Este é o terceiro ― e deve ser o último ― artigo sobre o tema da dúvida. No primeiro texto o tema foi proposto e foi feita uma apologia “à boa dúvida”, a dúvida daqueles que perguntam por Deus; no segundo artigo fiz a ressalva esperada sobre a dúvida negativa, o aspecto da dúvida que nos afasta de Deus e nos leva a questionar a sua existência. Neste último texto espero demonstrar que a dúvida é elemento inerente à fé, é um dos passos da fé. A dúvida conduz à fé e é, até mesmo, esperada daqueles que querem e que esperam por um Deus manifesto.
Considere que o “não saber como” algo ocorre é um estado da dúvida. Jó é, talvez, o maior exemplo disso. Os primeiros capítulos de seu livro são registros sem fim de suas dúvidas. Ele não sabe o que se passa, tem perguntas diversas, questionamentos, inquietações. Jó é um ser em dúvida, um crente que duvida.
“Que esperança posso ter se já não tenho forças?” (6.11). “Mostrem-me onde errei” (6.24). “Como pode o homem mortal ser justo diante de Deus?” (9.2). “Como poderei discutir com ele?” (9.14). Essas e muitas outras são dúvidas que povoam o espírito do sofredor Jó e elas se amontoam até que no capítulo 38 Deus se digna responder socraticamente com mais perguntas.
As dúvidas de Jó são a própria encarnação ou a incrustação do elemento positivo da dúvida, que é a força que ela dá a quem possui, movendo-o na busca pela resposta. E essa resposta é Jesus. Quem pergunta por Deus tem a Jesus por resposta. Quem tem dúvidas sobre Deus recebe o Espírito de Cristo como resposta e é por ele convencido da sua realidade e “emanuelidade”.
Para encerrar, outro exemplo conhecido, o africano etíope, eunuco de Candace (At 8.26-39). Veja como duvida aquele homem: “Diga-me, por favor: de quem o profeta está falando? De si próprio ou de outro?” (v. 34). É a dúvida boa, aquela que move o homem à procura por respostas de Deus, pela iluminação que jamais será apagada. A resposta de Filipe descortinou um mundo de possibilidades ao eunuco, fez o seu quebra-cabeças messiânico fazer sentido a alguém alheio à toda a cultura hebraica. Agora, aquele homem duvidoso, era mais entendido sobre a fé messiânica do que qualquer rabino em Jerusalém.
É ou não é boa esta dúvida? Dúvida que inquieta e incomoda, que faz perguntas e quer mais que respostas, quer experiências; quer mais que jargões, quer a racionalidade da fé. “Ainda que ele me mate, nele esperarei!” ― Por que crer assim? Porque se sabe que mesmo morto Jesus nos trará à vida. Creio por que fui convencido, fui convencido porque entendi a oferta e entendi porque um dia, na minha dúvida, perguntei.
A fé faz sentido, mas só faz sentido para aquele que tem dúvida, que pergunta, que inquire. Para os outros ela é rotina, simples hábitos diários, obediência cega em determinados pontos geográficos. Para quem duvida ― e só para esses ― a fé traz respostas, permite apropriar-se da dádiva divina uma vez oferecida e da graça celestial cotidianamente proposta.
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