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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Rhema: poder adicional?

Desde que foi publicado no Brasil o livro de Paul Yonggi Cho “A Quarta Dimensão”, em 1981, uma safra de livros, artigos, pregações, editoras, ministérios e muito mais tem surgido utilizando a palavra rhema. Com isso, praticamente uma “lenda gospel” se sedimentou em torno da suposta eficácia dessa palavra rhema.

Na página 43 ele diz que “Romanos 10.17 mostra-nos que o material usado para edificar a fé é mais do que simples leitura de Deus: “a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo”. Nesta passagem “palavra” não é logos, mas rhema. A fé, especificamente falando, vem pela pregação da palavra rhema.”

Jesus, chamado o Verbo de Deus (do grego Logos tou Theou) concordaria com essa declaração do autor? Vejamos.

Nos evangelhos, a palavra rhema aparece em

Mateus
12.36: “Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado.”

Marcos 9.32: “Mas eles não entendiam o que ele queria dizer e tinham receio de perguntar-lhe.”

Lucas 2.17 (rématos): “Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino.”

Lucas 2.50 (rēma): “Mas eles não compreenderam o que lhes dizia.”

João 5.47 (rémasin): “Visto, porém, que não creem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?” e

João 6.68 (rémata dzoēs aiōníōn): “Simão Pedro lhe respondeu: ‘Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna’.” Aqui com o significado de palavras de vida eterna.
  Note, em cada um dos versículos, que nada há de tão especial nessas passagens. A palavra rhema é usada em seu modo primário e nas variações gramaticais sem que qualquer indício de ação ou mesmo “geração de fé” ocorra.

Em língua portuguesa temos alguns léxicos, que são obras que trazem o significado das palavras conforme usados em seu contexto original. No caso, como eram usadas pelos autores que escreveram o Novo Testamento. No léxico de GINGRICH e DANKER1 lemos que rhema significa “aquilo que é dito, palavra, dito, expressão”. Esses foram os significados reais conforme usados originalmente. Os autores do Novo Testamento tinham essa compreensão a respeito da palavra rhema. Nada de especial ou excepcional com a palavra. Não se espera, em função disso, um detrimento da outra palavra grega, logos.

Portanto, não se pode imaginar a existência de algum poder sobrenatural que envolva determinadas expressões, ou esperar que a ocorrência de um milagre ou o rompimento de algum obstáculo espiritual ou natural ocorra simplesmente porque Deus deu a alguém “alguma palavra rhema” com esta finalidade.

A Palavra rhema é um dito como outro qualquer, como lemos no léxico e confirmamos nos evangelhos. Se há algo extraordinário acontecendo em nosso meio (e sabemos que há), isso se dá por soberania de Deus. Todos devemos saber isso, mesmo aqueles que não leem o grego. Para isto, se o leitor se der o trabalho de ao menos iniciar a leitura do Evangelho de João, verá que há uma expressão diferente usada pelo apóstolo para descrever a Jesus: Logos. Jesus é o Logos de Deus, a Palavra de Deus.

Ora, se o próprio Jesus inspirou ao apóstolo a descrevê-lo usando logos, por que deveríamos esperar que Jesus decidisse por um termo grego de menos importância ou eficácia? Se rhema fosse, assim, uma palavra tão poderosa como se pretende, acredito que João teria escrito:

“No princípio era o rhema. Ele o rhema estava com Deus, e o rhema era Deus”.

Veja se na sua Bíblia diz isso.



1 GINGRICH, F. Wilbur e DANKER, Frederick W. Léxico do N.T. Grego/Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984.


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