Em A República (Livro VII), Platão reproduz uma metáfora contida num diálogo entre Sócrates e seus interlocutores Glauco e Adimanto, irmãos mais novos de Platão. A metáfora é conhecida como a metáfora da caverna, mito da caverna ou alegoria da caverna e conta a situação de homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna, nada sabendo sobre o mundo externo. Esses homens ficam de costas para a entrada, presos, imóveis, e olham fixamente a parede do fundo da caverna, Nela são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, e esses sons são associados às sombras. Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Um dos prisioneiros consegue se libertar e avança na direção do muro. Ele o escala e consegue sair da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e em seguida o mundo e a natureza, o sol, e as aves, enfim, tudo o mais. Mas um dilema se instala: se voltar e anunciar sua descoberta pode ser desacreditado, tido como herege, preso, espancado e morto. Vamos parar aqui.
O mito da caverna tem sido interpretado como uma metáfora para a situação daqueles que há séculos vivem e confiam na religião, a caverna. Todo conhecimento religioso é obtido a partir do empirismo, daquilo que percebemos com os sentidos e intuição, sem o saber científico. Muitos que estão privados do saber científico às vezes pensam que tudo sabem, que o conhecimento que possuem é suficiente para que entendam e expliquem tudo.
No mito da caverna os homens que lá viviam achavam que a realidade da caverna era a única realidade existente. É preciso romper com esse mundo fechado, ter coragem para fugir na direção da luz para descobrir o mundo real. No caso, entendia-se que a luz que projetava sombras distorcidas na parede era a visão que eles tinham da realidade, distorcida do mundo real. E isso não ocorre somente com os prisioneiros de Platão, mas também com os que negam o saber científico, com os que nada sabem e pensam que tudo sabem.
Mas... espere um pouco. Não é a mesma ciência que nos dá certezas e convicções? Saber apurado e sólido, livre das ilusões e mitos? É a ciência que nos faz ver o mundo como ele é à partir da... observação insistente, repetida, catalogada e interpretada à luz...à luz de quê? À luz daquele saber preso a Leis e Padrões e Métodos, nada fora daquilo que ela mesma usa para validar o próprio saber científico.
Assim, Platão esteve certo o tempo todo e pseudo cientistas tomaram de assalto o mito da caverna para atacar quem vive pela fé. Pois é a fé – e não a ciência – que leva o homem para fora do seu mundo, para encontrar-se com estados e realidades fora desse ambiente onde vive. O homem não sai da caverna porque tem certezas – sai da caverna porque crê haver algo além das luzes projetadas, sai porque crê haver muito mais do que aquilo que esteve observando todo o tempo. Não são os crentes, os religiosos, que acreditam e esperam viver um dia num mundo melhor, e até mesmo num céu lá fora desse mundo?
Penso que Platão estava realmente certo. A filosofia da época não queria muita intimidade com a religião. A ciência de hoje, a legítima ciência, nada tem com a religião; são campos de atuação distintos e não conflitantes. Dão respostas à perguntas que reclamam cada qual o seu domínio. Mas há pseudo cientistas entre a ciência e a religião, muitos infiltrados até mesmo nos domínios desta, e que tentam miná-la porque pensam que aqueles que conhecem uma luz mais intensa, mais forte que a luz do sol ao meio dia, trouxeram e mantêm ideias fictícias, ilusórias demais para um mundo seguro, científico e tecnológico como o mundo da pós-modernidade do século 21.
Platão, porém, além de filósofo, pelo jeito também foi profeta. Viva a fé!
"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo se vê não foi feito do que é visível". (Hebreus 11.1-3)
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Este espaço foi criado para discutir diferentes assuntos a partir da cosmovisão cristã. O que pretendo é o debate de ideias e o aprofundamento nas questões que interessam a Igreja de modo geral.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Nosso estranho modo de amadurecer
“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” (1Corintios 13.11).
