terça-feira, 28 de agosto de 2012

Nosso estranho modo de amadurecer

“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” (1Corintios 13.11).

Já notou como reagimos diante do amadurecimento? O adolescente, quando se dá conta da eclosão da primeira espinha, estremece apavorado não pela deformidade facial, mas só por imaginar que alguém poderá “confundi-lo” com uma criança. Embora não alcance bem o pedal do acelerador do carro, criança ele também não é mais: agora é a-do-les-cen-te, com todas as letras, e espinhas.

Depois se torna jovem, olha para as coisas dos adultos já quase “podendo” fazê-las livremente, mas ainda não pode. E desdenha a fase anterior, embora as espinhas insistam em fustigar sua epiderme.

Quando adulto, tudo muda. A confusão entre as fases é dissipada por um simples olhar. Está lá: é um adulto, está na cara, já sem espinhas. Segue a fase madura e com ela um estranho modo de ver as coisas. Já pouco importam as classificações, as definições e rótulos. Imagino que os muitos anos olhando no espelho serviram para sedimentar uma autoimagem e, com ela, a compreensão própria de cada fase anterior.

O homem maduro fica sem vergonha? Não, só fica ressentido de uma palavra mal dita, um excesso recente, uma risada mais escandalosa. Mas já não liga tanto para classificações. Elas eram coisas de menino, como o apóstolo Paulo categorizou. Coisas de meninos no tempo de menino; depois, novos modos de raciocinar.

Assim também é na formação espiritual e mesmo a intelectual. O tempo cuida de despir-nos das categorias: não importa classificar, rotular, endurecer-se a todo custo, para não parecer isso ou aquilo. A quem interessa descolar uma ou outra imagem? Se olhando para nós veem quem somos, não será preciso dizer, afirmar, fazer distinções. Penso que em circunstâncias normais, aquele que precisa definir-se “assim ou assado” é porque ainda tem sido confundido com “isso ou aquilo”. É aqueles que não conseguimos distinguir, se “é ou não é”.

Espinhas todos vão ter. Há quem queira vê-las logo no rosto, há quem lute contra a sua insistente permanência e há quem as deixe para trás, como coisas de menino.

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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

Imitar a Paulo, em quê?

Paulo, de Rembrandt

Com certa frequência advirto os alunos no seminário a que considerem o contexto de um versículo antes de emitir uma opinião. Regra básica na hermenêutica bíblica. E como evita erros!

Considere isoladamente 1Corintios 11.1: "Sede meus imitadores, como tambem eu de Cristo". A partir dessa declaração paulina, muitos irmãos têm se admirado do apóstolo, que nesta situação apareceria como padrão de maturidade e comportamento cristãos a ser seguido. Fico imaginando quantas mensagens foram incrementadas com a exclamação: "Vejam a coragem de Paulo, recomendar a si como cristão". Mas teria sido essa a sua intensão? Paulo estaria chamando para si a responsabilidade de tornar-se o paradigma da fé cristã para toda a Igreja ao longo dos últimos dois mil anos? Vejamos que diz o contexto.

No capítulo anterior ele tratava da liberdade do cristão, onde encontramos outro versículo clássico ("Tudo me é lícito, mas nem tudo convém"). Sua liberdade esbarrava na questão dos pratos oferecidos a outros deuses nos cultos pagãos. O cristão maduro, Paulo argumenta, deve privar-se de sua liberdade em favor dos mais fracos.

Nenhuma prática deve limitar-se ao simples prazer pessoal, quer eu beba, quer eu coma (v. 31). Se Paulo escrevesse isso hoje talvez incluísse em seu argumento coisas como ouvir rock, vestir determinadas roupas, frequentar certos ambientes, quem sabe? A maturidade de consciência de alguém não pode tornar-se impedimento ou escândalo a que outro chegue à fé, quem quer que seja. Nem judeu, nem grego, nem os próprios cristãos (v. 32). Hoje ele se preocuparia com etnias, minorias, guetos e tribos, sem esquecer-se da grande mídia.

