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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ativismo: o preço do estresse e da impaciência

O pecado é querer ser sem limite. E, ao experimentar seus limites, o homem reage com ira, quanto mais busca superá-os e ultrapassá-los. Hans Bürki


Nós fomos enganados. Há aproximadamente vinte anos uma boataria começou a ser espalhada mundo afora prometendo redução na jornada de trabalho, menos tempo no escritório e nas fábricas e mais tempo com a família e lazer saudável para todos. Quem não ficaria encantado com promessas assim? Pois ouvimos muito palavras como essas na transição para a era digital, dos microcomputadores, da popularização da informática nos diversos níveis das atividades profissional e pessoal.

Com o advento e a massificação dos computadores pessoais – diziam – “nós os colocaremos para trabalhar”; eles estarão a nosso serviço e nós apenas diremos os comandos para que façam o trabalho pesado. Esse trabalho será feito com mais precisão, pois se trata de uma máquina, e com maior rapidez.

Ledo engano. De fato a precisão e a rapidez dessas máquinas são inegáveis. Lembro-me de um trabalho que levava 2 dias para executá-lo manualmente, ter sido feito em apenas 2 horas. E com uma precisão inquestionável. Fantástico! Muitas das promessas feitas foram cumpridas. O aumento da velocidade dos processadores ainda hoje é objeto de investimentos das grandes empresas e queremos mais!

Mas – sempre há um mas – houve efeitos colaterais que, provavelmente, não foram calculados. Dentre eles, o aumento da população nos grandes centros atingiu índices nunca antes imaginados e a globalização que acirrou a concorrência em nível mundial. A primeira questão diz respeito ao ocorrido no final da década de 1980 e início da seguinte, quando os grandes centros receberam uma considerável parcela da população rural. Intensificou-se a disputa por emprego e mão de obra qualificada. Na busca por melhores condições houve aumento da procura por cursos profissionalizantes e a educação continuada tem se tornado a condição sine qua non para defender o posto ocupado.

Mais oferta de profissionais, menor o preço – dos salários. Na negociação, leva a melhor quem oferecer mais trabalho por custo menor. Derruba-se, assim, o primeiro postulado: não vamos trabalhar menos e ter mais tempo com a família, pois ficaremos no escritório defendendo nosso emprego. E mais: ficaremos até mais tarde porque o computador “deu pau” e o trabalho tem que ficar pronto hoje.

Em segundo lugar a questão da globalização. No primeiro momento, a produção e os serviços visavam atender a demanda local e a concorrência era estabilizada de maneira ordeira. Todos estavam, via de regra, ocupados com suas tarefas e despreocupados com a própria posição no ranking. Mas no segundo momento, principalmente após as empresas começarem a ver a Internet como a maior de todas as vitrines, os produtos e serviços passaram a serem oferecidos do outro lado do globo. E os que vêm de lá custam metade do preço! A turma do “ranking estável” teve que se mexer e criar mecanismos para impedir que a concorrência varresse tudo. Houve quem não acreditasse que seria assim e o seu fim realmente foi a trágica falência ou a compra pelas empresas que apostaram no novo modelo de mercado globalizado.

Mas por que estou escrevendo isso tudo? O que isso tem a ver com ativismo, estresse e impaciência? Muito simples. Passamos, pelo menos na era digital, a trabalhar não mais 8 horas por dia, mas doze, quatorze, dezesseis horas. Alguns ainda levam trabalho para casa (num iPad ou NetBook, claro) e nos finais de semana ainda temos que dar aquela espiada nos emails.

Um profissional que trabalhe doze horas diariamente tem, de cara, todas as propensões a qualquer quadro emocional abalado ou patologia em decorrência da sua jornada. Ele passa doze horas no escritório, mas se morar em S. Paulo, por exemplo, pode gastar, ainda, 4 horas só no deslocamento (ida e volta) casa-escritório. Sobram 8 horas, que provavelmente não serão de pleno descanso. No máximo ele dormirá 6 horas e certamente serão noites mal dormidas, sono sem qualidade alguma do ponto de vista médico. Pesquisas recentes já apontam que o tempo de sono deve adequar-se ao biótipo pessoal; há estudos apontando as clássicas 8 horas como inadequadas a algumas pessoas, mas todos concordam que mesmo 6 horas por noite devem ter qualidade.

Que outros problemas podemos apontar em decorrência da jornada de trabalho ou do ativismo? Hipertensão, impotência, desequilíbrio emocional (que se manifesta em depressão, melancolia, esquecimento, choro sem causa aparente, impaciência), queda de cabelo, problemas no aparelho digestivo, diabetes, problemas cardiovasculares, sedentarismo, obesidade, elevação nos níveis de gordura e açúcar no sangue e por aí vai. A bem da verdade, todos sabemos disso. Mas como lidamos com essa situação? Planejando o tempo?

“O planejamento, essa auto-salvação moderna, pode, com certeza, melhorar as coisas por um tempo. No entanto, não estaríamos dessa forma reduzidos a justificar sem parar nossa existência pelo nosso rendimento e pela quantidade de trabalho que realizamos?” (Hans Bürki)

Antes de tudo, não podemos culpar os computadores por nosso ativismo. Eles continuam sendo máquinas que obedecem nossos comandos. Além do mais, Moisés viveu numa época distante dessas “maquininhas” e foi ativista de carteirinha. O grande legislador do povo hebreu passou os primeiros quarenta anos de sua vida no ritmo de um Egito em crescimento.

