Este espaço foi criado para discutir diferentes assuntos a partir da cosmovisão cristã. O que pretendo é o debate de ideias e o aprofundamento nas questões que interessam a Igreja de modo geral.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Contribua com a “minha” incompetência
O programa de rádio começou assim: “– A paz do Senhor. Não, eu não deveria desejar a paz, porque vocês não depositaram nem 30% do valor do programa; nem R$ 5,00 vocês podem depositar?” Na outra banda, o programa na TV mantém os dados bancários e a indesejável solicitação: “Ajude-nos. Seja um mantenedor do nosso programa”. Há outros apelos piores.
Se existe algo que envergonha a muitos cristãos é a “pedição” de dinheiro para manter programas de rádio e TV. Por que alguém pediria recursos para essa ação “evangelística”? Porque não é do ramo, não sabe planejar – e pior, é incompetente.
Veja programas no rádio e na TV que não são para o público cristão. Eles são bons, têm qualidade, são organizados, alcançam o público-alvo, dão IBOPE e vendem o produto. Por quê? Porque alguém sabe montar o projeto, alguém planeja, sabe prever crescimento e sai da cadeira para ir atrás de patrocinadores (e muitos desses patrocinadores até mesmo ajudam no planejamento das ações do programa com seus especialistas).
Mas os pastores e apóstolos midiáticos não. Eles querem comer camarão a preço de arroz com feijão. Primeiro contratam um horário no rádio ou na TV, sem planejamento, “tudo pela fé”, e depois colocam a culpa da sua desorganização, da sua fantasia, da sua falta de responsabilidade (e mais uma porção de adjetivos) nos ouvintes e telespectadores – se é que os têm. E fazem isso em rede nacional, lavando roupa suja ao vivo – e muitas vezes a cores. É lamentável, é vergonhoso.
Eu penso que não há necessidade de todas as igrejas serem representadas no rádio e na TV. Noventa por cento dos casos é o “apresentador-pastor” que quer aparecer, equiparar-se com o outro que está no ar, ou mesmo querem aumentar o rebanho para faturarem mais. Qual programa desses, que está na TV, pode ser rotulado de evangelístico? Nenhum! Todos são programetes de crente para crente. Alguns estão na TV para lavarem roupa suja da denominação, para falarem e serem ouvidos sem que a outra parte tenha direito a resposta. É uma aula de falta de amor e de falta de civilidade. Pessoalmente, fico envergonhado. Fico como avestruz, com vontade de enfiar a cabeça na terra. A falta de união fica evidente e isso é desserviço ao evangelho, não evangelização. Perdemos almas com isso, não as ganhamos. Ganhamos antipatia da população mais atenta e perdemos moral diante de todos. Se a pastorada quer pregar o evangelho, que comece organizando a própria casa (a igreja e a doméstica também).
Encher os templos com visitantes convidados no ar pode indicar outra deficiência: a falta de programas de discipulado, de treinamento, de ensino. Essas igrejas não têm essa preocupação, pois estão completamente dependentes de recursos midiáticos para manter os bancos de suas igrejas lotados. “Sai um, Deus manda outro”, dizem.
Quem quiser ajudar esses pastores a fazer a coisa certa, que pare de contribuir com a incompetência deles. Apóie iniciativas sérias. Nas igrejas há bons profissionais do ramo, estrategistas, especialistas em planejamento, em mídias sociais, que poderiam ser aproveitados com a finalidade de melhorar a apresentação do evangelho, quando essa for de fato a proposta. Do contrário, atenda ao apelo do pastor: “Financie a minha incompetência. Deposite agora mesmo a sua contribuição”.
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sexta-feira, 18 de junho de 2010
Tchau, teologia! Vai com Deus...
Jesus respondeu: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!”
A história da Igreja ensina que as diferenças de opinião sobre modos de interpretação (abordagens) e doutrinas (posicionamentos) sempre ocorreram. A novidade nos últimos anos é que os cristãos não mais divergem sobre abordagens nem sobre posicionamentos, porque nada sabem sobre a Bíblia nem sobre teologia. A maioria dos cristãos não considera a teologia e suas doutrinas algo importante, relevante e nem de aplicação prática em suas vidas.
Nas igrejas (e reuniões informais dos “sem-igreja”), no entanto, todos querem acertar o alvo e se darem bem. Mas como isso acontecerá, se não conhecem a proposta bíblica? O clímax da afirmação acima, feita por Jesus, é que nós “erramos”, e ele dá o motivo: por falta de conhecimento. Vincent Cheung em sua obra diz que “não há propósito maior para o homem senão o de conhecer a Deus”, e, “visto que Deus se revelou através da Escritura, conhecer a Escritura é conhecê-lo, e isto significa estudar teologia”. Isso não significa, necessariamente, matricular-se numa escola de teologia.
Até para servir a Deus em nossas “igrejas de bairro” necessitamos, ao menos, de uma teologia “funcional”, formulações para que nosso serviço seja feito de acordo a Palavra de Deus. Nada pode ser realizado na vida espiritual cristã sem a mínima noção de teologia: não podemos crer, não podemos evangelizar, não podemos pregar, não podemos ensinar, não podemos nem orar sem conhecimento teológico!
Em Romanos 10.13-15a há, por exemplo, uma proposição teológica: “Porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (NVI). Em outras palavras, é preciso aprender a verdade de Deus para pregá-la e levar outros a crer.
Alguém pode não gostar de teologia sistemática (Cristologia, Harmatiologia, Escatologia), mas precisa ao menos da teologia bíblica (do Antigo Testamento ou do Novo Testamento, ou a dos apóstolos – João, Lucas, Paulo, Pedro). A Teologia, portanto, é inevitável. A questão então se torna: Sua Teologia é correta?
A Teologia equivocada leva inevitavelmente ao desastre espiritual (e a outros desastres também!). Há grupos que, por não formularem corretamente uma teologia básica, chegam a negar a existência de Deus. Outros formulam conceitos errados sobre Jesus e sua divindade, e assim invalidam a sua obra eficaz. Também há formulações erradas sobre o Espírito Santo e sobre as Escrituras, como Jesus advertiu no versículo acima.
Há exemplos clássicos de erros por causa do desconhecimento das Escrituras e da Teologia:
- Jesus nunca disse: “De mil passarás, a dois mil não chegarás”, como alguns dizem
- A reencarnação não existe, mas sim a ressurreição
- Jesus também nunca disse: “Não cai uma folha de uma árvore sem que Deus não saiba”
- Jesus nunca disse aos perdidos: “Eis que estou à porta e bato...”. Ele disse isso à Igreja (a cristãos!).
Há uma lista que poderia ser relacionada aqui. Uma lista não, algumas boas páginas!
Diante da necessidade do estudo das Escrituras e visto que estudar as Escrituras é procurar conhecer a Deus para servi-lo melhor e sem erros, a Teologia é a maneira mais segura de preparar nossa vida espiritual para que seja uma vida de acertos constantes. Você pode programar-se para o estudo da Palavra de Deus se sentir em seu coração que ama o Senhor e quer melhorar o seu conhecimento a respeito dele e o seu relacionamento pessoal com o Senhor Jesus. Mas negar-se a conhecê-lo melhor e conhecer a Palavra que testifica a seu respeito é garantia de erros e afastamento. Quem dá adeus ao estudo das Escrituras não vai com Deus...
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
Pontos de contato para a comunicação num mundo pós-moderno
1. Existe farta abertura para a espiritualidade. O homem é um ser espiritual: “Mas é o espírito dentro do homem que lhe dá entendimento; o sopro do Todo-poderoso”. (Jó 32.8. RC: “Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-poderoso os faz entendidos”). “Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Ec 3.11).
Na modernidade a exaltação era a razão e ao conhecimento científico: o que pode ser provado? “Antigamente, o que estava sendo dito não era questionado. Ele questionou o saber constituído e criou a cultura moderna, a cultura em que a verdade não é questão de autoridade, mas de comprovação. Nasce com esta atitude de Galileu o homem moderno, que pode ser mostrado assim: não é o que a Igreja diz, o que Aristóteles (cuja autoridade era indiscutível) diz, mas o que se pode provar”. (Isaltino Gomes). Com isso, houve um esfriamento em relação aos postulados da religião e da fé, uma descrença na Palavra de Deus associada às “promessas não cumpridas” feitas por setores da cristandade.
Na pós-modernidade, há novamente uma explosão de espiritualidade. O homem estava sufocado com o pensamento científico que produziu duas Grandes Guerras e não melhorava a vida das pessoas com a modernidade e o avanço tecnológico. Agora até as grandes corporações investem em espiritualidade, livros sobre espiritualidade, sobre “Jesus isso“, “Jesus aquilo” estão nas listas dos mais vendidos. Mas também houve um resgate da superstição: gnomos, duendes, pedras, cristais e outros.
2. Os absolutos. O homem pós-moderno diz não haver absoluto. O que é verdade/absoluto para alguém pode não ser para outro. Isso é discurso desconstrutivista. Não corresponde a verdade, pois:
a) todos lutam por um mundo melhor (se não há absolutos, o que é um mundo melhor?)
b) experimente agredir alguém (o que é agressão para um, pode não ser para outro)
c) Dostoievski: “Se Deus está morto, então tudo é permitido”. Vamos roubar e matar.
