sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Consciência negra? Não, consciência do próximo.

Após uma semana de casados, minha esposa e eu fomos ao mercado para a memorável primeira compra de mantimentos. Morávamos numa casa próxima de onde fui criado. Passados alguns metros, entre um aceno e outro, um cumprimento e outro, ela comentou admirada: – Você só conhece negros?

De fato tenho muitos conhecidos dessa etnia ainda hoje. Nos damos muito bem.

Mas a despeito das diferenças étnicas – uma vez que somos todos “raça humana” e não raça isso ou raça aquilo – é no mínimo estranho evocar “consciência” de uma etnia que, segundo dados do IPEA, já em 2008 era maioria no Brasil.

Deve ficar claro que manifestações como essas de estabelecimento de feriados, passeatas, manifestações de qualquer natureza fazem sentido em favor de etnias que são minoritárias numa sociedade plural e democrática. Por que ninguém se levanta para convocar uma defesa dos bolivianos escravizados nas oficinas de costura no bairro do Bom Retiro, em S. Paulo? Eles sim são minoria e precisam ser defendidos. Ainda não foi assinada a abolição da escravatura imposta naquele bairro, na maioria por asiáticos que vez ou outra estampam páginas policiais nos jornais.

Estranho e sem sentido esse feriado em homenagem a Zumbi dos Palmares, que segundo os últimos estudos divulgados mês passado, até mesmo senhor de escravos foi, seguindo os modelos africanos de liderança tribal. Pararam centenas de cidades por conta de uma etnia que não consegue resolver os problemas internos de – curiosamente – preconceito! É notável e antigos os comentários entre caucasianos sobre o preconceito entre negros. Cresci vendo e ouvindo isso.

Ficaria envergonhado também se o mecanismo para meu ingresso numa universidade fosse a ascendência de minha família. Cotas para descendentes de italianos? Eu fingiria que não é comigo. Se dissesse que as cotas garantem a entrada de pobres e desfavorecidos, ainda assim é caso a ser pensado, pois até mesmo os mais simples quando se aplicam chegam onde muito abastado não põe o pé. Pergunte a muitos milionários que têm o quarto ano primário como grau máximo em sua formação. Mas critério étnico? Isso sim é segregação. E mais: totalitarismo, porque os negros já eram maioria em 2008.

É preciso ter consciência do próximo, e não de um em detrimento do outro. Quem sabe se os negros daqui não poderiam importar alguma coisa boa dos EUA e aprender mais com o presidente eleito dos EUA, que repudiou veementemente um apoio que o associava a uma pretensa representação étnica e disse publicamente rejeitar o apoio, fazendo-se candidato dos norte-americanos, e não dos negros daquele país?

http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/maio/negros-serao-maioria-no-pais-ja-em-2008-diz-ipea/

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