Vemos no início da peregrinação para a Palestina, que diante dos milhões de escravos sem qualificação, Moisés entendeu ser melhor acumular também as funções do judiciário, do legislativo e do executivo. Quase surtou. Foi preciso a intervenção sutil de seu sogro para que tudo fosse resolvido. Moisés aprendeu o que também nos ensinou, que delegar poder e dividir as tarefas é o modo mais saudável para que todo e qualquer mecanismo que envolva recursos humanos funcione bem. Alivia a tensão excessiva e a sobrecarga de responsabilidades, desenvolve potencialidades latentes, promove o envolvimento do grupo, agrega valores e visões que contribuem para o aperfeiçoamento contínuo.

Do ponto de vista estritamente espiritual, dá lugar para que o Espírito opere as diversas manifestações da sua graça: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. (...) E a todos nós foi dado beber de um único Espírito. O corpo não é feito de um só membro, mas de muitos” (1Co 12.12-14).

O trabalho não deve ser visto como maldição, pois muito antes da queda “o Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo” (Gn 2.5, ênfase minha). O trabalho é bênção para o homem, e ainda mais em dias como os nossos, quando as taxas de desemprego têm se elevado. O próprio Jesus dá indicação disso quando, falando a ouvintes de uma economia de base agrícola, afirma que Deus dá sol e chuva a bons e maus (Mt 5.45). Paulo também trata do assunto, chegando a dizer que “se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2Ts 3.10). No entanto, a visão equivocada do que as Escrituras dizem sobre o trabalho e descanso é que tem levado a um posicionamento estremado e a um comportamento doentio.

Como ficou demonstrado, as pessoas passam até mais da metade do dia ocupadas com suas atividades profissionais. A concentração, no entanto, é exigida vinte e quatro horas por dia. Temos prazos para tudo, as cobranças não cessam. Clientes querem tudo agora. Celulares não nos permitem desconectar. Tudo isso num ambiente de concorrência acirrada e desonesta. Trabalhei com uma empresária que dizia sofrer de uma doença chamada urgência.

Os níveis de tensão são altíssimos. Como reagimos quando temos muito trabalho? Já experimentamos trabalhar calmamente mesmo tendo muito o que fazer? Qual o resultado inevitável? Estresse, a doença do final do século XX que trouxemos para o século XXI.

Vemos e ouvimos nos telejornais inúmeros casos de violência no trânsito causados pela impaciência, pelo nervosismo, pela falta de equilíbrio emocional e temperança. Uma fechada no trânsito ou uma buzinada fora de hora tem levado pessoas a cometerem assassinato em plena luz do dia. O que está havendo? Para onde caminhamos? Poderia sugerir inúmeras abordagens a essa questão. A sociologia tem uma solução. A engenharia de trânsito tem outra. A psicologia dá suas respostas. A religião também pode propor caminhos. Eu, no entanto, quero indicar uma abordagem que entendo central para a questão: o modo como vemos e lidamos com o tempo.

Preciso declarar, de antemão, fora minhas atividades com a família, igreja e alguns compromissos com palestras, que estou à frente do catálogo de 3 editoras, e não estou no silêncio de um mosteiro dizendo “que as coisas não podem ser bem assim”. Tenho estado no olho do furacão vez ou outra. A questão é real para mim e tenho lidado com ela.

Um texto que me ajudou a entender a importância do tempo em nossa vida foi Tempo para viver, de Hans Bürki (lançado no Brasil pela Arte Editorial). Bürki apresenta uma abordagem baseada na Criação. Citando Abraham Heschel, ele comenta que os rabinos seguem o seguinte raciocínio sobre esse assunto. “No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou (Gn 2.2). Então, o que foi criado no sétimo dia? A monouba: tranqüilidade, serenidade, paz e descanso.”

Os hebreus entendiam o sétimo dia, o sabat, não como a cessação de toda a atividade, mas um tempo criativo (em oposição ao ócio), não como simplesmente descanso físico, mas como tempo dedicado a Presença do Criador do próprio tempo chamado Eternidade. Dessa forma, o Salmo 90 (escrito pelo mesmo Moisés, autor do relato da Criação) vem revelar-nos que não é por sua característica intrínseca que o tempo nos escapa (isso já ocorria naqueles tempos!). É por causa do nosso pecado que nos esgotamos; é por causa da nossa maneira corrompida de viver nosso tempo que nos consumimos. Assim é que o próprio Salmo louva a eternidade de Deus, pois a nossa falta de tempo revela o quanto estamos mergulhados no pecado de não preparar um tempo para o Senhor.

“A maneira de viver o tempo se relaciona ao sentido que damos à vida. Para quem vivemos? A quem estamos vinculados? Essas perguntas estão na base da estruturação do nosso tempo”.

“Por trás da desordem visível, encontramos de novo uma desordem existencial ou fundamental. Por isso dizemos que mudar seu tempo significa mudar seu caráter, e que melhorar sua agenda não é apenas uma questão de técnica exterior e visível”.

Assim ele conclui afirmando que o descanso (sabat) nada mais é do que um momento de reviver no homem os privilégios do Paraíso, uma vez que o homem decide, escolhe parar sua atividades e criar “um espaço em sua agenda atulhada de atividades outras”, um tempo para si e para integrar-se com a mente e com os desígnios de Deus. Como Deus criou em seis dias e parou no sétimo, o homem deve procurar o mesmo.

“O sabat nos livra da tirania das coisas, da tirania dos objetos do espaço”.

