Este post poderia ter outros títulos, como Fariseus, saduceus e escribas do cristianismo ou, ainda, Mais do mesmo.
Após a invasão de Jerusalém sob liderança de Antíoco IV (Epífanes) em 168 a.C., judeus devotos, sob a liderança de um sacerdote chamado Matatias, revoltaram-se em 167 a.C. Matatias logo morreu, mas a liderança da revolta passou para um de seus filhos, Judas. A família de Matatias tornou-se conhecida como “Macabeus” a partir do apelido Maccabeus (o Martelo) dado a Judas.
A história do reinado macabeu (hasmoneanos) é uma história de luta e discórdia causada pela ambição pelo poder. Os objetivos políticos alienavam muito dos religiosos judeus. Os descendentes dos hasmoneanos tornaram-se os saduceus da época do Novo Testamento (e talvez dos essênios). Os sucessores dos judeus devotos que se opuseram aos hasmoneanos tornaram-se os fariseus.
No Novo Testamento, o maior e mais influente grupo era o dos fariseus. Eles surgiram logo depois dos macabeus. Por volta de 135 a.C, estavam bem estabelecidos. Os fariseus guardavam a lei rigidamente, criam na existência de anjos e espíritos e esperavam a ressurreição do corpo. No início os fariseus eram um partido legítimo que protestava contra o mundanismo da liderança religiosa vigente, os saduceus. Alguns cristãos primitivos vieram da seita farisaica (At 15.5). Aqueles dentre os fariseus que creram encontraram em Jesus o cumprimento de suas esperanças.
Os saduceus eram em número menor do que os fariseus, mas tinham maior poder político. A maioria das famílias de sumos sacerdotes dos tempos do Novo Testamento era de saduceus, que seguiam a interpretação literal da Lei ou Torá, aceitando apenas esses livros da Bíblia. Eles rejeitavam a tradição oral que os fariseus aceitavam, negavam a existência de anjos e espíritos e não acreditavam na imortalidade pessoal. Os saduceus estavam prontos para apoiar qualquer governante que pudesse preservar a influência que tinham.
Nas narrativas dos Evangelhos encontramos ainda os escribas (ou mestres da Lei, Mt 23). Jesus censurou a estes juntamente com os fariseus. Os escribas eram especialistas na Lei de Moisés, encarregados dos rolos, reproduções dos antigos livros e, como o nome já diz, eram versados, mestres da Lei diante do povo e consultados quando havia alguma divergência na aplicação da Lei.
Olhando em retrospectiva, vejo que o cristianismo também produziu os mesmos grupos. Assim como os fariseus, há um grupo de cristãos que manipula as massas e as leva a exigirem a crucificação do Senhor pelos seus falsos ensinos; um grupo que mata o Senhor diariamente, ao menos de vergonha. Saduceus também são vistos por aqui, numa pretensa elite que não crê na contemporaneidade das manifestações sobrenaturais de Deus e que aposta em alianças políticas. Não faltam, também, os escribas, os “mestres da lei” (com “l” minúsculo). Um grupo que começou bem com as Escrituras, mas progrediu até criar a sua própria norma de fé e prática, os seus próprios cânones e midrashs, a qual traz à ponta da língua, mas tal tradição tem posto um véu sobre o que foi escrito originalmente. Jesus diria a esta turma: “Leste no seu catecismo o que foi escrito, eu porém vos digo...”.
A Bíblia descreve a história da raça humana como linear e a história das religiões é descrita como cíclica. A religião cristã não é exceção e tem trazido de volta, com novas roupagens, os seus próprios fariseus, os seus saduceus e os escribas. De suas próprias trincheiras, o discurso muitas vezes se assemelha. Fala-se muito em unidade (em todos as frentes ouço isso), fala-se em alianças, fala-se consultas, em Corpo, em Reino, mas praticamente nada é feito de fato além dos muros dos seus próprios arraiais. Reino não, mas os impérios são defendidos, sejam eles de poder, financeiro e mesmo intelectual.
Graças a Deus que preserva os Cornélios, os Simeões e as Anas.
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Este espaço foi criado para discutir diferentes assuntos a partir da cosmovisão cristã. O que pretendo é o debate de ideias e o aprofundamento nas questões que interessam a Igreja de modo geral.
segunda-feira, 28 de março de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
O Congresso de Escatologia que será realizado no próximo dia 16 de abril em S. Paulo, além de retomar este tema fundamental da teologia e, principalmente, da esperança do cristão, tratará dos importantes temas desta disciplina, entre eles: os sinais da volta de Cristo à luz dos atuais eventos na natureza, na política e na economia, a Grande Tribulação nas perspectivas de Daniel e do Apocalipse (pela primeira vez em um único evento), os marcos da Grande Tribulação, a nova força religiosa à serviço do anticristo, além dos temas clássicos já conhecidos.
Teremos duas gerações de estudiosos reunidos num só evento. Os pastores e escritores Hermes Mendes e Walter Brunelli, ambos com vasta pesquisa sobre o tema, e o pastor e escritor Magno Paganelli, autor premiado pelo livro “E Então Virá o Fim”, sobre o tema, que há quase vinte anos vem desenvolvendo suas pesquisas, escrevendo e ministrando palestras sobre o assunto. Será imperdível!
Faça a sua inscrição pelo fone (11) 5573-0224 e venha participar conosco.
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quinta-feira, 24 de março de 2011
Teologia Contemporânea
Uma análise dos pensamentos de alguns dos principais teólogos do mundo moderno
Por Stanley Gundry (publicado em parceria com Mundo Cristão)
“No limiar de um volume tal como este, algumas pessoas talvez fiquem duvidando por que os evangélicos precisam ocupar-se com muitos pensadores modernos cuja abordagem está muito remota do ponto de vista evangélico. Não podemos deixá-los sem problema, cuidando das suas próprias especulações e invenções, enquanto levamos a efeito nossa tarefa como pensadores evangélicos, sem referência a eles?
A resposta é não, por pelo menos dois motivos:
1. Os evangélicos devem ter conhecimento dos maiores pensadores teológicos dos nossos tempos. Não podemos esperar que nosso próprio ponto de vista seja recomendado se nos mostrarmos totalmente ignorantes da posição sustentada por outros.
2. O evangélico deve aprender muitas lições importantes, até mesmo da parte de pessoas das quais discorda.
É, portanto, um desenvolvimento feliz que um volume tal como este tenha sido produzido, escrito a partir de um ponto de vista rigorosamente evangélico por autores que fizeram um estudo adequado das origens literárias primárias dos homens e movimentos que descrevem, e com uma atitude de generosidade e candura que deve a todo tempo caracterizar um servo do Senhor.“
Roger Nicole (do Prefácio)
Sumário:
1. A teologia de Schleimacher a Barth e Bultmann
2. Precursores da Teologia Radical dos Anos 60 e 70
3. A Teologia Secular
4. A Teologia da Esperança
5. A Teologia do Processo
6. A Teologia Católico Romana Recente
7. Teologias da Libertação: um panorama
8. A Opção conservadora
Páginas: 376 Preço: R$ 55,00 Categoria: Teologia Formato: 14x21cm Código: AEMC 152
Você pode pedir o seu por editora@arteeditorial.com.br ou (11) 3923 0009. Enviamos para todo o Brasil.
