“A gratidão é uma dádiva que deve ser paga, mas que ninguém tem o direito de esperar que o seja.” Jean-Jacques Rousseau
Em Lucas 7 lemos uma história impressionante. Jesus, convidado por um fariseu para uma refeição, reclinou-se à mesa. Uma pecadora aproximou-se dele e, sem dizer palavras, chorava a tal ponto de lavar os pés de Jesus, aos quais enxugava com os próprios cabelos. O fariseu refletia consigo que Jesus não era profeta, pois se o fosse afastaria de si a pecadora.
Jesus, sabendo o que movia o coração daquele homem, dirigiu-se à Pedro com uma questão sobre amor e gratidão. Aquele que tem uma dívida maior e recebe perdão da mesma é mais amado que aquele que tem uma dívida menor e também recebe o devido perdão. O amor maior é demonstrado para com aqueles que nos ofendem mais. Pedro respondeu acertadamente e Jesus usou a resposta de Pedro para “provocar” o fariseu:
“Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados; pois ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama” (Lc 7.44-47, NVI).
Jesus pode perdoar pecados a todos quantos ele ama. Ele pode, igualmente, realizar na vida dessas pessoas tudo aquilo que ele quiser, pois ele nos ama. Mas ele manifesta seu amor somente a quem faz parte do seu círculo mais íntimo, pessoal? Embora Jesus estivesse à mesa com um religioso – teoricamente alguém do seu métier – o que dizer da pecadora, certamente uma prostituta? Como conciliar essa experiência de um homem cuja agenda é tão concorrida com a de uma pessoa sob toda suspeita: mulher numa sociedade machista, pecadora numa sociedade de puritanos?
Jesus equaciona a questão. Ele diz a Pedro que há pessoas cujo coração, embora empobrecido pelo pecado, mal intencionado pela malícia, abriga uma categoria rara do amor que torna aquele que a possui alguém de rara percepção e sensibilidade espiritual. Aquela mulher não teve apenas os muitos pecados perdoados, mas ainda alcançou a sua salvação por conta do amor que nutria em sua alma.
Pode um leigo, ignorante no conhecimento religioso, alheio às práticas litúrgicas mais ortodoxas e de comportamento réprobo ter alguma relação com aquele a quem chamamos Santo? Nós diríamos um sonoro não. Jesus não; ele diria um amável e doce sim.
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