Todos caminhos levam a Deus
É o que diz a voz popular
Preciso dizer que por “deus” eu entendo
Ser tudo aquilo que o homem inventar.
O ecumenismo diz que deus é um só
Mudando apenas o nome que é dado
Aquele que crer nesse deus multinome
Também tenha certeza de estar engando.
Os orientais buscam há séculos
O equilíbrio do espírito com matéria
Precisam então integrar-se ao nirvana
O que não passa de grande pilhéria.
Os gregos e seus brilhantes filósofos
Meditam no que vem a ser a verdade
Nada alcançam além de galhofa
E de uma promíscua’irreal liberdade.
E por fim falemos dos santos judeus
Que se absteram do que era imundo
Só não perceberam ser Jesus o Cordeiro
Que veio tirar o pecado do mundo.
“João do evangelho” escreveu a verdade
As palavras do Mestre, a resposta obtida
Que um dia Jesus disse a todos os homens
“Eu Sou o caminho a verdade’a vida”.
Este espaço foi criado para discutir diferentes assuntos a partir da cosmovisão cristã. O que pretendo é o debate de ideias e o aprofundamento nas questões que interessam a Igreja de modo geral.
sábado, 27 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Consciência negra? Não, consciência do próximo.
Após uma semana de casados, minha esposa e eu fomos ao mercado para a memorável primeira compra de mantimentos. Morávamos numa casa próxima de onde fui criado. Passados alguns metros, entre um aceno e outro, um cumprimento e outro, ela comentou admirada: – Você só conhece negros?
De fato tenho muitos conhecidos dessa etnia ainda hoje. Nos damos muito bem.
Mas a despeito das diferenças étnicas – uma vez que somos todos “raça humana” e não raça isso ou raça aquilo – é no mínimo estranho evocar “consciência” de uma etnia que, segundo dados do IPEA, já em 2008 era maioria no Brasil.
Deve ficar claro que manifestações como essas de estabelecimento de feriados, passeatas, manifestações de qualquer natureza fazem sentido em favor de etnias que são minoritárias numa sociedade plural e democrática. Por que ninguém se levanta para convocar uma defesa dos bolivianos escravizados nas oficinas de costura no bairro do Bom Retiro, em S. Paulo? Eles sim são minoria e precisam ser defendidos. Ainda não foi assinada a abolição da escravatura imposta naquele bairro, na maioria por asiáticos que vez ou outra estampam páginas policiais nos jornais.
Estranho e sem sentido esse feriado em homenagem a Zumbi dos Palmares, que segundo os últimos estudos divulgados mês passado, até mesmo senhor de escravos foi, seguindo os modelos africanos de liderança tribal. Pararam centenas de cidades por conta de uma etnia que não consegue resolver os problemas internos de – curiosamente – preconceito! É notável e antigos os comentários entre caucasianos sobre o preconceito entre negros. Cresci vendo e ouvindo isso.
Ficaria envergonhado também se o mecanismo para meu ingresso numa universidade fosse a ascendência de minha família. Cotas para descendentes de italianos? Eu fingiria que não é comigo. Se dissesse que as cotas garantem a entrada de pobres e desfavorecidos, ainda assim é caso a ser pensado, pois até mesmo os mais simples quando se aplicam chegam onde muito abastado não põe o pé. Pergunte a muitos milionários que têm o quarto ano primário como grau máximo em sua formação. Mas critério étnico? Isso sim é segregação. E mais: totalitarismo, porque os negros já eram maioria em 2008.
É preciso ter consciência do próximo, e não de um em detrimento do outro. Quem sabe se os negros daqui não poderiam importar alguma coisa boa dos EUA e aprender mais com o presidente eleito dos EUA, que repudiou veementemente um apoio que o associava a uma pretensa representação étnica e disse publicamente rejeitar o apoio, fazendo-se candidato dos norte-americanos, e não dos negros daquele país?
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/maio/negros-serao-maioria-no-pais-ja-em-2008-diz-ipea/
De fato tenho muitos conhecidos dessa etnia ainda hoje. Nos damos muito bem.
Mas a despeito das diferenças étnicas – uma vez que somos todos “raça humana” e não raça isso ou raça aquilo – é no mínimo estranho evocar “consciência” de uma etnia que, segundo dados do IPEA, já em 2008 era maioria no Brasil.
Deve ficar claro que manifestações como essas de estabelecimento de feriados, passeatas, manifestações de qualquer natureza fazem sentido em favor de etnias que são minoritárias numa sociedade plural e democrática. Por que ninguém se levanta para convocar uma defesa dos bolivianos escravizados nas oficinas de costura no bairro do Bom Retiro, em S. Paulo? Eles sim são minoria e precisam ser defendidos. Ainda não foi assinada a abolição da escravatura imposta naquele bairro, na maioria por asiáticos que vez ou outra estampam páginas policiais nos jornais.
Estranho e sem sentido esse feriado em homenagem a Zumbi dos Palmares, que segundo os últimos estudos divulgados mês passado, até mesmo senhor de escravos foi, seguindo os modelos africanos de liderança tribal. Pararam centenas de cidades por conta de uma etnia que não consegue resolver os problemas internos de – curiosamente – preconceito! É notável e antigos os comentários entre caucasianos sobre o preconceito entre negros. Cresci vendo e ouvindo isso.