A Bíblia é supra-cultural embora sua escrita revele traços profundos de determinadas culturas. Sua aplicação cabe em qualquer grupo, pois a verdade não é a minha verdade, mas a Verdade de Deus; não é a verdade da instituição que importa, mas os princípios eternos do Criador.
Arnold Toymbee: “Alguns dos nossos especialistas-sacerdotes são chamados de psiquiatras, alguns de psicólogos, alguns de sociólogos, alguns de estatísticos. Chamam pecado de “desvio social”, que é um conceito estatístico, e chamam o mal de “psicopatologia”, que é um conceito médico”.
A igreja deve dar ênfase a dois conceitos fortemente atacados: a moralidade e a verdade. Lutero: “A prova definitiva do pecador é que ele não conhece seu próprio pecado. Nossa tarefa é fazer com que ele o veja”. Proclamar a o evangelho da salvação em Jesus Cristo pode trazer convicção do pecado
3. Individualismo. Em Juízes 21.25: “Cada um fazia o que achava mais reto”. Isso decorre da falta de uma estrutura moral, onde a sociedade se desintegra em facções que guerreiam entre si e contra indivíduos isolados e depravados. É um retorno ao barbarismo, a perversão, a anarquia como nos tempos mais antigos.
Paulo, quando escreve aos Coríntios, já enfrentava esse problema. “Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo” revela o embrião do comportamento pós-moderno há 2 mil anos. Ele diz que o ser, a persona é desintegrada naquele que É, no Deus que tudo pode. Nós não somos, mas Ele é tudo em todos (aldeia global).
Os pós-modernistas dizem que o sentido da linguagem só pode ser determinado dentro da “comunidade interpretativa”. Para os cristãos, a igreja é a sua comunidade interpretativa. E também a síntese de unidade e pluralismo no Corpo quase soa como pós-moderna.
Pessoas pós-modernas são voltadas para o grupo. Reside aí um forte apelo aos pequenos grupos, grupos de comunhão, grupos de estudo etc.
Por outro lado, o Senhor respeita a individualidade de cada um (vide a analogia da Igreja como um Corpo formado por diversos membros individualmente).
4. Testemunho vivo. Leith Anderson afirma que “as pessoas de hoje tendem a não pensar de forma sistemática nem dar atenção a uma argumentação racional. Assim as idéias podem ser mais bem abordadas de questão em questão e pela influência de relacionamentos. Pessoas que sirvam como modelo, mentores e amigos moldam o pensamento das pessoas, para melhor ou para pior, mais do que uma lógica objetiva”.
Jesus se comunicava por meio de parábolas, não por meio de tratados abstratos.
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segunda-feira, 14 de junho de 2010
A tecnociência é a parteria da pós-humanidade
Futurólogos preveem que antes do final do século XXI desaparecerá o último humano da face da Terra, dando lugar aos cyborgs, seres biológicos e maquínicos, anunciou a filósofa argentina Esther Diaz, professora da Universidade Nacional de Lanús.
“A tecnociência é a religião global de hoje e a saúde é o seu bem maior”, disse Esther na segunda-feira, 10, para uma platéia de professores e estudantes da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, ao falar sobre “O desejo e a ética como base para a investigação e a docência universitária”.
A ciência, enfatizou Diaz, é muito mais do que conhecimento, porque ela lida com o poder. Daí que a biopolítica, ou o biopoder, quer o controle da vida, da saúde, do sexo, da morte.
Antigamente, quando o coração parava de bater era o indicativo de que a pessoa estava morta. Hoje, um aparelho marca o momento da morte encefálica. Na atualidade, a pessoa não morre mais em casa, numa cama rodeada de parentes e num ambiente familiar, mas morre numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), solitariamente.
Hoje, o biopoder atua sobre a vida, como aconteceu nos campos de extermínio, e atua sobre a morte, como se verifica nas unidades de terapia intensiva. As UTIs não passam de locais onde se espera a morte, disse.
Se no passado cabia às religiões aspirarem a vida eterna, hoje é a técnica que almeja a vida eterna biológica, disse Diaz. “As promessas de salvação não vêm mais do mundo religioso, mas do mundo científico”, agregou.
As pessoas passam a ser, então, uma fusão de natureza e técnica, início da era pós-humana. “A técnica, hoje, se introjeta no corpo por manipulação genética, implante, transplante”, arrolou a palestrante.
Parodiando Karl Marx – “a violência é a parteira da história” – a filósofa argentina mencionou que “a tecnociência é a parteira do pós-humano”.
Embora o poder tente convencer a humanidade de que a ciência é neutra, universal, é preciso questionar a racionalidade científica, brigar para que a ética perpasse a ciência, e ter claro que a ciência não é neutra nem universal.
Enquanto a Aids se restringiu ao continente africano, o vírus HIV mereceu pouca atenção da indústria de fármacos. Assim que a pandemia chegou a países desenvolvidos, o quadro mudou, ganhou pesquisas e medicamentos, apontou a filósofa, ressaltando, assim, que a ciência não é universal nem neutra, que ela não está aí para todos da mesma forma.
Não se trata de negar a técnica e a ciência, frisou, mas de pensá-las, questioná-las e definir que papel elas desempenharão no futuro.
por Edelberto Behs. Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Sobre a profissão de fé
O número de líderes que dedicam tempo integral ao ministério é grande. Via de regra o caminho percorrido até que um desses obreiros chegue ao topo dessa “pirâmide” é igualmente longo.
Certamente o leitor conhece, por experiência ou por observação, a trajetória da carreira espiritual. O sujeito nasce, cresce, aceita a Cristo, serve ao Senhor, é consagrado e embrenha-se pelo matagal do ministério. Muito bem. Mas e quando esse obreiro, esse pastor, ou bispo – seja lá o que for, “chega lá”? Ele passa a viver da fé, jargão que responde a tantos questionamentos... e já não olha mais o ministério de baixo para cima, como um objetivo, uma meta a ser alcançada. Agora ele é o objetivo, ele é a meta, ele é o topo. Curioso, não?
A igreja ou a comunidade está ali, os membros, as parcerias, os departamentos, os colaboradores ou obreiros. Tudo sob sua batuta, às suas ordens.
A profissão de fé passa de uma simples confissão para uma complexa carreira, uma profissão como a maioria dos mortais conhece – pelo menos aqueles que têm um emprego formal. Sim, porque profissão de fé é o ato de proferir, de confessar uma orientação religiosa e primar por seguir os ensinos adotados por tal orientação. E profissão formal é o emprego onde trabalhamos diariamente para ganhar nosso sustento material.
Mas agora, aquele crente não só profere uma orientação religiosa como também vive dessa profissão, trabalha, dá expediente. A obra passa a ser o seu negócio, o seu ramo de atividade, a sua área de atuação e o gabinete pastoral torna-se o seu escritório. O que muda aí? Qual a postura a ser tomada?
Estou seguro que a postura não deveria ser mudada. A motivação precisa permanecer: continuar a serviço do Reino e trabalhar para ganhar almas, ensinar cristãos, treinar obreiros, edificar o Corpo.
Mas não é assim tão fácil. Um dia o camarada olhará para o seu ofício e verá que ele vive daquilo. E a tentação pressionará para que ele encare seu ministério como um negócio, e como tal deve dar lucro, gerar renda, igualar-se aos mais bem-sucedidos profissionais. Afinal ele está no topo!
Reconheçamos: não é tarefa fácil. E é nessa hora que a “roda gigante” deve funcionar. Ele que está lá em cima deve saber que a descida o impulsionará a nova subida. Que isto quer dizer? Quer dizer que alguns dos fundamentos da vida cristã ajudarão, tais como oração devocional, vida dependente, comunhão.
Dedicar-se a esses pontos primários e fundamentais são de vital importância para a manutenção de uma vida espiritual sadia. O olhar para a carreira ministerial como uma profissão como outra qualquer deve existir, e existirá. A motivação, no entanto, é que deve diferir. Ainda que alguns profissionais pautem suas ações pelos lucros, pelos ganhos cada vez maiores, outros há que vêm suas profissões como meio de realização pessoal. Aquele que vive da fé deve ver além: deve ver sua carreira, sua profissão de fé como meio de realização do projeto do seu Senhor.
Reside aí a fonte de toda a satisfação que irá gozar e a razão de toda a motivação que irá sentir.
Olhar, racionalizar e discernir. Olhar para a carreira; compreender o que há por trás e distinguir entre o secular e o sacro. É um exercício aparentemente simples e eficiente. Mas o sedentarismo mental ronda até mesmo essa tão simples prática.
terça-feira, 8 de junho de 2010
O Cristianismo na era de sua própria síntese
O Cristianismo, ao longo dos séculos, foi e é marcado pela pluralidade. Pluralidade litúrgica, pluralidade teológica, pluralidade na praxis, pluralidade na espiritualidade, pluralidade nos problemas em determinadas culturas, enfim. Certa abordagem teológica interpreta, por exemplo, as cartas do Apocalipse como retrato dessa realidade, ou seja, sete características num mesmo momento histórico.