Aprender a distinguir entre o urgente e o importante, e saber delegar são conhecimentos úteis que nos ajudam a controlar melhor o tempo. Mas isso são como podas em enormes árvores. É preciso tratar a questão na sua raiz e no caso o modo eficaz é assimilar e aplicar em nosso viver diário o conselho do Senhor: “No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor” (Is 30.15).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Curso de Vocação e Foco Ministerial


Prezados, desde o dia 15 de fevereiro início a nova turma do curso à distância que estou ministrando no Seminário do Sul sobre Vocação e Foco Ministerial. Estamos na primeira semana e ainda dá tempo para quem quiser inscrever-se (www.seminariodosulonline.com.br). A ementa do curso está abaixo.

EMENTA
Um estudo do tema vocação como a Bíblia o apresenta, considerando seus elementos constitutivos tais como chamado, capacitação, dons naturais, dons espirituais e dons ministeriais. Inclui a compreensão do que é o serviço cristão, porque devemos servir e a quem servimos, a motivação para servir, sejam pessoas ou atividades e o perfil do servo.


A abordagem é biblicamente centrada, considerando a cosmovisão cristã bem como textos do Novo Testamento e exemplos de personagens das Escrituras. Lida vastamente com os textos de Romanos 12, 1Corintios 12 e Efésios 4, que tratam dos dons espirituais e ministeriais, capacitações para o serviço no ministério.

As citações bibliográficas são vastas e inclui o levantamento de dons, elaborado pela Rede Ministerial (usado com autorização), da Willow Creek.

RELEVÂNCIA
Quando o autor deste curso começou a ministrar nas igrejas sobre o tema “chamado” e “vocação”, pode perceber que havia muitos irmãos e irmãs interessados e preocupados em servir ao Senhor e fazer a sua obra, mas pairava sobre suas mentes a dúvida sobre se realmente haviam sido chamados, comissionados e vocacionados por Deus para algum ministério. A inquietação desses irmãos levou-o a reunir material e selecionar textos que pudessem esclarecer as dúvidas mais prementes dos irmãos e irmãs, dando indicações, testemunhos e segurança sobre o chamado e sobre quais funções deveriam desempenhar no Corpo de Cristo.


Paulo afirma que fomos salvos para as boas obras; assim, servir é a principal consequência e resultado esperado daquele que entende ter sido salvo. Desse modo, a elaboração deste curso contempla não apenas o núcleo do tema ― vocação, como também prepara o participante para algo mais abrangente e sólido em sua vida espiritual.

A partir da compreensão bíblica de que todos fomos ungidos e chamados para servir, a proposta deste curso contempla as cinco perguntas sobre o chamado, o entendimento do serviço de todos os cristãos (sacerdócio universal) e de que modo ele se dá sob a direção do Espírito, o serviço como cooperação no Corpo (interdependência), o que dá ocasião para a exposição sobre os dons – espirituais, ministeriais e outros dons prováveis – as principais ferramentas recebidas por meio das quais todo trabalho é aperfeiçoado. Veremos, ainda, o chamado no Novo Testamento e exemplos de como o Senhor chama seus servos e o papel da comunidade no estabelecimento do chamado cristão para o ministério.

AUTOR E TUTOR
Magno Paganelli é:

- Formado em Publicidade
- Bacharel em Teologia pela Faculdade Unida em Vitória-ES
- Pós-graduado em Novo Testamento
- Professor de EaD no Seminário do Sul
- Professor na Escola de Treinamento de Líderes, em São Paulo
- Superintendente da Escola Bíblica Dominical da AD Bom Retiro, que conta com a média de 350 alunos em suas reuniões
- Escritor, autor de mais de 20 livros, dentre os quais E Então Virá o Fim (Prêmio ABEC), Estive Preso mas não Estive Só (Prêmio Areté), O Pai Nosso (finalista do Prêmio Areté), É Cristã a Igreja Evangélica?, Qual a Sua Função no Corpo de Cristo?
- editor da Arte Editorial.

Publicações:
• É cristã a igreja evangélica?
• E então virá o fim
• Conhecedores do bem e do mal
• Estive preso mas não estive só
• 100 esboços de Gênesis a Apocalipse, vol. 1
• 100 esboços de Gênesis a Apocalipse, vol. 2
• Socorro, minha igreja se dividiu!
• O livro dos diáconos
• Qual a sua função no corpo de Cristo
• O dízimo: o que é e para que serve?
• O pai nosso
• Onde estava o Cristo
• Devocional do adorador
• Os milagres de Jesus
• A cura pelo poder da fé
• Alimentando a fé
• A arte de ser feliz apesar da solidão
• Gospel kids vols 1 e 2

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
SEMANA 1 – O SERVIÇO COMO MOTIVAÇÃO


a) o perfil do servo
b) como devemos servir
c) paixão, dom e estilo
d) fé dinâmica
e) Jesus, o Rei, foi servo
f) servimos para glorificar a Deus e atender o seu chamado

SEMANA 2 – VOCAÇÃO E CHAMADO
a) segundo a Bíblia, como deus escolhe alguém?
b) três servos, três visões
c) o chamado no Novo Testamento

SEMANA 3 – DONS
a) dons relacionados em Romanos 12
b) o propósito específico dos dons espirituais
c) como posso identificar meu dom espiritual?

