A palavra sombra é usada para apontar todos os aspectos da lei, dos sacrifícios e toda a tipologia do Antigo Testamento, que teria cumprimento futuro na pessoa, vida e obra de Jesus Cristo. No passado, Deus não removia pecados, mas deixava-os ali, cobertos (Rm 3.25), até que o sacrifício perfeito fosse realizado. Por isso, quando João Batista vê a Jesus, diz que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Os cordeiros usados nos sacrifícios antigos eram sombras do Cordeiro real, perfeito, que removeu definitivamente os pecados. Assim, não sacrificamos mais animais, pois o sacrifício perfeito já foi feito. Preferimos o real à sombra.
Há centenas de figuras tipológicas no Antigo Testamento cujo cumprimento está em Cristo. Eram todas sombras. Veja a tampa da arca, chamada propiciatório (Ex 25.21a), ou seja, um lugar onde o relacionamento entre Deus e o homem se tornava “propício” (Hb 9.11-15; comp. “trono da graça” em Hb 4.14-16 e “lugar de comunhão” em Ex 25.21-22). Mas a tampa da arca, o propiciatório, era sombra do que viria. Por isso João e Paulo referem-se a Cristo como nossa “propiciação” (1Jo 2.2; 4.10; Rm 3.25), pois somente por sua obra o nosso relacionamento com Deus se tornou favorável, propício. A sombra, então, deve desaparecer, já que o verdadeiro significado foi revelado. Preferimos o real à sombra.
Poderia mencionar muitas figuras do Antigo Testamento que eram simplesmente símbolos da realidade, sombra dos benefícios que haviam de vir. O candelabro, por exemplo, provia iluminação dentro do tabernáculo, já que não havia incidência de luz externa em seu interior. Isso significa que a compreensão das coisas de Deus não vem pela iluminação intelectual ou racional, mas pela iluminação dada pelo Espírito de Deus e nada mais. O próprio Jesus disse ser a verdadeira luz (“Eu sou a luz do mundo”. Jo 8.12). Quando Jesus se manifestou ao mundo, não foi preciso usar representações dele, sombras dele, pois o real já estava entre nós e compreendemos o que a sombra queria dizer veladamente.
Por isso, não entendo quando uma Igreja é enfeitada com elementos judaicos, ultrapassados e impróprios para aqueles que dizem já ter a revelação completa de Cristo. Não faz qualquer sentido usar arcas, candelabros, querubins, shofares, celebrar as festas judaicas, nem toda essa parafernália gospel que só deveria ser usada por aqueles que ainda não conhecem a Cristo.
Adotar qualquer desses objetos apenas indica que o real, o verdadeiro, ainda não está ali; por isso é preciso colocar algo no lugar onde o real ainda será manifestado. Adotar qualquer desses objetos ou cerimônias dá a seguinte mensagem: ainda estamos aguardando a revelação daquele que essas coisas representam. Ainda teremos o Cordeiro, ainda seremos propícios a Deus, ainda teremos luz, pois estamos em trevas, nas sombras dos benefícios que hão de vir.
Paulo escreveu a carta aos gálatas para esse fim: dizer que não deveriam retornar aos símbolos do passado, já que o real havia sido manifestado (“Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei”, Gl 3.1-10). E o autor da carta aos hebreus também afirma que a sombra “... nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.” (Hb 10.1). No esforço por melhorar a aparência do culto, muitas igrejas têm dado testemunho de não conhecerem o que estão adorando.
* Para aprofundar-se no tema, sugiro a leitura do meu livro Onde Estava o Cristo. http://www.arteeditorial.com.br/catalogo/shopexd.asp?id=1
Sempre convincente, meu amigo. Você mais uma vez colabora em muito para a verdadeira expressão da fé na nossa realidade. Gosto muito de tudo isto.
ResponderExcluirNo que diz respeito ao candelabro, desde que não seja um objeto litúrgico, não vejo problemas em um elemento deste estar sobre minha estante. Deve pousar ali como qualquer outro elemento decorativo, sem "espiritualização".
Bjos.
Amigo Aécio, concordo plenamente. Elemento litúrgiro é bem diferente de objeto de decoração.
ResponderExcluirObrigado pelo coment.