Ficaria envergonhado também se o mecanismo para meu ingresso numa universidade fosse a ascendência de minha família. Cotas para descendentes de italianos? Eu fingiria que não é comigo. Se dissesse que as cotas garantem a entrada de pobres e desfavorecidos, ainda assim é caso a ser pensado, pois até mesmo os mais simples quando se aplicam chegam onde muito abastado não põe o pé. Pergunte a muitos milionários que têm o quarto ano primário como grau máximo em sua formação. Mas critério étnico? Isso sim é segregação. E mais: totalitarismo, porque os negros já eram maioria em 2008.
É preciso ter consciência do próximo, e não de um em detrimento do outro. Quem sabe se os negros daqui não poderiam importar alguma coisa boa dos EUA e aprender mais com o presidente eleito dos EUA, que repudiou veementemente um apoio que o associava a uma pretensa representação étnica e disse publicamente rejeitar o apoio, fazendo-se candidato dos norte-americanos, e não dos negros daquele país?
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terça-feira, 16 de novembro de 2010
Há vagas para apologistas
Foram abertas novas vagas para a função de apologista na Igreja brasileira. É desejável conhecimento bíblico mínimo, uma vez que a causa será combater aqueles que nunca leram a Bíblia uma só vez, mas insistem em ensiná-la e pregá-la. Aprecia-se conhecimento teológico básico, pelos mesmos motivos.
Parece piada, mas a situação é tal. Cada vez menos a Igreja “evangélica” conhece o evangelho, e como diz o adágio, “em terra de cego, quem tem olho é rei”.
Uma pesquisa recente realizada pela Sociedade Bíblica Ibero-americana no Brasil revelou que 50,68% dos pastores brasileiros nunca leram a Bíblia. Pergunto: o que estão ensinando, então? Respondo: – Nada, quando não o pior: ensinos antibíblicos e, portanto, anticristãos.
Ouvi, pessoalmente, um pastor esbravejando no púlpito que naquela noite ele “ensinaria o segredo para retirar os tesouros do céu para desfrutarmos aqui na terra”. Erro crasso, uma vez que Jesus ensinou exatamente o oposto: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt 6.19,20).
Outro pastor disse para a igreja que “naquele ano [2009] eles escreveriam Atos 29”, dando a entender que a Igreja faria evangelismo e missões. Em seguida disse para os irmãos abrirem suas Bíblias em Atos 29. Prontamente os membros e alguns pastores no púlpito puseram-se a procurar tal capítulo. O pastor perguntou: “Quem encontrou Atos 29 diga ‘Glória a Deus’”. O coro se fez ouvir. Achando estranho, ele insistiu: “Quem encontrou Atos 29 levante a mão”. Até alguns pastores levantaram suas mãos.
Na floresta amazônica, ao contrário do original bíblico em Gênesis 12, “deus [com “d” minúsculo mesmo] levantou um patriarca”. Cansado de ser simplesmente progenitor de apóstolos, o aero-profeta autodenominou-se patriarca, em pé de igualdade a Abraão. Será preciso atualizar a canção infantil que diz “Pai Abraão, tem muitos filhos, muitos filhos ele tem...” para “Pai Abraão, tem concorrente, um concorrente ele tem...”.
Aqui em São Paulo, o “pastor zero-cal” cobra R$ 160,00 a inscrição para ordenação ao ministério, mais a taxa de R$ 255 para a credencial (R$ 415,00). Só para a sede foram ordenados mais de 1500 obreiros (faturamento de mais de R$ 622.500,00). Quem ganha salário mínimo não pode mais servir ao Senhor como obreiro. E mais: agora, pastor presidente de campo que não inscrever sua esposa para a arrecadação – digo ordenação – ao pastorado, perde o campo. Não adianta ter 50 anos de bons serviços ao Reino: se a esposa negar-se a consagração, está tudo acabado – e por “justa” causa.
Socorro, alguém defenda a doutrina e o bom senso na instituição, já que a defesa da Igreja é atribuição de Jesus.
Parece piada, mas a situação é tal. Cada vez menos a Igreja “evangélica” conhece o evangelho, e como diz o adágio, “em terra de cego, quem tem olho é rei”.
Uma pesquisa recente realizada pela Sociedade Bíblica Ibero-americana no Brasil revelou que 50,68% dos pastores brasileiros nunca leram a Bíblia. Pergunto: o que estão ensinando, então? Respondo: – Nada, quando não o pior: ensinos antibíblicos e, portanto, anticristãos.
Ouvi, pessoalmente, um pastor esbravejando no púlpito que naquela noite ele “ensinaria o segredo para retirar os tesouros do céu para desfrutarmos aqui na terra”. Erro crasso, uma vez que Jesus ensinou exatamente o oposto: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt 6.19,20).