No entanto, essas características todas são abarcadas por uma predominância qualquer ao longo dos séculos. Explico. Mesmo que cada igreja enfatize, por exemplo, a doutrina da divindade de Cristo, outra enfatize a necessidade da santidade e uma terceira dê ênfase a outro aspecto, naquele momento ou época, olhando à distância, pode haver a predominância de um tema comum a todas, indistintamente.
Foi assim no início, no meio e nos últimos anos do Cristianismo. No início a Igreja foi marcada pelas controvérsias, pelos trabalhos apologéticos, pelas obras dos pais apostólicos, que tentavam estruturar a doutrina cristã e estabelecer o Cristianismo em bases sólidas e comuns. Mas um olhar macro revela que o problema era a necessidade e a luta por estabelecer o Cristianismo no Império Romano e ter o reconhecimento do povo. Logo, essa tensão derivada das relações Igreja x Estado desembocou na corrupção da primeira e alguns grupos, no final deste longo e primeiro período, manifestara sua indignação dando início ao movimento monástico.
Estava em foco a espiritualidade, a pureza doutrinária, a preservação dos ideais ensinados pelo Senhor Jesus e por seus apóstolos. Era o período da tese. Mas esses movimentos monásticos também sucumbiram, colapsaram e desviaram de seus objetivos iniciais, passando a orgulhar-se intelectualmente das próprias conquistas. Vieram, então, os grupos pré-reformadores, por volta do século 10, em diante, o que desembocou nos pré-reformadores e nos próprios reformadores do século 16.
A partir daí, novo ciclo. Entraram em cena as disputas teológicas, os embates doutrinários e uma argumentação mais racional entra na pauta do dia. A espiritualidade, o cuidado pastoral, a preocupação com a diaconia são postos de lado em virtude da necessidade de estabelecer as bases da Reforma e combater o engano teológico (e da Tradição) que é o mal há séculos minando a força da Igreja e do Cristianismo. Esse foi o tempo da antítese.
Entretanto, a antítese também sucumbiu diante dos movimentos recentes (iluminismo, modernismo, p. ex.) e da realidade atual (era da informação, globalização, entre outros). Agora a Igreja e o Cristianismo precisam de respostas que envolvam a razão e a emoção. Céticos estabelecem diálogo com a espiritualidade (até mesmo nas universidades) e também nas organizações os especialistas interessam-se por assuntos dessa área. Religiosos querem provar novas experiências e olhares diversos que os leve a dimensões mais amplas. E o Cristianismo não pode calar-se, mas precisa preservar o seu núcleo, guarnecer seus princípios e negociar os parâmetros, as áreas de sua doutrina que são mais flexíveis. É o momento da síntese, é o tempo de juntar a experiência à reflexão, de apresentar o texto e a paráfrase.
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Quem não gosta da igreja, bom sujeito não é...
Agora é pra valer: o que dá Ibope e gera receita é falar mal da igreja! Igreja não tem cara, não tem personalidade jurídica, igreja não se defende. É como chutar cachorro morto. Com a proliferação de websites e blogs, muita gente dispara: “Eu não vou mais à igreja”. “A igreja sou eu, vou cultuar sozinho”. “Igreja não leva ninguém pro céu”. “Igreja é latifúndio de pastor”. “Igreja é pra gente atrasada”. E por aí vai. Marqueteiros, vendedores, blogueiros, artistas (que nunca foram “muito” crentes mesmo), diretor de faculdade, pastores, gente graúda e gente miúda, desviados também. Todo mundo resolveu bater na igreja. Hipocrisia. Para dizer o mínimo!
Eu não tenho procuração “da igreja” para defendê-la, nem ela precisa disso, mas considere o seguinte. Quem é a igreja? Fala-se muito sobre a igreja. Mas que igreja? Dê nomes. Verifique se sua bronca não é contra o modo de governo da igreja: episcopal, presbiteriano, democrático, células. O problema pode ser no modo como a sua igreja entende a eclesiologia. Aí o problema não é “da igreja”, mas da teologia de alguém que iniciou o seu grupo dentro desse molde. Mas há outros modelos de governo e isso não tem a ver com a igreja em si.
Pode ser que você não goste da panelinha que muitos chamam “ministério”. Aí o problema não é “da igreja”, mas seu, que permite a panelinha estar onde está e fazer o que faz. Oriente-se, estude, envolva-se e uma hora a “panelinha” terá que ser desfeita. Ou então admita, como Lutero, que não adianta sair da igreja, pois não há igreja perfeita. O jeito é reformá-la de dentro para fora, e aí você terá apoio de muitos outros que estão no mesmo barco.
Verifique se o que você chama de “igreja” não são alguns pregadores, tele-evangelistas, artistas, gente que faz campanhas e subtraem dinheiro “da igreja” em benefício próprio. A igreja não é essa gente, ela “contém” essa gente. Nunca leu na Bíblia (provavelmente não) que o joio está onde o trigo está? Assim, sempre teremos o joio, ele faz parte da igreja, mas o joio não é a igreja. Então não justifica falar mal da igreja.
Veja também se o problema não é você! Sim, nós é que formamos a igreja. Já imaginou isso? Há quem não mova uma palha, mas a-d-o-r-a falar mal de quem? Da igreja, coitada dela. O problema é que “a igreja” não é pra qualquer um. Gente que quer falar palavrão (agora é moda); viver como um nababo; deixar-se atrair pelas delícias do jardim do vizinho; gente frustrada que quer desabafar; gente que precisa de atenção e paparicos, não gosta de ser enquadrado pelas exigências naturais da Bíblia para quem quer ser discípulo. É simples, o problema não é a igreja; ela nada tem a ver com isso.
Quem fala mal da igreja, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou não está em pé. (Quem está em pé, cuide para que não caia, 1Co 10.12)
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Que erro você comete, heresia, fundamentalismo ou ortodoxia?
Escrevi no Twitter, dia desses, que “a heresia é tão perniciosa quanto o fundamentalismo”. Quero apenas pautar o tema.
No universo teológico, convencionou-se classificar três grupos, a saber, hereges, ortodoxos e fundamentalistas. Os autodenominados ortodoxos são aqueles que estão no poder e que, por isso, escrevem a história. Eles têm a “posse” da verdade, a detêm(1). E isso fazem segundo quem ou seguindo qual parâmetro? Segundo eles próprios e seguindo os parâmetros que a própria ortodoxia definiu, a partir das verificações e interpretações da verdade, amparados pela tradição.
Por conta desses privilégios, os ortodoxos podem dizer quem são os hereges. Geralmente estes são os que não concordam com a ortodoxia daqueles. Lutero, Calvino, Knox e dezenas de homens de Deus, num dado momento da história e por determinado ponto de vista foram, todos, hereges. Rubem Alves diz que o herege é herege até tornar-se maioria dominante. A partir daí passa a ser ortodoxo. Assim, o que é “heresia” em determinada época ou estação pode não ser em outra ocasião (nem mesmo quando assim foi rotulado). E há que considerar também que, do ponto de vista do herege, o ortodoxo é igualmente herege. Por décadas, por exemplo, os “tradicionais” rotulavam de hereges os “pentecostais”. Há diversos outros casos no meio cristão no qual se apontam mutuamente.
Restou o fundamentalismo, tão pernicioso, tão anormal e amorfo quando a heresia. Essa posição é o retrato em branco e preto do que a heresia é. É o avesso, e como avesso, errado em sua posição. Dizemos que “Deus não dá asas a cobra”, mas o fundamentalismo é a cobra que engoliu a pomba pensando poder voar com ela no estômago. Matou a pomba e ficou no chão. Não voou e não deixou voar. É perverso o fundamentalismo.
Assim, que resta? Não resta, apenas basta. Basta a cada um olhar para Cristo, autor e consumador da fé (Hb 12.1,2) e procurar imitá-lo, à exemplo de Paulo (1co 11.1) e entrar pelo caminho que conduz ao Pai (Jo 14.6). A apologia, então, não presta para nada? Sim, mas isso é assunto para outro artigo.
(1) Ênio R. Mueller diz que a verdade não é um bem do qual eu me aproprio, mas um caminho o qual eu trilho. Acrescento que, à medida em que caminho pela verdade, vislumbro cenários e paisagens diferentes, ou seja, vejo a vida e seus componentes, a partir da verdade, de modos diferentes.
Igreja boa para os de dentro não é boa para os de fora?
Lemos nos evangelhos que Jesus, vez ou outra, chamava reservadamente a três de seus discípulos para ensinar-lhes ou revelar-lhes algo novo. Numa dessas ocasiões, levou-os a um monte e transfigurou-se diante deles, e na transfiguração apareceram também Moisés e Elias. Pedro – por que sempre ele? – logo sugeriu isolar a área fazendo três cabanas, uma para Moisés, uma para Elias e outra para o próprio Jesus. Esqueceu-se de si e dos outros dois confrades.
Esqueceu-se? Na verdade, Pedro esqueceu-se de tudo e de todos. A sensação agradabilíssima promovida pela nova experiência deslocou-o do centro da visão do profícuo ministério que Jesus desenvolvia nas cidades de Israel. “Que temos nós com eles?”, deve ter pensado – “deixe-os lá, raça obstinada. Vamos aproveitar isso aqui enquanto está tão bom!”.