SEMANA 4 – ESTUDO EM 1CORINTIOS 12 E EFÉSIOS 4
a) dons espirituais relacionados em 1Corintios 12
b) outros dons espirituais prováveis
c) dons ministeriais relacionados em Efésios 4
d) outros ministérios citados por Paulo

SEMANA 5 – COMPOSIÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO
a) a partir dos textos lidos, dos áudios e dos fóruns onde foram trocadas experiências e dirimidas quaisquer dúvidas, elaborar e redigir trabalho de no mínimo 2 e no máximo 6 páginas em formato A4.
b) revisão dos questionários e avaliação
c) Revisão geral do curso

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um discipulado para o novo século e para o velho homem

Tem um tempo que alguns autores cristãos começaram a propor que algumas traduções do texto da Grande Comissão (Mt 28.19) não é exato, não expressa plenamente o sentido pretendido por Jesus. O “ide” transmite a ideia que alguns são chamados para irem (para bem longe) enquanto a maioria fica e, nalguns casos, nada faz para a propagação do Evangelho. Assim, em texto grego no particípio passivo Jesus teria dito “Indo, façam discípulos em todas as etnias, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei” (Mt 28.19,20). É fato que muitos têm sido batizados, mas poucos têm ido e menos ainda são os que são ensinados.


O comissionamento, visto dessa forma, passa para a responsabilidade de todos, não apenas de missionários no sentido estrito da palavra. Indo... para o seu trabalho. Indo... para a faculdade. Indo... para o mercado. Indo... para a reunião com amigos. Indo... falar com o visinho. Indo... ao banco. Indo teclar... façam discípulos, ensine-os.

Faz mais sentido e concorda com o sacerdócio universal de todos os crentes que Pedro, um legítimo discípulo, ensina (1Pe 2.5,9) e foi tão reforçado por Lutero: “Cada crente um sacerdote”.

O legítimo cristianismo é uma relação pessoal com Cristo, não uma solenidade, uma liturgia ou a apreensão de uma confissão de fé; assim, indo expressa naturalmente a nossa vocação e relação com o Senhor. Eu vou com Ele para todos os lugares e não saio da Sua presença quando ausento-me do templo. Que outro modo há para mostrar que sou Seu discípulo?

O discipulado tem sido considerado por muitas igrejas e pastores como peça de museu. Mas o discipulado no estilo indo façam discípulos é sem dúvidas o mais adequado ao pensamento pós-moderno vigente, pois dá testemunho da realidade daquilo que Cristo é – em nós! – pois ele habita cada cristão por meio do Espírito Santo, que aglutina a todos os discípulos num só corpo: a Igreja invisível. O cristão que vai indo (perdoe a redundância) mostra em seus passos o que Jesus está fazendo naquele que crê e o que pode fazer por qualquer um que creia e queira ser discípulo também.

O discipulado no melhor estilo indo é o mais rápido, o que mais cedo prepara missionários-discípulos, pois evita a desculpa de ter que “preparar-se melhor”, ter que “fazer um curso específico”, “aposentar-se para ter tempo”, “aprender o idioma ou a cultura daquele povo” etc. Ou você é discípulo agora ou não é e se é, já pode ir fazer discípulos, ensinando-os! “Aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou” (1Jo 2.6). Não há o que esperar: discípulo de Jesus, gente que segue a Jesus, que se parece com Ele, deve andar como ele andou, fazendo discípulos e ensinando-os.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estive preso, mas não estive só

"Em 1993, quando tinha 26 anos de idade, fui preso em São Paulo. Passei por duas delegacias, convivi com matadores de aluguel, estupradores, assaltantes e gente inocente. Gente boa e gente má. Apesar de tudo o que vivi, o curioso foi o que Deus fez em nossas vidas durante aqueles dias na cadeia.”


Estive Preso, Mas Não Estive Só é um livro baseado numa história real, vivida por um jovem cristão de nome Henrique (nome fictício). A história se passa durante os anos de 1993 e 1994, na cidade de São Paulo.

Entre traficantes, justiceiros e estupradores, ele passa quarenta e cinco dias de experiências que jamais sonhara viver.

A partir de um diário que escreve enquanto está preso, ele procura traduzir, na íntegra, cada sentimento, cada expressão e revolta vividos ali. Muitas surpresas e experiências marcantes também foram registradas. Quais as atitudes Henrique teria naquele lugar? Como suportaria tudo, longe dos amigos e da igreja, vivendo dentro de um ambiente perverso e corrupto?

Você encontrará nesta obra momentos de profunda seriedade, contrastados com um humor bem dosado, que tornará a leitura leve e agradável.

Esta é uma obra que retrata a realidade brasileira. Com certeza, você irá apreciar.

Edição ampliada.

Em 2008 o livro foi premiado pela Associação de Editores Cristãos como Melhor Livro na categoria Romance e foi finalista na categoria Autor Nacional. (166 pág., R$ 31,90). Peça o seu com desconto de 10% pelo email editora@arteeditorial.com.br ou veja no site http://www.arteeditorial.com.br/catalogo/shopexd.asp?id=48

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os cristãos brasileiros escravos de Jerusalém

Ainda que a Bíblia ensine, ainda que blogs e alguns autores e palestrantes insistam, muita gente, muitas igrejas, muitos ministérios estão apoiados e empenhados no resgate da tradição, costumes, rituais e tudo o que tenha origem no judaísmo do Antigo Testamento. Há uma insistente e incômoda mania repetir expressões hebraicas, tocando shofares, enfeitando púlpitos com menorás, bandeiras de Israel e arcas, danças, pregações exclusivas em textos do Antigo Testamento (Gl 4.10). E muito mais.


