terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem aplaude você?

A igreja, mais uma vez, está diante da uma mudança ampla e global de paradigmas. Mudança ampla porque são vários os temas da agenda que têm sido revistos: comportamento, legislação, relacionamentos, diálogo interdisciplinar, importação da influência secular nos seus assuntos internos os mais variados e outros temas. E mudança universal porque são questões que cristãos por todo o mundo têm se deparado; não é um caso local ou regional.


Pouco tem sido discutido, salvo internamente em algumas denominações mais organizadas, sobre o modo como a Igreja lidará ou irá interagir com essas questões. Não há uma orquestração centralizada ou conjunta sobre isto. Alianças, convenções, conselhos reúnem gente em torno de outras demandas. Dessa forma, cada setor da igreja age como bem entende ou como entende melhor atender aos próprios interesses ou propósitos.

Alguns jargões já estão estabelecidos aqui e ali. “Precisamos adequar nossa linguagem”, “a igreja atende às demandas do homem pós-moderno”, “nossa igreja oferece o que o homem de hoje precisa”, “somos uma comunidade que respeita as diferenças” e por aí vai. Não só indivíduos, mas líderes e mesmo comunidades inteiras têm manifestado posições como essas. Os mais destacados saem em defesa de temas e questões que antes não eram simpáticos ao programa cristão e por conta disso têm recebido os holofotes da grande mídia.

Mas lendo duas publicações de circulação nacional no mesmo dia, cada qual destacando o vanguardismo de dois desses líderes bem distintos, artigos elogiando-os pelas posições assumidas, pelo rompimento com a tradição e convenções, uma pergunta surgiu em minha mente: Deus o aplaudiria da mesma forma como os de fora o aplaudem? Em seguida outra questão mais ampla: A igreja deve ser aplaudida por alinhar o seu discurso ao discurso das massas ou deveria buscar o aplauso por atender ao pobre, ao necessitado, por defender a causa do injustiçado e daquele que sofre? Claro, foi só um pensamento superlativo, utópico; nada vai mudar por conta disso.

Pessoalmente gostaria que a igreja estampasse páginas de jornais, revistas e portais na web pelo nosso engajamento em questões mais próximas à realidade brasileira. Não só pelo romper com tradições, mas também por romper as cadeias e libertar bolivianos do trabalho escravo no centro de São Paulo. Gostaria que a roupa suja lavada em público fosse a de famílias carentes, não a de pastores bem situados. Gostaria de ver um pastor ser entrevistado por sua atuação legítima, mas bem posicionada, em favor de minorias que não têm voz, não pelo escândalo de negar a fé que nos salva e um Deus que nos cuida.

Há público para todas as ocasiões e muitos pregadores já falaram sobre as duas multidões que seguiam a Jesus, a dos favoráveis e a dos contrários. Nosso cuidado deve alertar-nos para não querer agradar a ambas. A sabedoria diz ser impossível agradar a gregos e troianos e Jesus disse que quem serve a Deus não deve querer agradar a Mamon. Por que, então, achar que isso um dia irá mudar?

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