Recentemente troquei twittes com um conhecido teólogo no Brasil e com um outro seguidor no Twitter. O teólogo twittou que “certeza é um estado mental que prescinde da fé, da aposta. Quem tem certezas sobre Deus e salvação, não crê que salvação vem pela fé”. Bonita frase, não! E disse mais: “após viver a fé, a pessoa tem convicção. Eu penso que a fé nos leva a convicção que é diferente da certeza”. Ao primeiro twitte respondi que “quem se aproxima de Deus e da salvação o faz pela fé. Quem está nele [Deus] ou nela [salvação] desfruta da segurança que a fé proporciona. Agora tem certeza”, ou seja, após aproximar-se de Deus pela fé, alcança a certeza, uma vez que a fé é a prova (certeza, confirmação, cfm. Hb 11.1) daquilo no qual cremos.
O caso do outro seguidor ocorreu após eu publicar no blog um post sobre o pastor como nosso “tutor”, considerando que o tutor é aquele que guia o discípulo no seu aprendizado. Penso que todos precisamos disso! Creio que muito da fraqueza espiritual e falta de conhecimento bíblico básico se deve ao abandono do trabalho de discipulado como era, por exemplo, há vinte anos ou mais. A resposta que recebi foi: “tutor? O único tutor da minha fé é o Espírito Santo de Deus. Pastor nenhum tem esse poder.”.
Há coisas que são bonitas de se dizer, aparentemente seguras em suas convicções, mas será que elas têm fundamento sólido? A poesia do teólogo pode ser inspiradora, mas ela tropeça na etimologia, no próprio significado das palavras. A coragem do irmão que não quer o pastor como tutor pode parecer admirável, mas tropeça na ignorância sobre o que a Bíblia está ensinando.
O teólogo confundiu certeza com convicção; para ele – como ficou claro nos demais twitts que trocamos – a certeza é algo próprio da ciência enquanto que à fé cabe-lhe tão somente a convicção. Mas qualquer dicionário informa que convicção é... certeza adquirida! Ele trocou seis por meia dúzia. Além do mais, como disse, Hebreus 11.1 ensina que a fé é certeza; mais que isso: é prova, algo com a qual a ciência quer lidar, a fé já nos deu. Portanto, a fé fornece provas para aquele que a possui. Essa fé é, dessa forma, um fundamento firme e seguro e basta aos crentes.
No outro caso, o corajoso irmão espiritual diz que não precisa de liderança, nem de pastor, apenas do Espírito Santo. Mas então o que fazemos com Efésios 4, por exemplo, onde Paulo disse que foi o próprio Jesus quem capacitou a liderança (pastores, mestres, evangelistas etc.) para que estes capacitassem os demais membros do Corpo? E o que fazer com o capítulo 12 de 1Corintios e tantos outros textos do Novo Testamento? São textos que falam da ação e relação interpessoal com vistas ao crescimento e edificação mútuo, da Igreja, providos pelo próprio Espírito Santo por meio da liderança! Duvido que o irmão tenha um Monte Sinai no quintal de casa e Deus esteja falando com ele todos os dias.
Cada dia mais a Bíblia tem sido colocada de lado diante de maneiras estranhas de pensar e viver o cristianismo. Aquele teólogo, com seus pressupostos pós-modernistas, usa o desconstrutivismo literário para interpretar a Bíblia e se perde completamente no significado das próprias palavras. O irmão corajoso mostra a sua valentia espiritual, mas se esquiva da revelação bíblica sobre a qual o Senhor Jesus tem edificado a sua Igreja há dois mil anos. Não fosse com essa finalidade, de guiar, orientar, alimentar, para que o Senhor teria informado a existência desses homens no meio do rebanho. Se apenas a comunhão dos santos bastasse, não seriam necessários tantos textos do NT que falam do exercício desses dons ministeriais.
Nossa tarefa é sermos leais a Cristo por sua Palavra, que sustenta a Igreja. A sua Verdade é a base e o fundamento. Tenho visto perfis em redes sociais que trazem rótulos bastante divisores. “Sou reformado”; “sou pré-milenista”; “sou apologista”; “sou arminiano”; “sou polêmico”; “sou de Cristo”; “sou calvinista”; “sou amilenista convicto”; “sou da graça”. Até mesmo eu, que neste perfil sou Neoprotestante. Temos sido uma grande aldeia de escribas, fariseus, saduceus e herodianos, não!
Nossa lealdade deve ser à Palavra da verdade. Devemos ser leais à Verdade de Deus e não aos nossos rótulos. É pela verdade e pela santidade que somos conhecidos como cristãos; pelo sal que nos tempera, não pelo mel que adoça. Não fomos chamados para defender um homem, um sistema ideológico, uma tendência secularizante, um modelo eclesiológico, uma denominação, uma hierarquia, uma abordagem teológica. Tudo isso deve estar ao nosso serviço, mas não deve nos orientar, nem devia ser motivo de nossa divisão. Fomos chamados para sermos cooperadores de Cristo, membros uns dos outros, mas temos dividido o seu corpo ao defendermos uma lealdade que é estranha à vocação cristã. Ao fazer isso, fica ainda mais clara a fala do Senhor quando disse que muitos dirão a ele: “Profetizamos em seu nome, Senhor”. Mas ele dirá: “Nunca os conheci”.
Precisamos sentarmo-nos à mesa, abrir a Bíblia e estudá-la. Precisamos sentarmo-nos à mesa e ter comunhão uns com os outros, sem deixar ninguém de fora. O que sustenta uma família sólida são os momentos em redor da mesa, quando o pai olha os olhos do filho, quando a filha olha os olhos da mãe, quando todos se olham e partem o pão.
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