Sabemos que o Antigo Testamento foi substituído pelo novo, que deu ao anterior o seu pleno significado. Nada do Antigo é pleno: nem os sacrifícios, nem as festas, nem as profecias (principalmente!), nem as vestimentas. Nada! Todas essas coisas só encontram significado pleno, sentido eterno e vida na pessoa, vida, obra, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Isto está bem claro no Novo Testamento, embora apóstolos, patriarcas e tantos outros cristãos de hoje não consigam enxergar.

Mas veja o que li em Gálatas: “... estas mulheres [Agar e Sara] representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe”. (Gl 4.24-26, grifo meu).

Paulo escreveu a carta aos Gálatas porque encontrou ali a mesma situação, o mesmo ambiente, as mesmas práticas que podem ser vistas fartamente na igreja “evangélica” brasileira. Tenho até receio de usar o termo “evangélica” a uma comunidade tão “hebreia” quanto algumas das quais me refiro aqui. Paulo acusa, dentre outras coisas, de retrocesso na vida espiritual chegando ao ponto de chamá-los de insensatos (Gl 1.6; 3.1,3. A versão espanhola da NVI traduz por torpes). Mas este texto no parágrafo anterior é brilhante demais para ser desconsiderado: a Jerusalém terrena e seus filhos (seus adeptos fieis) estão escravizados, presos, sendo enganados por uma aliança sem valor.

Concordo que há pessoas que se sentem atraídas pelos rituais, por uma religião mística, cheia de simbolismos, liturgias rígidas, paramentos e tudo o mais. Mas não se engane: é prisão, e prisão carece de libertação. É retrocesso, que carece de avanço. É – o mais grave – abandono e afastamento do sacrifício perfeito de Cristo, e por isso mesmo leva à perdição.

Como a própria carta ensina a preferência ou adesão a esses hábitos leva inevitavelmente ao afastamento da salvação e, portanto, não resta mais alternativa: “Vocês, que procuram ser justificados pela Lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça” (Gl 5.4).

Imagino que a falta de compreensão do Evangelho e o desejo por algo visual e emocionalmente mais evidente é que leva pessoas a trocarem uma aliança tão rica e sólida quando a aliança no sangue do Cordeiro, que em si incorpora cada aspecto e detalhe da antiga e frágil aliança feita com o passado judaico. Por isso, apelo a que cada um procure nos livros de tipologia bíblica a identificação e a correlação da religião antiga com a vida presente e volte ao sentido natural da jornada de cada cristão.

Leia também “Não quero candelabro

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Teologia e conquista na América Latina

O caminho por onde a teologia faz suas demarcações na América Latina confunde-se com certos aspectos sociais e econômicos da época. É possível dizer que são as demandas econômicas européias que estenderão o pano de fundo para um cenário pretensamente religioso, o que no dizer do autor de Percurso Teológico na América Latina (Wanderley Pereira Rosa) é a chamada “legitimação teológica da dominação”. Clóvis Bulcão(1), por exemplo, expõe a expansão mercantil da Coroa portuguesa no século XVI a motivações que remontam a interpretação teológica de Antonio Vieira(2), que dão conta que o quinto império de que fala Daniel é a própria nação. Eduardo Galeano(3) aponta o dedo para a desenfreada gana espanhola que escraviza, explora e destrói culturas e até mesmo civilizações, chegando ao ponto de empregar sábios de determinados grupos étnicos na extração de minérios.


Fato é que por traz do impulso evangelístico há as demandas mercantis europeias que farão uso da religião como instrumento de fala e aproximação com os povos nativos. Mas essa fala é estrangeira e consequentemente incompreensível ao povo da terra, que, ao manter sua cultura e seus ritos, são demonizados e vistos como selvagens pelos representantes da “nova cultura”.

A afirmação de que “a imposição do modo de vida europeu era um grande favor a ser feito aos nativos” e que “eles deveriam ficar agradecidos”, a meu ver deve ser vista com reticência, diante da constatação que, nos anos1950/60, “intelectuais latino-americanos estavam (...) com um dos olhos postos na mensagem dos evangelhos e o outro na realidade sócio-econômica do povo pobre e oprimido”. Concordo que houve grande contribuição, progresso e avanços, mas questiono se a imposição não é um mecanismo pelo qual lutamos ainda hoje dentro do ambiente onde a teologia em si procura estabelecer diálogo com a cultura local e as demandas da região.

Esse método imperialista de dominação, de legitimação teológica da conquista, descaracterização da tribo e imposição de uma cultura estrangeira, e mesmo a ocupação e mudança de moradia como meio de apagar a história do outro é, a meu ver, a repetição em partes da experiência hebreia no Egito, só que de modo invertido, pois o Egito foi invadido, ao passo que Portugal invadiu.

No entanto, não há como escapar à pergunta: Haveria outro meio pelo qual a experiência evangélica pudesse ocorrer entre os nativos? A conquista da hegemonia marítima pela Inglaterra veio abrir as portas para uma segunda conquista, a dos protestantes. Estes aportam num solo onde a iniciação ao cristianismo já havia ocorrido, ainda que com contornos teológicos distintos e até certo ponto sincréticos pela ótica protestante. Surge, então, outra questão: A catequização feita pelos portugueses não teria sido o preparo do solo para o lançar da semente protestante, esta iniciada com o protestantismo de missão feito por alemães e ingleses? Será que, na ausência de um trabalho romanista, a tal “imposição do modo de vida europeu” não tivesse que ser feita pelos missionários após 1810, com o Tratado de Aliança e Amizade? Essa avaliação não caberá aqui.

