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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Falando o que não entendemos

A passagem que narra o retorno para Emaús traz um enigma. Dois discípulos caminhando, Jesus ressuscitado aproxima-se e pergunta sobre o que estão falando. Um deles, chamado Cleópas, pergunta ironicamente se Jesus ignora tudo o que havia ocorrido em Jerusalém naqueles dias: prisão, julgamento ilegítimo, crucificação e a própria ressurreição.

No versículo 20 Cleópas acrescenta: “Ele era um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo” (NVI). Em seguida Jesus retruca: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram!” (v 25). Eles não haviam entendido sequer o que os antigos profetas disseram a seu respeito, quanto mais as coisas que Jesus disse, muitas delas por parábolas.

Se gabaram de saberem algo sobre Jesus, mas este afirma que o principal da história havia sido ignorado. O conhecimento íntimo e profundo sobre Jesus vem por meio de nossas próprias experiências com Ele. As experiências e os testemunhos de outros dificilmente nos levam ao aprofundamento da nossa relação com Jesus. No máximo indicam a direção.

Veja como a fala dos discípulos os denuncia. Primeiro, Jesus mesmo diz que eles não o haviam compreendido e, segundo, que embora não compreendessem corretamente (apesar de se gabarem disso), não impediram a Sua morte, mas entristeceram-se por ela. Eles estão condenando os líderes e autoridades do seu país, atribuindo o problema a outros, mas nada falam de si mesmos. Esquecem-se de considerar que a morte de Jesus ocorreu por pecados, e pecados de todos!

Aqueles discípulos não encontravam prazer no que Jesus fez, mas estão entristecidos pelo que Jesus não fez, segundo suas expectativas. Sim, porque as expectativas de muitos judeus que o seguiam era que ele provocasse um levante político, o que definitivamente não era a missão do Messias.

Será que nós também não temos expectativas equivocadas a respeito de Jesus? Será que não temos criado em nossas mente e coração uma imagem artificial, contemporânea e enganosa a respeito dele? Pois se assim for, estamos igualmente no caminho de Emaús, tristes, frustrados, sem perceber o principal componente da missão do Senhor e sem discernir a sua voz.

Criar expectativas erradas sobre o relacionamento com Jesus promove, a médio prazo, decepção, angústia e até revolta, além da clara ignorância. Mais que isso, leva-nos a falar coisas sobre as quais não conhecemos. Muitos de nós esbravejam, impõem, exaltam coisas sobre Jesus e o Cristianismo que de fato não conhecemos. Paulo diz que “em parte conhecemos, em parte profetizamos”.

Precisamos mais um pouco de cautela. Precisamos resgatar algumas disciplinas básicas (primárias até!), a fim de salvar-nos de uma arrogância que impera e grassa, especialmente no coração de quem faz uso da palavra, seja na pregação ou no ensino. Temos falado muito, escrito demais e entendido muito pouco.

Concluindo, o que Jesus fez como um todo não o fez para contemplar apenas um grupo e seus interesses, não importa a característica desse grupo, se de intelectuais ou ignorantes. A Igreja não é apenas a boca do pastor, o braço de quem faz assistência social, as mãos estendidas esperando receber algo ou os pés daquele que prega o evangelho; a Igreja é um corpo e como tal comporta mais do que um simples movimento ou vertente.

Realmente eles não entenderam muita coisa.

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