Que fique claro aos teólogos de plantão que não acredito ser possível identificar com exatidão qual das montanhas da cordilheira do Sinai foi escalada por Moisés. Ainda que a Igreja Católica tenha edificado uma capela num de seus cumes, ninguém pode fazer uma afirmação categórica sobre a questão. Mas vamos às lições.
Saímos do hotel às 0h30 para iniciarmos a subida trinta minutos depois, guiados por um rapaz beduíno, povo que vive no deserto e explora a região, com anuência do governo do Egito, atuando como guias e vendendo artesanato.
Éramos 23 pessoas, homens e mulheres, uns mais jovens e outros nem tanto. Inicialmente ficou combinado que um pastor iria atrás do grupo e eu à frente, imediatamente atrás do beduíno. Isso fez muita diferença, pois já no início da subida pude observar como esse beduíno, que nasceu e viverá toda a sua vida no deserto, faz para deslocar-se no escuro, em meio a pedras num terreno irregular, e encarar uma subida de mais de sete mil metros de caminhada!
O beduíno não anda em linha reta encurtando o caminho. Ele anda – isso sim – em ritmo constante, mas procura caminhos que não exijam esforço extra. Seu caminhar é ritmado, constante no trocar seus passos e com isso se tornam mais desenvoltos.
Lição 1: na vida cristã, na jornada da fé, não procure subir rápido, não procure chegar antes e não acelere o passo enquanto desfruta mais fôlego. Sendo constante, ritmado e desviando de pedras e degraus mais altos que exigem uma arrancada desnecessária, você fará esforço apropriado e chegará bem e saudável ao alto do monte.
A quinze minutos do pé do Sinai há um hotel que os peregrinos usam como base. No lobby do hotel há lojas e duas delas alugam ou vendem luvas, gorros e cajados. Aluguei um, pois se o pessoal local indica é porque alguma função devem ter.
E de fato têm. Na subida do monte o cajado ou a vara, pouco maior que uma bengala, ajuda a se equilibrar quando pisamos em falso, seja numa pedra, seja num degrau ou em tantas outras coisas que podem ser encontradas no caminho. Aquela vara ajuda também como apoio e reduz o esforço feito pelas pernas, já que parte do impulso pode ser concentrada nos braços.
Na descida, fiquei impressionado como aquela peça foi útil! Todo o peso do corpo recai nos joelhos, já cansados da longa subida. Mas a vara, além de ajudar também no equilíbrio ao descer, serve como freio para os joelhos já vacilantes.
Lição 2: o apoio do cajado na trilha cristã, o alívio na subida e o controle na descida nunca devem ser descartados. Penso que o salmista tinha exatamente isso em mente quando escreveu: “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.” (Salmo 23.4, ênfase minha)
E a última lição. Embora tenhamos combinado quem iria à frente e quem seria o último no grupo, fizemos vários revezamentos, alternando nossas posições a fim de que um avançasse e outro descansasse e vice-versa. Hora eu seguia os passos do guia beduíno, hora eu esperava alguma irmã mais cansada a recobrar o fôlego. No final, todo o grupo chegou bem ao cume do monte e pudemos apreciar o raiar do sol, que é um dos objetivos perseguidos por todos quantos sobem o Sinai: chegar a tempo de ver o sol nascer.
Lição 3: a noção que o apóstolo Paulo nos dá de que somos membros uns dos outros (1Co 12) jamais pode ser esquecida. Nem mesmo um líder, tendo sido destacado para estar à frente do rebanho, pode deixar de entender que nem sempre deverá estar à frente. Para que todos cheguemos ao objetivo proposto, sem que ninguém seja deixado para trás, há que haver alternância de posições de acordo com as demandas da ocasião. Ninguém é tão ilustre que possa ser dispensado de lavar os pés dos mais simples. Por isso é preciso perceber o momento de estar à frente, como também o momento de esperar por outros mais vagarosos.
Se você gostou e entendeu essa mensagem, indique a alguém. Embora alguns tenham mais ou menos facilidade, ou estejam mais acima ou mais abaixo na mesma trilha, todos estamos subindo o monte.
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