Vez ou outra me deparo com alguém recriminando a leitura deste ou daquele autor. “Se lê esse, não pode ler aquele”. Como sou editor de livros, também ouço “se publica esse, não pode publicar aquele”. Que conversa é essa?
Há vários motivos pelos quais não admito essa dicotomia, essa separação. E se você é líder, de um pequeno grupo que seja, deve estar preparado para interagir com as mais diversas entranhas da natureza humana.
Primeiro. Ler Calvino, Caio Fábio, a Bíblia, o Rebe, Huberto Roden e outros é imperativo. Não ler (ou não publicar) é alienação, definhamento intelectual e espiritual (isso sem dizer cultural!). Claro que há leituras que não acrescentam coisa alguma e essas nem tomo conhecimento mais (e também não vou mencioná-las). Mas se não posso interagir com cosmovisões diferentes da minha, sobre cada assunto da vida e do mundo, há muito mais a ser feito então, como não ligar a tevê, não ler notícias, não acessar internet etc. Neste caso a intolerância começa (ou definitivamente está) em nós. Que fique claro, não vou na direção do ecumenismo, ao menos neste post.
Segundo. O caminho pavimentado para o extremismo (seja ele o fundamentalismo ou mesmo o liberalismo) é “fechar questão” com determinadas escolas de pensamento. Há grupos que gostam muito de rótulos. Não ler (ou não publicar) de tudo um pouco faz de mim um radical extremista à curto prazo. Por que torcidas organizadas saem para o quebra-quebra em áreas públicas? Por que fanáticos religiosos explodem lugares públicos? Porque não sabem e não podem conviver pacifica e hamoniosamente com o diferente. A solução é destruí-los em vez de dialogar e buscar harmonia, mesmo que essa harmonia não signifique aderir ao pensamento do outro. Você quer se tornar um extremista? Então leia só o que a sua banda escreve, ouça só o que a sua turma fala.
Terceiro. É saudável o exercício do aprendizado e desejável a busca do discernimento, que da perpsectiva natural vem do conhecimento. Quando tenho contato com formas diferentes de pensamento, com cosmovisões distintas (e até divergentes), posso exercer o juízo e a avaliação daquilo que eu mesmo creio e provar se a visão do outro não é mais coerente e sólida que a minha. Isso promove o amadurecimento, solidifica posições estáveis e denuncia falhas em concepcções dúbias e contraditórias. Portanto, quem não se expõe e não permite que seu sistema de valores e crenças seja confrontado com uma leitura discordante, por exemplo, esteja certo de que não está seguro naquilo que crê e nas posições que adota. Precisa investir mais em conhecimento e diálogo.
A solidez de uma forma de pensar não pode ser ocultada a fim de ser protegida; é preciso permitir o escoamento daquilo que foi aprendido e dar chance a que outros aprendam conosco, seja pelo que sabemos, seja pelo que somos ou pelo simples modelo. Há muitas pessoas que ensinam sem abrir a boca e cada um de nós também pode aprender dessa forma.
O título deste post era “Toda verdade vem de Deus?”. Mas como achei muito ortodoxo, muito “certinho”, resolvi começar a quebrar paradigmas por aqui mesmo.
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