Quero tocar no tema novamente, mesmo – repito – não tendo procuração nem sendo advogado da Igreja (tratei de um aspecto desse tema no artigo A Semântica da Igreja).
Ao importar os modelos de igreja dos norte-americanos, trouxemos à reboque os problemas culturais e as expectativas dos gringos. Pragmatismo e sua sombra capitalista, Destino Manifesto, o geocentrismo que eles alimentam. Na década de 90, o próprio Carl Sagan em seu livro póstumo O mundo assombrado pelos demônios já apontava a ignorância daquele povo sobre tudo além de suas fronteiras e de seu umbigo.
Muito bem, aceitamos uma carroceria de Ferrari tendo um chassi e motor de Fusca. O sonho e o modelo eram deles, a realidade e a fraqueza eram nossas. As teologias, os modelos de crescimento de igreja, a alegada e incompreendida “Lei da semeadura” que faz enriquecer... tudo! Esse “kit felicidade”, num país pobre, mas emergente, com parte da pretensa liderança cristã ansiosa por poder e dinheiro, não poderia gerar outro tipo de gente e de igreja que essa anomalia que temos visto. Sim, o ajuntamento de crentes nos últimos anos não se configura a Igreja, mas desfigura-se em grupos sociais que precisam encontrar outro rótulo, porque não são crentes em Jesus. João disse que os que são de Cristo devem andar e viver como Ele andou.
Ouvi um pregador dizer: “Hoje vou ensinar o segredo para tirar os tesouros do céu e desfrutar aqui na terraaaaa!”. E “a platéia” aplaudiu! Aplaudiu por quê? Porque não eram cristãos. Se fossem, teriam reconhecido prontamente que a proposta do pregador é anticristã, é antibíblica, já que Jesus ensinou exatamente o contrário: “Não ajuntem aqui... mas no céu”.
A Igreja é a obra que Jesus disse que faria. Ela, a Igreja espiritual, que reúne cristãos, salvos, piedosos, esse organismo místico, invisível, não pode ter problemas, porque ela é a solução para o cansado e sobrecarregado. Igrejas não são denominações, não são programas. Mas as denominações, os moldes humanos, os programas de gestão e expansão, o “show gospel” e tudo o mais que fazemos e implantamos, isso sim tem problemas. Nós é que criamos e mantemos e nos afundamos em problemas, não a Igreja. O problema está em nós e em nossa ambição. A Igreja está bem, sempre esteve, e é com ela que o Senhor fará a sua cerimônia de núpcias; mas os “simpáticos” à Igreja, esses sim é que têm problemas.
Não podemos confundir o organismo espiritual com a instituição humana. Pior: não é justificável sair daqui para ali, pois enquanto estivermos nesse corpo, nada mudará radicalmente. Como Lutero, devemos querer reformar a igreja (instituição humana e temporal) de dentro para fora. Com todo o joio em seu meio, o Senhor ainda está no controle e não autoriza a poda da semente indesejável enquanto Ele mesmo não fizer isso (Mt 13.28-30). O ajuntamento humano é necessário (Hb 10.25) e, segundo Paulo, suportar os fracos é evidência da fraqueza dos fortes (Ef 4.2).
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