É isso, a igreja, quando fica boa para os de dentro, tende a ser impeditiva para os de fora. Há muitos anos experimentei isso em meu próprio ministério, quando pastoreei uma igreja em S. Paulo. As festanças, as confraternizações e as reuniões, por boas que eram para nós de dentro, isolavam os de fora e blindavam-nos do interesse em trazê-los para dentro – gente nova deverá atrapalhar nossos planos. Até que nos tornamos nossos próprios problemas e, de tanto olhar para nós mesmos, começamos a depararmo-nos com nossos muitos defeitos.
A igreja muito confortável para os de dentro, muito receptiva e acolhedora para seus membros, tende a acomodá-los e, com isso, foge ao seu propósito vital que é “sair”. Seu próprio nome ensina isso: ecclesia que dizer em grego sair para ou sair de. Sair de dentro do judaísmo, sair para as nações, para os não-alcançados, sair em busca dos perdidos.
As festas, obviamente, não são o problema. O Antigo Testamento promovia festas memoriais, com efeitos didáticos, pedagógicos e de reflexão e aproximação do povo com o seu Deus e eram pontuais, não subsequentes, intermináveis. Mas nossas festas têm tido essa finalidade? Nossas reuniões lembram-nos de que o cristianismo veio à existência para livrar do cárcere o oferecimento da salvação para os de fora? Para lembrar que essa salvação era para todos os povos e não um privilégio exclusivo da nação de Israel? E mesmo a igreja primitiva, quando se acomodou em Jerusalém, foi alvo de uma perseguição após a pregação de Estêvão e perseguição tal que a fez cumprir a missão de levar a mensagem do Evangelho aos gentios.
Fico preocupado quando vejo igrejas anunciando medidas e reformas, aquisições e investimentos, sem fazer qualquer menção à sua missão de edificar os membros e alcançar os perdidos.
É preciso evangelizar a Igreja
A cena descrita a seguir foi presenciada por mim. Participava de um culto quando, durante a mensagem o pregador, com a toda a “coreografia pentecostal” que lhe era peculiar, disse: “Hoje eu vou ensinar como fazer para tirar os tesouros do céu e desfrutar aqui na terra.” Foi efusivamente aplaudido.
Existe afirmação mais antibíblica do que esta? Sendo ela antibíblica – e é –é também uma declaração anticristã. Se for anticristã, por que o pregador foi aplaudido, estando numa igreja (cristã!)? A resposta é simples: a igreja não conhece o texto bíblico, não sabe o que diz a Bíblia, é ignorante sobre aquilo que – de fato – Jesus e os apóstolos ensinaram. A igreja evangélica de hoje é ignorante, do ponto de vista do conhecimento bíblico. Como disse Antonio Vieira há 400 anos, “conhece palavras sobre Deus, mas não conhece a palavra de Deus.”
Uma das afirmações feitas por Jesus, afirmação das mais conhecidas pelos cristãos (em outros tempos, é verdade) é: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam.” (Mt 6.19,20, NVI)
A proposta do pregador em questão apontava a contramão do ensino de Jesus. Naquela noite o pregador ensinou o contrário do que Jesus ensinou e que seus apóstolos e discípulos veem ensinando há dois mil anos!
Por que um pregador assim deve ser aplaudido? Quem o tem aplaudido ainda hoje? Onde ele tem sido aplaudido?
É possível enumerar dezenas de falsos ensinos como esse. Eles são ouvidos todos os dias nas igrejas. São sementes lançadas aos montes e vão frutificar aquilo que Jesus irá lançar no fogo para ser queimado, porque se parece genuíno, mas não é: parece trigo, mas é joio e por isso, para nada serve.
Alguém tem responsabilidade por isso? A quem deveríamos reclamar essa ignorância que assola a igreja? Se muitos pregadores não entregam mensagens de acordo com as Escrituras... se os ouvintes não sabem o que a Escritura diz e, portanto, não podem defender-se dos falsos ensinos, a quem recorrer? A quem reclamar? Não há um balcão onde alguém anote reclamações; a igreja não tem 0800 nem SAC. Mas deveria ter, porque hoje a igreja tornou-se uma instituição que negocia bens de consumo e não mais bens eternos.
A meu ver, há uma responsabilidade mútua da liderança e dos ouvintes. E é um caso cíclico: ouvintes querem mensagens que afagam o ego e prometem coisas boas com o mínimo esforço e, por sua vez, pregadores que precisam sobreviver “da fé” pregam as mensagens que esses vasos vazios querem ouvir, pois do contrário não terão vida (ou arrecadação) longa. A bem da verdade, não a terão nem mesmo pregando essas mentiras, pois o passar do tempo já tem denunciado que promessas antibíblicas não se cumprem e os mais “espertos” têm saído de fininho.*
As pessoas que vão às igrejas não sabem o que a Bíblia ensina. Recentemente, pregando em uma igreja tradicional na região do ABC paulista, liderada por um figurão do meio cristão, pedi para que levantasse a mão quem sabia o que é a doutrina da justificação. Não sei quem ficou mais envergonhado: eu ou aqueles míseros 10% que levantaram a mão. A doutrina da justificação ocupa espaço central no ensino de Paulo e é, igualmente, o eixo em torno do qual a Reforma Protestante do Século 16 moveu-se. Como não conhecer esse ensino? Como dizer-se membro da Igreja sem saber dos seus fundamentos, das suas bases, das suas diretrizes? A pessoa está na igreja pensando ter sido salva do quê? Do atropelamento? Da falência? Da separação conjugal? O que ela imagina ser a igreja? Uma Amway para crentes? Uma Omni cristã? um Rotary gospel? onde as pessoas vão para se darem bem na vida ou para sentirem-se socialmente inseridas e úteis?
Finalmente, devo dizer que nem tudo está perdido: de Deus não se zomba. Vejo em diversos lugares, movimentos e cristãos individualmente gritando contra o desvio do que a Escritura ensina como adequado ao cristão, gritando e apontando a escassez de profundidade bíblica e espiritual, contra a amoralidade no trato da igreja e do ministério e tantas outras questões que encheriam esse blog. Também há, é verdade, ouvintes ávidos pela pregação que exale o aroma de Cristo, que faça promessas com fundamento na obra da cruz e na ressurreição do Salvador, pregação que lave as vestes e cure as fissuras que a alma pós-moderna tem apresentado: solidão, individualismo, isolamento digital, relativismo moral, banalização da vida humana, descaso com o altar. Essa é também uma longa lista.
Somente a pregação do Evangelho pode promover qualquer alteração neste cenário, e a pregação deve começar na igreja. A igreja precisa de salvação. É preciso evangelizar a Igreja.
*Para constatar essa situação, sugiro a leitura de Decepcionados com a Graça, de Paulo Romeiro (Ed. Mundo Cristão). É atual e implacável.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Como anda a nossa diaconia?
No primeiro século da era cristã, os apóstolos da igreja em Jerusalém adotaram a expressão servir como referência ao trabalho de assistência social. Naquela igreja com milhares de irmãos, a comunidade de judeus com formação grega foi o primeiro alvo da ação beneficente. Vem daí o termo diákonos − aquele que serve.
Se serve, serve o quê? Em Jerusalém eram sete irmãos encarregados de distribuírem os recursos entre os carentes, portanto, serviam aos cristãos necessitados. Nos séculos seguintes a igreja manteve este ministério que, segundo Lucas, é equivalente à própria pregação da palavra de Deus. Prova disso está em Atos 6.4, quando ele usa a mesma expressão ao falar da pregação: “... nos dedicaremos à oração e ao ministério (do grego diakonia) da palavra”.
A ação diaconal é tão nobre que os próprios apóstolos se ocuparam dela! Talvez em sua igreja ainda seja assim. Mas se não o é, como anda a diaconia por lá?
No período da Reforma Protestante, o tema ocupou a reflexão de homens como Lutero e Calvino. Lutero tratou da tríplice diaconia: no lar, na igreja e na sociedade. Calvino coordenou um importante mutirão para receber protestantes refugiados de seus países. Durante a perseguição da Igreja Romana, ingleses, portugueses, italianos e cristãos provenientes de outras partes da Europa deixavam suas cidades e fugiam para Genebra em busca de refúgio. Calvino coordenou diáconos que recebiam esses cristãos e cuidavam de cada um até que pudessem retomar suas vidas.
A ação dos diáconos genebrinos incluía: ajudar a obter moradia em casas, hospedarias ou pensões; fornecer camas ou colchões; fornecer pequenas doações em dinheiro ou cereais; fornecer conjunto de ferramentas ou matrículas para aos aprendizes de ofícios; contratar amas de leite ou mães adotivas para bebês que perderam suas mães refugiadas; contratar serviços médicos, cirurgião e farmacêutico; comprar tecidos e contratar alfaiates e costureiras para fazer roupas aos pobres; contratar copistas em tempo integral para copiarem sermões dos reformadores; custear a distribuição de saltérios e hinários e livros religiosos; sustentar pastores missionários; sustentar as viúvas e órfãos de pastores que morriam no exercício de suas funções.
Algumas igrejas em nossos dias têm mudado o nome desse cargo por outros. Evidentemente que o nome pode tornar-se um detalhe insignificante, somente se não tirarmos os olhos dos princípios bíblicos que foram estabelecidos pelos apóstolos e mantidos pela Igreja nos seus dois mil anos.
