Há algum tempo li um artigo sobre as características marcantes de líderes neopentecostais. Uma delas, que marcou minha leitura, era que esses pastores evitam o contato com as ovelhas. Chegam por trás do púlpito, motivam os ouvintes e dali mesmo “desaparecem”, indo embora num carro blindado ou mesmo num helicóptero.
Ainda hoje evitar o contato é uma estratégia usada por alguns líderes. Deixar as pessoas na expectativa, na insegurança, na obscuridade. Sonegar informação, omitir detalhes, ocultar. É a estratégia. Chegar quando ninguém o espera, não ir quando todos o aguardam. Artistas fazem isso. No aeroporto, no restaurante, na casa de espetáculos, nos hotéis.
Qual a contribuição esse isolamento dá para a Igreja? Quem ganha o quê com isso? Quero entender. É marketing pessoal? É deixar as pessoas com um gostinho de “quero mais”? Ou mesmo reproduzir um esquema muito usado no showbiz para a criação do mito, da celebridade, a “intocabilidade” do astro, o endeusamento do indivíduo? Se o caso é este, está explicado.
Mas, então, surge outra questão: como a Igreja, os crentes que ouvem a palestrantes assim, podem emprestar seus púlpitos para pessoas que não se enquadram no espírito do cristianismo? Submeter-se, por uma hora sequer, a ouvir quem não observa os critérios mínimos e princípios mais básicos da fé cristã é uma arriscada ousadia: se não compreende o básico, que mais esta pessoa pode falar ou ensinar? Pode “ensinar” tudo aquilo que não consta da Bíblia, tudo aquilo que não aprendeu.
Por conta dessa deficiência, fala-se muito em “cobertura espiritual”. A cobertura espiritual é um arremedo criado por pastores e líderes que não pastoreiam nem lideram pessoalmente a ninguém. “Você tem a minha cobertura espiritual” é o mesmo que “não tenho tempo para você, mas não saia debaixo da minha asa... e deixe o dízimo aqui, heim!”. Mentoria espiritual seria a prática mais próxima do modelo bíblico de comunhão, ser discipulado por um crente maduro, mas isso é assunto para outro artigo.
O Espírito do Cristianismo é aquele que diz “deixa vir a mim os pequeninos”. É o Espírito do Emanuel, Deus conosco, Deus presente, que encarna e aproxima-se. Esses são fundamentos da fé cristã: a pessoalidade de Deus. Cristo encarnou-se, limitou-e a fim de levar ao extremo essa característica do seu Ser: “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Deus não se deixa ausentar da experiência cristã; ao contrário, ele vem ao nosso encontro para torná-la real, testemunhável.
E mais, Jesus mesmo disse que a superação de toda armadilha religiosa é, exatamente, o contato, a aproximação: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.” (Jo 5.39,40)
A aproximação só traz benefícios. Ela alimenta a comunhão, fortalece a identificação, revela, elimina o contraditório, exclui o individualismo, inibe o pecado oculto. A aproximação promove a lealdade, facilita a motivação, consola. A aproximação favorece o discipulado, a formação do caráter tal qual o do líder ou do pastor, multiplica os dons. Há muito o que ser dito sobre a aproximação; há textos e mais textos a serem citados, mas não posso estender-me. Até porque você, leitor, já percebeu que o cristianismo é a religião da aproximação, do contato.
Ser cristão é ir à Cristo: “ir à Cristo para termos vida”, e ir à Cristo por meio daqueles que estão conosco. As Escrituras indicam o caminho, apontam a direção, mas o ponto de chegada não são as Escrituras, mas Ele: a Vida. É Ele, Emanuel, o Deus conosco. Qualquer prática que contradiga isto é antibíblica.
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Para não serem "abduzidos", tais líderes teriam que aprender com Jesus Cristo. Ele, sendo o Rei dos reis e Senhor dos senhores disse: "..e eis que estou convosco todos os dias..." (Mt 28: 20).
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