A experiência dos novos missionários se dá de modo a aproximar o povo e o bojo de suas experiências, cultura e valores ao projeto de Deus para eles. O que é pregado não é a extirpação (por imposição), mas a acomodação da experiência humana aos moldes do evangelho, como já havia ocorrido na colonização parcial dos EUA pelos calvinistas, por exemplo. No longo prazo a conta foi cobrada em forma de uma teologia da riqueza, da saúde e do bem estar, como vimos da década de 1980 para cá. E o que é possível falar sobre isso? Muito.

Romeiro(4), em sua tese de doutoramento, constata que após uma década de teologia da prosperidade e promessas que não podem ser cumpridas (porque o Evangelho não as fez), esse movimento já produz seus primeiros “decepcionados”. Após anos ouvindo promessas que nunca se concretizaram, os ouvintes desaminaram-se e, desiludidos, deixaram as igrejas com tal perfil e migraram para outras com teologia mais sólida, outros partiram para uma experiência que nega o institucional e, pior que isso, alguns abriram mão até mesmo do cristianismo.

Fica, portanto, a sensação de que o Evangelho deve tratar essencialmente do homem, cuidar do seu coração e aproximá-lo do Senhor dos Evangelhos. A utilização das boas novas para quaisquer outros fins tenderá a um desvirtuamento nocivo, tornando insípida a experiência que daí advir. Diante disso, o percurso teológico na América Latina, a meu ver, ainda lembra os primeiros versículos do texto de Gênesis: um caos sobre o qual paira o Espírito criador de Deus, e que só aos poucos vai sendo ordenado.

1. BULCÃO, Clóvis, Padre Antonio Vieira, um esboço biográfico. São Paulo: José Olympio Editora, 2008.

2. Vieira opõe-se a Inquisição, em Portugal e no Brasil, pois entende que os judeus têm condições de financiar a expansão marítima de Portugal e, com isso, fazer cumprir seu projeto pessoal de implantação do Quinto Império português.
3. GALEANO, EDUARDO. As veias abertas da América Latina, São Paulo: Paz e Terra, 36ª ed., 1994.
4. ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graça. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2008. O título da obra é um trocadilho com a Igreja Internacional da Graça de Deus, denominação alvo da pesquisa do autor.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Escola Bíblica a 1000!

Quero apresentar a nossa proposta de ação para o biênio 2011-2012 e incentivar você, pastor, professor, superintendente de EBD a fazer o mesmo: granjear alunos e ensinar a eles a Palavra de Deus. No rodapé deste post, atualizarei trimestralmente os resultados por período.

Em uma igreja de grandes proporções como a ADBR, a existência de departamentos é imperativo para que a comunhão e o apascentamento ocorram sem as perdas em função do seu próprio tamanho. A EBD está neste contexto, porém se constitui um departamento existente desde 1870, pelo trabalho de Robert Raikes, sem falar no ensino (didaché), que remonta aos próprios apóstolos e ao Senhor Jesus.

Assim, sem perder o seu foco, que é o ensino, a proposta para a EBD 2011/2012 – ESCOLA BÍBLICA A 1000 é criar uma cultura de intensificação da comunhão, ensino a ovelhas para que sejam comprometidas com a igreja (vida cristã, ensino e comunhão) e, principalmente, a expansão do alcance da escola, aumentando o número de alunos.

E não se trata de crescimento pó crescimento, “inchaço gospel”, pois o ensino da Palavra nunca poderá ser confundido com mero crescimento numérico. Já temos qualidade, com bons professores, pedagogos, recursos visuais; precisamos de quantidade, granjeando com os talentos que temos recebido do Senhor.

Assim, a ESCOLA BÍBLICA A 1000 é um conjunto de ações pontuais que visam ao envolvimento de professores, secretários e alunos, com anuência e apoio da diretoria da ADBR, a serem iniciadas no primeiro trimestre de 2011, as quais são:

OBJETIVO:
1000 alunos até 2012 (hoje a frequência média é de 350 alunos por domingo).

ATUAL DISPOSIÇÃO:
12 classes divididas por idade ou nível de aprendizagem, além do Depto. Infantil.
Cada classe conta com professor titular, professor adjunto e secretário.

VIABILIDADE:
Cada aluno convidando e trazendo um novo aluno além do ingresso dos novos convertidos Fora as campanhas evangelísticas, há o ingresso médio de 1200 novos convertidos anualmente na ABDR, além da média de 700 reconciliações.

AÇÕES

CLASSE PREPARAÇÃO PARA BATISMO (já existente)
Levantamento semanal e contato com novos convertidos, incentivando-os à frequentar cultos e a matricularem-se no curso com vistas ao batismo. O aluno frequentará por dois meses as aulas e no terceiro mês assistirá aulas em uma nova classe para com o intuito de “aclimatá-lo” ao ambiente da EBD.

SECRETÁRIOS
Os secretários de cada classe farão o acompanhamento individual de alunos e novos convertidos, atuando na continuação do trabalho da classe de novos convertidos.

ACOMPANHAMENTO
Acompanhamento e/ou visita. Discussão sobre a possibilidade da criação de um grupo central da EBD ou mesmo por classe, de irmãos que façam visitas a alunos e novos convertidos.

AÇÃO OVELHA GERA OVELHA
Elaborar e imprimir convite para que os alunos da EBD os entregue durante os cultos a membros que NÃO frequentam a Escola.