Como anda a nossa diaconia? Conheço diáconos que ainda acreditam que o melhor que podem fazer é recolher ofertas e dízimos, servir a santa ceia e guardar as portas do templo. Diante do que fizeram os diáconos em Jerusalém e em Genebra, que infelicidade para um diácono e para um pastor pensar que coisas assim são tudo o que têm a fazer. Isso está tão distante da verdadeira vocação desses homens e mulheres que é preciso rever nossos conceitos à luz da Palavra de Deus. Certamente o Senhor nos auxiliará nesta tarefa.
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Ainda precisamos de apologistas?
A apologética é a disciplina que trata da defesa da fé e, consequentemente a apologética cristã defende a fé cristã. Não temos espaço aqui para relacionar a história do Cristianismo, mas houve dois períodos áureos da apologética cristã. Durante os primeiros séculos da Igreja, autores apologistas prestaram um grande serviço à fé cristã, defendendo-a dos ataques de grupos heréticos e filosóficos (ataques de dentro e de fora). Séculos depois, notadamente no século 20, durante a modernidade, que atacava as bases e os pilares da fé cristã, grandes nomes surgiram para manter a fé em alta e dar a resposta adequada aos inimigos do Cristianismo.
Mas não vivemos mais nesses períodos, antes, vivemos no tempo que alguns chamam pós ou hiper-modernidade. É sabido que uma das marcas da atual geração é o individualismo ou tribalismo (ou, ainda, comunidade). Cada tribo ou comunidade reúne-se em torno da sua própria verdade ou daquilo que crê ser a verdade que faça sentido para aquele grupo. Soma-se a isso a ética de aldeia global que preza pela convivência pacífica; ninguém tem o direito de incomodar a outro para, assim, haver convivência pacifica.
Dessa forma, o que um grupo acredita ser verdade pode ser diametralmente oposto ao que outro grupo acredita e, mesmo assim, ambos os grupos conviverem e relacionarem-se civilizadamente. Neste novo mundo está em baixa a crítica, a censura e outros mecanismos de exclusão, embora haja uma resistência à moral e à verdade como conceitos absolutos. Se não há absolutos, a moral e a verdade cristãs não fazem sentido como moral absoluta e verdade absoluta, dizem.
Assim, não seria preciso afirmar que existe um ataque a esses conceitos, mas sim resistência a eles. Alguém citaria “Richard Dawkins e sua turma”, mas ele é uma gota no oceano e o que faz é mais propaganda política e querer chamar a atenção do que outra coisa. Ele é desacreditado por seus próprios pares! Então, quer dizer que não precisamos mais de apologistas, já que não há ataques à fé cristã? É quase isso. A apologia deverá ser repensada daqui para frente.
Temos visto muitos cristãos atacando a outros, por meio de livros, pregações, blogs, websites etc. Eles perderam o destinatário de suas peças apologéticas, mas não perderam a vontade de atacar; praticamente ficaram desempregados de suas funções. E continuam os cristãos atacando-se mutuamente e deixando os não cristãos da mesma forma – senão escandalizados com tanta roupa suja lavada em público! “Ah”, diria alguém, “mas estamos apontando a heresia em determinado grupo ‘que se diz cristão’.” No entanto, nós cristãos fomos chamados para ir pregar o evangelho e cuidar daqueles que são trazidos para a igreja, nutri-los. A cura de um doente não vem por meio de uma surra, simplesmente porque o doente apanhou o vírus. Doentes são curados quando são expostos ao remédio, não ao isolamento.
É preciso repensar a apologética para o século 21. Não há ataques frontais ao Cristianismo como no século passado. Há ataques velados, sim, concordo. Mas a verdade central da fé cristã não tem sido atacada do mesmo modo. As pessoas saíram do século 20 pensando diferente, desapontadas com as expectativas não cumpridas pela modernidade (duas Grandes Guerras, fome, violência urbana etc.). É hora de fazer a defesa da fé com a boca fechada e com o exemplo de vida que reflita a nossa comunhão com o Criador. A influência dos relacionamentos, de pessoas que sirvam como modelo, mentores e amigos que moldem o pensamento de outros para melhor, mais do que uma lógica objetiva. Jesus se comunicava por meio de parábolas, não por meio de tratados abstratos.
A Teologia da Prosperidade invalida as promessas de Deus
Ao contrário do que muitos creem, a Teologia da Prosperidade não é um mecanismo seguro para reivindicar ou aguardar o cumprimento das promessas de Deus. Exigir, decretar, declarar, todos esses mantras apenas revelam profunda ignorância bíblica (nem diria teológica) e grave desconhecimento de quem o Senhor é. Como diz uma paráfrase de Êxodo 3, “Deus é o que é e não o que dizem sobre ele”.
Veja, por exemplo, uma declaração de R.R. Soares: “Não é pela misericórdia de Deus que você poderá ser curado, mas sim que você tem o direito de exigir a sua cura. É só você crer no que o Senhor declarar e exigir a Sua bênção (exigir de Deus a bênção), ordenando ao mal que saia do seu corpo.”(1) Se assim fosse, ele e outros pregadores que ensinam assim seriam, respectivamente, Ministro da Saúde, Ministro da Economia, Ministro do Desenvolvimento etc.
Por outro lado, Paulo, Pedro, Daniel, Jesus Cristo (sim, Jesus Cristo!), Agostinho, Savonarola, Lutero, Calvino, todos seriam repetentes em série em qualquer escola bíblica. Paulo orou pela libertação do espinho na carne: não foi atendido. Daniel foi lançado aos leões: ficou na dele – os leões também. Jesus... ah, esse coitado não decretou vitória no Getsêmane por quê? Viu no que deu? Foi parar na cruz! Savonarola, salvo engano, foi queimado como herege. Por que não exigiu exércitos de anjos? A Palavra promete livramento! Lutero foi perseguido, sofria de uma enxaqueca horrível... se R.R. Soares pudesse ensiná-lo... e a Calvino, que também era doentinho.
Mas não, essa turma toda que lutou para que o evangelho chegasse até nós, dois mil anos depois, pode ser taxada como verdadeiros desinformados. Nada sabiam sobre qualquer promessa de vitória financeira e batalha espiritual (isso é nome de Bíblia?), saúde e sucesso.
Eles não conheciam a Teologia da Prosperidade, mas conheciam as verdadeiras promessas de Deus. E essas promessas são infalíveis, porque quem as fez pode exigir ou decretar coisas que na verdade acontecerão. Elas são parte do plano que Ele insiste em cumprir porque empenhou sua palavra e a história de milhares de testemunhas. Até a ressurreição de Jesus, conforme Atos 17.31, ocorreu como penhor de que suas promessas, conforme o registro bíblico, serão todas cumpridas.
Assim, mesmo se um anjo do céu pregar outro evangelho, não creiam. Ele não tem validade.
“É errada a idéia que "o Senhor Deus é quem cura, e que ele é o responsável para que os milagres ocorram. Enquanto você esperar que ele venha curá-lo, provavelmente continuará sofrendo. Se você descobre que certa coisa é sua, você não precisará de nenhuma fé para exigir aquilo que sabe que é seu. Você simplesmente tomará posse do que é seu. Você deve exigir o cumprimento do seu direito imediatamente e, logicamente, ficar curado. Você deve exigir os seus direitos em Cristo. Usar a frase 'se for a Tua vontade' em oração pode parecer espiritual, e demonstrar atitude piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas além de não adiantar nada, destrói a própria oração. Não é pela misericórdia de Deus que você poderá ser curado, mas sim que você tem o direito de exigir a sua cura. É só você crer no que o Senhor declarar e exigir a Sua bênção (exigir de Deus a bênção), ordenando ao mal que saia do seu corpo. Você não precisa orar, jejuar ou pedir a quem quer que seja para orar por você. Segundo estas declarações (Is 53.4,5) você pode ter certeza absoluta que Deus já o curou. Você é o único responsável por sua cura. Você deve exigir o cumprimento do seu direito imediatamente e, logicamente, ficar curado."
1) O Direito de Desfrutar Saúde, R.R. Soares.
A semântica da Igreja
Nos últimos meses, alguns de nós ouvimos sobre cristãos reunindo-se longe dos templos, no aparente resgate de um dos aspectos do cristianismo primitivo. Ouvimos, também, e lemos livros de autores apontando o dedo contra a Igreja e criticando-a. Algumas dessas manifestações são bem compostas, outras, medonhas, sem qualquer valor.
Mas, como dizia o velho sábio, nada novo. Nem necessariamente cristão. Os essênios, antes de Cristo, reuniam-se longe do centro religioso oficial. Até mesmo Elias, o tisbita, ensaiava algo assim oitocentos anos antes de Cristo. Depois de Cristo, como reação a estatização da Igreja, o monasticismo do terceiro século com Antão, foi o pontapé inicial do movimento mais expressivo no primeiro milênio da Igreja, transmutando-se ao longo dos séculos. Do mesmo modo, os grupos pré-reformistas de reação contra o papado, como o reavivamento monástico de Cluny, no século 10, as ordens monásticas e mendicantes posteriores, como os cistercienses, os albigenses, os franciscamos, os valdenses. A própria Reforma Protestante! Todos movimentos reagentes contra algum aspecto da Igreja considerado inapropriado. Reações contra a “Instituição” Igreja, nunca, jamais, contra o “organismo” Igreja, o Corpo.