Outro pastor disse para a igreja que “naquele ano [2009] eles escreveriam Atos 29”, dando a entender que a Igreja faria evangelismo e missões. Em seguida disse para os irmãos abrirem suas Bíblias em Atos 29. Prontamente os membros e alguns pastores no púlpito puseram-se a procurar tal capítulo. O pastor perguntou: “Quem encontrou Atos 29 diga ‘Glória a Deus’”. O coro se fez ouvir. Achando estranho, ele insistiu: “Quem encontrou Atos 29 levante a mão”. Até alguns pastores levantaram suas mãos.
Na floresta amazônica, ao contrário do original bíblico em Gênesis 12, “deus [com “d” minúsculo mesmo] levantou um patriarca”. Cansado de ser simplesmente progenitor de apóstolos, o aero-profeta autodenominou-se patriarca, em pé de igualdade a Abraão. Será preciso atualizar a canção infantil que diz “Pai Abraão, tem muitos filhos, muitos filhos ele tem...” para “Pai Abraão, tem concorrente, um concorrente ele tem...”.
Aqui em São Paulo, o “pastor zero-cal” cobra R$ 160,00 a inscrição para ordenação ao ministério, mais a taxa de R$ 255 para a credencial (R$ 415,00). Só para a sede foram ordenados mais de 1500 obreiros (faturamento de mais de R$ 622.500,00). Quem ganha salário mínimo não pode mais servir ao Senhor como obreiro. E mais: agora, pastor presidente de campo que não inscrever sua esposa para a arrecadação – digo ordenação – ao pastorado, perde o campo. Não adianta ter 50 anos de bons serviços ao Reino: se a esposa negar-se a consagração, está tudo acabado – e por “justa” causa.
Socorro, alguém defenda a doutrina e o bom senso na instituição, já que a defesa da Igreja é atribuição de Jesus.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Ecumenismo e diálogo inter-religioso
A questão do desenvolvimento de uma cultura do ecumenismo e do estabelecimento do diálogo inter-religioso esbarra em alguns entraves. Dentre os mais conhecidos está a alegada ameaça à centralidade de Cristo. Esse ponto é, já, questionado no âmbito do ecumenismo entre grupos ditos cristãos; que dirá quando avança sobre campos onde a adoração e culto se prestam a deuses “outros”!
A pergunta que se coloca, ao menos nos lábios cristãos mais ortodoxos é: – É possível o diálogo? E se sim, em que base? Esse é o ponto discutido de forma segura em A Reconciliação Cósmica e o Diálogo Inter-religioso, do Prof. Julio Zabatiero, a partir de reflexões em Colossenses 1.15-20.
O texto aos colossenses, um hino cristológico, provavelmente incorporado por Paulo a sua epístola, descreve a obra redentora do Salvador por meio de uma metáfora cuja utilização e aplicação tem sido muito escassa nos meios cristãos. A reconciliação promovida pela redenção se dá pelo “ministério da reconciliação” e pela “palavra da reconciliação” (2Co 5.18,19), a qual se torna a expressão da “vocação do povo de Deus (...) em Cristo”. Cristo reconcilia em si todas as coisas, pessoas, poderes e a própria criação. Portanto, uma igreja cristocêntrica há de observar “nele” a sua própria vocação e cumpri-la, e isso pelo exercício da reconciliação.
O primeiro ponto estudado pelo autor trata da estrutura do hino, o qual está dividido em duas estrofes. A primeira (vv. 15-17) apontando para a ação de Deus em Cristo na criação e a segunda (vv. 18-20) na reconciliação. E o que Deus reconcilia em Cristo? Todas as coisas: toda a criação; todas as coisas nos céus e na terra; todas as coisas que foram criadas por Ele, pois somente nele tudo subsiste; e isso com a finalidade de que tudo tenha a supremacia, uma vez que em Cristo habita toda a plenitude a fim de que ele reconcilie todas as coisas. São destaques que o próprio texto dá por meio dessas palavras e que o autor enfatiza a fim de fundar o seu argumento, qual seja, que a redenção de Cristo é ampla ou deve ser estendida àqueles ou àquilo que não está tão próximo.
Definidos os (amplos) limites do alcance da redenção (1), o autor passa a destacar a mensagem do hino. As lentes da exegese latino-americana o fazem ver (justificadamente) o “caráter político da linguagem do hino”, o que tem sido notado também por autores “norte-atlânticos”. Esses termos de natureza política estão “vinculados à linguagem da diplomacia e da ideologia do Império Romano”. E que termos são esses? Exatamente os termos que equivocadamente são tomados pelas interpretações dualísticas, espiritualísticas e místicas ao longo do tempo: principados e potestades. Pela lente da exegese em questão, a relação dos termos está ligada aos poderes terrenos e celestiais, respectivamente, ao contrário da comum interpretação que os liga a qualquer entidade de natureza espiritual ou demoníaca.
É nessa base onde o autor entende ser possível a percepção do viés inter-religioso do discurso paulino no hino. A humanidade está dividida em compartimentos étnicos, culturais, políticos e religiosos e cabe à Igreja a promoção da reconciliação dessa humanidade dividida, separada. E, parafraseando Moisés, no anúncio da reconciliação a igreja dirá que “quem a está enviando para esta tarefa?”. A resposta é Jesus Cristo.
