A noção mais popular acerca do modo como Satanás age é por meio do erro, seja induzindo o homem a ele, seja aproveitando-se daquilo que é feito errado. Tiago 1.14,15 (e outros textos) nos diz que, ao menos o mau desejo, nasce em nós: “Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (ênfase minha).
Mas essa não é a única circunstância na qual o Diabo age. Ele também se vale do bem para semear o mau (o joio no meio do trigo), se vale da verdade para plantar a mentira e se aproveita da boa fé para inculcar a má fé. Exemplo disso é a seguinte passagem ocorrida logo após Pedro fazer a premiada declaração de que Jesus era “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16,17). O Senhor começou a ensinar sobre o seu iminente sofrimento, ao que Pedro o repreendeu dizendo que aquilo não aconteceria de forma alguma: “Jesus virou-se e disse a Pedro: ‘Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens’”. (Mt 16.23).
Nós não temos muito material para avaliar se houve outra motivação além da aparente compaixão de Pedro pelo sofrimento de Jesus, talvez pelo recente elogio que Pedro acabara de receber. Mas fato é que no intuito de preservar a vida de Jesus, de fazê-lo desistir do enfrentamento necessário, Pedro cometeu um ato falho. Não é o caso de ensinar que houve um pecado, o que fica claro no fato de Jesus não repreendê-lo, mas ao Diabo. Jesus não dirige uma só vírgula ao seu apóstolo. Do contrário, dirige-se à Satanás a sua palavra de negação, de censura, de repreensão.
Assim também ocorre com algumas de nossas ações. Elas são motivadas pelo zelo a algum aspecto da experiência cristã, pela preservação da verdade, pela compaixão com o próximo, até mesmo pela boa vontade. Mas perceber ou avaliar tal motivação por uma única perspectiva, por um só ponto de vista, ou quando todos os aspectos ou efeitos daquela ação não são conhecidos – como parece ser o caso de Pedro, que desconhecia a ocorrência do plano eterno de Deus – pode criar a ocasião para que o Diabo intrometa-se em nosso meio. As palavras da boca de Pedro, as ações de nossas mãos, as motivações do nosso coração, enfim, podem ser legítimas, mas quando há consequências as quais não pensamos, as quais não avaliamos, e desdobramentos que desconhecemos ou que nos estão ocultos, o bem inicialmente pretendido se torna o mal a ser censurado e repreendido.
Por isso a Bíblia diz que ele é astuto. Não foram poucas as vezes que enganou os melhores, que dirá a nós, a mim ao menos. Assim, é muito bom quando pensamos o tempo todo nas coisas do céu, nas obras da luz, mas olhando também as ocorrências terrenas. Numa sociedade que perde aos poucos a percepção do sagrado, fará bem quem não esquecer o profano com o qual temos que ter atenção. Atenção ao mal, e todo louvor a Deus.
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