Hoje vemos a igreja orgânica, a igreja emergente, o movimento de volta à Bíblia (um pouco mais antigo), o movimento de igrejas nos lares. Todos movimentos promovidos por alguns cristãos que, cansados do abuso do poder, do enfraquecimento ou ausência total do ensino, do enriquecimento às expensas do evangelho e às custas da ingenuidade, da falta de oportunidade para manifestarem-se, criaram coragem para romper com o modelo vigente. E é isto o que os movimento são: reação contra a atual situação.
Quem pensa que o problema está na Igreja, nunca entendeu o que a Igreja é! A Igreja não tem problemas, vai bem, obrigado. Quem tem problema é a instituição feudalizada por alguns papas evangélicos. O problema está na “república da igreja” com seus coronéis, com seus políticos, com seus lobistas. A instituição Igreja, desde Constantino, tem problemas, porque sua base de gestão é humana e, ainda que com boas intenções, é pecaminosa, imperfeita e falível. Isso também não é privilégio cristão, pois desde a eleição de Saul para rei em Israel é que banda vem tocando desafinada.
Já a Igreja de Cristo, essa segue com vento à favor. A Igreja não é, nem jamais será, atingida por textos de blogueiros, por livros de autores agoniados, por declarações de cristãos desconfortáveis e deslocados. A Igreja, o organismo, o Corpo cuja cabeça é Cristo, está acima de tudo e de todos. Ela continua socorrendo os doentes, amparando os cansados, aliviando os oprimidos, porque ela é o templo que Jesus disse ergueria em três dias tendo a si mesmo como fundamento. Esta é a verdadeira Igreja.
Muitos desses movimentos são legítimos, até mesmo necessários, fundamentais eu diria, para que a Instituição, os “papas” e mesmo a membresia revejam seus dogmas desalinhados das Escrituras, suas liturgias engessadas e excessivamente formais, sua falta de caminhada pelo Caminho. Mas quem confunde instituição com organismo também confunde manequim com modelo, Lei com Graça... e aí a questão é semântica, de analfabetismo espiritual, teológico e bíblico.
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A graça divina é mal compreendida?
Prezado leitor, com este post quero iniciar alguns textos “mal escritos” (como se dizia no tempo de meu pai), sobre os vários aspectos da graça de Deus. Pretendo tocar em questões teológicas, práticas e pessoais. É uma pretensão.
Há alguns anos li – e recomendo – O Despertar da Graça, de Charles Swindoll (hoje publicado pela Mundo Cristão). Eu contava uns poucos anos como cristão e fiquei impressionado com o livro. Jamais havia lido, nem ao menos ouvido uma pregação sobre o tema da graça. Mudou minha visão sobre o cristianismo, sobre a igreja, sobre Deus, sobre Jesus Cristo e o nosso relacionamento com cada um desses elementos.
Inegavelmente necessitamos mais da graça de Deus hoje. Estamos embalados num ritmo de vida alucinante e isso está afetando diretamente a qualidade das nossas relações com as pessoas, com a nossa família, com as coisas que têm maior valor. Precisamos de graça. Quero ser um escritor que aborde fartamente a graça; também quero pregar mais a graça de Deus.
É por ela que somos salvos! (...) vocês são salvos pela graça (...) e isto não vem de vocês, é dom de Deus. (Efésios 2.8) É isso o que quero dizer. E serei rígido nesse propósito.
A apologética é necessária, a sistemática também, a teologia toda é boa, saudável e nós gostamos dela. Mas quero falar mais da graça, pois as pessoas precisam dela e precisam conhecê-la melhor.
Há alguns anos li – e recomendo – O Despertar da Graça, de Charles Swindoll (hoje publicado pela Mundo Cristão). Eu contava uns poucos anos como cristão e fiquei impressionado com o livro. Jamais havia lido, nem ao menos ouvido uma pregação sobre o tema da graça. Mudou minha visão sobre o cristianismo, sobre a igreja, sobre Deus, sobre Jesus Cristo e o nosso relacionamento com cada um desses elementos.
Inegavelmente necessitamos mais da graça de Deus hoje. Estamos embalados num ritmo de vida alucinante e isso está afetando diretamente a qualidade das nossas relações com as pessoas, com a nossa família, com as coisas que têm maior valor. Precisamos de graça. Quero ser um escritor que aborde fartamente a graça; também quero pregar mais a graça de Deus.
É por ela que somos salvos! (...) vocês são salvos pela graça (...) e isto não vem de vocês, é dom de Deus. (Efésios 2.8) É isso o que quero dizer. E serei rígido nesse propósito.
A apologética é necessária, a sistemática também, a teologia toda é boa, saudável e nós gostamos dela. Mas quero falar mais da graça, pois as pessoas precisam dela e precisam conhecê-la melhor.
A família na pós-modernidade - uma instituição falida?
Há alguns anos conheci uma família tipicamente moderna: pai, mãe e dois filhos, dois rapazes. Família rica do ramo agropecuário, o pai começou a vida com parcos recursos, mas havia vencido nos negócios. Vencido aparentemente, pois havia uma profunda rotura nos relacionamentos familiares. Problema básico: predileção. A mãe, mulher firme em suas posições, desmanchava-se toda pelo caçula enquanto que o pai apostava suas fichas no mais velho, certamente por entender que a sucessão dos negócios seria coisa da alçada do primogênito.
Além dos sentimentos distintos entre aquele pai e aquela mãe – desde quando ainda eram solteiros, ambos também divergiam quanto ao princípio orientador de suas ações. O homem era orientado por princípios religiosos tanto em decisões pessoais, familiares, profissionais como sociais. A mulher, pragmática, dirigia sua vida e todas as decisões que tomava por aquilo que “funcionava bem” e que a fazia atingir seus objetivos.
Apesar de toda a segurança financeira que cercava aquela família e expectativas de um crescimento ainda maior a curto e médio prazos, uma trágica separação foi a causa da sua ruína. A antecipação de um pedido de herança pôs tudo a perder, dissolvendo os laços mais apertados entre a mãe e seu filho predileto, entre o jovem e seu pai. O rapaz saiu de casa e nunca mais foi visto pela mãe, nem mesmo por seu pai.
O relacionamento entre os irmão foi afetado; o mais velho sofreu distúrbios emocionais e nutriu desejo de morte contra pelo irmão. O caçula mudou-se para longe da família e recomeçou a vida do zero, longe dos recursos abundantes que seus pais dispunham. O pragmatismo daquela mãe não foi eficiente a ponto de fornecer-lhe ferramentas na antecipação de crises, na moderação de interesses, na solução de conflitos e o resultado você tomou conhecimento aqui.
Ao abrir a sua Bíblia em Gênesis 27 você poderá ler essa história na íntegra, com todos os detalhes e outros que certamente não notei. Pode parecer uma história dos nossos dias, e de fato é, pois não é raro as pessoas enfrentarem problemas tais. Os ingredientes da história estão todos ao nosso redor. Famílias existem desde tempos remotos e provavelmente elas ainda são a única instituição que funciona bem sem modificações de qualquer natureza; desde que foi criada no Éden ela existe e subsiste nos mesmos moldes.
Mas alguma coisa não fecha direito nessa conta. Famílias existem sim, mas funcionam? O relato que fiz mostra uma família que viveu há 4 mil anos cuja engrenagem já apresentava problemas. Podemos então entender que a família em todos os tempos apresenta problemas? O que é a família na pós-modernidade? O que é a pós-modernidade? Vamos começar pela última questão: O que é a pós-modernidade?
Alguns estudiosos têm datado o rito de passagem da modernidade para a pós-modernidade na noite de 9 de novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim, depois de 28 anos de existência. Tal evento seria o delimitador do fim de uma era de totalitarismos que deu acesso ao novo modo de estabelecer fronteiras, não mais pelos limites geográficos, mas pelos ideais tribais, onde cada tribo possui seus próprios sistemas de valores e crenças – via de regra relativos.
Absoluto é uma expressão herege no vocabulário da pós-modernidade. Enquanto no modernismo a verdade da religião cristã era atacada, no pós-modernismo vigora a negação da existência de uma verdade absoluta e persiste uma artilharia contra todas as visões de mundo estabelecidas. A verdade não é a questão. A questão é o poder.(1) Quando se diz que determinada premissa é verdadeira e válida, o pós-modernista pergunta: – Ela é verdadeira e válida para quem? O que é ou pode ser verdade para uns, pode não ser para outros. A relativização da verdade e dos absolutos capacita e dá poder a minorias antes excluídas. Esse é um postulado da pós-modernidade. Dessa forma são dissolvidos os antigos pólos de poder e criados novos nichos de resistência e a hierarquia é desconstruída e substituída pelas comunidades ou pelas tribos onde prevalecem os valores relativos.
