lei da semeadora, o postulante mandou os “anarfabetos” lerem Marcos 4.26 se quisessem “aprender”. Fui ler, quero aprender. E encontrei: “O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra.” (NVI).


E aí? Como fazer a “engenharia” de usar um texto como esse para defender a pedição de dinheiro? Como fazer uma “heregese” desse texto transformar-se em “lei da liberalidade”? O camarada tem que estar disposto a jogar dois mil anos de história no lixo e contar com a ignorância de milhões de leitores/ouvintes. Mas nada que um aluno de sexta série, atento, não possa resolver.

“O Reino de Deus é...”. O Reino de Deus, como advertiu Paulo, não é comida nem bebida. Portanto tudo o que é feito na igreja não pode ser considerado uma definição de Reino de Deus. Paulo associou o Reino de Deus a “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Mas Jesus usou a introdução “o Reino de Deus é...” para falar de algo simples. Para Jesus – lembre-se que estamos tratando do artigo do entrevistado – o Reino de Deus “... é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra”.

Minha gente, porque sempre que a palavra “semente” aparece na Bíblia ela tem sido associada ao ato de ofertar? Lembre-se que uma das “leis” (essa gente não gosta de lei?) da boa interpretação de texto bíblico é seguir o critério usado em outros textos nos quais aquele mesmo escritor ou pregador bíblico usou tal expressão ou palavra. Assim, o mesmo Jesus usou o ato da semeadura em Mateus 13, por exemplo, para demonstrar como as pessoas reagem à pregação da Palavra de Deus. Em Mateus 13, um homem (semeador) lançou a semente que caiu em solos diversos e deu resultados diferentes. Como ligar o texto de Marcos 4 à tal lei da liberalidade? Jesus, autor da frase, não fez isso! Como fazer dessa prática da semeadura numa sociedade agrícola uma lei para recolher ofertas? É muita desfaçatez assumir essa interpretação e defender-se com um texto bíblico como esses.

E quem cai numa conversinha dessas? Gente que não lê a Bíblia e não confere o texto. Gente que só lê o que interessa (quando lê!) e só aprende o que convém... quando aprende.

Dica: sobre as distorções da lei da semeadura, leia meu novo livro.
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