Conheço alguns textos que tratam de identificar marcas de uma igreja viva, atuante, cheia do Espírito. Mas quero propor uma reflexão sobre a marca da eternidade na vida de uma Igreja saudável. Com a expressão “marca da eternidade” quero referir-me a uma Igreja 1) atenta às referências do passado, 2) relevante ao seu tempo e 3) preocupada com o seu futuro.
1) Uma Igreja atenta às referências do passado é aquela que olha primeiro para o testemunho dos autores inspirados que nos legaram as Escrituras e toda a riqueza que ela comporta, porque é através da Escritura que o Espírito fala ainda hoje; uma Igreja que olha para o legado dos pais fundadores, para os escritores e teólogos do passado, para os santos que abdicaram suas vidas em favor de uma espiritualidade vibrante; uma Igreja que olha para os reformadores e para as suas preocupações mais legítimas. Uma igreja tem referenciais históricos quando tem identidade com as causas do passado, muitas das quais existentes hoje. Uma Igreja que esporadicamente lê as Escrituras à procura de apoio para convicções formadas à partir da observação dos anseios de seus membros não tem qualquer relação com a Igreja que “ouve o que o Espírito diz às Igrejas”. A Igreja deve ouvir o Espírito, não a sua cultura. Atos dos Apóstolos relata que tanto em Jerusalém, como em Samaria e em outras igrejas locais era o Espírito que falava e dirigia os cristãos.
2) Uma Igreja relevante ao seu tempo é aquela que tem voz e influência na sua cultura. Uma igreja só pode ser sal da terra quando interage com a sua cultura, com seus problemas locais e dialoga com os problemas do seu tempo. Uma Igreja só pode ser luz do mundo quando derruba as paredes e portas do seu templo e mostra quem, de fato, brilha entre seus membros. Atos 2 nos diz que a igreja em Jerusalém “caia na graça do povo” do lado de fora das paredes e portas do templo e do cenáculo; era uma Igreja notada e relevante à sociedade. Uma igreja que elabora o seu discurso para os de dentro, que não estimula o evangelismo, que não prepara seus membros para as demandas e embates com as questões à sua volta também não guarda relação alguma com a Igreja criada por Jesus, não oferece qualquer resistência ao secularismo, ao pecado que avança e por isso devemos questionar se deve ser chamada “igreja”.
3) Por último, uma Igreja deve ser preocupada com o futuro e isso é visto em duas vertentes. Primeira, no anúncio incessante de que Cristo voltará. A volta de Cristo é o que sedimenta a diferença entre o cristianismo e todo e qualquer sistema religioso e filosófico existente. E a segunda vertente é a missão que ela realiza. Uma Igreja que nada faz em favor das missões, não contribui, não prepara, não divulga, não envia, não apóia e não faz missões é tudo, menos Igreja. Podemos chamar de clube, de associação, de grêmio recreativo, de reunião de empresários, mas não podemos chamá-la de Igreja.
Se a sua Igreja negligencia qualquer desses pontos, fique atento aos rumos que ela já vem tomando. Silenciosa e vagarosamente as pessoas desatentas serão conduzidas ao esfriamento da fé, levadas a desacreditar nas Escrituras como Palavra de Deus para o pecador e levadas a crerem que a função da Bíblia é ser um manual de auto-ajuda para pessoas que não têm interesse na salvação, mas procuram apenas um porto seguro para os seus próprios sonhos e devaneios.
Uma igreja desconectada dos referenciais do passado, incompetente para as demandas do presente e alheia a importância de preparar-se para o futuro parou no tempo, e um corpo parado no tempo, sem espírito, sem fôlego de vida, um boneco de barro jamais foi o que Jesus ensinou sobre Igreja.
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Magno, cada vez mais me identifico com esta visão. Urge que pensemos numa igreja que expresse sua verdadeira identidade em todo o tempo, sem se perder nos seus programas. Parabéns pelo brilhante e relevante texto - o que não é novidade aqui no NeoProtestante. Bjos.
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