Por Stanley Gundry (publicado em parceria com Mundo Cristão)
“No limiar de um volume tal como este, algumas pessoas talvez fiquem duvidando por que os evangélicos precisam ocupar-se com muitos pensadores modernos cuja abordagem está muito remota do ponto de vista evangélico. Não podemos deixá-los sem problema, cuidando das suas próprias especulações e invenções, enquanto levamos a efeito nossa tarefa como pensadores evangélicos, sem referência a eles?
A resposta é não, por pelo menos dois motivos:
1. Os evangélicos devem ter conhecimento dos maiores pensadores teológicos dos nossos tempos. Não podemos esperar que nosso próprio ponto de vista seja recomendado se nos mostrarmos totalmente ignorantes da posição sustentada por outros.
2. O evangélico deve aprender muitas lições importantes, até mesmo da parte de pessoas das quais discorda.
É, portanto, um desenvolvimento feliz que um volume tal como este tenha sido produzido, escrito a partir de um ponto de vista rigorosamente evangélico por autores que fizeram um estudo adequado das origens literárias primárias dos homens e movimentos que descrevem, e com uma atitude de generosidade e candura que deve a todo tempo caracterizar um servo do Senhor.“
Roger Nicole (do Prefácio)
Sumário:
1. A teologia de Schleimacher a Barth e Bultmann
2. Precursores da Teologia Radical dos Anos 60 e 70
3. A Teologia Secular
4. A Teologia da Esperança
5. A Teologia do Processo
6. A Teologia Católico Romana Recente
7. Teologias da Libertação: um panorama
8. A Opção conservadora
Páginas: 376 Preço: R$ 55,00 Categoria: Teologia Formato: 14x21cm Código: AEMC 152
Você pode pedir o seu por editora@arteeditorial.com.br ou (11) 3923 0009. Enviamos para todo o Brasil.
Lançamento no Servo de Cristo: "C. RENÉ PADILLA: Introdução à sua vida, obra e teologia"
No dia 19 de abril, terça-feira, das 10h às 12h, o Dr. Padilla estará no Seminário Servo de Cristo para o lançamento desta obra. Na ocasião, ele falará sobre "Impressões sobre Lausanne 3".
Estarão presentes, ainda, o autor, Rev. Gildásio Reis e o Dr. Paulo Romeiro.
O Seminário servo de Cristo fica à rua Bartolomeu de Gusmão, 521, na Vila Mariana, em S. Paulo.
Maiores informações: (11) 3923 0009 ou pelo email gildasioreis@terra.com.br
Sinopse do livro:
Com prefácio de C. René Padilla e apresentação de Hermisten Maia
Este é o lançamento mais recente para a bibliografia da Missão Integral. Em março de 2011 a Arte Editorial lançará um importante texto sobre a vida, obra e teologia de um dos mais expressivos nomes da missão integral, C. René Padilla. Padilla tem história, convicções firmes sobre sua abordagem, é sem dúvida uma referência, além de ser um autor com produção literária intensa.
A obra foi escrita pelo Rev. Gildásio Reis, e surgiu a partir da sua dissertação para grau de Mestre em Ciência da Religião (Mackenzie). É, sem dúvida, a mais completa e importante obra em língua portuguesa sobre Padilla, um teólogo que a cada dia mais tem sido lido e estudado nos seminários
A obra tem prefácio do próprio René Padilla, além da apresentação do Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa.
Sinopse:
“René Padilha é um dos principais protagonistas do protestantismo latino-americano. Sua influência como pastor, escritor e missiólogo é vasta e vai além das fronteiras da América Latina. Assim, este livro do Rev. Gildásio Reis representa uma grande contribuição a todos os interessados numa prática pastoral e numa reflexão teológica em diálogo com a missão integral que inclui, entre os seus vários aspectos, a justiça social, a violência urbana e a responsabilidade ecológica.”
Dr. Paulo Romeiro
“A teologia da missão integral da igreja, que tem em Padilla um dos principais articuladores e teóricos, é uma das mais belas e importantes contribuições do evangelicalismo latino-americano à cristandade mundial. O livro que você agora tem em mãos é mais que apenas teoria – é reflexão séria sobre a ação da igreja em missão no mundo, missão esta conhecida como integral por ser orientada pelas Escrituras e por levar a sério não apenas a “alma”, mas o todo da criação de Deus.”
Prof. Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho
“O Rev. Gildásio, mestre em Educação Cristã, professor na área de Teologia Pastoral do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo, mas acima de tudo pastor de almas e líder de igreja preocupado com sua missão, traz-nos um excelente resumo da vida e obra de Padilha relacionada com a missão da igreja na sociedade como um todo. Esta é uma obra que todos que têm a mesma preocupação dele ou quiserem estudar mais profundamente o assunto daqui para frente, terão que ler, e a lerão com prazer.”
Rev. George Alberto Canêlhas
Páginas: 256 Preço: R$ 48,90 Categoria: Teologia /Missão integral Formato: 14x21cm Código: AE 257
Você pode pedir o seu por editora@arteeditorial.com.br ou (11) 3923 0009. Enviamos para todo o Brasil.
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Estarão presentes, ainda, o autor, Rev. Gildásio Reis e o Dr. Paulo Romeiro.
O Seminário servo de Cristo fica à rua Bartolomeu de Gusmão, 521, na Vila Mariana, em S. Paulo.
Maiores informações: (11) 3923 0009 ou pelo email gildasioreis@terra.com.br
Sinopse do livro:
Com prefácio de C. René Padilla e apresentação de Hermisten Maia
Este é o lançamento mais recente para a bibliografia da Missão Integral. Em março de 2011 a Arte Editorial lançará um importante texto sobre a vida, obra e teologia de um dos mais expressivos nomes da missão integral, C. René Padilla. Padilla tem história, convicções firmes sobre sua abordagem, é sem dúvida uma referência, além de ser um autor com produção literária intensa.
A obra foi escrita pelo Rev. Gildásio Reis, e surgiu a partir da sua dissertação para grau de Mestre em Ciência da Religião (Mackenzie). É, sem dúvida, a mais completa e importante obra em língua portuguesa sobre Padilla, um teólogo que a cada dia mais tem sido lido e estudado nos seminários
A obra tem prefácio do próprio René Padilla, além da apresentação do Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa.
Sinopse:
“René Padilha é um dos principais protagonistas do protestantismo latino-americano. Sua influência como pastor, escritor e missiólogo é vasta e vai além das fronteiras da América Latina. Assim, este livro do Rev. Gildásio Reis representa uma grande contribuição a todos os interessados numa prática pastoral e numa reflexão teológica em diálogo com a missão integral que inclui, entre os seus vários aspectos, a justiça social, a violência urbana e a responsabilidade ecológica.”
Dr. Paulo Romeiro
“A teologia da missão integral da igreja, que tem em Padilla um dos principais articuladores e teóricos, é uma das mais belas e importantes contribuições do evangelicalismo latino-americano à cristandade mundial. O livro que você agora tem em mãos é mais que apenas teoria – é reflexão séria sobre a ação da igreja em missão no mundo, missão esta conhecida como integral por ser orientada pelas Escrituras e por levar a sério não apenas a “alma”, mas o todo da criação de Deus.”
Prof. Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho
“O Rev. Gildásio, mestre em Educação Cristã, professor na área de Teologia Pastoral do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo, mas acima de tudo pastor de almas e líder de igreja preocupado com sua missão, traz-nos um excelente resumo da vida e obra de Padilha relacionada com a missão da igreja na sociedade como um todo. Esta é uma obra que todos que têm a mesma preocupação dele ou quiserem estudar mais profundamente o assunto daqui para frente, terão que ler, e a lerão com prazer.”