A Igreja é (e aqui entra outra metáfora) o Corpo, cuja cabeça é Cristo, meio pelo qual a reconciliação é (e somente dessa forma) realizada. Que outro personagem, que outro tema, que outra ideologia, que outro elemento Deus propôs para que a reconciliação pudesse ser efetivada? Nenhum outro nome debaixo do céu. No passado “a própria Lei de Deus se tornou o principal obstáculo à unidade humana”, mas na plenitude dos tempos a “supremacia de Cristo na nova criação” que restaura a unidade humana é a resposta de Deus àqueles que questionam “a fidelidade de Deus ao seu projeto original”, e isso se dá em tons escatológicos. É “uma nova humanidade em Cristo Jesus, criada ‘segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade’ (Ef 4.24)”. É preciso, no entanto, destacar aqui o termo humanidade, uma vez que essa humanidade é o fruto da reconciliação promovida em Cristo. A reconciliação em Cristo não cria uma nova “religião mundial, mas uma humanidade re-unificada” (p. 6). Esse é o ponto que satisfaz e responde a pergunta do segundo parágrafo, sobre em que bases se dará o diálogo.
A partir da reconciliação da humanidade ou da criação em Cristo Jesus de uma nova humanidade, se dará a proposta de reconciliação dos poderes. Pessoas formam o poder e não o contrário. É preciso, portanto, tratar as causas (pessoas) para curar as consequências (as estruturas). E aqui temos, nova e inevitavelmente, as lentes da exegese latino-americana, quiçá a quarta lente da história da teologia cristã. (2)
Para explicar o modo como são alcançados os poderes que necessitam reconciliação, o Prof. Zabatieiro aponta a necessidade de despir as cascas (camadas, na linguagem dele) que equivocam a compreensão do que seja o objeto, de fato, da reconciliação. Quer Deus reconciliar a Igreja ou as denominações? Quer Deus reconciliar a Cristandade? Ou a reconciliação se dará no aspecto da espiritualidade? O que é reconciliado na ação redentora de Cristo?
Esse tem sido um “fator inevitável de tensão” no diálogo inter-religioso: a afirmação do senhorio único de Jesus Cristo. Mas essa é a base das declarações paulinas, já que o projeto de Deus contempla esse, e não outro, modelo. Assim, o primeiro poder apontado pelo autor é o eclesiástico. É urgente a necessidade de invalidar a afirmação “de que fora da igreja não há salvação”. “As igrejas são apenas instrumentos do reinado de Deus, e não o próprio reinado! O alvo e o critério da missão são o crescimento do senhorio de Cristo, e não o da igreja”. Nada mais claro e explícito do que essas palavras. Elas sintetizam uma verdade que as declarações eclesiológicas ocultam por tanto tempo e lança luz à compreensão da originalidade do projeto de Deus já na criação (tema subjacente ao hino).
A segunda casca a “ser removida é a da identificação do Cristo com a Cristandade”, entendendo cristandade como a instituição eclesiástica aliada aos poderes políticos. Nada disso! E que evidências temos para fazer tal afirmação? Cornélio (At 10.4,31), que não está na Igreja mas é incluído (reconciliado) pelo próprio Deus, por seu ato e vontade soberana, na Igreja. E com base em que faz isso? Na premissa de que a Igreja é constituída por pessoas e não por modelos e processos, e na sua ciência de que o que as pessoas são ligadas ao Corpo pela fé e o que fazem (suas obras) mantêm-nas unidas ao Corpo e justificam sua permanência ali.
Terceiro, afaste-se da idéia de que a espiritualidade e a ética ocidentais são os paradigmas autoritativos e mantenedores da reconciliação. Nada do que foi elaborado ou desenvolvido pelas culturas (ainda que por séculos ou milênios) pode ser a chancela da manifestação interventiva do Cristo. Certamente a nossa cultura e a nossa ética necessitam ser redimidas. O autor acrescenta, ainda, o nível da reconciliação ecológica, e deve ter em mente o âmbito da criação (reflexo de sua teologia calvinista... e isso não é crítica). Aqui temos novamente uma questão de cidadania. A responsabilidade sobre a reconciliação da criação é tarefa cristã, porque o cristão entende a intervenção divina no processo. No entanto, essa compreensão também se dá no não-cristão, porque Deus escreveu em seu coração a lei moral. Assim, quando ele promove a manutenção da ecologia e da sustentabilidade, o faz por ser igualmente obra da criação de Deus, e assim o faz como cidadão. A sociabilização, o respeito, a moralidade, o desejo pelo sagrado, todos são aspectos inerentes ao ser humano enquanto cidadão.
Nesse ponto, o autor indica a consequência da ação reconciliadora em Cristo, que é a evangelização. Teríamos excluído a evangelização por meio dos quatro atos listados anteriormente? De forma alguma, somente não o fizemos por vias do que ele chama “evangelização imposta”, mas “evangelização inculturada” (essas expressões são de Stephen B. Bevans & Roger P. Schrorder, in Constants in context). Battista Soares trata largamente desse modelo evangelístico em seu livro A igreja cidadã (3), onde apresenta projetos de melhoria da qualidade de vida em comunidades carentes, notadamente no Maranhão. Por meio de projetos de captação de recursos para implementação de culturas auto sustentáveis, a Igreja melhora a qualidade de vida das pessoas e a apresentação do evangelho toma novo impulso e nova aparência e atrativos, para não falar da eficácia na sua transmissão.