Esse foi o cenário da declaração de Paulo. Após aconselhar a seus leitores ele disse agir assim: "Também eu procuro agradar a todos, de todas as formas. Porque não estou procurando o meu próprio bem, mas o bem de muitos, para que sejam salvos" (v. 33). Paulo construiu todo o argumento e agora está se encaminhando para o arremate, dizendo que não usou do seu direito à liberdade quando a questão envolve a consciência e mesmo a salvação de outros. E por que ou baseado em que ele faz isso? Por causa do exemplo que viu em Jesus. Onde? Em toda a sua vida e morte. A própria morte do Senhor demonstrou que Ele pensou na nossa salvação, e não em si.

Em Filipenses 2.5ss., por exemplo, Paulo usou o mesmíssimo recurso ao dizer: "Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se". E por que Jesus fez isso? Pela nossa salvação, em nosso benefício.

Esta é a situação na qual o apóstolo fez a declaração que temos discutido. Se eu fosse parafrasear a citação, teria algo assim: "Não pensem somente em si, mas considerem também os outros, os que podem ser alvos da salvação. Cristo pensou assim ao encarnar-se e eu O imito. Façam a mesma coisa: sejam meus imitadores, como eu também imito a Cristo".

É a esse comportamento e preocupação que Paulo diz para que o imitássemos; mas não a toda a sua vida. Evidentemente que concordamos ser ele um grande apóstolo, talvez o mais expressivo. Sua vida é, para nós, de grande inspiração. Mas guardadas as devidas proporções, ele mesmo disse não ser perfeito.

Coisas que queria fazer por saber ser o certo, não conseguia. O que queria abandonar por saber ser errado, não tinha êxito. E mais, se Paulo estivesse dizendo para que o imitássemos em tudo, teríamos aqui a primeira crise da história da Igreja, a base bíblica para a divisão, um pecador igualando-se ao próprio Jesus, aquele incomparável Homem a quem verdadeiramente devemos procurar imitar, esse sim, em tudo.

Portanto, considerando as pessoas à nossa volta, façamos como Paulo, refletindo de que modo nossos atos podem contribuir com o fortalecimento da fé alheia. Vamos imitar a Paulo nisso e a Jesus em tudo!

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Uma perspectiva que você deve considerar

Imagine as seguintes situações.

Situação 1. Você está em um incêndio. O bombeiro consegue chegar até o local para resgatá-lo e ele dá orientações básicas para você sair do prédio sem sofrer queimaduras. Você seguiria as instruções? Sim ou não?

Situação 2. Seu médico diz que você tem uma doença comum, mas ela é fatal; se não tratar terá morte na certa. Ele receita o tratamento, que tem cobertura do Governo e não terá custo, mas você precisa readequar seus hábitos alimentares e padrão de vida. Você faria o tratamento? Sim ou não?

As perguntas que fiz são retóricas. A resposta para cada uma delas é o “sim”.

O Cristianismo tem sido esvaziado do seu papel principal, que é apresentar a Jesus Cristo como aquele que dá a orientação ao paciente para que este decida ou não pelo tratamento. Jesus mesmo usou a metáfora do médico que veio para salvar doentes, e não os sadios: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.” (Mt 9.12)

Estamos todos doentes, individualmente, coletivamente. As pessoas estão doentes, os grupos estão doentes, as estruturas e instituições que formamos estão corrompidas. Os processos e mecanismos sociais se decompõem no vício.

Quanto a Jesus, o que ele fez, sabemos: morreu na cruz para trazer salvação e deixou o Evangelho, a Boa Nova. Qual o papel do Salvador? Salvar. E para isso dá orientações básicas, receita o tratamento. O que ele quer com isso? Salvar, salvar a nós – diga-se de passagem. Nós é quem estamos sob risco, no ambiente em chamas, e doentes, com os dias contatos. Não ele.

E o que decorre disso? Decorre que tudo o que as Escrituras dizem, dizem para o nosso bem: “Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade.” (Hb 12.10; ênfase acrescentada). A Bíblia traz o receituário de Deus para o homem e este pode ou não seguir suas instruções, simplesmente. Seguindo-o, a salvação virá, primeiro individualmente. Depois na coletividade, com grupos melhores, com instituições melhores, com uma sociedade melhor. Não estou, com isso, dizendo que Jesus é marxista; o foco é o homem, mas há desdobramentos.