Rev. George Alberto Canêlhas
Páginas: 256 Preço: R$ 48,90 Categoria: Teologia /Missão integral Formato: 14x21cm Código: AE 257
Você pode pedir o seu por editora@arteeditorial.com.br ou (11) 3923 0009. Enviamos para todo o Brasil.
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terça-feira, 22 de março de 2011
Reforma: quem precisa dela?
É recorrente em muitos de nós a preocupação com os rumos da Igreja, em tudo: na liturgia, na profissão de fé, no testemunho, nas bizarrices e nos ataques tipo "fogo amigo".
Há uns anos escrevi o É cristã a Igreja evangélica (prefaciado por Ariovaldo Ramos) que já era um esboço da maneira como via, na época, parte dos fatos. Critiquei problemas que via em três grandes tradições, mas apontando caminhos. Nada de crítica pela crítica.
Há igrejas e ministérios seguindo seus caminhos, muitos deles bem distantes do que C. S. Lewis chamaria puro e simples. Algumas tentativas de marcar terreno têm surgido: conselhos, convenções, alianças, associações. E o que elas são? O superlativo das igrejas e pastores que as criam; a hipérbole do que já existe em termos denominacionais. Não há nada mais equivocado que a ideia de criar organismos para curar o Organismo. É clonagem, e tudo o que é derivado de algo imperfeito, imperfeito é. Em outras palavras, a criação desses órgãos apenas acentua o problema, acentua-o; é mais do mesmo.
A tradição reformada – sobre a qual tratei no É Cristã a Igreja Evangélica (Arte Editorial), é a irmã mal humorada. Que dificuldade esse povo tem em abrir um sorriso, ao menos. Sem qualquer juízo de valor quanto às pessoas aqui citadas (estou dialogando com as suas ideias) o Augustus Nicodemus escreveu O Que Estão Fazendo com a Igreja (Mundo Cristão), bate em todos e lá no final do livro (quem aguentou ler até lá) fez um mea culpa, provê um “cala a boca”, pontuando um dos menores problemas da tradição reformada da Igreja Presbiteriana. Gente boa ele, pregou o melhor sermão em Atos 2 que já ouvi (e eu sou penteca), mas só sabe bater e a mim parece ter uma enorme dificuldade para o diálogo com qualquer tradição que não seja a sua. Corrijam-me se estiver enganado. E por favor, Augustus, se ler este texto não responda a ele, pois você acabaria comigo, eu sei.
No outro extremo, as novas comunidades alternativas são a coqueluche entre jovens urbanos que não identificam-se com o formato tradicional, inflexível, muitas vezes inadequado ao estilo de vida digital. Há algumas delas, desde as mais organizadas como a Bola de Neve ou a mais informal como a Emergente. Sandro Baggio, a quem conheci em 1996 quando trabalhamos na preparação para o show do Petra em São Paulo, é um pastor jovem e brilhante cristão vindo da IEQ e que hoje está à frente de algumas comunidades alternativas, tipo os hipsters (não sei se ele gosta dessas definições). Está fazendo algo diferente? Sim, do ponto de vista da linguagem, da liturgia, do uniforme, da organização... Opa! Da organização? Organizou, dançou. É mais do mesmo. Parafraseando Rubem Alves, em algum momento o que era considerado herege criará a sua própria tradição e os hereges serão os outros. E como disse Ariovaldo Ramos, “ali alguém vai ter que prestar conta a alguém”, “alguém vai verificar se está de acordo”. Muda o nome, mas tem um nome.
No meio termo temos uma gama de denominações, umas mais para a direita, outras mais para a esquerda (e umas que não sabemos para onde vai!). E como o joio está no mesmo terreno do trigo, todos estão professando a Jesus.
Temos neopentecostais, temos pentecostais com práticas neopentecostais, temos batistas com novas abordagens ao evangelho, temos os ministérios paraeclesiásticos, temos os inconformados com a igreja, temos os desigrejados, há muita gente diferente afirmando ser a mesma coisa.
Assim, pergunto se seria possível conseguirmos expressar o mínimo múltiplo comum (MMC) da questão. O Mínimo relativo à exclusão de todos os excessos (sejam litúrgicos, sejam confessionais, denominacionais ou de qualquer outra natureza. O Múltiplo, porque com isso poderíamos multiplicar nossa identidade e mesmo esforços como uma igreja variada, que dialoga em muitos níveis e categorias e possua uma gama de frentes de atuação (educação, evangelismo, missões, política, profissionais etc.) mas ao mesmo tempo uma igreja una, isto é, que tenha algo em Comum: o que temos em comum que nos faz igreja, que nos identifica como cristãos e que nos levará ao mesmo paraíso? Se é que todos estão interessados em ir para lá (esse já seria um ponto). Será que máxima “o que nos une é maior que o que nos separa” não seria uma paráfrase do “quem não é contra nós está a nosso favor” (Mc 9.40)?
Não imagino quantas cláusulas uma declaração como essa teria. Uma cláusula? Cinco pontos? 95 teses? Não sei, como membro do corpo, sou dependente dos demais membros e todos dependemos da mesma cabeça, que é Cristo.
O que você pensa sobre isso?
Há uns anos escrevi o É cristã a Igreja evangélica (prefaciado por Ariovaldo Ramos) que já era um esboço da maneira como via, na época, parte dos fatos. Critiquei problemas que via em três grandes tradições, mas apontando caminhos. Nada de crítica pela crítica.
Há igrejas e ministérios seguindo seus caminhos, muitos deles bem distantes do que C. S. Lewis chamaria puro e simples. Algumas tentativas de marcar terreno têm surgido: conselhos, convenções, alianças, associações. E o que elas são? O superlativo das igrejas e pastores que as criam; a hipérbole do que já existe em termos denominacionais. Não há nada mais equivocado que a ideia de criar organismos para curar o Organismo. É clonagem, e tudo o que é derivado de algo imperfeito, imperfeito é. Em outras palavras, a criação desses órgãos apenas acentua o problema, acentua-o; é mais do mesmo.
A tradição reformada – sobre a qual tratei no É Cristã a Igreja Evangélica (Arte Editorial), é a irmã mal humorada. Que dificuldade esse povo tem em abrir um sorriso, ao menos. Sem qualquer juízo de valor quanto às pessoas aqui citadas (estou dialogando com as suas ideias) o Augustus Nicodemus escreveu O Que Estão Fazendo com a Igreja (Mundo Cristão), bate em todos e lá no final do livro (quem aguentou ler até lá) fez um mea culpa, provê um “cala a boca”, pontuando um dos menores problemas da tradição reformada da Igreja Presbiteriana. Gente boa ele, pregou o melhor sermão em Atos 2 que já ouvi (e eu sou penteca), mas só sabe bater e a mim parece ter uma enorme dificuldade para o diálogo com qualquer tradição que não seja a sua. Corrijam-me se estiver enganado. E por favor, Augustus, se ler este texto não responda a ele, pois você acabaria comigo, eu sei.