Já notou como reagimos diante do amadurecimento? O adolescente, quando se dá conta da eclosão da primeira espinha, estremece apavorado não pela deformidade facial, mas só por imaginar que alguém poderá “confundi-lo” com uma criança. Embora não alcance bem o pedal do acelerador do carro, criança ele também não é mais: agora é a-do-les-cen-te, com todas as letras, e espinhas.
Depois se torna jovem, olha para as coisas dos adultos já quase “podendo” fazê-las livremente, mas ainda não pode. E desdenha a fase anterior, embora as espinhas insistam em fustigar sua epiderme.
Quando adulto, tudo muda. A confusão entre as fases é dissipada por um simples olhar. Está lá: é um adulto, está na cara, já sem espinhas. Segue a fase madura e com ela um estranho modo de ver as coisas. Já pouco importam as classificações, as definições e rótulos. Imagino que os muitos anos olhando no espelho serviram para sedimentar uma autoimagem e, com ela, a compreensão própria de cada fase anterior.
O homem maduro fica sem vergonha? Não, só fica ressentido de uma palavra mal dita, um excesso recente, uma risada mais escandalosa. Mas já não liga tanto para classificações. Elas eram coisas de menino, como o apóstolo Paulo categorizou. Coisas de meninos no tempo de menino; depois, novos modos de raciocinar.
Assim também é na formação espiritual e mesmo a intelectual. O tempo cuida de despir-nos das categorias: não importa classificar, rotular, endurecer-se a todo custo, para não parecer isso ou aquilo. A quem interessa descolar uma ou outra imagem? Se olhando para nós veem quem somos, não será preciso dizer, afirmar, fazer distinções. Penso que em circunstâncias normais, aquele que precisa definir-se “assim ou assado” é porque ainda tem sido confundido com “isso ou aquilo”. É aqueles que não conseguimos distinguir, se “é ou não é”.
Espinhas todos vão ter. Há quem queira vê-las logo no rosto, há quem lute contra a sua insistente permanência e há quem as deixe para trás, como coisas de menino.
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Já notou como reagimos diante do amadurecimento? O adolescente, quando se dá conta da eclosão da primeira espinha, estremece apavorado não pela deformidade facial, mas só por imaginar que alguém poderá “confundi-lo” com uma criança. Embora não alcance bem o pedal do acelerador do carro, criança ele também não é mais: agora é a-do-les-cen-te, com todas as letras, e espinhas.
Depois se torna jovem, olha para as coisas dos adultos já quase “podendo” fazê-las livremente, mas ainda não pode. E desdenha a fase anterior, embora as espinhas insistam em fustigar sua epiderme.
Quando adulto, tudo muda. A confusão entre as fases é dissipada por um simples olhar. Está lá: é um adulto, está na cara, já sem espinhas. Segue a fase madura e com ela um estranho modo de ver as coisas. Já pouco importam as classificações, as definições e rótulos. Imagino que os muitos anos olhando no espelho serviram para sedimentar uma autoimagem e, com ela, a compreensão própria de cada fase anterior.
O homem maduro fica sem vergonha? Não, só fica ressentido de uma palavra mal dita, um excesso recente, uma risada mais escandalosa. Mas já não liga tanto para classificações. Elas eram coisas de menino, como o apóstolo Paulo categorizou. Coisas de meninos no tempo de menino; depois, novos modos de raciocinar.
Assim também é na formação espiritual e mesmo a intelectual. O tempo cuida de despir-nos das categorias: não importa classificar, rotular, endurecer-se a todo custo, para não parecer isso ou aquilo. A quem interessa descolar uma ou outra imagem? Se olhando para nós veem quem somos, não será preciso dizer, afirmar, fazer distinções. Penso que em circunstâncias normais, aquele que precisa definir-se “assim ou assado” é porque ainda tem sido confundido com “isso ou aquilo”. É aqueles que não conseguimos distinguir, se “é ou não é”.
Espinhas todos vão ter. Há quem queira vê-las logo no rosto, há quem lute contra a sua insistente permanência e há quem as deixe para trás, como coisas de menino.
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
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