Ao empunhar a bandeira da igualdade ou da exaltação das minorias, o pós-modernismo o faz em detrimento de valores fundamentais para sustentação das próprias relações sociais. Dizer que não há verdade absoluta abre as portas para tudo o que de ruim o ser humano puder conceber. Se não há uma verdade absoluta então eu posso cometer crimes, posso invadir propriedades, posso corromper e ser corrompido, posso desviar recursos. Quem dirá o que pode e o que não pode ser feito? Pode ser que para você isso soe amargo, ilegal, mas se não há um absoluto, vamos em frente!
A matéria que condensa a família em qualquer sociedade conhecida, dirigida por qualquer que seja seu sistema de valores é de natureza absoluta. Família é a comunhão entre pai, mãe e filhos e muito mais que isso. Família é participação e não partilha; família é relacionamento e não rejeição; família é a busca por alvos em comum e não caça de interesses pessoais ou individuais. Observe as famílias que, em todas as épocas, em todas as culturas, se saíram bem na arte de permanecerem unidas. A receita é a mesma, os valores são os mesmos, com uma pequena distinção aqui e outra ali. O tempo passa, os costumes mudam, mas o eixo em torno do qual gira a manutenção de uma família não varia. E do que é composto esse eixo?
Família são seres semelhantes, da mesma espécie, que se unem para procriar? Do ponto de vista biológico sim. Portanto, necessitamos irremediavelmente um homem e uma mulher; os filhos virão naturalmente. Fora desse tripé pai-mãe-filhos não existe família; procure outro nome que denomine um agrupamento diferente desse.
Família não é partilha, mas participação. Rebeca errou (e poderia ter sido Abraão ou um dos filhos) quando procurou seus próprios interesses e os interesses de Jacó. Ela recusou a participação dos demais integrantes de sua família nos rumos de suas vidas. Ela quis partilhar os bens e partilhou seu bem maior: a família.
Família não é rejeição, mas relacionamento. Até mesmo na natureza selvagem, entre os animais, é possível notar como vivem os bandos ou mesmo as famílias. Elas caçam juntas, migram juntas, vivem juntas. O diálogo, para a espécie humana, é o fio condutor dos principais relacionamentos. Na pós-modernidade ou em qualquer outro período é preciso estabelecer o diálogo como vínculo de solidificação dos relacionamentos familiares. Olhar nos olhos e dizer e sentir que foi compreendido.
A pós-modernidade procura a desconstrução da linguagem, relativizando o próprio significado dos discursos. O termo família pode significar pai-mãe-filhos para os cristãos – dizem – mas quem disse que “pai” significa para uns o mesmo que significa para outros? Tudo é relativo – dizem. Mas experimente trancar num quarto um casal homossexual e abrir a porta nove meses depois à procura de uma família. Enquanto “pai” significar o que diz o Aurélio, a família será feita à base de relacionamentos saudáveis, biológicos e naturais entre pai-mãe-filhos. Enquanto houver diálogo esse relacionamento perdurará.
Família não é a caça de interesses pessoais ou individuais, mas a busca por alvos em comum. Essa atividade comum à família na busca do interesse mútuo é tangenciada por considerações ou questões pragmáticas quanto aos alvos: O que estamos tentando fazer? Ou aos valores: Isso está funcionando da maneira que deve? Só a resposta a essas perguntas pode dizer algo sobre a validade da ação, da busca. Isso nos leva de volta à questão da necessidade dos absolutos: O que é bom para todos na família?
Quando questionamos sobre o que é melhor para o maior número de pessoas entramos numa das grandes questões da ética universal. Sabendo que a base filosófica do pós-modernismo é o existencialismo, é possível avistar a luz no fim deste texto. O existencialismo ou humanismo existencialista teve início no século XIX com o dinamarquês Søren Kierkegaard. A popularização ou massificação desse modo de ver o mundo e as coisas que nele há se deu após a Segunda Guerra, com os escritos dos franceses Camus e Sartre. O existencialismo humanista faz declarações tipo: A vida não tem qualquer significado; O ser humano foi empurrado para dentro dessa existência sem conhecimento de suas origens; Não existe deus acima do homem; O homem vale as idéias que descobre e os valores que adota; O homem é fundamentalmente miserável (2) entre outras “pérolas” do negativismo.
Essa forma de ver o mundo, essa filosofia existencialista é que empurra e sustenta o comportamento das pessoas na pós-modernidade. As pessoas na pós-modernidade não acreditam na vida, não têm interesse pelo semelhante, não parecem estar em busca de respostas à pergunta alguma. O isolamento, o afastamento e até mesmo o suicídio (que faz parte do discurso existencialista) são componentes do céu que cobre os simpatizantes da pós-modernidade.
A família, de fato, não é um projeto para pessoas assim. A família é uma arriscada aventura para os pós-modernistas e um risco para a pós-modernidade porque ela agrega, reúne, convida a juntar-se e promove VIDA! É preciso querer viver para pertencer a uma família. Veja as crianças que são abandonadas numa caixa de sapato, dentro de um latão de lixo. A TV divulga a notícia e logo aparecem famílias querendo adotá-la. Por quê? Porque ela não morreu: sobreviveu; não se isolou: chorou alto; não negou a existência de Deus: aguardou a providência que ele estava preparando. Nada sobrevive sem pessoas que crêem na vida e pessoas existem porque famílias existem.
Temos, então que mudar o título do capítulo: A pós-modernidade frente à família: uma instituição falida?
(1) Gene Edward Veith, Jr. Tempos pós-modernos. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1999.
(2) Howard Mumma. Camus e o teólogo. São Paulo: Carrenho Editorial, 2002.
Artigo publicado na Revista Lar Cristão.
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A igreja e a escravidão
A sede da igreja onde congrego fica no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Este é o mesmo “bom retiro” onde bolivianos e outros latinos são escravizados pela indústria da moda, em oficinas de confecção. A imprensa paulista já fez reportagens sobre esse crime medieval cometido em pleno século 21, mas pouquíssima coisa mudou, salvo algumas ações das grandes lojas de departamentos que passaram a evitar fornecedores que não cumprirem determinadas agendas de certificação na sua cadeia de produção.
Sempre me incomodou o fato de nenhuma ação ser feita por nossa igreja, nem pelas igrejas vizinhas (e não são poucas), para atacar essa barbárie. Nenhum folheto, nenhuma pregação, nada. Estamos alienados. Pouco importa o crime, menos ainda o estado escravo no qual dezenas de famílias se encontram, muitas delas, inclusive, frequentam em nossa igreja os cultos no seu idioma.
Lembro que Paulo pregou no mercado de Atenas, a sede das novas “ideias” daquela cultura. Ele bombardeou a fonte de superstições dos gregos. Pregou também em Éfeso e arruinou o comércio em torno da deusa Diana. Simão, o feiticeiro, também teve que procurar emprego decente depois da pregação de Filipe.
Bem, o que quero discutir é se a igreja deve ou não envolver-se nesse tipo de questão. O Pacto de Lausane advoga a ação da igreja em ambas as áreas, evangelística – a ação primeira da igreja e para muitos a sua única e legítima função – e a ação social, voltada para o aspecto integral do homem.
Talvez a sua igreja não tenha escravidão no entorno, mas certamente há outro ou outros problemas sociais, econômicos, morais ou mesmo um problema cuja ação do evangelho pode intervir diretamente na causa, provendo restauração e cura, libertação, salvação e novidade de vida.
Sempre me incomodou o fato de nenhuma ação ser feita por nossa igreja, nem pelas igrejas vizinhas (e não são poucas), para atacar essa barbárie. Nenhum folheto, nenhuma pregação, nada. Estamos alienados. Pouco importa o crime, menos ainda o estado escravo no qual dezenas de famílias se encontram, muitas delas, inclusive, frequentam em nossa igreja os cultos no seu idioma.
Lembro que Paulo pregou no mercado de Atenas, a sede das novas “ideias” daquela cultura. Ele bombardeou a fonte de superstições dos gregos. Pregou também em Éfeso e arruinou o comércio em torno da deusa Diana. Simão, o feiticeiro, também teve que procurar emprego decente depois da pregação de Filipe.
Bem, o que quero discutir é se a igreja deve ou não envolver-se nesse tipo de questão. O Pacto de Lausane advoga a ação da igreja em ambas as áreas, evangelística – a ação primeira da igreja e para muitos a sua única e legítima função – e a ação social, voltada para o aspecto integral do homem.
Talvez a sua igreja não tenha escravidão no entorno, mas certamente há outro ou outros problemas sociais, econômicos, morais ou mesmo um problema cuja ação do evangelho pode intervir diretamente na causa, provendo restauração e cura, libertação, salvação e novidade de vida.
Tchau, teologia! Vai com Deus...
Jesus respondeu: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!”
A história da Igreja ensina que as diferenças de opinião sobre modos de interpretação (abordagens) e doutrinas (posicionamentos) sempre ocorreram. A novidade nos últimos anos é que os cristãos não mais divergem sobre abordagens nem sobre posicionamentos, porque nada sabem sobre a Bíblia nem sobre teologia. A maioria dos cristãos não considera a teologia e suas doutrinas algo importante, relevante e nem de aplicação prática em suas vidas.