No outro extremo, as novas comunidades alternativas são a coqueluche entre jovens urbanos que não identificam-se com o formato tradicional, inflexível, muitas vezes inadequado ao estilo de vida digital. Há algumas delas, desde as mais organizadas como a Bola de Neve ou a mais informal como a Emergente. Sandro Baggio, a quem conheci em 1996 quando trabalhamos na preparação para o show do Petra em São Paulo, é um pastor jovem e brilhante cristão vindo da IEQ e que hoje está à frente de algumas comunidades alternativas, tipo os hipsters (não sei se ele gosta dessas definições). Está fazendo algo diferente? Sim, do ponto de vista da linguagem, da liturgia, do uniforme, da organização... Opa! Da organização? Organizou, dançou. É mais do mesmo. Parafraseando Rubem Alves, em algum momento o que era considerado herege criará a sua própria tradição e os hereges serão os outros. E como disse Ariovaldo Ramos, “ali alguém vai ter que prestar conta a alguém”, “alguém vai verificar se está de acordo”. Muda o nome, mas tem um nome.
No meio termo temos uma gama de denominações, umas mais para a direita, outras mais para a esquerda (e umas que não sabemos para onde vai!). E como o joio está no mesmo terreno do trigo, todos estão professando a Jesus.
Temos neopentecostais, temos pentecostais com práticas neopentecostais, temos batistas com novas abordagens ao evangelho, temos os ministérios paraeclesiásticos, temos os inconformados com a igreja, temos os desigrejados, há muita gente diferente afirmando ser a mesma coisa.
Assim, pergunto se seria possível conseguirmos expressar o mínimo múltiplo comum (MMC) da questão. O Mínimo relativo à exclusão de todos os excessos (sejam litúrgicos, sejam confessionais, denominacionais ou de qualquer outra natureza. O Múltiplo, porque com isso poderíamos multiplicar nossa identidade e mesmo esforços como uma igreja variada, que dialoga em muitos níveis e categorias e possua uma gama de frentes de atuação (educação, evangelismo, missões, política, profissionais etc.) mas ao mesmo tempo uma igreja una, isto é, que tenha algo em Comum: o que temos em comum que nos faz igreja, que nos identifica como cristãos e que nos levará ao mesmo paraíso? Se é que todos estão interessados em ir para lá (esse já seria um ponto). Será que máxima “o que nos une é maior que o que nos separa” não seria uma paráfrase do “quem não é contra nós está a nosso favor” (Mc 9.40)?
Não imagino quantas cláusulas uma declaração como essa teria. Uma cláusula? Cinco pontos? 95 teses? Não sei, como membro do corpo, sou dependente dos demais membros e todos dependemos da mesma cabeça, que é Cristo.
O que você pensa sobre isso?
quarta-feira, 16 de março de 2011
Vocês são pais ou missionários? Qual o seu papel?
Uma questão recorrente nas famílias que têm pais cristãos e filhos “desviados” ou afastados do evangelho é a mudança nos papéis dos pais.* Entendo perfeitamente a ansiedade – em alguns casos desespero – de pais que querem ver seus filhos reconciliando-se com o Senhor a fim de serem protegidos do pior.
Quando o cenário envolve violência, agressões verbais dos filhos contra os pais, péssimo aproveitamento nos estudos ou mesmo o uso de drogas e sexo prematuro e fora do casamento, a tendência de tudo o mais é agravar-se. A insistência dos pais, os “sermões-pregação”, as “palavras de Deus para você” e as ameaças notórias passam a ser uma constante perturbação do ambiente doméstico.
E o que fazem para terem seus filhos de volta, na Igreja, e com o comportamento transformado? Tudo o que não faz parte do papel de um pai e de uma mãe. Sim, não fique assustado com a minha declaração, pois tenho motivos e razões para dizer isso.
Se considerarmos somente a declaração de Jesus – uma exceção, aliás – que ele veio trazer divisão às famílias (Lc 12.51.52), poderia argumentar que luz e trevas não se misturam mesmo. Mas não é o caso. Quero trabalhar o texto de Paulo aos Colossenses 3.12: “Pais, não irritem seus filhos, para que eles não desanimem”.
Quando sou chamado a aconselhar filhos rebeldes de cristãos “comportados”, percebo que seus pais já não desempenham o papel de pais há muito tempo. Eles assumem a função de pastores, missionárias, evangelistas, diáconos e tudo o mais que temos nas igrejas. No entanto, há total negligência no seu papel de pai, total negligência no seu papel de mãe. Mais que negligência, há desacordo com o que nos dizem as Escrituras: eles irritam seus filhos em vez de amá-los; perseguem seus filhos em vez de ampará-los; apascentam seus filhos em vez de criá-los e educá-los.
Essa troca de papéis não é o recomendado. Aliás por toda a Bíblia o desastre é certo quando alguém não cumpre a sua parte no pacto. Foi assim com Eva, foi assim com Moisés, foi assim com Sansão, foi assim com Davi, foi assim com Jonas e com tantos outros. Todos grandes nomes da história bíblica. Conosco não seria diferente.
Quando pais e mães descartam seus papéis, suas funções, dois problemas são inevitáveis. Primeiro, eles assumem outro papel que não é devido ao seio de uma família. Fazem o que não é para ser feito e o lar fica sem o pai ou sem a mãe, sem alguém que cumpra essa função. Segundo, eles deixam de dar testemunho valioso, conforme Pedro orienta em 1Pedro 3.1-3, num texto que deve também ser aplicado ao relacionamento marido e mulher: “... mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que, se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês”. Sara, sem palavras – apenas pelo seu comportamento exemplar – ganhava Abrão, o pai da fé. Que testemunho ela deu, apenas exercendo o seu próprio papel dentro do lar!
Portanto, minha recomendação é fazer uma avaliação do modo como pais e mães estão se comportando, como estão lidando com as situações no ambiente doméstico, se há alguma ruptura na relação familiar. Isso talvez não solucione todos os problemas, mas certamente irá colocar muitas peças nos seus devidos lugares.
* Esse texto pode ser adaptado ainda para a relação marido e esposa.
Siga-me no Twitter: @magnopaganelli
Quando o cenário envolve violência, agressões verbais dos filhos contra os pais, péssimo aproveitamento nos estudos ou mesmo o uso de drogas e sexo prematuro e fora do casamento, a tendência de tudo o mais é agravar-se. A insistência dos pais, os “sermões-pregação”, as “palavras de Deus para você” e as ameaças notórias passam a ser uma constante perturbação do ambiente doméstico.
E o que fazem para terem seus filhos de volta, na Igreja, e com o comportamento transformado? Tudo o que não faz parte do papel de um pai e de uma mãe. Sim, não fique assustado com a minha declaração, pois tenho motivos e razões para dizer isso.
Se considerarmos somente a declaração de Jesus – uma exceção, aliás – que ele veio trazer divisão às famílias (Lc 12.51.52), poderia argumentar que luz e trevas não se misturam mesmo. Mas não é o caso. Quero trabalhar o texto de Paulo aos Colossenses 3.12: “Pais, não irritem seus filhos, para que eles não desanimem”.
Quando sou chamado a aconselhar filhos rebeldes de cristãos “comportados”, percebo que seus pais já não desempenham o papel de pais há muito tempo. Eles assumem a função de pastores, missionárias, evangelistas, diáconos e tudo o mais que temos nas igrejas. No entanto, há total negligência no seu papel de pai, total negligência no seu papel de mãe. Mais que negligência, há desacordo com o que nos dizem as Escrituras: eles irritam seus filhos em vez de amá-los; perseguem seus filhos em vez de ampará-los; apascentam seus filhos em vez de criá-los e educá-los.
