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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A intolerância dos "tolerantes"

Um dos aspectos mais evidentes do discurso teológico liberal recente na América Latina é o clamor pela tolerância. Aliás, o atual discurso da Teologia da Libertação, que inicialmente não deu muitas das respostas que pretende dar hoje e, por influência da posmodernidade, fala muito da tolerância como também da inclusão.

Pois bem, o "judas" da vez é o dito fundamentalismo. Mas fundamentalistas somos todos, já disse alguém. Todo discurso está "fundamentado" em uma ideologia, em uma teologia, em uma sociologia, enfim, todo discurso sustenta-se num fundamento.

O fundamentalismo teológico atacado pelos liberais tem endereço, tem voz e tudo o mais. São instituições, professores e pregadores que herdaram e por isso perpetuam um modo de pensar sistemático e um método de fazer teologia dito hermético e importado. Sim, há muita verdade nisso. Com o crescimento e avanço nas pesquisas lingüísticas, sociológicas, arqueológicas e antropológicas, a teologia sistemática e suas adjacências torna-se mera alternativa, não a única, e por ser alternativa deve ser deixada em seu lugar cumprindo o seu propósito.

Mas o aparato liberal, que proclama a tolerância e a inclusão não cogita dialogar nem admitir em seu meio qualquer herança do passado recente, e nisso se denuncia, pois só o imaginar que o outro está errado já indica intolerância, exatamente a intolerância que os ouvimos reclamar dos... fundamentalistas!

Percebo, então, o quão pernicioso tem sido, não o discurso (talvez), mas o resultado do discurso no coração daqueles que o acolhem. Posso crer que os propaladores desse discurso saibam o que estão afirmando, mas e quanto àqueles que estão recebendo essa fala, essa glossa? Se de fato são pérolas o que os liberais estão dizendo, receio que podem estar sendo jogadas a porcos.

Lembro de quando convalidei meu curso de teologia, ouvi e vi alunos ávidos por chegar a seus humildes pastores locais e constrangê-los com as abordagens da teologia liberal alemã, da crítica da forma e do método histórico-crítico. A troco de quê? E mais recentemente, numa palestra, vi e ouvi um assumido fundamentalista ser zombado e vaiado ao usar seu tempo de direito para questionar o palestrante ao final de sua preleção.

Não são "eles" os tolerantes? Assim, o liberalismo motra sua impotência em promover o respeito ao próximo contido em seu discurso. Que mais ele deve deixar de promover e que eu não tenha visto ou ouvido?

Verdade seja dita, ao menos uma verdade incompleta. À semelhança da acusação contra os ditos fundamentalistas, de que fazem teologia com o coração endurecido e árido, parte dos liberais - senão todos, faz teologia para mentes sedimentadas, que têm dificuldade em permitir o que entra no espírito descer ao coração, descer à alma, a fim de que dê fruto. São igualmente ou mais intolerantes do que aqueles aos quais condenam como sendo os verdadeiros intolerantes.

Qual a diferença, então, entre acusados e acusadores? Penso que a diferença está nos ouvintes, nos "adeptos" de cada escola. Os ouvintes ditos fundamentalistas entendem o que ouvem; os ouvintes dos liberais não sabem do que seus interlocutores estão falando, porque nunca foram afetados nem pelo pernicioso de um discurso hermético que trouxe os fundamentos do cristianismo até nós, nem pela vanguarda de um discurso advindo de um estudo sério, honesto, imparcial e bíblico; estou considerando uma terceira via, a do diálogo.

A bem da verdade, e verdade como a encontramos no Evangelho, os "liberais samaritanos", fazendo frente ao fundamentalismo judaico, perguntaram a Jesus onde era o locus da adoração: "Aqui ou lá devemos cultuar?", ao que Jesus, sempre muito equilibrado, coerente e dialogal saiu-se com um "nem aqui, nem lá, pois o Pai procura verdadeiros adoradores". A resposta não sugeriu um "ficar em cima do muro", mas refletiu o equilíbrio que todos devemos perseguir, e o aprofundamento em questões relevantes e fundamentais do nosso tempo e contexto, que todos devemos aprofundar.

Siga-me no Twitter: @magnopaganelli

Um comentário:

  1. Com todo o respeito às honrosas exceções que existem, a maioria dos ditos teólogos e defensores da liberal teologia da tolerância, são tolerantes mesmo é com o pecado. Sem generalizações, como disse no início.

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