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segunda-feira, 7 de junho de 2010

A semântica da Igreja


Nos últimos meses, alguns de nós ouvimos sobre cristãos reunindo-se longe dos templos, no aparente resgate de um dos aspectos do cristianismo primitivo. Ouvimos, também, e lemos livros de autores apontando o dedo contra a Igreja e criticando-a. Algumas dessas manifestações são bem compostas, outras, medonhas, sem qualquer valor.


Mas, como dizia o velho sábio, nada novo. Nem necessariamente cristão. Os essênios, antes de Cristo, reuniam-se longe do centro religioso oficial. Até mesmo Elias, o tisbita, ensaiava algo assim oitocentos anos antes de Cristo. Depois de Cristo, como reação a estatização da Igreja, o monasticismo do terceiro século com Antão, foi o pontapé inicial do movimento mais expressivo no primeiro milênio da Igreja, transmutando-se ao longo dos séculos. Do mesmo modo, os grupos pré-reformistas de reação contra o papado, como o reavivamento monástico de Cluny, no século 10, as ordens monásticas e mendicantes posteriores, como os cistercienses, os albigenses, os franciscamos, os valdenses. A própria Reforma Protestante! Todos movimentos reagentes contra algum aspecto da Igreja considerado inapropriado. Reações contra a “Instituição” Igreja, nunca, jamais, contra o “organismo” Igreja, o Corpo.

Hoje vemos a igreja orgânica, a igreja emergente, o movimento de volta à Bíblia (um pouco mais antigo), o movimento de igrejas nos lares. Todos movimentos promovidos por alguns cristãos que, cansados do abuso do poder, do enfraquecimento ou ausência total do ensino, do enriquecimento às expensas do evangelho e às custas da ingenuidade, da falta de oportunidade para manifestarem-se, criaram coragem para romper com o modelo vigente. E é isto o que os movimento são: reação contra a atual situação.

Quem pensa que o problema está na Igreja, nunca entendeu o que a Igreja é! A Igreja não tem problemas, vai bem, obrigado. Quem tem problema é a instituição feudalizada por alguns papas evangélicos. O problema está na “república da igreja” com seus coronéis, com seus políticos, com seus lobistas. A instituição Igreja, desde Constantino, tem problemas, porque sua base de gestão é humana e, ainda que com boas intenções, é pecaminosa, imperfeita e falível. Isso também não é privilégio cristão, pois desde a eleição de Saul para rei em Israel é que banda vem tocando desafinada.

Já a Igreja de Cristo, essa segue com vento à favor. A Igreja não é, nem jamais será, atingida por textos de blogueiros, por livros de autores agoniados, por declarações de cristãos desconfortáveis e deslocados. A Igreja, o organismo, o Corpo cuja cabeça é Cristo, está acima de tudo e de todos. Ela continua socorrendo os doentes, amparando os cansados, aliviando os oprimidos, porque ela é o templo que Jesus disse ergueria em três dias tendo a si mesmo como fundamento. Esta é a verdadeira Igreja.

Muitos desses movimentos são legítimos, até mesmo necessários, fundamentais eu diria, para que a Instituição, os “papas” e mesmo a membresia revejam seus dogmas desalinhados das Escrituras, suas liturgias engessadas e excessivamente formais, sua falta de caminhada pelo Caminho. Mas quem confunde instituição com organismo também confunde manequim com modelo, Lei com Graça... e aí a questão é semântica, de analfabetismo espiritual, teológico e bíblico.

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