Essa troca de papéis não é o recomendado. Aliás por toda a Bíblia o desastre é certo quando alguém não cumpre a sua parte no pacto. Foi assim com Eva, foi assim com Moisés, foi assim com Sansão, foi assim com Davi, foi assim com Jonas e com tantos outros. Todos grandes nomes da história bíblica. Conosco não seria diferente.
Quando pais e mães descartam seus papéis, suas funções, dois problemas são inevitáveis. Primeiro, eles assumem outro papel que não é devido ao seio de uma família. Fazem o que não é para ser feito e o lar fica sem o pai ou sem a mãe, sem alguém que cumpra essa função. Segundo, eles deixam de dar testemunho valioso, conforme Pedro orienta em 1Pedro 3.1-3, num texto que deve também ser aplicado ao relacionamento marido e mulher: “... mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que, se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês”. Sara, sem palavras – apenas pelo seu comportamento exemplar – ganhava Abrão, o pai da fé. Que testemunho ela deu, apenas exercendo o seu próprio papel dentro do lar!
Portanto, minha recomendação é fazer uma avaliação do modo como pais e mães estão se comportando, como estão lidando com as situações no ambiente doméstico, se há alguma ruptura na relação familiar. Isso talvez não solucione todos os problemas, mas certamente irá colocar muitas peças nos seus devidos lugares.
* Esse texto pode ser adaptado ainda para a relação marido e esposa.
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segunda-feira, 14 de março de 2011
Onde Deus “deveria” estar nas calamidades?
Sempre que ocorre alguma tragédia como esta no Japão, há uma enxurrada de “avaliações teológicas”, pró e contra Deus. “Onde está Deus, que nada fez?” “Ele não poderia ter evitado isso?” “Olha aí: se Deus existisse mesmo...”. E muitas outras.
Onde estava Deus quando o terremoto no Japão ocorreu? Onde ele estava quando os tsunamis, que sucederam tremores na Indonésia em 2004 e em 2010, aconteceram? Duas perguntas com inúmeros desdobramentos. Por exemplo, a Human Rights Watch, num relatório recente, condenou a “crise de segurança pública”. Para ONG, violações em presídios, tortura, trabalho forçado e ameaças a indígenas e sem-terra no campo que resultam em 50 mil homicídios por ano. Tal número é dezenas de vezes o número estimado de mortes no Japão. E por que os teólogos de plantão não ficam alarmados com esse número de mortos no Brasil.
Há outros países mais violentos que aqui; há outros tipos de mortes com números igualmente elevados: câncer, HIV, acidentes de trânsito, fome entre outros. 65 milhões de aborto são realizados por ano! Que diferença há entre morrer o traficante baleado e o japonês bem educado com seu iPod de última geração na mão? O choro do menino na favela do Heliópolis é desafinado em relação ao do oriental de Kobe?
E em ambos os casos, o que Deus tem a ver com isso? Na teologia dos filhinhos-de-papai sim, Deus deveria ter intervido. Afinal, “é gente do primeiro mundo”! Somente teólogos mimados fazem apologia da pobreza em tempos normais e polemizam com Deus em tempos de crise.
Não vejo que Deus tenha qualquer tipo de dever, obrigação ou algo assim em nada disso. Queixe-se cada um dos seus próprios pecados. Imagino, na minha pequenez, que Deus não faça distinção entre brancos e pardos, entre orientais e ocidentais, nem entre gente boa e gente má. Deus não tem prazer na morte do ímpio, diz “o texto”. E mesmo assim, por que deveria livrar alguém da morte? Faz diferença morrer com um ano de idade ou com 30, no auge da produtividade? Faz diferença morrer soterrado num instante ou após sofrer 5 anos em cima de uma cama? Que diferença há entre a frustração de perder seus bens numa tragédia e não poder comprá-los durante toda uma vida?
Da nossa ótica míope sim. Poderíamos, ainda, acusar: “É, eles são budistas, mereciam morrer” ou “são idólatras animistas na África aqueles que estão na miséria”. Besteira, temos tantos ou mais pecados do que eles e estamos vivos. Só acreditamos que somos perdoados por Deus pela fé.
E onde Deus deveria estar quando tudo isso ocorrer? No mesmo lugar onde sempre esteve, fazendo ou desfazendo as mesmas coisas que sempre fez. Por que não ouço um escritor elogiando Deus por livrar pessoas de morte quando gigantescos blocos de gelo pesando toneladas despencam das geleiras da Antártida? Por que não leio escritores elogiando a ação de Deus por não haver moradores em áreas onde há mudanças geográficas drásticas, como aberturas de crateras no solo, deslizamentos de terras em áreas desertas? Catástrofes há o tempo todo. E se todas elas acontecessem sobre nossas cabeças a culpa seria de Deus? Que tem ele a ver com isso? Ele poderia evitar? Nós também. O Japão está situado no encontro de quatro – isso mesmo, quatro! – placas tectônicas. São Francisco, Los Angeles, México e muitas outras cidades também. O Nordeste é região de seca, como a África, o norte da Europa sofre com nevascas, como o Canadá e a Rússia. E aí, que Deus tem a ver com isso? Onde Deus deveria estar quando tais intempéries ocorrem? Onde Deus deveria estar nas calamidades?
Onde estava Deus quando o terremoto no Japão ocorreu? Onde ele estava quando os tsunamis, que sucederam tremores na Indonésia em 2004 e em 2010, aconteceram? Duas perguntas com inúmeros desdobramentos. Por exemplo, a Human Rights Watch, num relatório recente, condenou a “crise de segurança pública”. Para ONG, violações em presídios, tortura, trabalho forçado e ameaças a indígenas e sem-terra no campo que resultam em 50 mil homicídios por ano. Tal número é dezenas de vezes o número estimado de mortes no Japão. E por que os teólogos de plantão não ficam alarmados com esse número de mortos no Brasil.
Há outros países mais violentos que aqui; há outros tipos de mortes com números igualmente elevados: câncer, HIV, acidentes de trânsito, fome entre outros. 65 milhões de aborto são realizados por ano! Que diferença há entre morrer o traficante baleado e o japonês bem educado com seu iPod de última geração na mão? O choro do menino na favela do Heliópolis é desafinado em relação ao do oriental de Kobe?
E em ambos os casos, o que Deus tem a ver com isso? Na teologia dos filhinhos-de-papai sim, Deus deveria ter intervido. Afinal, “é gente do primeiro mundo”! Somente teólogos mimados fazem apologia da pobreza em tempos normais e polemizam com Deus em tempos de crise.
Não vejo que Deus tenha qualquer tipo de dever, obrigação ou algo assim em nada disso. Queixe-se cada um dos seus próprios pecados. Imagino, na minha pequenez, que Deus não faça distinção entre brancos e pardos, entre orientais e ocidentais, nem entre gente boa e gente má. Deus não tem prazer na morte do ímpio, diz “o texto”. E mesmo assim, por que deveria livrar alguém da morte? Faz diferença morrer com um ano de idade ou com 30, no auge da produtividade? Faz diferença morrer soterrado num instante ou após sofrer 5 anos em cima de uma cama? Que diferença há entre a frustração de perder seus bens numa tragédia e não poder comprá-los durante toda uma vida?