Esse tema também é encontrado em Lutero, quando trata da tríplice diaconia. A diaconia elementar, vivida na família e no trabalho remunerado; a diaconia da Igreja, realizada no treinamento e aprendizado da fé para unidade fraternal cristã e em sentido criacional e, por último, a diaconia política, voltada à comunidade civil (no combate à miséria, fome, carência da população).
Em outras palavras, é nesse sentido que o texto de Julio Zabatiero caminha. “Do ponto de vista do diálogo inter-religioso, a paz de Cristo exige uma comunidade plenamente cônscia da sua identidade transformada e transformadora”. Em que direção? Ao estabelecimento, não de uma “igreja mundial”, como disse em outro trecho, mas do Reino de Deus, que comporta, dentre outras coisas, a própria Igreja, que é uma das ferramentas a serem usadas no estabelecimento daquele.
Concluindo, parafraseando um texto meu usado em outro contexto, se a igreja fizesse “o dever de casa”, muitos planos do Governo (p. ex. o Fome Zero) teriam sido implantados pela Igreja para ter apoio do Governo, e não o contrário. É sobre isso que Lutero falava, foi isso o que Calvino elaborou magistralmente, e esse também é o sentido que o diálogo inter-religioso, apoiado na reconciliação que há em Cristo pretende fazer-se ouvir. Essa é, oportunamente, a indicação dada por Tiago sobre a verdadeira religião, aquela que cuida do próximo em sentido fraternal, “despido dos uniformes e cosméticos denominacionais” (para usar uma antiga expressão de Caio Fábio) que visam mais a auto-promoção que o amor em sentido missionário.
(1) Na verdade, a ordem de interpretação do texto não se presta a essa afirmação que faço, mas tais “limites” estão visíveis em todo o texto do hino. O texto está dividido em estrofes e não em unidades que indicam alcance, linguagem, mensagem etc.
(2) Sendo a primeira a lente judaica, no nascedouro, as lentes filosóficas quando o Cristianismo vai para a Europa, as lentes pragmáticas quando chega aos Estados Unidos e as lentes político-sociológicas ou mesmo libertacionistas na América Latina.
(3) Soarez, Batistta. A Igreja cidadã. São Paulo: Arte Editorial, 2007.
A pergunta que se coloca, ao menos nos lábios cristãos mais ortodoxos é: – É possível o diálogo? E se sim, em que base? Esse é o ponto discutido de forma segura em A Reconciliação Cósmica e o Diálogo Inter-religioso, do Prof. Julio Zabatiero, a partir de reflexões em Colossenses 1.15-20.
O texto aos colossenses, um hino cristológico, provavelmente incorporado por Paulo a sua epístola, descreve a obra redentora do Salvador por meio de uma metáfora cuja utilização e aplicação tem sido muito escassa nos meios cristãos. A reconciliação promovida pela redenção se dá pelo “ministério da reconciliação” e pela “palavra da reconciliação” (2Co 5.18,19), a qual se torna a expressão da “vocação do povo de Deus (...) em Cristo”. Cristo reconcilia em si todas as coisas, pessoas, poderes e a própria criação. Portanto, uma igreja cristocêntrica há de observar “nele” a sua própria vocação e cumpri-la, e isso pelo exercício da reconciliação.
O primeiro ponto estudado pelo autor trata da estrutura do hino, o qual está dividido em duas estrofes. A primeira (vv. 15-17) apontando para a ação de Deus em Cristo na criação e a segunda (vv. 18-20) na reconciliação. E o que Deus reconcilia em Cristo? Todas as coisas: toda a criação; todas as coisas nos céus e na terra; todas as coisas que foram criadas por Ele, pois somente nele tudo subsiste; e isso com a finalidade de que tudo tenha a supremacia, uma vez que em Cristo habita toda a plenitude a fim de que ele reconcilie todas as coisas. São destaques que o próprio texto dá por meio dessas palavras e que o autor enfatiza a fim de fundar o seu argumento, qual seja, que a redenção de Cristo é ampla ou deve ser estendida àqueles ou àquilo que não está tão próximo.
Definidos os (amplos) limites do alcance da redenção (1), o autor passa a destacar a mensagem do hino. As lentes da exegese latino-americana o fazem ver (justificadamente) o “caráter político da linguagem do hino”, o que tem sido notado também por autores “norte-atlânticos”. Esses termos de natureza política estão “vinculados à linguagem da diplomacia e da ideologia do Império Romano”. E que termos são esses? Exatamente os termos que equivocadamente são tomados pelas interpretações dualísticas, espiritualísticas e místicas ao longo do tempo: principados e potestades. Pela lente da exegese em questão, a relação dos termos está ligada aos poderes terrenos e celestiais, respectivamente, ao contrário da comum interpretação que os liga a qualquer entidade de natureza espiritual ou demoníaca.
