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sábado, 29 de outubro de 2011

Não acredito em muita coisa

Veja se há alguma razão para comemorar o Dia da Reforma Protestante hoje.

Eu sou editor de livros da Arte Editorial. Tem uns meses que convidei uns figurões para escreverem conjuntamente um livro, que seria publicado pela editora. O tema? A unidade da Igreja no que tange aos pontos em comum das diferentes orientações teológicas. A proposição central seria: "Que pontos devemos/podemos nos esforçar para manter/estabelecer e ressaltar a unidade da Igreja com vistas ao seu fortalecimento?". Jesus mesmo orou para que fôssemos um e disse que por essa unidade seríamos conhecidos pelo que somos.

O que eu pretendia com isso? Tão somente aproximar o que de melhor há em cada ramo do cristianismo protestante evangélico no Brasil, seja reformado, pentecostal, tradicional e mesmo em alguns grupos dentro do neopentecostalismo. Todos os que dizem ter edificado sobre o único fundamento e que celebram os sacramentos do batismo e da santa ceia. Não é isso que sobra depois de elimados os nossos excessos humanos?

Apresentei a proposta a pastores e escritores, desses que se dizem envolvidos e engajados em promover a saúde da Igreja, desses que estão na frente de batalha levantando a bandeira de uma Igreja séria, ética, unida pelos princípios da Reforma, e a outros simpatizantes do movimento de Lausanne.

Via de regra, todos ligados a algum grupo que diz "fazer-alguma-coisa" para que a Igreja de orientação evangelical e reformada tenha novamente a característica de um grupo cristão sério, ético e responsável da perspectiva sócio-política, e relevante. Quando digo "algum grupo", refiro-me a alianças, confrarias, "visões", conselhos e "coisas" como essas que estão virando moda.

E a resposta que obtive? Negativa. Ninguém disposto a "manchar a reputação". Não houve interesse em qualquer forma de aproximação e diálogo. Uns nem retornaram o email. Nada de alianças, nada de aproximações, nada de unidade. Lamento muito.

As críticas a outra parte, no entanto, foram mantidas. Nada de procurar ressaltar algum valor que preste, alguma virtude que valha. Entendi, então, que essa bandeira da unidade, da luta por uma igreja mais ética, mas séria, por uma pregação mais responsável, é uma bandeira rasgada e manchada. Se você não está de um lado, está do outro e então é alvo a ser atingido, atacado. Não há busca por consenso. Não há interesse no diálogo, nem que esse diálogo seja mediado por uma parte neutra, no caso o papel que eu, como editor, desempenharia.

Por isso, quando um desses figurões postou no Tweeter algumas palavras defendendo o seu grupinho, logo respondi que tratava-se de mais uma subdivisão para promover mais distinção, mais sectarismo dentro da Igreja já bastante dividida. Ele se ofendeu, mas sem razão, pelo que expus.

Assim, quando vejo ou ouço discursos apologéticos inflamados nessa direção, tenho grave dificuldade em acreditar que haja alguma disposição honesta em aproximar-se, em esvaziamento de vaidades em prol de algo maior, o Reino. Cristo não está dividido, como afirmou Paulo na carta aos Corintios, mas a liderança da Igreja permanece como há dois mil anos: um seguindo a Paulo, outro a Pedro, outro a Apolo, e o quarto grupo, igualmente partidário e separatista permanece dizendo seguir a Cristo (1Co 3.4).

Estou no Tweeter: @magnopaganelli

Um comentário:

  1. Tenho feito a seguinte pergunta no Twitter: por que os defensores da sã doutrina não parecem incomodados com o fracasso de obediência e ética relacionado à unidade cristã?
    Lamento que a elaboração do livro tenha sido, ao menos, adiada.
    E gostaria muito de saber, no espírito da denúncia profética que levantou homens de Deus no passado, quem são esses figurões. Não porque assim os desprezarei ou terei munições para maledicências, pois, até contundentes provas em contrário, são irmãos, mas sim para que não desperdice meus ouvidos (e olhos) com hipocrisias e falácias estéreis.
    @fgenciano

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