Este espaço foi criado para discutir diferentes assuntos a partir da cosmovisão cristã. O que pretendo é o debate de ideias e o aprofundamento nas questões que interessam a Igreja de modo geral.
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terça-feira, 8 de junho de 2010
O Cristianismo na era de sua própria síntese
O Cristianismo, ao longo dos séculos, foi e é marcado pela pluralidade. Pluralidade litúrgica, pluralidade teológica, pluralidade na praxis, pluralidade na espiritualidade, pluralidade nos problemas em determinadas culturas, enfim. Certa abordagem teológica interpreta, por exemplo, as cartas do Apocalipse como retrato dessa realidade, ou seja, sete características num mesmo momento histórico.
No entanto, essas características todas são abarcadas por uma predominância qualquer ao longo dos séculos. Explico. Mesmo que cada igreja enfatize, por exemplo, a doutrina da divindade de Cristo, outra enfatize a necessidade da santidade e uma terceira dê ênfase a outro aspecto, naquele momento ou época, olhando à distância, pode haver a predominância de um tema comum a todas, indistintamente.
Foi assim no início, no meio e nos últimos anos do Cristianismo. No início a Igreja foi marcada pelas controvérsias, pelos trabalhos apologéticos, pelas obras dos pais apostólicos, que tentavam estruturar a doutrina cristã e estabelecer o Cristianismo em bases sólidas e comuns. Mas um olhar macro revela que o problema era a necessidade e a luta por estabelecer o Cristianismo no Império Romano e ter o reconhecimento do povo. Logo, essa tensão derivada das relações Igreja x Estado desembocou na corrupção da primeira e alguns grupos, no final deste longo e primeiro período, manifestara sua indignação dando início ao movimento monástico.
Estava em foco a espiritualidade, a pureza doutrinária, a preservação dos ideais ensinados pelo Senhor Jesus e por seus apóstolos. Era o período da tese. Mas esses movimentos monásticos também sucumbiram, colapsaram e desviaram de seus objetivos iniciais, passando a orgulhar-se intelectualmente das próprias conquistas. Vieram, então, os grupos pré-reformadores, por volta do século 10, em diante, o que desembocou nos pré-reformadores e nos próprios reformadores do século 16.
A partir daí, novo ciclo. Entraram em cena as disputas teológicas, os embates doutrinários e uma argumentação mais racional entra na pauta do dia. A espiritualidade, o cuidado pastoral, a preocupação com a diaconia são postos de lado em virtude da necessidade de estabelecer as bases da Reforma e combater o engano teológico (e da Tradição) que é o mal há séculos minando a força da Igreja e do Cristianismo. Esse foi o tempo da antítese.
Entretanto, a antítese também sucumbiu diante dos movimentos recentes (iluminismo, modernismo, p. ex.) e da realidade atual (era da informação, globalização, entre outros). Agora a Igreja e o Cristianismo precisam de respostas que envolvam a razão e a emoção. Céticos estabelecem diálogo com a espiritualidade (até mesmo nas universidades) e também nas organizações os especialistas interessam-se por assuntos dessa área. Religiosos querem provar novas experiências e olhares diversos que os leve a dimensões mais amplas. E o Cristianismo não pode calar-se, mas precisa preservar o seu núcleo, guarnecer seus princípios e negociar os parâmetros, as áreas de sua doutrina que são mais flexíveis. É o momento da síntese, é o tempo de juntar a experiência à reflexão, de apresentar o texto e a paráfrase.
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