Da nossa ótica míope sim. Poderíamos, ainda, acusar: “É, eles são budistas, mereciam morrer” ou “são idólatras animistas na África aqueles que estão na miséria”. Besteira, temos tantos ou mais pecados do que eles e estamos vivos. Só acreditamos que somos perdoados por Deus pela fé.
E onde Deus deveria estar quando tudo isso ocorrer? No mesmo lugar onde sempre esteve, fazendo ou desfazendo as mesmas coisas que sempre fez. Por que não ouço um escritor elogiando Deus por livrar pessoas de morte quando gigantescos blocos de gelo pesando toneladas despencam das geleiras da Antártida? Por que não leio escritores elogiando a ação de Deus por não haver moradores em áreas onde há mudanças geográficas drásticas, como aberturas de crateras no solo, deslizamentos de terras em áreas desertas? Catástrofes há o tempo todo. E se todas elas acontecessem sobre nossas cabeças a culpa seria de Deus? Que tem ele a ver com isso? Ele poderia evitar? Nós também. O Japão está situado no encontro de quatro – isso mesmo, quatro! – placas tectônicas. São Francisco, Los Angeles, México e muitas outras cidades também. O Nordeste é região de seca, como a África, o norte da Europa sofre com nevascas, como o Canadá e a Rússia. E aí, que Deus tem a ver com isso? Onde Deus deveria estar quando tais intempéries ocorrem? Onde Deus deveria estar nas calamidades?
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sexta-feira, 11 de março de 2011
"E disse Deus: Haja luz"
E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã; o dia primeiro (Gn 1.3-5).
Grande número de passagens da Bíblia, quando lidas, não despertam nem revelam todo o seu conteúdo. Creio que, assim como ocorreu e ocorre comigo, também ocorra com outros leitores: lemos e relemos os textos, mas em dado momento ou dia vemos algo que havia passado desapercebido. E em muitas dessas vezes notamos algo “aparentemente” conflitante, contraditório, como essa passagem de Gênesis.
Não há nada de errado com nenhuma passagem bíblica, nem com o Hino da Criação (Gn 1 e 2). Mas, como é possível a existência da luz antes da criação dos luzeiros ou luminares, isto é, como pôde a luz surgir no sistema solar antes da criação dos astros, estrelas e planetas? Não são eles os geradores e refletores da própria luz? Como pôde haver luz no primeiro dia (Gn 1.3-5) se os luminares foram criados somente no quarto dia (Gn. 1.14-19)?
Há algum tempo, recebi uma carta perguntando sobre isso. Na época, apresentei, em resposta à essa carta, algumas sugestões de interpretação que alguns teólogos e comentaristas bíblicos costumam fazer. Mas, concordo: não pude esclarecer a questão de forma satisfatória. Felizmente hoje podemos entender com maior clareza, ou, na pior das hipóteses, propor uma explicação mais concreta sobre a natureza da luz, além da explicação dada pela própria fé, que é a prova das coisas que não vemos. Não basta apenas dizer – como alguns – que a luz é escuridão iluminada, não é mesmo?
Vamos considerar uma interpretação científica. Nascido em Edimburgo, na Escócia, em 1831, James Clerk Maxwell investiu em saber como a eletricidade gera magnetismo e vice-versa. Munido de baterias, ímãs e fios de cobre, Maxwell pôs-se a pesquisar.
Ao final da primeira fase de sua pesquisa, ele registrou o comportamento da eletricidade e do magnetismo na matéria de forma matemática, por meio do que conhecemos como As Quatro Equações de Maxwell.
Maxwell então fez a si mesmo uma pergunta estranha: “Como suas equações seriam formuladas no espaço vazio, no vácuo, num lugar onde não houvesse cargas elétricas, nem correntes elétricas?” Ele adaptou suas equações, reconsiderando alguns valores para os campos elétrico e magnético e outras variações do espaço tridimensional1, mas manteve (intuitivamente) a simetria entre esses campos. “Mesmo no vácuo”, comentou o astrônomo Carl Sagan2, “na ausência total de eletricidade, ou até de matéria, um campo magnético variável, segundo a proposição de Maxwell, provoca um campo elétrico, e vice-versa”. Provavelmente esse campo magnético é próprio do Universo.
Em suma, as quatro equações de Maxwell no vácuo afirmam:
1 – não há cargas elétricas no vácuo;
2 – não há unipolares magnéticos no vácuo;
3 – um campo magnético variável gera um campo elétrico; e
4 – vice-versa, um campo elétrico variável gera um campo magnético.
Assim, testando suas equações em laboratório, Maxwell observou que os campos elétrico e magnético no vácuo se propagavam, espantosamente, com a mesma velocidade que já fora medida para a luz!3 Constatou-se, então, que a eletricidade e o magnetismo estavam implicados de forma profunda na natureza da luz.
Em outras palavras, a presença de magnetismo no Universo gerava uma corrente elétrica, e vice-versa, e essa era a natureza da luz.
Curiosamente, isso, de certa forma, independe do sol que conhecemos ou das estrelas. Há uma infinidade de outros corpos celestes que podem ser os agentes produtores desses campos magnéticos e elétricos. Mas, Maxwell ainda disse que o vácuo “podia ser eletricamente polarizado”, isto é, possuir seus próprios campos eletromagnéticos, independente da matéria.
Maxwell sentiu-se obrigado a oferecer uma espécie de “modelo mecânico” para a propagação de uma onda eletromagnética (luz) através do vácuo perfeito. Assim, ele imaginou o espaço preenchido com uma substância misteriosa a que deu o nome de éter, que sustentava e continha os campos magnético e elétrico variando no tempo – algo semelhante a uma gelatina vibrante, mas invisível, que permeava o universo. O estremecimento do éter era a razão para a luz viajar através dele – assim como as ondas da água se propagam através da própria água e as ondas de som através do ar. Essa substância tinha de ser muitíssimo fina, “fantasmagórica”, quase incorpórea, para não alterar o curso dos planetas e estrelas, mas bastante rígida para sustentar todas essas ondas que se propagavam a uma velocidade prodigiosa: a velocidade da luz.
Assim, Maxwell descrevia o modo pelo qual a luz era difusa no vácuo e respondia cientificamente à pergunta que muitos de nós sempre fizemos.
Em resumo, temos:
1 – mesmo no vácuo, na ausência total de eletricidade, ou até de matéria, um campo magnético variável provoca um campo elétrico, e vice-versa;
2 – testando essas equações em laboratório, Maxwell observou que os campos elétrico e magnético no vácuo se propagavam, espantosamente, com a mesma velocidade que já fora medida para a luz;
3 – a presença de magnetismo no Universo gerava uma corrente elétrica, e vice-versa, e essa era a natureza da luz;
4 – Maxwell também considerou o espaço preenchido com uma substância misteriosa a que deu o nome de éter, responsável pela difusão da luz através do cosmo.
Albert Einstein comentou sobre a experiência de Maxwell: “A poucos homens no mundo tem sido concedida [por Deus] uma experiência dessas”.
Assim, é perfeitamente possível que a luz já existisse quando os luzeiros foram criados por Deus no quarto dia, o que não permite a conclusão de que a passagem apresenta uma contradição no relato feito pelo autor do Gênesis.