CALENDÁRIO DE LEITURA DA BÍBLIA
Será discutido conjuntamente com os professores um calendário para leitura anual da Bíblia (AT e/ou NT). Precisamos motivar os alunos ao hábito da leitura da Bíblia, bem como de oração e mesmo jejum. É possível também estabelecer um calendário de oração (motivos específicos) e outro para jejum.

A implantação da ESCOLA BÍBLICA A 1000 contará com intensa divulgação nos diversos cultos da ABDR, por meio do datashow, espaço no site da Igreja com logotipo da campanha. Ore também por isto.

Num segundo momento, está programado o envolvimento de lideranças de EBD das filiais que tiverem condições de participar de reuniões e workshops para os professores, promovendo a reciclagem e o aperfeiçoamento dos mesmos e a comunhão do ministério.

A ESCOLA BÍBLICA A 1000 integra-se ao lema da Igreja para 2011: O Ano do Crescimento. Podemos alcançar menos que 1000 alunos ou mais que isso! Mas cremos na direção do Senhor para este trabalho, não pela fixação em dados ou números, mas pelas propostas e ações que ele envolve e os benefícios que pode trazer para o Corpo.

1º Trimestre/2011
A campanha foi lançada com apoio integral da liderança da igreja. Foi realizado um programa de TV falando da campanha. Foram impressos 5 mil convites que os alunos usam para apresentar a EBa1000 aos membros que não frequentam a Escola Dominical.
Foi publicado artigo sobre a campanha no Portal Creio (http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=12182)
No dia 27 de março, último domingo do mês, registramos um aumento de 96 alunos em relação ao último trimestre de 2010, que foram encaminhados para as 9 classes das quais dispomos.
A classe Água Viva realizou a "Aula do + 1", trazendo 136 pessoas para a sua sala, dos quais 19 entregaram suas vidas a Cristo, além de vários outros ex-alunos que deverão ser reintegrados àquela classe.


Sigam!

Em 2011, a Arte Editorial está aproximando-se mais do ambiente digital, por meio das redes sociais. Com publicações cobrem várias áreas de interesse cristão – 55 obras com selo próprio e mais de 160 títulos em seu catálogo – a Arte Editorial é uma editora jovem porém com presença consolidada junto ao público leitor no segmento cristão.


Mês a mês a Arte Editorial vem lançando livros de autores nacionais e estrangeiros cuja mensagem tem relevância bíblica e espiritual, obras que nos fazem refletir sobre o atual estado do cristianismo, que informam social e teologicamente, cujos textos estão voltados para a formação de uma igreja brasileira mais madura, com senso crítico, porém sem perder a compaixão pelas almas.

Sugiro a você que siga a Arte Editorial no Facebook e no Twitter @ArteEditorial e seja informado sobre dicas de leitura, lançamentos, notícias do editorial, promoções e muito mais.

O Maior Problema do Brasil é que sobra muita manga!

O velho caipira, com cara de amigo, que encontrei num Banco, estava esperando para ser atendido. Ele ia abrir uma conta. Começo de um novo ano... Novas perspectivas... E como não podia deixar de ser, também começou ali um daqueles papos de fila de banco. Contas, décimo terceiro que desapareceu, problemas do Brasil, tsunami... Será que vai chover? Mas em determinado momento a conversa tomou um rumo: – Qual é então o maior problema do Brasil para ser resolvido? E aí o representante rural, nosso querido "Mazaropi da modernidade" falou com um tom sério demais para aquele dia:

– O Maior Problema do Brasil é que sobra muita manga!

Tentei entender a teoria... Fez-se um silêncio e ele continuou: "- O senhor já viu como sobra manga hoje debaixo das árvores? Já percebeu como se desperdiça manga? "Sim... Creio que todos já percebemos isto... Onde tem pé de manga, tem sobrado manga... E aí ele continuou: "- Num país onde mendigo passa fome ao lado de um pé de manga... Isso é um absurdo! Num país que sobra manga tem pouca criança. Se tiver pouca criança as casas são vazias... Ou as crianças que tem já foram educadas para acreditar que só "ice cream" e jujuba são sobremesas gostosas. Boa é criança que come manga e deixa escorrer o caldo na roupa... É sinal que a mãe vai lavar, vai dar bronca, vai se preocupar com o filho. Se for filho tem pai... Se tiver pai e manga de sobremesa é porque a família é pobre... Se for pobre, o pai tem que ser trabalhador... Se for trabalhador tem que ser honesto... Se for honesto, sabe conversar... Se souber conversar, os filhos vão compreender que refeição feliz tem manga que é comida de criança pobre e que brinca e sobe em árvore... Se subir em árvore, é porque tem passarinho que canta e espaço para a árvore crescer e para fazer sombra... Se tiver sombra tem um banco de madeira para o pai chegar do trabalho e descansar... Quem descansa no banco, depois do trabalho, embaixo da árvore, na sombra, comendo manga é porque toca viola... E com certeza tá com o pé na grama... Quem pisa no chão e toca música tem casa feliz... Quem é feliz e canta com o violeiro, sabe rezar... Quem sabe rezar sabe amar... Quem ama, se dedica... Quem se dedica, ama, reza, canta e come manga, tem coração simples... Quem tem coração assim, louva a Deus. Quem louva a Deus, não tem medo... Nada faltará porque tem fé... Se tiver fé em Deus, vê na manga a providência divina... Come a manga, faz doce, faz suco e não deixa a manga sobrar... Se não sobra manga, tá todo mundo ocupado, de barriga cheia e feliz. Quem tá feliz... Não reclama da vida em fila do banco...".
Daí fez-se um silêncio...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Jesus ao pé da letra

Uma resposta aos inconformados com a Igreja


Hoje li um post feito por um amigo. Ele reclamava da situação da Igreja brasileira – muitas das reclamações eram as chamadas “mais do mesmo” – e dizia com todas as letras que não frequentaria mais a qualquer igreja, nem organizada, nem emergente, nos lares, nada. Desviou?