A salvação também não virá pelo que fizermos, pois ela já existe e está disponível. Aceitar os pressupostos dessa salvação é a atitude esperada. O caminho para sair seguro do ambiente em chamas existe e quem o seguir as orientações viverá. Assim, a salvação não vem pelo esforço, mas pela mudança no rumo, no acerto do caminho já existente, no ajuste dos procedimentos para a manutenção da vida. O caminho foi criado, preciso percorrê-lo. O procedimento foi estabelecido, preciso adotá-lo.

Portanto, se a Bíblia descreve o papel de Jesus como Senhor e Salvador, cabe a nós a percepção dessa verdade e uma mudança para o nosso próprio benefício. A Deus nada muda se rejeitarmos a sua oferta de Salvação. A nós, entretanto, faz toda a diferença, a propósito, uma vida inteira de diferença.

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terça-feira, 19 de junho de 2012

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. (2Timóteo 2.15)

Você tem certeza do seu chamado no Corpo de Cristo?
Seus obreiros estão na posição certa dentro do ministério?
Como você foi treinado para servir na obra de Deus?

Da mesma forma que o corpo humano é integrado por diversos membros e cada um possui a sua própria função, a Igreja – o Corpo de Cristo – também é composta por membros que diferem uns dos outros nas suas atividades.

Há quase duas décadas trabalhando com irmãos e obreiros que querem servir ao Senhor, o Pr. Magno Paganelli tem identificado a falta de orientação que muitos cristãos sofrem quanto à função que devem exercer no Corpo de Cristo. Isto o tem levado a dar cursos, palestras e a escrever sobre o assunto.

Foi assim que nasceram alguns de seus livros, como Qual a Sua Função no Corpo de Cristo. A obra deu origem ao curso que você tem em mãos e também a alguns cursos produzidos por igrejas locais. Além disso, o seu conteúdo foi adotado por faculdades e seminários teológicos de renome, como o Seminário Teológico do Sul do Brasil e Faculdade Betesda.

Neste curso, o participante irá identificar os talentos que possui, será desafiado a descobrir e desenvolver sua vocação ministerial, a identificar quais são os seus dons espirituais e ministeriais. Por meio de exercícios e testes práticos desenvolvidos por uma equipe ministerial experiente, será auxiliado a encontrar o foco do serviço que o Senhor espera para uma atuação frutífera no Corpo de Cristo.

Contatos: magnop@terra.com.br ou editora@arteeditorial.com.br

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A igreja de Corinto desembarcou no Brasil

"Nós somos tolos por causa de Cristo, vós, porém, sois prudentes em Cristo. Nós somos fracos, vós fortes; vós sois honrados, nós somos desprezados" (1Co 4.10).

A igreja em Corinto apresentou muitos problemas e de diversas naturezas. Problemas morais, doutrinários, éticos, de educação, de respeito, entre outros. Em sua primeira carta àquela comunidade, Paulo empenhou muito esforço na tentativa de recolocá-los nos trilhos por conta dos problemas deles, já que na segunda carta seu maior esforço foi defender sua própria autoridade como apóstolo.

O versículo acima foi escrito quando Paulo lidava com duas questões específicas. Uma, o orgulho ufanista dos coríntios. A outra, a pretensa sabedoria alegadamente possuída por eles. Os corintios orgulhavam-se de algum bem ou situação social confortável, o que fica claro na ironia de Paulo no verso 8: "Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinastes!"

Está claro o deboche do apóstolo, ainda mais à luz do próprio versículo 10 transcrito acima. O experiente Paulo seria tão ingênuo assim que teria sofrido os males para que somente os corintios pudessem colher os bens? Ora, isso não é cogitado, Paulo sabe que se algum bem tão valioso pudesse ser desfrutado pelos cristãos, ele seria um dos primeiros, senão o primeiro, a ter ciência e a desfrutar.

O outro problema é a alegada posse de alguma misteriosa sabedoria, algo que os coríntios passaram a crer e do qual orgulhavam, mas que não estava alinhado ao que o apóstolo ensinava. Provavelmente a igreja tinha permitido a invasão de conceitos gnósticos, sincréticos, ocultistas até. Uma alegada doutrina que Paulo também está combatendo, especialmente a partir do versículo 6, quando diz para "não ir além do que está escrito".

Não se sabe a que texto ou fonte o apóstolo está se referindo; a pesquisa recente não responde a isso. O contexto e, novamente, a ironia é que revelam o desprezo de Paulo pela suposta revelação misteriosa, "a chave espiritual" que abrira aos coríntios a porta dos mistérios espirituais. Que tolice! Paulo desdenha a tudo isso.