Mas ainda pode ser levantada a seguinte questão: a explicação de Maxwell exclui a criação divina do relato? A resposta é não. Não é preciso separar Deus da explicação proposta por Maxwell, pois se trata de questões distintas. A criação ex nihilo (do nada Deus faz tudo) não é excluída neste caso porque a questão levantada é qual a natureza da luz. A natureza de um evento físico é explicada por propostas dadas pela Física. Deus não pode ser explicado por eventos físicos; podemos observar evidências de Sua existência, mas não prová-la por esses meios.
Mas se considerarmos que a luz tem natureza espiritual devemos deixar de lado os experimentos de Maxwell e centrarmos em uma interpretação espiritual dos eventos da Criação, no caso a natureza da luz. Assim, para concluir, gostaria de instigá-lo um pouco.
Considere o seguinte: Deus é onipresente, está em todos os lugares, em todos os tempos, de eternidade em eternidade. João escreveu que Deus é luz (do grego foos): “Deus é luz, e não há nele trevas nenhuma” (1Jo 1.5).
Não seria o caso de uma interpretação não científica, mas espiritualizada do texto bíblico? Ora, a Bíblia foi inspirada pelo próprio Deus, e não seria errado considerar muitas de suas passagens de forma espiritual.
Quando disse “Haja luz”, Deus não estaria manifestando a Si mesmo no cosmo? A manifestação de Sua presença nas trevas (já que Deus é luz) não estaria marcando o início da criação feita por Ele mesmo? Ou a presença do Seu Espírito foi tão marcante e poderosa que até mesmo chegou a afetar o mundo físico produzindo campos eletromagnéticos, ou campos de luz? Vamos pedir luz a Ele para responder a isso, certo?
* Texto foi extraído do livro Ciência e Fatos Bíblicos (Ed. Dynamus), de minha autoria.
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quinta-feira, 3 de março de 2011
Tesouro no céu? Vai sonhando...
Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. (Mt 6.19-20, NVI)
De novo o velho exemplo: ouvi um pregador dizer que iria “ensinar o segredo para tirar os tesouros do céu e desfrutarmos deles aqui na terra”. Como Jesus ensinou o contrário, temos um típico caso de pregação antibíblica, anticristã, e isso em uma igreja evangélica.
Mas em qual tesouro Jesus está pensando quando fez esse anúncio? Será que Jesus acumula alguma espécie de riqueza transferida daqui para lá?
Definitivamente, não. Recorrendo ao velho – e bom – mandamento da interpretação, o contexto, o quê vemos aqui?
No contexto imediato, Jesus acabara de ensinar a oração do Pai Nosso. Esta oração é encerrada com o ensino sobre perdão (“perdoa-nos assim como perdoamos”, v.12) e a soberania divina do Reino (“teu é o Reino”, v.13).
Depois da oração, Jesus fala sobre o jejum: os judeus, com sua falsa espiritualidade (a que Jesus chama de hipocrisia, v. 16), acordavam e nem se arrumavam, permaneciam despenteados, semblante abatido, não se lavavam e saiam às ruas assim, para mostrar que estavam em jejum. Dentro do contexto temos, então, a oração e o jejum, ambos elementos de natureza devocional, espiritual, seja dentro do cristianismo como em qualquer outra orientação religiosa. Nada temos aqui com relação a riquezas e bens materiais.
A chave para entender a natureza do “tesouro” do versículo 19 está aqui, no texto do v. 18 sobre jejum: “Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” [algumas versões acrescentam “publicamente”].
O jejum é uma prática milenar que visa à humilhação da alma perante Deus, com finalidade de aproximação do homem ao Senhor. Um dos meus versículos favoritos sobre o jejum diz: “humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração” (Sl 35.13). Davi diz que quando seus inimigos o afrontavam, ele buscava em Deus, com oração e jejum, o julgamento de seus inimigos. As ferramentas da oração e do jejum sempre são usadas conjuntamente.
Assim, que recompensa Jesus tem em mente quando fala que haverá tesouros – no caso, para quem ora e jejua? Certamente o contexto remete os pensamentos à santidade, às virtudes que o cristão pode alcançar em sua aproximação do Senhor, por meio da oração e do jejum. É inadmissível a tentativa de ler este texto com as lentes da bolsa de valores. Não, não são os tesouros monetários que Jesus tem em mente. Apenas quando ele for falar sobre a “ansiedade” (a partir do v. 24), é que haverá oportunidade para mencionar os recursos materiais para o sustento das necessidades básicas – e mesmo assim o contexto será a ansiedade e as preocupações da vida!
Dessa forma, desmancha-se a pretensa hermenêutica da prosperidade sobre este texto no Sermão do Monte. As virtudes cristãs são o foco aqui. Jesus faz alusão a elas quando aconselha e orienta-nos a juntar algo diante de Deus, no céu. E alguém conseguiu e ousou pensar em riquezas materiais num ambiente nitidamente espiritual. Nada entendeu dos princípios da fé.
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De novo o velho exemplo: ouvi um pregador dizer que iria “ensinar o segredo para tirar os tesouros do céu e desfrutarmos deles aqui na terra”. Como Jesus ensinou o contrário, temos um típico caso de pregação antibíblica, anticristã, e isso em uma igreja evangélica.
Mas em qual tesouro Jesus está pensando quando fez esse anúncio? Será que Jesus acumula alguma espécie de riqueza transferida daqui para lá?
Definitivamente, não. Recorrendo ao velho – e bom – mandamento da interpretação, o contexto, o quê vemos aqui?
No contexto imediato, Jesus acabara de ensinar a oração do Pai Nosso. Esta oração é encerrada com o ensino sobre perdão (“perdoa-nos assim como perdoamos”, v.12) e a soberania divina do Reino (“teu é o Reino”, v.13).
Depois da oração, Jesus fala sobre o jejum: os judeus, com sua falsa espiritualidade (a que Jesus chama de hipocrisia, v. 16), acordavam e nem se arrumavam, permaneciam despenteados, semblante abatido, não se lavavam e saiam às ruas assim, para mostrar que estavam em jejum. Dentro do contexto temos, então, a oração e o jejum, ambos elementos de natureza devocional, espiritual, seja dentro do cristianismo como em qualquer outra orientação religiosa. Nada temos aqui com relação a riquezas e bens materiais.
A chave para entender a natureza do “tesouro” do versículo 19 está aqui, no texto do v. 18 sobre jejum: “Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” [algumas versões acrescentam “publicamente”].
O jejum é uma prática milenar que visa à humilhação da alma perante Deus, com finalidade de aproximação do homem ao Senhor. Um dos meus versículos favoritos sobre o jejum diz: “humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração” (Sl 35.13). Davi diz que quando seus inimigos o afrontavam, ele buscava em Deus, com oração e jejum, o julgamento de seus inimigos. As ferramentas da oração e do jejum sempre são usadas conjuntamente.
Assim, que recompensa Jesus tem em mente quando fala que haverá tesouros – no caso, para quem ora e jejua? Certamente o contexto remete os pensamentos à santidade, às virtudes que o cristão pode alcançar em sua aproximação do Senhor, por meio da oração e do jejum. É inadmissível a tentativa de ler este texto com as lentes da bolsa de valores. Não, não são os tesouros monetários que Jesus tem em mente. Apenas quando ele for falar sobre a “ansiedade” (a partir do v. 24), é que haverá oportunidade para mencionar os recursos materiais para o sustento das necessidades básicas – e mesmo assim o contexto será a ansiedade e as preocupações da vida!