Segundo ele, é agora que ele será chamado essencialmente cristão. É agora que ele poderá fazer coisas como beber cerveja, dormir até mais tarde, amar sua esposa, ficar com seu filho, não ser espremido por agendas rigorosas e, principalmente, não ter que ouvir a pregações vazias e pedição de dinheiro para sustentar pastores. A igreja, segundo ele, distorce a vida cristã. Ele quer ser como Jesus, que – segundo ele – foi à sinagoga uma só vez na vida.

A situação da igreja brasileira é caótica. Convenhamos. Pesquisa feita por um conhecido que entrevistou mais de mil e setecentos pastores revela que 50,68% deles nunca leram a Bíblia toda uma só vez. Daí para a frente o que se pode esperar? A liderança pede muito dinheiro? Pede. Ela o desvia, vivendo nababescamente? Sim, muitos deles. Os cristãos, em boa medida, não sabem “do que estão sendo salvos”? É constatação; pensam que estão sendo salvos da falência no seu empreendimento, ou do divórcio, ou do filho morrer viciado em craque. No entanto, a Bíblia não trata, em primeira instância, desse tipo de salvação. Só que a maioria esmagadora dos neopentecostais não foi avisada sobre isso. Quem os avisaria? Aqueles pastores que nunca leram a Bíblia? Não, nós que lemos, relemos e insistimos que seja assim.

A Reforma Protestante ensina que os chamados gigantes, Lutero, Calvino, e outros tantos, não abandonaram a Igreja para fundar suas denominações nem a abandonaram alegando a sua falência iminente. Sabemos que na sua época “as visitas pastorais [de Lutero] a diversas igrejas revelaram uma miséria moral da qual não se fazia ideia. Os líderes eclesiásticos eram ignorantes, alguns nem sabiam recitar a oração do Senhor nem a confissão de fé. O povo era rude e refratário à instrução. Desconhecia o hábito da oração.” (1)

Calvino, nas Institutas, ensina porque a Igreja é necessária dizendo que a ação redentora e santificadora de Deus em favor do homem ocorre na Igreja, e não em outro lugar. Ele identifica a Igreja como organização de origem divina e confirma a doutrina suprema da Igreja citando duas máximas de Cipriano de Cartago: “Você não pode ter Deus como Pai, a menos que tenha a igreja como mãe” e “fora da Igreja não há salvação”. (2)

Depois de dois séculos o grande avivamento, e um nome se sobrepõe: John Wesley. Leia a sua história e ficará marcada em sua mente os milhares de quilômetros cavalgados ao lombo de seu cavalo percorrendo a Inglaterra para cuidar das suas sociedades metodistas: manutenção desse projeto de natureza divina chamado Igreja.

Outro grande nome a tratar da questão da validade da Igreja, em anos mais recentes, foi Dietrich Bonhoeffer. Bonhoeffer constrói sua cristologia e todo o seu edifício teológico a partir da sua compreensão da Igreja. A comunidade é a base para onde se desdobra a experiência cristã. Evidente que o autor não refere-se a instituição física da Igreja, mas a comunidade é, primeiramente a comunidade de fé, para depois chegar-se à comunidade político-social.

Dessa forma, esta introdução nanica que faço ao tema, esboça o que a história ensina – tanto menos que a própria Bíblia – que nada há de errado com a Igreja. O joio não é a Igreja. Pensar assim é tomar a parte pelo todo, e constitui erro perigoso de incorrer. A Igreja, sendo instituição de natureza divina, como diz Calvino, não tem em si qualquer problema; nós os temos. Ficar inconformado com desmandos e calamidades ocorridas nos nossos arraiais não é sensação das mais novas: o próprio Deus já ficou assim no tempo dos profetas do Antigo Testamento! Aqueles que lamentaram pela situação da Igreja em seu tempo não abandonaram-na, mas tentaram fazer o possível para que ela chegasse a um quadro clínico mais favorável. Reformar por dentro, é a expressão comumente usada aqui. Fato é que ninguém resolverá o problema sozinho, principalmente com manifestações individuais de protesto, já que um planta, outro rega, mas Deus é quem dá o crescimento.

E por que este artigo chama-se “Jesus ao pé da letra”? Exatamente para chamar a atenção que, para ser tal qual Jesus, todo cristão deverá viver a experiência cristã de depender integralmente da contribuição alheia, depender de ajuda financeira, acolhimento e moradia alheias, sem trabalho formal, sendo sustentado por terceiros – tal qual os pastores que hoje são acusados, na Igreja que alguns querem abandonar. Nossa interpretação de como a fé sadia pode ser interpretada e vivida nunca será das mais favoráveis. Não estamos em condições de levar Jesus ao pé da letra.

Leia também “Quem não gosta de Igreja, bom sujeito não é”.


1. Lutero, A. de Saussure. Ed. Vida, p. 108.

2. A vida de João Calvino, Alister McGrath. Cultura Cristã, p. 198.