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terça-feira, 22 de março de 2011

Reforma: quem precisa dela?

É recorrente em muitos de nós a preocupação com os rumos da Igreja, em tudo: na liturgia, na profissão de fé, no testemunho, nas bizarrices e nos ataques tipo "fogo amigo".


Há uns anos escrevi o É cristã a Igreja evangélica (prefaciado por Ariovaldo Ramos) que já era um esboço da maneira como via, na época, parte dos fatos. Critiquei problemas que via em três grandes tradições, mas apontando caminhos. Nada de crítica pela crítica.

Há igrejas e ministérios seguindo seus caminhos, muitos deles bem distantes do que C. S. Lewis chamaria puro e simples. Algumas tentativas de marcar terreno têm surgido: conselhos, convenções, alianças, associações. E o que elas são? O superlativo das igrejas e pastores que as criam; a hipérbole do que já existe em termos denominacionais. Não há nada mais equivocado que a ideia de criar organismos para curar o Organismo. É clonagem, e tudo o que é derivado de algo imperfeito, imperfeito é. Em outras palavras, a criação desses órgãos apenas acentua o problema, acentua-o; é mais do mesmo.

A tradição reformada – sobre a qual tratei no É Cristã a Igreja Evangélica (Arte Editorial), é a irmã mal humorada. Que dificuldade esse povo tem em abrir um sorriso, ao menos. Sem qualquer juízo de valor quanto às pessoas aqui citadas (estou dialogando com as suas ideias) o Augustus Nicodemus escreveu O Que Estão Fazendo com a Igreja (Mundo Cristão), bate em todos e lá no final do livro (quem aguentou ler até lá) fez um mea culpa, provê um “cala a boca”, pontuando um dos menores problemas da tradição reformada da Igreja Presbiteriana. Gente boa ele, pregou o melhor sermão em Atos 2 que já ouvi (e eu sou penteca), mas só sabe bater e a mim parece ter uma enorme dificuldade para o diálogo com qualquer tradição que não seja a sua. Corrijam-me se estiver enganado. E por favor, Augustus, se ler este texto não responda a ele, pois você acabaria comigo, eu sei.

No outro extremo, as novas comunidades alternativas são a coqueluche entre jovens urbanos que não identificam-se com o formato tradicional, inflexível, muitas vezes inadequado ao estilo de vida digital. Há algumas delas, desde as mais organizadas como a Bola de Neve ou a mais informal como a Emergente. Sandro Baggio, a quem conheci em 1996 quando trabalhamos na preparação para o show do Petra em São Paulo, é um pastor jovem e brilhante cristão vindo da IEQ e que hoje está à frente de algumas comunidades alternativas, tipo os hipsters (não sei se ele gosta dessas definições). Está fazendo algo diferente? Sim, do ponto de vista da linguagem, da liturgia, do uniforme, da organização... Opa! Da organização? Organizou, dançou. É mais do mesmo. Parafraseando Rubem Alves, em algum momento o que era considerado herege criará a sua própria tradição e os hereges serão os outros. E como disse Ariovaldo Ramos, “ali alguém vai ter que prestar conta a alguém”, “alguém vai verificar se está de acordo”. Muda o nome, mas tem um nome.

No meio termo temos uma gama de denominações, umas mais para a direita, outras mais para a esquerda (e umas que não sabemos para onde vai!). E como o joio está no mesmo terreno do trigo, todos estão professando a Jesus.

Temos neopentecostais, temos pentecostais com práticas neopentecostais, temos batistas com novas abordagens ao evangelho, temos os ministérios paraeclesiásticos, temos os inconformados com a igreja, temos os desigrejados, há muita gente diferente afirmando ser a mesma coisa.

Assim, pergunto se seria possível conseguirmos expressar o mínimo múltiplo comum (MMC) da questão. O Mínimo relativo à exclusão de todos os excessos (sejam litúrgicos, sejam confessionais, denominacionais ou de qualquer outra natureza. O Múltiplo, porque com isso poderíamos multiplicar nossa identidade e mesmo esforços como uma igreja variada, que dialoga em muitos níveis e categorias e possua uma gama de frentes de atuação (educação, evangelismo, missões, política, profissionais etc.) mas ao mesmo tempo uma igreja una, isto é, que tenha algo em Comum: o que temos em comum que nos faz igreja, que nos identifica como cristãos e que nos levará ao mesmo paraíso? Se é que todos estão interessados em ir para lá (esse já seria um ponto). Será que máxima “o que nos une é maior que o que nos separa” não seria uma paráfrase do “quem não é contra nós está a nosso favor” (Mc 9.40)?

Não imagino quantas cláusulas uma declaração como essa teria. Uma cláusula? Cinco pontos? 95 teses? Não sei, como membro do corpo, sou dependente dos demais membros e todos dependemos da mesma cabeça, que é Cristo.

O que você pensa sobre isso?

2 comentários:

  1. Querido irmão, pensei em seu texto, gostei muito. Contudo, penso que, vivemos um tempo, que está mais fácil viver o MDC (máximo divisor comum) dos cristãs que o contrário. Sou esperançoso de que possa vir dias melhores do que estes. um abraço!

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  2. Pastor,
    Se esse texto comentasse assuntos de natureza terrena, material, eu o resumiria como "página que aponta a existência de um balaio-de-gatos". Mas ...

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