A situação estabelece um abismo entre os espirituais de Corinto e os missionários que trouxeram o evangelho. Eles se consideram sábios, fortes e honrados, enquanto os apóstolos são fracos e desprezados (G. Brakemeier).

Como se descolássemos a cena da Ásia Menor e a transplantássemos na América Latina, a Igreja no Brasil tem grupos que se identificam com os coríntios nos mesmos problemas. Há quem pense ter descoberto no evangelho o toque de Midas, que a tudo transforma em ouro e riquezas vindas do dono do ouro e da prata. E também temos por aqui os novos sábios, que de repente descobriram uma chave hermenêutica que invalida tudo o que foi ensinado até aqui, nos últimos dois mil anos.

Tenho comigo que o apóstolo não mudaria a sua maneira da tratar o problema, caso desembarcasse por aqui. Ele continuaria irônico, sustentaria a sua situação com as próprias limitações e não mudaria a sua mensagem. Ele já havia preparado a sua defesa, quando antecipou-se dizendo ser "servidor e mordomo dos mistérios de Deus" (v. 1), indicando que "o que se requer dos mordomos é que seja encontrado fiel" (v. 2), já que "o Senhor trará à luz as coisas ocultas e revelará os desígnios dos corações" (v. 5).

Aí, então, será visto quais são os tesouros legítimos e a verdadeira sabedoria vinda de Deus.

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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nosso templo, nosso orgulho, nossa ruína

"E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje" (Mt 11.23, ARC).

Cafarnaum era um pequena, porém, próspera cidade praticamente às margens do Mar da Galileia. Era uma cidade geograficamente estratégica pela proximidade com uma fonte assim, tão vasta em água, e por estar na chamada rota do incenso, produto manipulado no sul pelos árabes e comercializado no norte, na atual região da Síria.

A sinagoga de Cafarnaum era o marco da prosperidade local. Dois indicadores apontam para isso. O primeiro era o material do qual era feita a sinagoga. Ao contrário da pedra escura, quase preta, das casas da cidade, a sinagoga de Cafarnaum fora edificada de uma pedra clara (vide foto acima), seguramente importada por seus habitantes, importação financiada por ilustres moradores orgulhosos de suas doações.

O segundo indicador é a posição na qual a sinagoga se situava em relação às demais edificações locais. O ponto mais alto das moradias de Cafarnaum atingia no máximo a altura do piso da sinagoga, ou seja, como sede religiosa a sinagoga se destacava e se impunha na paisagem local, informando a presença de uma comunidade rica, supostamente abençoada e protegida por Deus e, portanto, no caminho certo e seguro de uma vida espiritual sólida. Essa é uma boa expressão do que a sinagoga transmitia: a segurança do povo de Cafarnaum que, por sinal, era o orgulho da cidade.

Jesus destacou tal segurança num de seus discursos ali, mas o fez por um viés negativo. O versículo que citei acima, "Cafarnaum... que te ergues até aos céus", aponta para a grandiosidade da sinagoga, como também o seu luxo. A confiança depositada numa instituição, mais que isso, numa edificação (um prédio), para nada serve; ainda hoje é assim. E como temos repetido esse erro apegando-nos e recorrendo aos mesmos expedientes? As igrejas evangélicas nos últimos anos redescobriram o caminho e a receita da suntuosidade estética da religião e não têm medido esforços para registrarem seu poderio por meio de suntuosos edifícios, até mesmo copiando o expediente usado em Cafarnaum de importar pedras (como a história se repete!). A parte inicial da zona leste em São Paulo que o diga! Parece que esse compromisso com a aparência é um vírus difícil de vencer, ao menos em alguns grupos cristãos que contabilizam boa arrecadação.

Por outro lado, a palavra dada por Jesus orienta-nos que nada mudou: a confiança na aparência, na estética, na suntuosidade não levará o homem até aos céus, como já pensavam os construtures de Babel, outra edificação que representou o orgulho e igualmente arruinou o gênero humano. Edificar em nós uma casa para o Senhor é a proposta mais segura para uma vida cristã. O menor sinal de confiança no mais discreto sinal da grandeza de Deus pode gerar efeito mais positivo no âmbito espiritual. E como tem sido difícil aprender isso!

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