É nessa base onde o autor entende ser possível a percepção do viés inter-religioso do discurso paulino no hino. A humanidade está dividida em compartimentos étnicos, culturais, políticos e religiosos e cabe à Igreja a promoção da reconciliação dessa humanidade dividida, separada. E, parafraseando Moisés, no anúncio da reconciliação a igreja dirá que “quem a está enviando para esta tarefa?”. A resposta é Jesus Cristo.
A Igreja é (e aqui entra outra metáfora) o Corpo, cuja cabeça é Cristo, meio pelo qual a reconciliação é (e somente dessa forma) realizada. Que outro personagem, que outro tema, que outra ideologia, que outro elemento Deus propôs para que a reconciliação pudesse ser efetivada? Nenhum outro nome debaixo do céu. No passado “a própria Lei de Deus se tornou o principal obstáculo à unidade humana”, mas na plenitude dos tempos a “supremacia de Cristo na nova criação” que restaura a unidade humana é a resposta de Deus àqueles que questionam “a fidelidade de Deus ao seu projeto original”, e isso se dá em tons escatológicos. É “uma nova humanidade em Cristo Jesus, criada ‘segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade’ (Ef 4.24)”. É preciso, no entanto, destacar aqui o termo humanidade, uma vez que essa humanidade é o fruto da reconciliação promovida em Cristo. A reconciliação em Cristo não cria uma nova “religião mundial, mas uma humanidade re-unificada” (p. 6). Esse é o ponto que satisfaz e responde a pergunta do segundo parágrafo, sobre em que bases se dará o diálogo.
A partir da reconciliação da humanidade ou da criação em Cristo Jesus de uma nova humanidade, se dará a proposta de reconciliação dos poderes. Pessoas formam o poder e não o contrário. É preciso, portanto, tratar as causas (pessoas) para curar as consequências (as estruturas). E aqui temos, nova e inevitavelmente, as lentes da exegese latino-americana, quiçá a quarta lente da história da teologia cristã. (2)
Para explicar o modo como são alcançados os poderes que necessitam reconciliação, o Prof. Zabatieiro aponta a necessidade de despir as cascas (camadas, na linguagem dele) que equivocam a compreensão do que seja o objeto, de fato, da reconciliação. Quer Deus reconciliar a Igreja ou as denominações? Quer Deus reconciliar a Cristandade? Ou a reconciliação se dará no aspecto da espiritualidade? O que é reconciliado na ação redentora de Cristo?
Esse tem sido um “fator inevitável de tensão” no diálogo inter-religioso: a afirmação do senhorio único de Jesus Cristo. Mas essa é a base das declarações paulinas, já que o projeto de Deus contempla esse, e não outro, modelo. Assim, o primeiro poder apontado pelo autor é o eclesiástico. É urgente a necessidade de invalidar a afirmação “de que fora da igreja não há salvação”. “As igrejas são apenas instrumentos do reinado de Deus, e não o próprio reinado! O alvo e o critério da missão são o crescimento do senhorio de Cristo, e não o da igreja”. Nada mais claro e explícito do que essas palavras. Elas sintetizam uma verdade que as declarações eclesiológicas ocultam por tanto tempo e lança luz à compreensão da originalidade do projeto de Deus já na criação (tema subjacente ao hino).
A segunda casca a “ser removida é a da identificação do Cristo com a Cristandade”, entendendo cristandade como a instituição eclesiástica aliada aos poderes políticos. Nada disso! E que evidências temos para fazer tal afirmação? Cornélio (At 10.4,31), que não está na Igreja mas é incluído (reconciliado) pelo próprio Deus, por seu ato e vontade soberana, na Igreja. E com base em que faz isso? Na premissa de que a Igreja é constituída por pessoas e não por modelos e processos, e na sua ciência de que o que as pessoas são ligadas ao Corpo pela fé e o que fazem (suas obras) mantêm-nas unidas ao Corpo e justificam sua permanência ali.
Terceiro, afaste-se da idéia de que a espiritualidade e a ética ocidentais são os paradigmas autoritativos e mantenedores da reconciliação. Nada do que foi elaborado ou desenvolvido pelas culturas (ainda que por séculos ou milênios) pode ser a chancela da manifestação interventiva do Cristo. Certamente a nossa cultura e a nossa ética necessitam ser redimidas. O autor acrescenta, ainda, o nível da reconciliação ecológica, e deve ter em mente o âmbito da criação (reflexo de sua teologia calvinista... e isso não é crítica). Aqui temos novamente uma questão de cidadania. A responsabilidade sobre a reconciliação da criação é tarefa cristã, porque o cristão entende a intervenção divina no processo. No entanto, essa compreensão também se dá no não-cristão, porque Deus escreveu em seu coração a lei moral. Assim, quando ele promove a manutenção da ecologia e da sustentabilidade, o faz por ser igualmente obra da criação de Deus, e assim o faz como cidadão. A sociabilização, o respeito, a moralidade, o desejo pelo sagrado, todos são aspectos inerentes ao ser humano enquanto cidadão.