Dessa forma, desmancha-se a pretensa hermenêutica da prosperidade sobre este texto no Sermão do Monte. As virtudes cristãs são o foco aqui. Jesus faz alusão a elas quando aconselha e orienta-nos a juntar algo diante de Deus, no céu. E alguém conseguiu e ousou pensar em riquezas materiais num ambiente nitidamente espiritual. Nada entendeu dos princípios da fé.
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terça-feira, 1 de março de 2011
O pastor abduzido e o Deus conosco
Há algum tempo li um artigo sobre as características marcantes de líderes neopentecostais. Uma delas, que marcou minha leitura, era que esses pastores evitam o contato com as ovelhas. Chegam por trás do púlpito, motivam os ouvintes e dali mesmo “desaparecem”, indo embora num carro blindado ou mesmo num helicóptero.
Ainda hoje evitar o contato é uma estratégia usada por alguns líderes. Deixar as pessoas na expectativa, na insegurança, na obscuridade. Sonegar informação, omitir detalhes, ocultar. É a estratégia. Chegar quando ninguém o espera, não ir quando todos o aguardam. Artistas fazem isso. No aeroporto, no restaurante, na casa de espetáculos, nos hotéis.
Qual a contribuição esse isolamento dá para a Igreja? Quem ganha o quê com isso? Quero entender. É marketing pessoal? É deixar as pessoas com um gostinho de “quero mais”? Ou mesmo reproduzir um esquema muito usado no showbiz para a criação do mito, da celebridade, a “intocabilidade” do astro, o endeusamento do indivíduo? Se o caso é este, está explicado.
Mas, então, surge outra questão: como a Igreja, os crentes que ouvem a palestrantes assim, podem emprestar seus púlpitos para pessoas que não se enquadram no espírito do cristianismo? Submeter-se, por uma hora sequer, a ouvir quem não observa os critérios mínimos e princípios mais básicos da fé cristã é uma arriscada ousadia: se não compreende o básico, que mais esta pessoa pode falar ou ensinar? Pode “ensinar” tudo aquilo que não consta da Bíblia, tudo aquilo que não aprendeu.
Por conta dessa deficiência, fala-se muito em “cobertura espiritual”. A cobertura espiritual é um arremedo criado por pastores e líderes que não pastoreiam nem lideram pessoalmente a ninguém. “Você tem a minha cobertura espiritual” é o mesmo que “não tenho tempo para você, mas não saia debaixo da minha asa... e deixe o dízimo aqui, heim!”. Mentoria espiritual seria a prática mais próxima do modelo bíblico de comunhão, ser discipulado por um crente maduro, mas isso é assunto para outro artigo.
O Espírito do Cristianismo é aquele que diz “deixa vir a mim os pequeninos”. É o Espírito do Emanuel, Deus conosco, Deus presente, que encarna e aproxima-se. Esses são fundamentos da fé cristã: a pessoalidade de Deus. Cristo encarnou-se, limitou-e a fim de levar ao extremo essa característica do seu Ser: “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Deus não se deixa ausentar da experiência cristã; ao contrário, ele vem ao nosso encontro para torná-la real, testemunhável.
E mais, Jesus mesmo disse que a superação de toda armadilha religiosa é, exatamente, o contato, a aproximação: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.” (Jo 5.39,40)
A aproximação só traz benefícios. Ela alimenta a comunhão, fortalece a identificação, revela, elimina o contraditório, exclui o individualismo, inibe o pecado oculto. A aproximação promove a lealdade, facilita a motivação, consola. A aproximação favorece o discipulado, a formação do caráter tal qual o do líder ou do pastor, multiplica os dons. Há muito o que ser dito sobre a aproximação; há textos e mais textos a serem citados, mas não posso estender-me. Até porque você, leitor, já percebeu que o cristianismo é a religião da aproximação, do contato.
Ser cristão é ir à Cristo: “ir à Cristo para termos vida”, e ir à Cristo por meio daqueles que estão conosco. As Escrituras indicam o caminho, apontam a direção, mas o ponto de chegada não são as Escrituras, mas Ele: a Vida. É Ele, Emanuel, o Deus conosco. Qualquer prática que contradiga isto é antibíblica.
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Ainda hoje evitar o contato é uma estratégia usada por alguns líderes. Deixar as pessoas na expectativa, na insegurança, na obscuridade. Sonegar informação, omitir detalhes, ocultar. É a estratégia. Chegar quando ninguém o espera, não ir quando todos o aguardam. Artistas fazem isso. No aeroporto, no restaurante, na casa de espetáculos, nos hotéis.
Qual a contribuição esse isolamento dá para a Igreja? Quem ganha o quê com isso? Quero entender. É marketing pessoal? É deixar as pessoas com um gostinho de “quero mais”? Ou mesmo reproduzir um esquema muito usado no showbiz para a criação do mito, da celebridade, a “intocabilidade” do astro, o endeusamento do indivíduo? Se o caso é este, está explicado.
Mas, então, surge outra questão: como a Igreja, os crentes que ouvem a palestrantes assim, podem emprestar seus púlpitos para pessoas que não se enquadram no espírito do cristianismo? Submeter-se, por uma hora sequer, a ouvir quem não observa os critérios mínimos e princípios mais básicos da fé cristã é uma arriscada ousadia: se não compreende o básico, que mais esta pessoa pode falar ou ensinar? Pode “ensinar” tudo aquilo que não consta da Bíblia, tudo aquilo que não aprendeu.
Por conta dessa deficiência, fala-se muito em “cobertura espiritual”. A cobertura espiritual é um arremedo criado por pastores e líderes que não pastoreiam nem lideram pessoalmente a ninguém. “Você tem a minha cobertura espiritual” é o mesmo que “não tenho tempo para você, mas não saia debaixo da minha asa... e deixe o dízimo aqui, heim!”. Mentoria espiritual seria a prática mais próxima do modelo bíblico de comunhão, ser discipulado por um crente maduro, mas isso é assunto para outro artigo.
O Espírito do Cristianismo é aquele que diz “deixa vir a mim os pequeninos”. É o Espírito do Emanuel, Deus conosco, Deus presente, que encarna e aproxima-se. Esses são fundamentos da fé cristã: a pessoalidade de Deus. Cristo encarnou-se, limitou-e a fim de levar ao extremo essa característica do seu Ser: “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Deus não se deixa ausentar da experiência cristã; ao contrário, ele vem ao nosso encontro para torná-la real, testemunhável.
E mais, Jesus mesmo disse que a superação de toda armadilha religiosa é, exatamente, o contato, a aproximação: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.” (Jo 5.39,40)
A aproximação só traz benefícios. Ela alimenta a comunhão, fortalece a identificação, revela, elimina o contraditório, exclui o individualismo, inibe o pecado oculto. A aproximação promove a lealdade, facilita a motivação, consola. A aproximação favorece o discipulado, a formação do caráter tal qual o do líder ou do pastor, multiplica os dons. Há muito o que ser dito sobre a aproximação; há textos e mais textos a serem citados, mas não posso estender-me. Até porque você, leitor, já percebeu que o cristianismo é a religião da aproximação, do contato.
Ser cristão é ir à Cristo: “ir à Cristo para termos vida”, e ir à Cristo por meio daqueles que estão conosco. As Escrituras indicam o caminho, apontam a direção, mas o ponto de chegada não são as Escrituras, mas Ele: a Vida. É Ele, Emanuel, o Deus conosco. Qualquer prática que contradiga isto é antibíblica.
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