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terça-feira, 14 de junho de 2011

A autoconfiança de Davi (Sl 51.10; 2Sm 11.1-12.25)

Após longo período dependendo da direção e do livramento de Deus, Davi resolveu assumir o controle de suas decisões. Sua vida espiritual foi, então, enfraquecida e ele cometeu torpezas, como adultério e homicídio.


Em 2Samuel 11.25 Davi “brincou” de senhor do destinho, mandando “o mensageiro dizer a Joabe: ‘Não fique preocupado com isso, pois a espada não escolhe a quem devorar”. E ainda insistiu com o mensageiro que encorajasse Joabe”. Em 2Samuel 12.5, quando diz a Natã a sua opinião sobre o caso do homem mal, está ao mesmo tempo declarando que o que vale para os outros não vale para ele.

Depender de Deus não é alienação da realidade, não é irresponsabilidade numa sociedade dinâmica. Depender de Deus é ser sensível à revelação e orientação que Ele dá para nossas vidas e é essa orientação que nos faz ir além das nossas possibilidades! Davi se mostrou autoconfiante, autosuficiente – ele se bastava.

Davi errou também quando tirou férias de suas responsabilidades como rei e férias do seu dever como soldado. Lemos em 2Samuel 12.7 que Deus deu-lhe tudo e se fosse necessário teria dado mais. A vida cristã assemelha-se a isso em certo aspecto: ela não é só atividade, engajamento, mas também não é negação dos deleites e bênçãos terrenas. É saber a hora certa e o tempo de Deus para desfrutá-los e também discernir o que devemos desfrutar e usufruir.

Exemplos de autoconfiança temos em Immanuel Kant (1724-1804), o grande filósofo da modernidade, afirmou: “Age de tal modo que a máxima da tua ação possa sempre valer também como princípio universal de conduta”. Com isso, transformou o homem no “criador” do mundo, da moralidade e das referências válidas. Segundo sua premissa, se nos sentimos tentados a mentir, basta apenas que perguntemos, “Gostaríamos que outros fossem desonestos?”. Também Rubem Alves coloca o homem como referencial, e não Deus, ao dizer: “O pecado não faria sentido se não fossem os estados emocionais dolorosos”. Não, o pecado faz sentido porque ofende o Senhor, não porque sinto-me “emocionalmente dolorido”, como a mentira que ataca frontalmente o Deus que é a Verdade.

Igualmente vemos essa postura em Friedrich Nietzsche (1844-1900) quando diz que não há um mundo verdadeiro: tudo limita-se a uma “aparência de perspectiva” cuja origem está em nós mesmos. Nietzsche sustenta os valores humanos somente à medida que lhes damos valor. Do contrário, nada tem qualquer valor.

É preciso olhar para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12) e tê-lo como referência, pois é a imagem exata e a expressão plena de Deus. Os olhos como sentido humano são a entrada de informação para a alma. O resultado de olhar para o lugar errado o próprio Davi dá – é a “patologia” causada pelo pecado (Sl 32.3): “Enquanto eu mantinha encondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer”.

No entanto, Davi nos mostra porque é conhecido como um homem segundo o coração de Deus. Ele não oferece sacrifícios insignificantes ao Senhor, mas quebranta o seu coração e reconhece os atributos do Senhor. Ele é criador que cria, como algo novo, do nada, que não poderia emergir daquilo que já existia; Deus faz novamente (v. 10). E ainda, no mesmo Salmo 51.14b, diz: “Minha língua aclamará [ou levantará] altamente a tua justiça”. Esse é o louvor que ele dará ao Senhor, resultado de um encontro renovador com aquele que perdoa e apaga as nossas transgressões.

Essa é a riqueza da graça de Deus e do cristianismo: somos pecadores mas conhecemos o Deus perdoador.

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