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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nada novo debaixo do sol

A barriga dita as decisões da cabeça

Das histórias que o Antigo Testamento conta, lemos sobre a tomada e conquista hebreia da Terra Prometida. Tomada? Conquista? Não houve tomada nem conquista. Josué conduziu o povo no avanço da invasão, mas após a sua morte, os hebreus, vindos do deserto, “acomodaram-se” entre os povos que lá estavam, sem luta armada nem confronto, como o Salmo 44.1-8 leva a crer.

A tarefa ficou inacabada por décadas e foi registrada em textos como Juízes 1.27-34. Aos poucos os hebreus ocuparam as terras e apropriaram-se da lavoura e dos rebanhos dos povos estabelecidos. Fizeram alianças com uns e submeteram outros à escravidão.

Todos precisavam comer, adultos e crianças, hebreus e cananeus. Os hebreus ignoravam o funcionamento da agricultura, pois no Egito trabalharam em olarias e a jovem geração que entrou em Canaã havia nascido no deserto, onde nada se planta e nada se colhe. Os cananeus, que ocupavam o território, conheciam os métodos agrícolas e confiavam a fartura na colheita aos deuses da terra. Os hebreus, então, logo se curvaram a Baal, deus da fertilidade, encarregado de enviar chuva, tão essencial a agricultura.

Isso é o pragmatismo, faz-se o que funciona, o que é necessário “agora”. E para isso, vale até mesmo celebrar alianças condenadas por Yahweh, o Deus dos hebreus. Em nome das necessidades básicas prementes, a traição ao estatuto recebido por Moisés no Sinai encontra justificativa: os fins justificam os meios. O ideário da nação sacerdotal não enche barriga e não paga as contas; então, viola-se a aliança de sangue que os unia àquele que os removeu escravos e os tornaria senhores da terra.

O resultado, quem leu o livro dos Juízes já conhece. A vida espiritual do povo tornou-se uma roda gigante: ora no céu, ora no limbo. Os altares e sítios idólatras foram os para-raios da assolação que não falhou, resultado previsto nos decretos que o próprio povo concordou em chancelar ainda no deserto. Ora, não conheciam a norma dita por Deus? “Sim, mas precisavam comer”, dirão alguns.

Num bate-papo com um pastor amigo, falando sobre ideologia partidária nas eleições e sobre como o povo não leva em conta os termos que regem cada partido, meu interlocutor, amigo, defendeu o povo que vota no candidato “que faz pelos pobres”. Não importa a ideologia assumida pelo candidato: é preciso saciar a fome acima de tudo. Refletindo sobre esta sua fala, não demorei a lembrar dessa época quando os hebreus, colocando suas necessidades acima da ideologia pagã, assumiram um compromisso que os levaria a uma era de trevas.

A experiência seria repetida séculos mais tarde, no período dos reis de Israel, e o Senhor enviaria profetas para reclamar a falta de conhecimento do povo como razão da própria ruína (Isaias 1.3 e outros). Tudo em nome do utilitarismo e do pragmatismo: é preciso comer, mas isso pode justificar tudo? O Diabo também pode servir pão, mas Jesus advertiu que “nem só de pão viverá o homem” (Mateus 4.4). Há valores que aos cristãos devem considerar inegociáveis.

Se a necessidade o pressiona, se a aparência do novo o atrai, cuidado: não há nada novo debaixo do sol. Nem mesmo o erro de envolver a si, a família, a cidade e a nação numa aliança que viola princípios bíblicos básicos e a ideologia do próprio Cristianismo. Se esse texto reflete o debate eleitoral? Sim. Se estou procurando induzir a um partido específico? Gostaria, mas se o leitor levar em conta a reflexão acima nas suas próximas escolhas importantes, já terei sido recompensado.

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