Nesse ponto, o autor indica a consequência da ação reconciliadora em Cristo, que é a evangelização. Teríamos excluído a evangelização por meio dos quatro atos listados anteriormente? De forma alguma, somente não o fizemos por vias do que ele chama “evangelização imposta”, mas “evangelização inculturada” (essas expressões são de Stephen B. Bevans & Roger P. Schrorder, in Constants in context). Battista Soares trata largamente desse modelo evangelístico em seu livro A igreja cidadã (3), onde apresenta projetos de melhoria da qualidade de vida em comunidades carentes, notadamente no Maranhão. Por meio de projetos de captação de recursos para implementação de culturas auto sustentáveis, a Igreja melhora a qualidade de vida das pessoas e a apresentação do evangelho toma novo impulso e nova aparência e atrativos, para não falar da eficácia na sua transmissão.
Esse tema também é encontrado em Lutero, quando trata da tríplice diaconia. A diaconia elementar, vivida na família e no trabalho remunerado; a diaconia da Igreja, realizada no treinamento e aprendizado da fé para unidade fraternal cristã e em sentido criacional e, por último, a diaconia política, voltada à comunidade civil (no combate à miséria, fome, carência da população).
Em outras palavras, é nesse sentido que o texto de Julio Zabatiero caminha. “Do ponto de vista do diálogo inter-religioso, a paz de Cristo exige uma comunidade plenamente cônscia da sua identidade transformada e transformadora”. Em que direção? Ao estabelecimento, não de uma “igreja mundial”, como disse em outro trecho, mas do Reino de Deus, que comporta, dentre outras coisas, a própria Igreja, que é uma das ferramentas a serem usadas no estabelecimento daquele.
Concluindo, parafraseando um texto meu usado em outro contexto, se a igreja fizesse “o dever de casa”, muitos planos do Governo (p. ex. o Fome Zero) teriam sido implantados pela Igreja para ter apoio do Governo, e não o contrário. É sobre isso que Lutero falava, foi isso o que Calvino elaborou magistralmente, e esse também é o sentido que o diálogo inter-religioso, apoiado na reconciliação que há em Cristo pretende fazer-se ouvir. Essa é, oportunamente, a indicação dada por Tiago sobre a verdadeira religião, aquela que cuida do próximo em sentido fraternal, “despido dos uniformes e cosméticos denominacionais” (para usar uma antiga expressão de Caio Fábio) que visam mais a auto-promoção que o amor em sentido missionário.
(1) Na verdade, a ordem de interpretação do texto não se presta a essa afirmação que faço, mas tais “limites” estão visíveis em todo o texto do hino. O texto está dividido em estrofes e não em unidades que indicam alcance, linguagem, mensagem etc.
(2) Sendo a primeira a lente judaica, no nascedouro, as lentes filosóficas quando o Cristianismo vai para a Europa, as lentes pragmáticas quando chega aos Estados Unidos e as lentes político-sociológicas ou mesmo libertacionistas na América Latina.
(3) Soarez, Batistta. A Igreja cidadã. São Paulo: Arte Editorial, 2007.
sábado, 6 de novembro de 2010
Não quero candelabro
Existe uma expressão bíblica chamada “sombra” (Hb 8.5; 10.1). Como a própria palavra indica, uma sombra não é a realidade, mas uma projeção, uma parca figura daquilo que é real, verdadeiro: “A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a sua realidade. Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.” (Hb 10.1, NVI).
A palavra sombra é usada para apontar todos os aspectos da lei, dos sacrifícios e toda a tipologia do Antigo Testamento, que teria cumprimento futuro na pessoa, vida e obra de Jesus Cristo. No passado, Deus não removia pecados, mas deixava-os ali, cobertos (Rm 3.25), até que o sacrifício perfeito fosse realizado. Por isso, quando João Batista vê a Jesus, diz que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Os cordeiros usados nos sacrifícios antigos eram sombras do Cordeiro real, perfeito, que removeu definitivamente os pecados. Assim, não sacrificamos mais animais, pois o sacrifício perfeito já foi feito. Preferimos o real à sombra.
Há centenas de figuras tipológicas no Antigo Testamento cujo cumprimento está em Cristo. Eram todas sombras. Veja a tampa da arca, chamada propiciatório (Ex 25.21a), ou seja, um lugar onde o relacionamento entre Deus e o homem se tornava “propício” (Hb 9.11-15; comp. “trono da graça” em Hb 4.14-16 e “lugar de comunhão” em Ex 25.21-22). Mas a tampa da arca, o propiciatório, era sombra do que viria. Por isso João e Paulo referem-se a Cristo como nossa “propiciação” (1Jo 2.2; 4.10; Rm 3.25), pois somente por sua obra o nosso relacionamento com Deus se tornou favorável, propício. A sombra, então, deve desaparecer, já que o verdadeiro significado foi revelado. Preferimos o real à sombra.
Poderia mencionar muitas figuras do Antigo Testamento que eram simplesmente símbolos da realidade, sombra dos benefícios que haviam de vir. O candelabro, por exemplo, provia iluminação dentro do tabernáculo, já que não havia incidência de luz externa em seu interior. Isso significa que a compreensão das coisas de Deus não vem pela iluminação intelectual ou racional, mas pela iluminação dada pelo Espírito de Deus e nada mais. O próprio Jesus disse ser a verdadeira luz (“Eu sou a luz do mundo”. Jo 8.12). Quando Jesus se manifestou ao mundo, não foi preciso usar representações dele, sombras dele, pois o real já estava entre nós e compreendemos o que a sombra queria dizer veladamente.
