segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um passo atrás pode significar avanço

Quando, há 13 anos, iniciei o ministério pastoral numa congregação aqui em S. Paulo, minha esposa e eu estávamos casados havia um ano. Minha dedicação era grande naquele trabalho – que também era a minha primeira experiência na função de pastor, ao passo que minha esposa, ela filha de pastor, já tinha sofrido o desgaste natural que filhos de pastores sofrem, com mudanças repentinas, abandono escolar no meio do ano letivo, exigências de bom comportamento por ser filha de pastor etc.


O resultado dessa tensão entre minha esposa e eu se deu na forma de afastamento gradual da parte dela das atividades naturais que se espera de uma esposa de pastor. Não estou com isso, de forma alguma, dando qualquer indicação de a atitude tenha sido equivocada, pois o sentido deste artigo vai noutra direção, como ficará claro.

Era de se esperar que os efeitos da experiência na igreja refletissem no lar, como de fato foi. Nosso relacionamento sempre passava pelas responsabilidades com a Igreja, com o pastorado, o que hoje entendo ter sido imaturo de nossa parte, certamente mais da minha. Aqui, a responsabilidade nas coisas do Reino não está em questão, mas os papéis de cada um, esses sim devem ser separados entre o lar e a igreja.

Durante aquele tempo, incomodava-me particularmente um texto de Paulo a Timóteo, que diz: “... se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?” (1Tm 3.5). Eu vivia essa triste realidade e esse dilema incômodo. Esse versículo havia sido escrito para mim, pois não conseguia conciliar o lar com a igreja, a família com as responsabilidades ministeriais. E sabia que, por se tratar da Palavra de Deus, ela devia ser observada e cumprida sem resistência. Não poderia continuar vivendo um faz-de-conta, pois a aparência é tudo o que o Senhor não leva em conta, não é? Sabemos que é assim. Pastores que vivem de aparência também têm resultados aparentes, mas não consistentes. Vivem a ilusão de que ninguém saberá como são suas vidas pessoais, quando na verdade todos comentam a vida de aparência que levam. Seus frutos são palha, não alimentam.

O que fazer, então? Voltar atrás? Mas que pastor abriu mão do posto – alguns diriam “que pastor soltou o osso” – por causa da família? “A família que se ajuste!” – diriam alguns. Não, Paulo não diz isso no texto. A família está posta à frente da igreja de Deus, ao menos na visão do apóstolo, e deve ser assim conosco também. Pastores e cristãos experientes dizerem que a ordem a ser seguida é “Deus, a família e a igreja depois”, sem com isso tirar a devida importância da igreja. A família é a base de tudo, da igreja, como da sociedade.

Era hora, então, de dar um passo atrás, que na verdade era um passo à frente, rumo ao que o Senhor prescrevia. Procurar enquadrar-se no que diz a palavra de Deus nunca é voltar atrás, mas sempre um avançar, ir em frente, rumo ao que agrada a Deus. É assim que prosseguimos para o alvo: avançando, e o alvo deveria ser alcançado (Fp 3.14). Sendo a obediência à Palavra de Deus o alvo, estamos sempre avançando quando tentamos aplicá-la à nossa vida.

O lar é, portanto, o grande laboratório do obreiro e do cristão. É no lar onde temos oportunidades para testar nossas habilidades no trato com pessoas de diferentes personalidades, para demonstrar senso de equidade, moderação e pacificação, senso disciplinador, solução de problemas, resolução de conflitos, moderação de interesses os mais diversos. E depois de sermos aprovados no lar, teremos credenciais para estar à frente da igreja de Deus, onde essas questões tornarão a aparecer em proporções ainda maiores.

Por isso, uma palavra a você, caso tenha ou esteja atravessando uma experiência semelhante, de olhar para a igreja e ver uma situação diferente da que tem encontrado em sua casa ― a igreja vai bem, mas o lar tem sido destruído: se for necessário, dê um passo na direção daquilo que o Senhor espera de você. Dê um passo no sentido indicado pela Palavra de Deus. Dê um passo para restaurar as coisas dentro da sua casa e seguramente o Senhor irá honrar o seu compromisso com a Verdade, restaurando o seu ministério no tempo adequado e oportuno. Posso testificar que comigo essa palavra se cumpriu. Por que seria diferente com você?

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