Epicuro, um filósofo rico que viveu na Grécia quatro séculos antes de Cristo, ensinava a seus seguidores que buscassem o prazer acima de tudo. Epicuro dizia a seus seguidores: “Tenha tudo o que se pode ter e goze tudo o que se pode gozar”. Esse é o pensamento hedonista que prevalece – ao menos até antes da bolha econômica de 2008 – em países como os Estados Unidos.
Depois de Epicuro, Diógenes, homem pobre que dormia num barril no mercado de Atenas, foi questionado sobre a felicidade. Sua resposta foi: “A felicidade consiste em não ter nada que o mundo possa nos tirar e não desejar nada que o mundo não possa nos dar”. Se temos algo que o mundo possa tirar ou desejamos algo que não podemos alcançar então a nossa felicidade estará comprometida quando perdermos o que temos ou não conseguimos o que desejamos. Assim, disse Diógenes, a felicidade está no não-ter.
Nisto algumas igrejas evangélicas, inflamadas por “oradores” tipo consultores de moda ou assessores financeiros que usam púlpitos como balcão de serviços, voltaram no tempo até quatro séculos antes de Cristo! O pensamento cristão, a vida cristã e a prática cristã evaporaram-se em função de uma mentalidade que remonta a Epicuro.
Que retrocesso impressionante! E que infelicidade também, pois estimulam cristãos a desejarem algo que Deus não prometeu a todos e que certamente muitos não conseguirão. A felicidade que desejam é comprada no mercado da fé, do mesmo modo como um umbandista faz trabalho para trazer o amor distante ou o kardecista se comporta bem para não reencarnar como um verme.
Se ao menos esses “oradores” fossem um pouco além na sua filosofia, teriam conhecido Zenon, outro filósofo que sucedeu a Diógenes na escola do pensamento grego. Zenon, mestre dos que são conhecidos como estóicos (do gregos stoikós, reuniam-se na stoah, parte coberta do mercado de Atenas) ensinava que a felicidade não estava nem no ter nem no não-ter, mas a felicidade estava no ser. A felicidade está no comportamento do homem frente ao objeto que tem ou frente àquilo do qual está privado, aquilo que não tem. Nisto consiste a felicidade, que no pensamento de Zenon passa do objeto para o indivíduo e seu modo de enxergar a situação e vivê-la em sua circunstância adequada.
Zenon, neste ponto, aproxima-se mais de Jesus que os próprios pregadores que estimulam o consumismo igrejeiro. O próprio João Batista dizia simplesmente ser uma voz, enquanto Jesus foi perseguido por igualar-se a Yahweh quando de suas afirmações Eu Sou. Jesus não declarava: “Eu tenho uma casa ou um palácio”, mas simplesmente “Eu sou a porta”. Também não o ouvimos dizendo “Eu tenho a cura”, antes, “Eu sou a ressurreição e a vida”. E por aí vai.
É lamentável que em alguns de seus setores a Igreja ainda esteja vivendo uma era primitiva, anterior ao próprio pensamento que a gerou, e com milhares de seguidores. O que consola é que isso ocorre só em alguns setores, não nela toda. Viva Zenon!
Siga-me no Tweeter: @magnopaganelli
pastor, fantástico seu texto. gostei demais.
ResponderExcluircontinue assim, um servo do Pai esclarecido e com uma escrita fácil e objetiva, capaz de não deixar obscuro qualquer pensamento e transmitir em um texto a mensagem de forma clara.
já gostava do senhor quando, vez ou outra, nos visitava na IPP. depois fiquei bem feliz em te ver pela ADBR, onde fui locutor da Ame FM. agora com esse blog minha admiração crescerá mais, sou fascinado (no maior dos bons sentidos, sem venerações, tá?) por pessoas que dominam a arte da escrita.
sucesso, meu querido.
Cacá (Decio Caramigo)
=0)
Grande amigo, seu texto incomoda e por isto mesmo é relevante. Tomara que os vendedores de ilusões em tempo se convertam, embora eu já tenha perdido a esperança de que nossos púlpitos sejam apenas ocupados pelos que pelejam diligentemente pela verdade. Os epicureus se perpetuam, e estarão sempre em nosso meio.
ResponderExcluir