terça-feira, 8 de junho de 2010

Que erro você comete, heresia, fundamentalismo ou ortodoxia?


Escrevi no Twitter, dia desses, que “a heresia é tão perniciosa quanto o fundamentalismo”. Quero apenas pautar o tema.


No universo teológico, convencionou-se classificar três grupos, a saber, hereges, ortodoxos e fundamentalistas. Os autodenominados ortodoxos são aqueles que estão no poder e que, por isso, escrevem a história. Eles têm a “posse” da verdade, a detêm(1). E isso fazem segundo quem ou seguindo qual parâmetro? Segundo eles próprios e seguindo os parâmetros que a própria ortodoxia definiu, a partir das verificações e interpretações da verdade, amparados pela tradição.

Por conta desses privilégios, os ortodoxos podem dizer quem são os hereges. Geralmente estes são os que não concordam com a ortodoxia daqueles. Lutero, Calvino, Knox e dezenas de homens de Deus, num dado momento da história e por determinado ponto de vista foram, todos, hereges. Rubem Alves diz que o herege é herege até tornar-se maioria dominante. A partir daí passa a ser ortodoxo. Assim, o que é “heresia” em determinada época ou estação pode não ser em outra ocasião (nem mesmo quando assim foi rotulado). E há que considerar também que, do ponto de vista do herege, o ortodoxo é igualmente herege. Por décadas, por exemplo, os “tradicionais” rotulavam de hereges os “pentecostais”. Há diversos outros casos no meio cristão no qual se apontam mutuamente.

Restou o fundamentalismo, tão pernicioso, tão anormal e amorfo quando a heresia. Essa posição é o retrato em branco e preto do que a heresia é. É o avesso, e como avesso, errado em sua posição. Dizemos que “Deus não dá asas a cobra”, mas o fundamentalismo é a cobra que engoliu a pomba pensando poder voar com ela no estômago. Matou a pomba e ficou no chão. Não voou e não deixou voar. É perverso o fundamentalismo.

Assim, que resta? Não resta, apenas basta. Basta a cada um olhar para Cristo, autor e consumador da fé (Hb 12.1,2) e procurar imitá-lo, à exemplo de Paulo (1co 11.1) e entrar pelo caminho que conduz ao Pai (Jo 14.6). A apologia, então, não presta para nada? Sim, mas isso é assunto para outro artigo.

(1) Ênio R. Mueller diz que a verdade não é um bem do qual eu me aproprio, mas um caminho o qual eu trilho. Acrescento que, à medida em que caminho pela verdade, vislumbro cenários e paisagens diferentes, ou seja, vejo a vida e seus componentes, a partir da verdade, de modos diferentes.

3 comentários:

  1. Magno, desculpe a minha ignorância, mas preciso de um pouco mais para eu poder entender. Fundamentalismo é um dos palavrões da moda, mas nem todos o usam da mesma forma. Quando vc fala em fundamentalismo refere-se exatamente a quê? Àquela primeira reação ao liberalismo teológico ou algum momento posterior? Se sim, qual?
    Outra vez perdoe minha ignorância, mas, seguindo o conselho daquele educador estadunidense, nunca concordo sem antes entender, pois seria vão, e nunca discordo sem compreender, seria leviano.
    Abç.
    @fgenciano

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  2. Francisco, obrigado por levantar a questão. O fundamentalismo referido no texto é aquele que faz da confissão de fé o próprio cristianismo ou, ainda,faz de uma abordagem teológica uma doutrina genuína. Espero ter respondido. abraço.

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