Nas igrejas (e reuniões informais dos “sem-igreja”), no entanto, todos querem acertar o alvo e se darem bem. Mas como isso acontecerá, se não conhecem a proposta bíblica? O clímax da afirmação acima, feita por Jesus, é que nós “erramos”, e ele dá o motivo: por falta de conhecimento. Vincent Cheung em sua obra diz que “não há propósito maior para o homem senão o de conhecer a Deus”, e, “visto que Deus se revelou através da Escritura, conhecer a Escritura é conhecê-lo, e isto significa estudar teologia”. Isso não significa, necessariamente, matricular-se numa escola de teologia.
Até para servir a Deus em nossas “igrejas de bairro” necessitamos, ao menos, de uma teologia “funcional”, formulações para que nosso serviço seja feito de acordo a Palavra de Deus. Nada pode ser realizado na vida espiritual cristã sem a mínima noção de teologia: não podemos crer, não podemos evangelizar, não podemos pregar, não podemos ensinar, não podemos nem orar sem conhecimento teológico!
Em Romanos 10.13-15a há, por exemplo, uma proposição teológica: “Porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (NVI). Em outras palavras, é preciso aprender a verdade de Deus para pregá-la e levar outros a crer.
Alguém pode não gostar de teologia sistemática (Cristologia, Harmatiologia, Escatologia), mas precisa ao menos da teologia bíblica (do Antigo Testamento ou do Novo Testamento, ou a dos apóstolos – João, Lucas, Paulo, Pedro). A Teologia, portanto, é inevitável. A questão então se torna: Sua Teologia é correta?
A Teologia equivocada leva inevitavelmente ao desastre espiritual (e a outros desastres também!). Há grupos que, por não formularem corretamente uma teologia básica, chegam a negar a existência de Deus. Outros formulam conceitos errados sobre Jesus e sua divindade, e assim invalidam a sua obra eficaz. Também há formulações erradas sobre o Espírito Santo e sobre as Escrituras, como Jesus advertiu no versículo acima.
Há exemplos clássicos de erros por causa do desconhecimento das Escrituras e da Teologia:
- Jesus nunca disse: “De mil passarás, a dois mil não chegarás”, como alguns dizem
- A reencarnação não existe, mas sim a ressurreição
- Jesus também nunca disse: “Não cai uma folha de uma árvore sem que Deus não saiba”
- Jesus nunca disse aos perdidos: “Eis que estou à porta e bato...”. Ele disse isso à Igreja (a cristãos!).
Há uma lista que poderia ser relacionada aqui. Uma lista não, algumas boas páginas!
Diante da necessidade do estudo das Escrituras e visto que estudar as Escrituras é procurar conhecer a Deus para servi-lo melhor e sem erros, a Teologia é a maneira mais segura de preparar nossa vida espiritual para que seja uma vida de acertos constantes. Você pode programar-se para o estudo da Palavra de Deus se sentir em seu coração que ama o Senhor e quer melhorar o seu conhecimento a respeito dele e o seu relacionamento pessoal com o Senhor Jesus. Mas negar-se a conhecê-lo melhor e conhecer a Palavra que testifica a seu respeito é garantia de erros e afastamento. Quem dá adeus ao estudo das Escrituras não vai com Deus...
Contribua com a “minha” incompetência
O programa de rádio começou assim: “– A paz do Senhor. Não, eu não deveria desejar a paz, porque vocês não depositaram nem 30% do valor do programa; nem R$ 5,00 vocês podem depositar?” Na outra banda, o programa na TV mantém os dados bancários e a indesejável solicitação: “Ajude-nos. Seja um mantenedor do nosso programa”. Há outros apelos piores.
Se existe algo que envergonha a muitos cristãos é a “pedição” de dinheiro para manter programas de rádio e TV. Por que alguém pediria recursos para essa ação “evangelística”? Porque não é do ramo, não sabe planejar – e pior, é incompetente.
Veja programas no rádio e na TV que não são para o público cristão. Eles são bons, têm qualidade, são organizados, alcançam o público-alvo, dão IBOPE e vendem o produto. Por quê? Porque alguém sabe montar o projeto, alguém planeja, sabe prever crescimento e sai da cadeira para ir atrás de patrocinadores (e muitos desses patrocinadores até mesmo ajudam no planejamento das ações do programa com seus especialistas).
Mas os pastores e apóstolos midiáticos não. Eles querem comer camarão a preço de arroz com feijão. Primeiro contratam um horário no rádio ou na TV, sem planejamento, “tudo pela fé”, e depois colocam a culpa da sua desorganização, da sua fantasia, da sua falta de responsabilidade (e mais uma porção de adjetivos) nos ouvintes e telespectadores – se é que os têm. E fazem isso em rede nacional, lavando roupa suja ao vivo – e muitas vezes a cores. É lamentável, é vergonhoso.
Eu penso que não há necessidade de todas as igrejas serem representadas no rádio e na TV. Noventa por cento dos casos é o “apresentador-pastor” que quer aparecer, equiparar-se com o outro que está no ar, ou mesmo querem aumentar o rebanho para faturarem mais. Qual programa desses, que está na TV, pode ser rotulado de evangelístico? Nenhum! Todos são programetes de crente para crente. Alguns estão na TV para lavarem roupa suja da denominação, para falarem e serem ouvidos sem que a outra parte tenha direito a resposta. É uma aula de falta de amor e de falta de civilidade. Pessoalmente, fico envergonhado. Fico como avestruz, com vontade de enfiar a cabeça na terra. A falta de união fica evidente e isso é desserviço ao evangelho, não evangelização. Perdemos almas com isso, não as ganhamos. Ganhamos antipatia da população mais atenta e perdemos moral diante de todos. Se a pastorada quer pregar o evangelho, que comece organizando a própria casa (a igreja e a doméstica também).
Encher os templos com visitantes convidados no ar pode indicar outra deficiência: a falta de programas de discipulado, de treinamento, de ensino. Essas igrejas não têm essa preocupação, pois estão completamente dependentes de recursos midiáticos para manter os bancos de suas igrejas lotados. “Sai um, Deus manda outro”, dizem.
Quem quiser ajudar esses pastores a fazer a coisa certa, que pare de contribuir com a incompetência deles. Apóie iniciativas sérias. Nas igrejas há bons profissionais do ramo, estrategistas, especialistas em planejamento, em mídias sociais, que poderiam ser aproveitados com a finalidade de melhorar a apresentação do evangelho, quando essa for de fato a proposta. Do contrário, atenda ao apelo do pastor: “Financie a minha incompetência. Deposite agora mesmo a sua contribuição”.
Se existe algo que envergonha a muitos cristãos é a “pedição” de dinheiro para manter programas de rádio e TV. Por que alguém pediria recursos para essa ação “evangelística”? Porque não é do ramo, não sabe planejar – e pior, é incompetente.
Veja programas no rádio e na TV que não são para o público cristão. Eles são bons, têm qualidade, são organizados, alcançam o público-alvo, dão IBOPE e vendem o produto. Por quê? Porque alguém sabe montar o projeto, alguém planeja, sabe prever crescimento e sai da cadeira para ir atrás de patrocinadores (e muitos desses patrocinadores até mesmo ajudam no planejamento das ações do programa com seus especialistas).
Mas os pastores e apóstolos midiáticos não. Eles querem comer camarão a preço de arroz com feijão. Primeiro contratam um horário no rádio ou na TV, sem planejamento, “tudo pela fé”, e depois colocam a culpa da sua desorganização, da sua fantasia, da sua falta de responsabilidade (e mais uma porção de adjetivos) nos ouvintes e telespectadores – se é que os têm. E fazem isso em rede nacional, lavando roupa suja ao vivo – e muitas vezes a cores. É lamentável, é vergonhoso.
Eu penso que não há necessidade de todas as igrejas serem representadas no rádio e na TV. Noventa por cento dos casos é o “apresentador-pastor” que quer aparecer, equiparar-se com o outro que está no ar, ou mesmo querem aumentar o rebanho para faturarem mais. Qual programa desses, que está na TV, pode ser rotulado de evangelístico? Nenhum! Todos são programetes de crente para crente. Alguns estão na TV para lavarem roupa suja da denominação, para falarem e serem ouvidos sem que a outra parte tenha direito a resposta. É uma aula de falta de amor e de falta de civilidade. Pessoalmente, fico envergonhado. Fico como avestruz, com vontade de enfiar a cabeça na terra. A falta de união fica evidente e isso é desserviço ao evangelho, não evangelização. Perdemos almas com isso, não as ganhamos. Ganhamos antipatia da população mais atenta e perdemos moral diante de todos. Se a pastorada quer pregar o evangelho, que comece organizando a própria casa (a igreja e a doméstica também).
Encher os templos com visitantes convidados no ar pode indicar outra deficiência: a falta de programas de discipulado, de treinamento, de ensino. Essas igrejas não têm essa preocupação, pois estão completamente dependentes de recursos midiáticos para manter os bancos de suas igrejas lotados. “Sai um, Deus manda outro”, dizem.
Quem quiser ajudar esses pastores a fazer a coisa certa, que pare de contribuir com a incompetência deles. Apóie iniciativas sérias. Nas igrejas há bons profissionais do ramo, estrategistas, especialistas em planejamento, em mídias sociais, que poderiam ser aproveitados com a finalidade de melhorar a apresentação do evangelho, quando essa for de fato a proposta. Do contrário, atenda ao apelo do pastor: “Financie a minha incompetência. Deposite agora mesmo a sua contribuição”.
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