Por isso, não entendo quando uma Igreja é enfeitada com elementos judaicos, ultrapassados e impróprios para aqueles que dizem já ter a revelação completa de Cristo. Não faz qualquer sentido usar arcas, candelabros, querubins, shofares, celebrar as festas judaicas, nem toda essa parafernália gospel que só deveria ser usada por aqueles que ainda não conhecem a Cristo.
Adotar qualquer desses objetos apenas indica que o real, o verdadeiro, ainda não está ali; por isso é preciso colocar algo no lugar onde o real ainda será manifestado. Adotar qualquer desses objetos ou cerimônias dá a seguinte mensagem: ainda estamos aguardando a revelação daquele que essas coisas representam. Ainda teremos o Cordeiro, ainda seremos propícios a Deus, ainda teremos luz, pois estamos em trevas, nas sombras dos benefícios que hão de vir.
Paulo escreveu a carta aos gálatas para esse fim: dizer que não deveriam retornar aos símbolos do passado, já que o real havia sido manifestado (“Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei”, Gl 3.1-10). E o autor da carta aos hebreus também afirma que a sombra “... nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.” (Hb 10.1). No esforço por melhorar a aparência do culto, muitas igrejas têm dado testemunho de não conhecerem o que estão adorando.
A palavra sombra é usada para apontar todos os aspectos da lei, dos sacrifícios e toda a tipologia do Antigo Testamento, que teria cumprimento futuro na pessoa, vida e obra de Jesus Cristo. No passado, Deus não removia pecados, mas deixava-os ali, cobertos (Rm 3.25), até que o sacrifício perfeito fosse realizado. Por isso, quando João Batista vê a Jesus, diz que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Os cordeiros usados nos sacrifícios antigos eram sombras do Cordeiro real, perfeito, que removeu definitivamente os pecados. Assim, não sacrificamos mais animais, pois o sacrifício perfeito já foi feito. Preferimos o real à sombra.
Há centenas de figuras tipológicas no Antigo Testamento cujo cumprimento está em Cristo. Eram todas sombras. Veja a tampa da arca, chamada propiciatório (Ex 25.21a), ou seja, um lugar onde o relacionamento entre Deus e o homem se tornava “propício” (Hb 9.11-15; comp. “trono da graça” em Hb 4.14-16 e “lugar de comunhão” em Ex 25.21-22). Mas a tampa da arca, o propiciatório, era sombra do que viria. Por isso João e Paulo referem-se a Cristo como nossa “propiciação” (1Jo 2.2; 4.10; Rm 3.25), pois somente por sua obra o nosso relacionamento com Deus se tornou favorável, propício. A sombra, então, deve desaparecer, já que o verdadeiro significado foi revelado. Preferimos o real à sombra.
Poderia mencionar muitas figuras do Antigo Testamento que eram simplesmente símbolos da realidade, sombra dos benefícios que haviam de vir. O candelabro, por exemplo, provia iluminação dentro do tabernáculo, já que não havia incidência de luz externa em seu interior. Isso significa que a compreensão das coisas de Deus não vem pela iluminação intelectual ou racional, mas pela iluminação dada pelo Espírito de Deus e nada mais. O próprio Jesus disse ser a verdadeira luz (“Eu sou a luz do mundo”. Jo 8.12). Quando Jesus se manifestou ao mundo, não foi preciso usar representações dele, sombras dele, pois o real já estava entre nós e compreendemos o que a sombra queria dizer veladamente.
Por isso, não entendo quando uma Igreja é enfeitada com elementos judaicos, ultrapassados e impróprios para aqueles que dizem já ter a revelação completa de Cristo. Não faz qualquer sentido usar arcas, candelabros, querubins, shofares, celebrar as festas judaicas, nem toda essa parafernália gospel que só deveria ser usada por aqueles que ainda não conhecem a Cristo.
Adotar qualquer desses objetos apenas indica que o real, o verdadeiro, ainda não está ali; por isso é preciso colocar algo no lugar onde o real ainda será manifestado. Adotar qualquer desses objetos ou cerimônias dá a seguinte mensagem: ainda estamos aguardando a revelação daquele que essas coisas representam. Ainda teremos o Cordeiro, ainda seremos propícios a Deus, ainda teremos luz, pois estamos em trevas, nas sombras dos benefícios que hão de vir.
Paulo escreveu a carta aos gálatas para esse fim: dizer que não deveriam retornar aos símbolos do passado, já que o real havia sido manifestado (“Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei”, Gl 3.1-10). E o autor da carta aos hebreus também afirma que a sombra “... nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.” (Hb 10.1). No esforço por melhorar a aparência do culto, muitas igrejas têm dado testemunho de não conhecerem o que estão adorando.
* Para aprofundar-se no tema, sugiro a leitura do meu livro Onde Estava o Cristo. http://www.arteeditorial.com.br/catalogo/shopexd.asp?id=1
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