Domingo, durante o momento dos cânticos na Igreja, imaginei o quanto a adoração aproxima-nos de ao menos um atributo de Deus: sua criatividade. Que espantosa atividade é a adoração prestada por nós a um Deus que não pode ser visto!
Pessoas de fé reúnem-se uma ou algumas vezes por semana e começam a cantar um tipo de música que agrada a maioria. Não sabemos se nossas músicas agradam a ele; apenas imaginamos que sim. As letras, em muitos casos, fazem alusão aos atos – todos eles – de um ser invisível, inodoro e incolor. Ele diz que criou tudo o que existe, mas é invisível. Ele é chamado Rosa de Saron, mas não sentimos o seu cheiro. Ele é a resplandecente estrela da manhã, mas não vemos a sua cor.
Não o vemos, não sentimos o seu cheiro e não percebemos suas nuanças. Mas sabemos que ele está lá, entronizado entre os nossos louvores, separando o som dos instrumentos e das vozes – a música – da verdadeira adoração, do coração. A adoração é o que ele recebe e é também o que ele procura.
Adorar a um ser sobre o qual cremos é participar, é penetrar em sua própria natureza. Para isso, precisamos criar uma imagem mental que traduza ao nosso entendimento as dimensões e as potencialidades desse ser. Imaginamos criativamente o seu trono, o seu céu, a sua mão, os seus olhos, ainda que tudo isso seja uma figura, fruto da nossa imaginação. Sabemos que Deus não tem membros como os homens, mas projetamos nossa imagem física para criarmos a sua imagem espiritual e divina. Chamam a isso antropomorfismo. Mas Deus é luz, é amor, é justiça. A Bíblia diz isso. Será que é? Talvez não seja nada disso também, já que esses conceitos foram criados por nós. Deus deve ser mais que nossos meros conceitos e imagens.
A percepção de sua presença entre nós ou em nós exige um esforço criativo cujo ambiente é propiciado somente pela fé. E a exemplo, imagem e semelhança da criatividade dele, a pluralidade da nossa criatividade se mostra tão vasta que cada adorador, a partir das descrições que encontramos nas Escrituras, cria segundo a sua medida de fé o “seu” Deus, que é, na verdade, o mesmo Deus. É isso idolatria? É transgressão do mandamento que proíbe imagens? A adoração leva-nos ao pecado? Não creio nisso.
Se eu crio uma imagem de Deus em minha adoração e outro cria, mentalmente, a sua imagem de Deus na mesma adoração, apalpamos, tateamos em busca do mesmo Todo-poderoso que dá a cada um a sua fonte onde mergulhar em busca de refrigério e purificação. Para evitar a idolatria é que extraímos os nossos conceitos da mesma base: a Palavra de Deus. Ela provê parâmetros dentro dos quais a imagem criada é estabelecida e ganha vida para nós. Esse limite demarca o jardim onde devemos encontrar o Senhor a cada dia. Por isso a adoração é tão necessária.
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